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Finanças Descentralizadas (DeFi): o futuro do sistema financeiro

“Criptomoeda é pirâmide?” André Franco respondeu as perguntas mais polêmicas sobre o mercado e abriu o nome de sua maior aposta para o ano nesta entrevista. Assista agora.

Por André Franco

07 abr 2021, 02:33

DeFi: A disrupção do sistema financeiro global

Enquanto o Bitcoin, como criptomoeda, tem como principal característica a transação direta entre as pessoas, sem intermediários, o DeFi visa reformular todo o sistema financeiro, sem a necessidade de um agente centralizador, através do Blockchain da Ethereum. 

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Quando pensamos em um setor da economia resiliente a qualquer crise, logo pensamos no segmento bancário, que apresenta crescimento e lucros recorde mesmo durante momentos de retração econômica.

Uma métrica assustadora são os lucros gerados, na ordem de US$ 1,135 trilhão quando somados os lucros dos mil maiores bancos do mundo em 2019, o que os colocaria na 15ª colocação no ranking de PIB caso fossem um país, na frente de nações como Holanda e Suíça.

Mas por que esse modelo de negócio é tão rentável?

O papel dessas instituições financeiras, sejam bancos ou fintechs, é intermediar operações: em resumo, essas organizações tomam emprestado de quem tem, emprestam para quem não tem e cobram por essa intermediação, o chamado spread bancário, que mede a diferença entre o custo de captação e os juros de empréstimos.

Figura 1. Spread bancário pelo mundo
Fonte: G1

Particularmente no Brasil, possuímos um dos spreads bancários mais caros do mundo, pressionado por fatores como a taxa Selic e a inadimplência. 

Figura 2. Composição do spread
Fonte: G1

Obviamente, uma boa parcela desse spread é o próprio lucro do banco, motivo de esse mercado valer trilhões de dólares, e os maiores beneficiados nesse negócio são as próprias instituições financeiras.

Mas e se houvesse uma maneira de eliminar esses intermediadores, fazendo com que a remuneração daqueles que emprestam fosse mais rentável, bem como a taxa de juros daqueles que tomam o empréstimo fosse menor?

Essa é a intenção dos protocolos de finanças descentralizadas (DeFi), que apresentam crescimento exponencial (como pode ser visto no gráfico abaixo) e visam reformular todo o sistema financeiro, oferecendo alternativas como emissão de moedas estáveis, empréstimos, seguros, câmbio e muito mais, sem necessitar de um agente centralizador.

Figura 3. Valor total retido em protocolos DeFi no último ano
Fonte: DeFi Pulse

Os passos da construção de um sistema financeiro descentralizado

É impossível falar da história dos protocolos de finanças descentralizadas sem citar o Ethereum, que disponibilizou as ferramentas necessárias para a construção desse novo ecossistema.

Criado em 2014, trouxe como inovação a execução de contratos inteligentes, sendo capaz de obter informações, processá-las e tomar as devidas ações previstas de acordo com as regras de cada contrato, de forma totalmente autônoma e autoexecutável. Estava dada a largada para o desenvolvimento de um sistema financeiro totalmente descentralizado.  

Figura 4. Ecossistema DeFi

Moedas estáveis e empréstimos com garantia

É natural imaginar que o primeiro passo no sentido de um novo sistema financeiro seja a criação de uma moeda digital estável, as chamadas stablecoins. No mercado cripto, ativos não estáveis, como BTC ou ETH, estão sujeitos a uma grande volatilidade, o que pode ser aceitável para aquilo a que se propõem, mas não é uma boa opção para todos os casos.

Há um desestímulo em gastar um ativo que pode valer muito mais amanhã, ou em aceitar um que possa vir a valer menos no outro dia. O mesmo vale para o crédito: você não quer pegar emprestado um ativo que será mais caro para pagar porque sua taxa de juros dispara, e não quer emprestar um que pode se desvalorizar porque seu rendimento pode ficar negativo.

Algumas stablecoins surgiram para preencher essa lacuna, com a Tether sendo a de maior capitalização de mercado. Apesar da sua enorme aceitação, com mais de US$ 30 bilhões de capitalização de mercado e volume na casa das centenas de bilhões, a Tether apresenta um risco intrínseco de instituições centralizadas.

A ideia da stablecoin é possuir lastro de 1 dólar para cada 1 USDT (o dólar da Tether), entretanto, esses depósitos bancários subjacentes não são bem auditados, e também há o risco de serem confiscados por autoridades.

Dessa forma, uma alternativa verdadeiramente descentralizada surgiu, o DAI.

A MakerDAO é uma plataforma para empréstimos cripto com garantia, com o diferencial de aliar a concessão de créditos a uma stablecoin própria, o DAI, que pode ser definido como um crédito de dívida atrelado ao valor do dólar americano.

Por meio do protocolo, é possível tomar empréstimos ao ceder e bloquear criptoativos no blockchain através de contratos inteligentes e em troca receber o token DAI. Dessa forma, o lastro do DAI são os próprios ativos bloqueados na sua blockchain. A lista de ativos que podem ser utilizados como garantia pode ser consultada neste link, sendo os principais ETH, WBTC, BAT e LINK.

Na prática, funciona assim: suponhamos que você é uma pessoa que tem uma grande quantidade de ETH e deseja comprar uma casa de R$ 500 mil. Você tem a opção de se desfazer da sua posição comprada, pagar impostos referentes a isso e comprar a sua casa, ou tomar esse valor emprestado bloqueando R$ 1 milhão em ETH na MakerDAO como garantia, pagar juros ao final do contrato de empréstimo, mas nenhum imposto para o Estado.

Nesse caso, por meio dos contratos inteligentes, é gerada uma posição garantida de débito (CDP, na sigla em inglês) em que os DAIs são criados.

O empréstimo pode ser pago a qualquer momento, retornando para a CDP o valor em DAIs, que será queimado, além de pagar uma taxa conhecida como “taxa de estabilidade”, correspondente a 7,5% do valor retirado.

Lembrando que é preciso depositar e travar uma quantia em Ethereum equivalente a pelo menos 1,5 vez o que você deseja pegar emprestado em DAI.

O problema, entretanto, é que, em momentos de crash do mercado, como ocorreu em março deste ano devido à pandemia da Covid-19, o seu empréstimo seria liquidado (mais a taxa) assim que o valor da garantia caísse para R$ 625 mil.

Esse é o risco inerente desse tipo de alavancagem, e é por isso que é recomendável travar uma quantia superior à mínima, diminuindo o risco de liquidação.

Realizar o empréstimo é bem simples, basta acessar a plataforma da MakerDAO, selecionar a carteira em que estão os seus ativos, como MetaMask, Trezor ou Ledger, e em seguida abrir uma CDP selecionando a taxa de garantia desejada, que corresponde à quantidade de ativos cedidos em relação ao montante que quer tomar emprestado, lembrando que a taxa mínima é de 150%.

O DAI surge com o propósito de ser a stablecoin das finanças descentralizadas e vem cumprindo o seu papel: a capitalização de mercado do ativo disparou 15 vezes em 2020, em grande parte graças ao DeFi. 

Figura 5. Capitalização de mercado do DAI em 2020
Fonte: DeFi Pulse

Créditos sem garantia e empréstimos-relâmpago

Outro ativo que surgiu nesse ecossistema foi a Aave. O projeto foi lançado por meio de um ICO em 2017, mas sua rede principal só foi ao ar em janeiro de 2020. Além do empréstimo com garantia, que já descrevemos anteriormente, a Aave se diferenciou ao permitir empréstimos-relâmpago (“flash loans”), que não necessitam de garantia, mas precisam ser pagos em segundos.

Naturalmente, a sua primeira pergunta é: por que alguém tomaria um empréstimo de apenas alguns segundos? É mais um caso daquelas ferramentas que só fazem sentido no universo cripto. Um empréstimo-relâmpago permite que o usuário arbitre um ativo entre corretoras, além de possibilitar o refinanciamento de uma dívida ou até uma troca de garantia dentro de outro protocolo de empréstimo P2P.

Além desse mecanismo, a Aave passou a testar outros tipos de empréstimos sem garantia recentemente. A delegação de crédito é uma inovação do protocolo que permite que um usuário tome empréstimo na plataforma e empreste na sequência para um terceiro. Funciona da seguinte forma:

Figura 6. Mecanismo de delegação de crédito por meio da Aave
Fonte: Aave

No exemplo acima, Karen deposita 1 milhão em tether (USDT) e recebe da plataforma o equivalente em um token chamado aUSDT, que tem paridade com o tether. Então ela decide travar o valor no Credit Delegation Vault (CDV) e permitir que usuários, com base na sua reputação de bons pagadores, façam propostas de empréstimos sem garantia. Então, depois de verificar a reputação do usuário, Karen permite que o empréstimo seja feito para Chad.

Perceba que nesse exemplo o empréstimo é feito por Karen, que assume o risco de Chad não pagar o que deve. Assim, a plataforma não coloca em risco nenhum usuário que desconheça Chad ou não aprove o empréstimo sem garantia. Essa é uma das principais inovações do projeto e pode refletir em mais usuários optando por utilizar a plataforma e, consequentemente, ter um efeito no token.

Além disso, algumas soluções de segunda camada estão sendo desenvolvidas com o intuito de descongestionar a rede do Ethereum, possibilitando uma redução das taxas e aumentando a velocidade das transações. Entretanto, um problema citado foi o atraso de liberação do saldo do usuário da rede lateral para a principal, gerando um custo de oportunidade. Sendo assim, soluções desenvolvidas a partir da Aave estão sendo elaboradas para facilitar essa troca por meio de empréstimos imediatos, apenas cobrando uma pequena taxa pelo adiantamento. Essa solução seria como usar o cheque especial da sua conta por sete dias porque tem certeza de que o seu salário irá cair em uma semana.

Dessa forma, vale concluir que a Aave é mais uma das ferramentas pouco óbvias, mas que tem muita utilidade na rede do Ethereum e em todo ecossistema das finanças descentralizadas, garantindo o funcionamento mais fluido do sistema financeiro como um todo, o que permite que arbitradores reduzam as ineficiências de preços entre as corretoras (spreads), gerando liquidez, dentre diversas outras aplicações potenciais. Assim como a MakerDAO, a Aave cresceu muito, tendo emitido US$ 25 milhões em empréstimos durante os primeiros seis meses de 2020, US$ 500 milhões no terceiro trimestre e novamente US$ 500 milhões em outubro e novembro. 

Figura 7. Desempenho do valor retido na Aave
Fonte: DeFi Pulse

Corretoras descentralizadas

Como mencionamos anteriormente, o Tether é uma opção de stablecoin, embora seja centralizado, com todas as consequências que isso acarreta. Desse modo, assim como o DAI é para as stablecoins, surgiram opções descentralizadas alternativas às corretoras tradicionais.

É válido lembrar que as corretoras desempenham um papel fundamental nos mercados, de reunir e coordenar compradores e vendedores. Elas fornecem um local para que essas partes se reúnam, negociem, concordem com os termos e, por fim, transacionem. As corretoras centralizadas, como a Binance, utilizam a metodologia chamada “Central Limit Order Book” (CLOB), que funciona da seguinte maneira:

  1. Os formadores de mercado (market makers) notificam sua intenção de negociar ativos à corretora, especificando informações básicas como preços, quantidades e direção de sua intenção (compra ou venda);
  2. A corretora coleta todas essas intenções (pedidos) em um banco de dados (livro de pedidos);
  3. Ela então organiza e publica o livro de pedidos para todos os seus usuários;
  4. Para concluir uma transação, outra parte (o comprador) deve aceitar os preços e quantidades disponíveis nesse livro. A corretora combina a ordem do comprador com os pedidos correspondentes no livro que atendem ao pedido do comprador, com os melhores preços disponíveis no momento.

Figura 8. Funcionamento de uma corretora com metodologia CLOB
Fonte: Hummingbot

Essa metodologia é ideal para corretoras centralizadas, entretanto, não funciona de maneira efetiva quando aplicada na blockchain. A razão é simples: cada ordem ou solicitação — e cada ajuste dessas ordens ou solicitações — custa taxas para ser armazenada na rede. Então imagine que você queira realizar a compra de 1 ETH numa corretora descentralizada que funcione da forma descrita acima, então você coloca uma ordem de compra de 1 ETH a um preço de 600 DAI. Ao enviá-la, uma taxa de transação deverá ser paga, independentemente do montante negociado. Caso você queira ajustar o preço, ou a quantidade de tokens, uma nova ordem deverá ser enviada, com o custo de uma nova taxa. Dessa maneira, sua ordem será agregada ao livro de ofertas. Em seguida, um novo problema pode surgir: caso sua ordem esteja prestes a ser executada, ou seja, surgiu uma contrapartida com a intenção de te vender os tokens nas condições desejadas, é possível que alguém passe na sua frente simplesmente pagando uma taxa de transação maior. Isso acontece porque na blockchain as transações não são organizadas apenas por ordem de solicitação, mas podem ser priorizadas ao se pagar uma taxa maior.

Com isso em mente, a Uniswap surgiu aplicando uma solução primeiramente proposta por Vitalik Buterin (sim, aquele mesmo criador do Ethereum) que se difere na forma como as ordens são administradas: os formadores de mercado automatizados (AMMs). Essa solução elimina a necessidade de um livro de pedidos, funcionando por meio de pools de liquidez e contratos inteligentes, que operam os chamados “formadores de mercado de função constante” para precificarem os ativos e garantir que qualquer pedido de qualquer par listado seja atendido. O funcionamento se dá da seguinte maneira:

  1. Usuários provedores de liquidez cedem e bloqueiam seus ativos no AMM, criando os pools de liquidez. Em troca, recebem rendimento, processo conhecido como “yield farming”;
  2. Por meio dos pools de liquidez, são criados os pares de negociação. Por exemplo: com o ETH custando por volta de 600 DAI, teríamos os ativos numa proporção de 1:600, ou seja, se o pool de liquidez possuísse US$ 12 mil para negociar, isso significa que 10 ETH e 6.000 DAI estão bloqueados no AMM;
  3. O comprador executa a sua ordem com base nas informações disponíveis, tomando os ativos que deseja e entregando a contraparte;
  4. O preço do ativo é recalculado com base no rebalanceamento ao final da operação, pois é necessário ter saldos de dois tokens para manter um produto constante (ETH * DAI = K, onde balanço de ETH * balanço de DAI deve ser sempre igual a K).

Figura 9. Balanço entre ETH e DAI

Figura 10. Funcionamento de uma corretora por meio do AMM
Fonte: Hummingbot

Neste ponto, você já deve ter percebido a importância de pools de liquidez grandes para a manutenção do preço de um ativo estável, pois, de outra forma, um leve desbalanceamento moveria os preços consideravelmente. Acredito que agora começa a fazer sentido como os protocolos se juntam resolvendo problemas mútuos — caso do MakerDAO e Aave citados anteriormente, que permitem gerar aumento de liquidez.

Entretanto, nesse tipo de mecanismo, os provedores de liquidez estão sujeitos a algo chamado de “perda impermanente”, em que a alta volatilidade do mercado cria desequilíbrios nos AMMs vs. preços referências de mercado, causando perda de dinheiro aos provedores de liquidez.

Acontece assim: imagine que você deposite 1 ETH e 100 DAI em um pool de liquidez. Isso significa que o preço do ETH é de 100 DAI naquele momento e que o montante total do depósito é de US$ 200. Além disso, há um total de 10 ETH e 1.000 DAI no pool — financiados por outros usuários. Portanto, você tem uma participação de 10% na carteira e a liquidez total é de US$ 10.000.

Digamos, agora, que o preço do ETH aumente para 400 DAI. Como a liquidez permanece constante (US$ 10.000), a proporção de ativos nela muda, portanto, arbitradores irão adicionar DAI ao pool e remover ETH, até que a proporção reflita o preço atual. Dessa forma, existem agora 5 ETH e 2.000 DAI no pool.

Suponhamos que você decida sacar seus fundos. Como já sabemos, você tem direito a 10% de participação no pool, portanto, pode sacar 0,5 ETH e 200 DAI, totalizando US$ 400. Como você depositou US$ 200, concluímos que obteve um ótimo lucro de 100%.

Entretanto, caso você tivesse apenas segurado essa mesma quantidade de tokens, você teria US$ 500, ou 25% mais do que sendo um provedor de liquidez. Essa é a chamada perda impermanente, mas nesse exemplo desconsideramos os ganhos das taxas de negociação e o yield farming por fornecer liquidez.

As soluções que adotaram os formadores de mercado automatizados são recentes, dessa forma, em 2019 as corretoras descentralizadas movimentaram apenas US$ 3 bilhões. Um valor modesto em comparação aos US$ 116,7 bilhões de 2020, apresentando um crescimento de 3.790% (quase 39 vezes) e tornando evidente que esse mercado não pode mais ser ignorado.

Figura 11. Volume negociado nas DEX
Fonte: Dune Analytics

Parte desse sucesso foi devido aos incentivos gerados para os usuários fornecerem liquidez para as plataformas, criando uma extensa gama de pares de ativos, possibilitando a negociação de protocolos pouco listados em corretoras tradicionais.


Figura 12. Valor alocado nas corretoras descentralizadas
Fonte: DeFi Pulse

Dessa forma, a própria comunidade colabora para o funcionamento da plataforma e é remunerada por isso, mostrando a verdadeira essência de uma ferramenta descentralizada. Entretanto, as corretoras descentralizadas ainda representam uma parcela pequena de todo o mercado de negociações, o que é natural devido à relativa novidade desse tipo de serviço, e mostra que ainda existe um enorme potencial pela frente.


Figura 13. Participação das DEX no mercado
Fonte: The Block

Como citamos, as pedras no caminho das DEX são conhecidas e a comunidade está empenhada em desenvolver soluções para esses desafios, e abaixo apresentamos os principais players desse mercado.

Uniswap – O protocolo a ser batido

O projeto da Uniswap foi lançado em agosto de 2018 usando uma doação de US$ 100 mil da Ethereum Foundation, e ao longo do seu desenvolvimento recebeu diversos aportes de fundos, como o Paradigm, a16z, ParaFi Capital e Union Square Ventures, como forma de financiamento do seu desenvolvimento, o que permitiu o seu crescimento acelerado, tornando-a a maior corretora descentralizada em volumes negociados.


Figura 14. Market share das DEX
Fonte: Dune Analytics

A Uniswap, hoje, concentra quase 50% de todo o volume negociado nas corretoras descentralizadas, possuindo como vantagem uma equipe brilhante e acesso a um vasto leque de recursos, graças à sua rede de investidores.

Entretanto, com o amadurecimento desse mercado, foi ficando evidente que apenas os incentivos de yield farming gerado pela Uniswap não seriam suficientes para mantê-la na dianteira do mercado, pois os provedores de liquidez estarão onde existirem os melhores retornos. O que aconteceu foi que, com o surgimento de concorrentes, a Uniswap foi forçada a acelerar a distribuição do seu token de governança, o UNI.

Dessa forma, em setembro de 2020, a Uniswap distribuiu 400 UNI para cada endereço que já tivesse interagido com a plataforma, na tentativa de se tornar mais descentralizada e colaborativa. A tese de investimento em UNI é que, a partir de março de 2021, 0,05% de todas as taxas irá para o tesouro Uniswap, regido pelo token UNI. Dessa forma, o token do projeto se torna uma forma de se expor ao crescimento da plataforma.

SushiSwap – A cópia que tem tudo para dar certo

A SushiSwap não foi o pioneiro nos modelos AMM nem gastou tempo realmente construindo a primeira iteração do DEX. Esse projeto é um simples fork da Uniswap (ou uma cópia mesmo), com o objetivo de ter os recursos desta e, ao mesmo tempo, colocar a governança nas mãos da comunidade através do token de governança SUSHI.

Portanto a SushiSwap já nasceu com o seu token de governança sendo distribuído aos colaboradores, e com isso deu um incentivo para os provedores de liquidez migrarem para sua plataforma. E foi justamente esse evento que forçou a distribuição de UNI que citei anteriormente.

Mais de 80% de todos os tokens SUSHI foram distribuídos ao público por meio de vários programas de incentivo. O desenvolvimento atual do protocolo é financiado pela inflação. De todo o SUSHI emitido pelo sistema, 9% é concedido ao tesouro. No entanto, embora uma grande parte do UNI e do SUSHI tenha sido dada à comunidade, a SushiSwap ainda mantém a narrativa de “pertencimento à comunidade”.

Figura 15. Disputa por liquidez entre Uniswap e SushiSwap
Fonte: The Block

Hoje a SushiSwap já é a segunda maior corretora descentralizada, e recentemente se tornou a quinta fusão com o protocolo Yearn Finance — que apresentaremos mais a seguir — num acordo que busca cooperação entre os times dos projetos, facilitando o desenvolvimento de ambos.

1inch – O agregador DEX

A Uniswap e a SushiSwap dominam o mercado das corretoras descentralizadas, com quase 2/3 de todo o volume de negociação. Entretanto, de um hackathon de 2019 surgiu um novo projeto chamado 1inch, que desenvolveu um algoritmo próprio e funciona como agregador DEX, integrando muitas fontes de liquidez e tokens.

Agregadores de DEX funcionam como portais unificados ao ecossistema de corretoras descentralizadas, reunindo diferentes fontes de liquidez e oferecendo aos usuários a capacidade de negociar entre diferentes mercados. Dessa forma, a 1inch é a ferramenta que integra diferentes corretoras, como Uniswap, SushiSwap, Balancer, Bancor e Kyber Network, nas quais de fato ocorrem as negociações.

Figura 16. Participação das corretoras nas negociações feitas pela 1inch
Fonte: Dune Analytics

Os agregadores apresentam-se como uma boa opção para os usuários por garantir a negociação aos melhores preços de maneira mais simples do que pesquisar individualmente entre as corretoras.

Outra vantagem, também, é poder parcelar uma grande negociação em diversas corretoras, dessa forma proporcionando um “slippage” menor, que é a discrepância entre o preço que um investidor espera obter e o preço em que a negociação é executada, principalmente em movimentações de grande volume.

Figura 17. Crescimento do volume negociado na 1inch
Fonte: Dune Analytics

É importante frisar que os agregadores não são uma ameaça para as corretoras descentralizadas. Pelo contrário, eles trabalham em paralelo, facilitando a vida do usuário, que pode executar uma ordem através do agregador mesmo sem precisar interagir diretamente com a corretora.

Ainda que esse seja um mercado extremamente novo, o potencial de protocolos que facilitam a troca de ativos de forma descentralizada já é conhecido e isso torna ainda mais feroz a competição entre eles. Os projetos aqui apresentados não são os únicos, mas são os que consideramos mais promissores.

Novamente, assim como nos casos anteriores, esse mercado teve um crescimento acelerado nos últimos meses, principalmente por oferecerem um bom yield farming, além de permitir a negociação de qualquer par de ativos.

Entretanto, com a sobrecarga da rede do Ethereum, as taxas de transação ficaram proibitivas, de certa forma impactando o sucesso das corretoras descentralizadas.

Figura 18. Volume de negociações nas corretoras descentralizadas 
Fonte: Dune Analytics

Além disso, as corretoras descentralizadas vêm conquistando um espaço cada vez mais relevante, ganhando participação no mercado de troca de ativos, antes dominado pelas corretoras centralizadas. 

Figura 19. Escalada da participação de mercado das corretoras descentralizadas 
Fonte: Messari

Derivativos

Considerando o fato de que no mercado financeiro tradicional o mercado de derivativos é sete vezes maior que o mercado à vista (“spot”), é natural pensar que precisaríamos de uma opção descentralizada para compor esse novo sistema paralelo.

Com essa ideia, a plataforma Synthetix oferece derivativos de 44 ativos, que incluem criptoativos, moedas fiduciárias, índices do mercado tradicional como o Nikkei 225 e commodities como ouro, prata e petróleo. Você encontra a lista completa de “synths” (como a plataforma chama os derivativos) neste link.

Por se tratar de derivativos, quando alguém os compra, não quer dizer que está obtendo o ativo de fato.

Na verdade, quem adquire, por exemplo, o sETH (synthetic ether, ou ether sintético) está comprando uma exposição ao preço do ativo sem ter posse necessariamente da quantidade em ETH. O que existe é o compromisso da plataforma de que o token sETH seguirá o preço do ETH e quem possuir o ativo sintético ganhará com a valorização do ether e perderá com a sua desvalorização.

O synthetix (SNX) é utilizado como uma maneira de garantir que os ativos sintéticos dentro da plataforma tenham lastro para cobrir as oscilações dos ativos subjacentes. E como forma de incentivo para os holders do token deixá-lo na plataforma, parte das taxas é repassada para eles.

O holder de SNX é alguém que decide travar uma certa quantidade na plataforma para receber algum valor em sUSD. Segundo a regra atual, para cada US$ 100 em sUSD criados via Synthetix, o usuário precisa deixar travados (como garantia), no mínimo, outros US$ 750 em SNX na plataforma. Nesse exemplo bem simples, caso o SNX suba de preço, o usuário poderá criar mais sUSD na mesma proporção anterior ou simplesmente retirar mais SNX da plataforma até o limite da proporção por ela estabelecida.

Como os demais ativos aqui apresentados, o synthetix obteve um expressivo crescimento nos últimos meses, sendo uma peça importante para o sucesso do sistema.

Figura 20. Valor total alocado no protocolo Synthetix 
Fonte: DeFi Pulse

Um agregador dos blocos desse Lego

Nesse contexto em que novas soluções oferecendo alternativas para yield farming pipocam uma atrás da outra, surgiu um protocolo visando reunir todas essas peças do quebra-cabeça em busca das maiores oportunidades de ganhos.

O Yearn.finance funciona como um otimizador de taxa de juros que, por meio de estratégias automatizadas, busca alocar dinamicamente seus ativos em vários protocolos de empréstimo DeFi de acordo com o maior rendimento diário.

O protocolo possui cinco produtos: Earn, Vault, Zap, Yinsure e Stable Credit, e fornece liquidez para AMMs (Uniswap, Curve, Balancer), credores (Compound, Aave, dYdX) e pools de seguros (Nexus Mutual). Ele também pode ter uma solução para o desafio de escalabilidade das stablecoins por meio de seu sistema StableCredit, que combina elementos de MakerDAO, Uniswap, Bancor e Aave.

Das cinco soluções propostas, duas são especialmente interessantes: Earn e Vault.

O Earn foi o primeiro produto da plataforma e consiste em um agregador de empréstimos que sempre busca as melhores taxas nos protocolos AAVE, dYdX e Compound. Atualmente a plataforma aceita depósitos das seguintes criptomoedas: DAI, USDC, USDT, TUSD, sUSD e wBTC.
De forma bem simples, a estratégia automatizada baseia-se em buscar nas plataformas os melhores retornos, via empréstimos, para os seis ativos citados.

Funciona da seguinte forma: uma pessoa deposita em um endereço o token USDT e a automação da plataforma vai em busca do melhor retorno possível para esse ativo em AAVE, dYdX e Compound.

Caso esse retorno mude ao longo do tempo entre os protocolos de DeFi, o saldo de USDT pode ficar migrando entre os três protocolos citados.

Já o Vault é um agregador que busca as melhores oportunidades de prover liquidez para outras plataformas em pares de negociação ou simplesmente em ativos específicos.

Além das ferramentas oferecidas, a Yearn.finance iniciou uma trajetória de novas parcerias com vários projetos da “Série B” do universo de DeFi.

Digo isso baseado no histórico recente desses projetos, pois, dos cinco, três sofreram algum tipo de ataque hack por possuírem falhas em seus códigos e nenhum deles está entre os líderes dos seus segmentos dentro de finanças descentralizadas.

Isso seria olhar o copo meio vazio, mas tenho alguns pontos que me fazem olhar essa situação por outro ângulo e ver o copo meio cheio.

Se esses projetos não tivessem sofrido esse tipo de ataque e conseguissem galgar as primeiras posições nas suas respectivas vertentes de DeFi, dificilmente a Yearn teria conseguido esses acordos de fusões.

Outra coisa: três dos projetos que se associaram à Yearn tiveram relativo sucesso no passado recente e provaram que têm uma equipe de desenvolvedores competentes também.

Por último, não quero deixar de falar que em todos os projetos hackeados os riscos foram escancarados, o que deixa todas as cartas na mesa e cria um senso de diligência sobre qualquer futuro lançamento.

Essa situação é o contrário da parábola do peru de Natal — a ave acha que vai ser bem alimentada no dia 24 de dezembro, mas é ela que vai para o forno. Seria como se tentassem matar o peru todo dia (tentativas de hack) e ele escapasse toda vez — isso criaria no animal um senso de sobrevivência diferente dos outros.

Desculpe pela péssima analogia, mas o fato é que a união desses projetos de DeFi que se propõem a fazer coisas diferentes com a Yearn pode trazer muita prosperidade para todos.

Vale lembrar novamente que essas fusões são basicamente acordos de cooperação entre os times mais estreitos que o normal entre desenvolvedores.

Pode parecer pouco, mas na verdade representa cooperação com projetos ainda no papel, o que pode resultar em produtos bem mais apurados e com mais utilidade.

Na minha visão, juntar boas pessoas sempre vai resultar em coisa boa, e é disso que se trata essas fusões, sendo a primeira a SushiSwap, conforme já foi apresentado anteriormente no tópico sobre as principais corretoras descentralizadas. Algumas das principais fusões são mostradas a seguir.

Pickle Finance – Um projeto de “yield farming” com stablecoins

A essa altura espero que você já tenha entendido que “yield farming” se trata de emprestar alguma quantia em criptomoedas e ser remunerado de alguma forma com tokens.

No mundo de finanças descentralizadas existem vários sabores desse tipo de projeto e a Pickle é um desses que se propõe a fazer algo muito específico.

Ela pode ser entendida como uma plataforma que ajuda na manutenção da relação ótima para as stablecoins, que é de 1 para 1.

Para realizar essa façanha, o projeto ofereceu inicialmente quatro possibilidades para quem gostaria de fazer yield farming emprestar para os seguintes grupos de liquidez: DAI/ETH; USDC/ETH; USDT/ETH e sUSD/ETH.

Basicamente, a plataforma distribui mais PICKLEs (o token nativo da plataforma) nesses grupos quando a relação entre a stablecoin e o dólar é maior do que 1, e distribui menos PICKLEs quando a relação é menor que 1.
Imagine que no grupo de liquidez USDT/ETH você esteja recebendo 10 PICKLES por dia e, à medida que o USDT (tether) vai ficando mais caro, ou seja, um USDT passa a valer mais que US$ 1, você passa a receber 1 PICKLE.

Isso cria um incentivo para que você venda USDT, pois além de ganhar mais do que US$ 1 por unidade você está recebendo menos PICKLE no seu grupo de liquidez.

Da mesma forma, quando a relação do tether cai abaixo de 1, ou seja, um USDT vale menos que US$ 1, a plataforma passa a distribuir, digamos, 20 PICKLEs por dia. Isso cria um incentivo para que você compre mais tether por estar barato e o coloque no grupo de liquidez para ganhar mais PICKLEs.

Por se tratar de um projeto muito recente, a quantidade de TVL da plataforma não é algo grande atualmente, mas já chegou a ser de US$ 150 milhões logo no seu lançamento, como você pode conferir no gráfico abaixo.

Figura 21. TVL da Pickle Finance
Fonte: DeFi Pulse

Assim como a SushiSwap, a Pickle Finance encontrou alguns problemas ao longo de sua evolução. Em novembro de 2020, ela sofreu um ataque que causou um prejuízo de US$ 20 milhões em DAI.

Desde então, o projeto não conseguiu se recuperar e o seu TVL ainda se encontra na casa dos US$ 25 milhões.

Akropolis – o protocolo DeFi que foca no investidor institucional

Parece muito estranho pensar que em uma vertente tão nova no mercado cripto como DeFi exista um projeto que seja focado no investidor institucional.

Por se tratar de um mercado nascente, é quase vergonhoso prever que fundos de investimentos possam entrar nesse mercado utilizando estruturas financeiras descentralizadas.

No entanto, o mesmo se pensava da internet quando se falava que nenhum governo iria ousar um dia mandar um e-mail, ou que nunca um banco iria se permitir ter agências online. Isso mudou ao longo do tempo, como você pode constatar, e hoje toda grande empresa e governos usam essa rede.

No caso cripto, a Akropolis pode ser considerada um projeto à frente do seu tempo, mas já tem algum mérito.
Atualmente, a iniciativa conta com dois produtos, o Sparta e o Delphi.

O primeiro é uma plataforma de empréstimo muito semelhante à AAVE e ao Compound, mas com um diferencial de empréstimo com garantias menores que o empréstimo, ao passo que o Delphi pretende ser um contrato inteligente que executa a estratégia de DCA (“dollar cost average”) automaticamente na compra de bitcoin ou ether.

Para os que não estão familiarizados com o DCA, ele é uma estratégia que diz que o investidor deve comprar um ativo periodicamente; no caso da Akropolis, se trata de BTC e ETH.

Tanto a Sparta quanto a Delphi estão em seus primeiros meses de vida e ainda não conseguiram atrair muita liquidez, pois atualmente têm juntas um TVL pouco maior que US$ 80 mil, mas no papel são projetos muito inovadores.

A Sparta se propôs a permitir empréstimos com garantias menores do que o montante emprestado, o que, dando certo, seria uma quebra de paradigma dentro do setor, que só consegue oferecer empréstimos quando a garantia é maior que o valor tomado.

Já a Delphi se propõe a ser um ambiente no qual o investidor reinveste os lucros de yield farming em uma estratégia muito simples de compra constante de bitcoin ou ether, ainda sem paralelo no mercado. 

Cover – o protocolo de seguro DeFi

Se você chegou até aqui e leu tudo o que foi colocado acima, deve ter entendido claramente que investir em protocolos de DeFi envolve riscos e, por mais que tenhamos vários desenvolvedores brilhantes por trás dos projetos, erros acontecem.

A Cover é uma plataforma para os investidores estarem segurados de problemas relacionados a erros de códigos. E um projeto muito semelhante a esse é a Nexus Mutual, de que iremos falar a mais adiante.
Diferentemente do Nexus, a Cover não necessita que o investidor que deseja adquirir uma cobertura para determinado projeto tenha que passar por um processo de KYC (“know your client”) rigoroso.

Além disso, o sistema da Cover funciona de forma distinta. Cada contrato de seguro dentro da plataforma diz respeito a um protocolo específico. Isso quer dizer que os usuários se dividem basicamente em dois tipos, o que procura um seguro e o que provê o seguro.

Funciona da seguinte maneira: vamos supor que você empreste para a plataforma US$ 1, por exemplo, USDT. Vale lembrar que, ao travar esse valor na plataforma, é necessário especificar o projeto também.

Ao fazer isso, você cria outros dois tokens, o CLAIM e o NOCLAIM, referentes ao projeto que escolheu. A partir daí, podem acontecer duas coisas até o “vencimento” desses tokens: a) pode ser que nenhum erro ocorra no projeto que escolheu, então o token CLAIM valerá zero depois do vencimento e o NOCLAIM valerá US$ 1. Ou b) se ocorrer um erro no projeto até a data do vencimento, o CLAIM valerá US$ 1 e o NOCLAIM zero.

Veja essa imagem abaixo de uma simulação que fiz na plataforma.

Na imagem temos algumas informações que mostram um exemplo do que falei acima. Nessa simulação coloquei 3,73 DAIs (que valem US$ 3,73) para serem travados na plataforma até o dia 31 de dezembro, com o intuito de minerar os tokens CLAIM e NOCLAIM do protocolo CREAM.

O mesmo valor de DAI foi minerado em tokens CLAIM e NOCLAIM. Os possíveis desdobramentos para os valores do token são os que mencionei acima.

Figura 22. Simulação no protocolo Cover
Fonte: Cover

Vale lembrar que quando falo sobre “erro” na plataforma escolhida não significa que qualquer problema que ocorra já garante cobertura desse seguro criado.

Na verdade, as falhas cobertas pelo seguro envolvem apenas o código.

Outra coisa que vale mencionar é que diferentemente das outras plataformas que apresentamos até aqui, a Cover não teve até agora nenhum grande problema, mas em termos de TVL ainda é menos da metade da Nexus Mutual, que já possui mais de US$ 100 milhões travados em sua plataforma.

Esses foram os cinco protocolos que juntaram forças com o time da Yearn.finance até o momento, o que não deve parar por aí.

Além disso, como citamos a Nexus Mutual, iremos falar um pouco mais dela, que é o principal protocolo de seguro do momento.

Nexus Mutual – o próximo passo óbvio para DeFi

Em linhas gerais, o projeto consiste em uma plataforma na qual é possível unir usuários que juntos são responsáveis por segurar algum evento adverso dentro do mundo cripto.

Atualmente, o projeto conta com um produto que permite que usuários possam ter seguros contra erros de código para quantias investidas em projetos de DeFi. Vale lembrar que os 42 projetos de finanças descentralizadas oferecidos como possibilidade de seguros não têm uma ligação direta com a equipe Nexus. Isso porque o seguro é feito individualmente pelo usuário e não pelo projeto.

É necessário também atentar que os seguros da Nexus cobrem apenas falhas nos códigos dos projetos de DeFi — qualquer outro problema causado pela interação entre esses protocolos não é coberto. Também devemos ter em mente que o NXM é o token que permite que os holders participem do protocolo colocando sua pele em risco.

Quem possui o ativo ligado à Nexus pode fazer parte do contrato de mutual e ser a parte que segura um determinado protocolo de falhas no contrato inteligente (“smart contract”). Em troca desse risco compartilhado, o holder é remunerado com um percentual anual pago por aqueles que têm seu dinheiro segurado.

O interessante do projeto em relação a todos os outros de DeFi é que ele possui uma curva de preço para o token que segue uma lógica muito simples: quanto mais dinheiro segurado pela plataforma, mais o token vale, seguindo essa curva abaixo.

Figura 23. Curva de preço do token NXM em relação ao total segurado.
Fonte: Nexus Mutual

O preço é dado pela fórmula que consta no gráfico acima. MCR (Minimum Capital Requirement) é todo o capital segurado pela plataforma que precisa ser honrado em caso de um evento de falha no código dos projetos segurados.

A e C são constantes que foram definidas no lançamento de acordo com o preço do ether naquele momento e valem 0,01028 e 5.800.000, respectivamente.

No entanto, não quero que se atenha às contas em si, mas ao fato de o token ter uma curva de valorização clara que se beneficia do crescimento de contratos segurados.

Além disso, sabemos que tais regras são mutáveis e, no momento em que estamos falando, várias propostas de mudança nessa curva acima estão sendo discutidas e implementadas para garantir a segurança do ecossistema no longo prazo.

Em uma próxima publicação, podemos trazer o que está sendo discutido de aperfeiçoamento, mas, por ora, vamos passar a métrica mais usada no ecossistema de DeFi, o valor total preso (ou TVL).

Figura 24. Total de dinheiro alocado na plataforma
Fonte: DeFi Pulse

Atualmente, a Nexus Mutual possui quase US$ 80 milhões travados, montante que representa os seguros da plataforma e, por regra, nenhum desses contratos segurados pode ultrapassar um percentual do total investido na plataforma, o MCR citado acima.

Por isso, hoje, dos 42 contratos oferecidos para serem segurados, 9 já atingiram esse máximo e não podem receber dinheiro para serem segurados.

Esse mecanismo permite que o holder do token NXM consiga ter seu risco diversificado em mais de um projeto e não corra o risco de ruína caso um projeto venha a apresentar falha no seu smart contract, drenando grande parte do capital para cobertura do seguro.

Dito isso, quero agora falar da oportunidade que possuir NXM nos proporciona de capturar o crescimento das finanças descentralizadas e também do caráter antifrágil do projeto.

Atualmente, a quantidade de dinheiro segurado dentro do protocolo não representa nem 1% de todo o dinheiro que está em jogo nas finanças descentralizadas.

Parece que a preocupação de um bug não é latente para os atuais participantes do mercado, pois boa parte deles não viveu uma das principais falhas de programação da rede do Ethereum, a DAO (Decentralized Autonomous Organization), que causou um prejuízo de mais de US$ 50 milhões aos participantes.

Imagine que ocorra uma falha em algum código e que os holders do NXM que seguraram o contrato tenham que arcar com o prejuízo.

Naturalmente, veremos o preço do token afundar momentaneamente, mas logo em seguida a plataforma se tornará mais confiável, o que, no longo prazo, é positivo. Afinal, queremos ter seguros que nos paguem o valor devido quando for justo.

Agora imagine a situação em que ocorra uma falha como foi a DAO e que não seja segurada pela rede Nexus. Isso não prejudicaria o valor do token e traria atenção para o protocolo, já que ele poderia ter sido uma solução para amenizar os prejuízos.

E, como a quantidade de dinheiro que está segurado pelos contratos não representa nem 1% do total em risco nas plataformas de DeFi, a probabilidade de falha que não seja segurada é maior do que que aconteça em uma segurada.

Conclusão

Entendo que possa ser difícil enxergar a real utilidade de todos esses projetos apresentados, parece tudo muito distante e pouco amigável para o público em geral.

Dificilmente você vai ver o seu vizinho comentando que pegou empréstimo com garantia em cripto para concretizar um projeto que tinha em mente.

Entretanto, estamos tratando de um mercado embrionário, com um longo caminho pela frente, e o que estamos discutindo hoje são as ferramentas que estarão no background dos aplicativos que vão chegar ao público quando a tecnologia blockchain estiver difundida.

Além disso, como em um grande investimento na base de um time de futebol, poucos enxergam o real potencial disso no futuro.

Os bancos estão mais preocupados com as fintechs, que já são uma realidade batendo à porta, mas poucos estão realmente notando a revolução que está por vir e, quando ela chegar, nós estaremos bem posicionados para capturar os ganhos desse crescimento.

Mesmo dentro do universo cripto fica evidente a assimetria de possíveis ganhos dessa classe de ativos levando em consideração que a capitalização de todo esse mercado é de apenas US$ 7 bilhões, representando pouco mais de 1% do total.

Portanto, assim como em 2020, os holofotes ainda devem continuar em cima dos protocolos DeFi, e nós também.

Forte abraço!
André e Vitor

Sobre o autor

André Franco

Engenheiro mecatrônico formado pela Universidade de São Paulo, é editor responsável pelas séries sobre criptoativos. Vive em busca das próximas oportunidades nesse meio para multiplicar o patrimônio dos seus assinantes.