A revista Forbes lançou, na última terça-feira (06), sua famosa lista anual que elenca os bilionários ao redor do mundo. A publicação traz diversos novos nomes — pessoas que, talvez, fossem apenas milionários em 2020 e ainda não tinham alcançado seu primeiro bilhão. Dentre os novos bilionários de 2021, destacam-se empresários que realizaram recentemente o IPO de suas companhias.
Foi justamente a abertura de capital de seus negócios que os colocou no seleto universo de detentores de montantes de 10 dígitos. Quando uma empresa vai à bolsa, ela é precificada pelo mercado. O controlador, geralmente, vende só uma parte da empresa e continua a deter ações na companhia. A sua fortuna passa a ser calculada a partir da quantidade de ações que ele detém vezes o preço do papel na bolsa. Com negócios bem avaliados, esses empresários “viraram” bilionários.
Bom para eles, certo. Mas o que você tem a ver com tudo isso? Bem, suas ações agora estão listadas em bolsa e qualquer um pode comprar uma fatia e virar sócio desses negócios.
Neste texto você conhecerá 3 dos novos bilionários de 2021 que realizaram o IPO de suas empresas em um passado recente. Ainda te contarei se vale a pena investir nas companhias dos ricões.
1) Ilson Mateus, do Grupo Mateus (GMAT3)
E já começamos com “dois em um”. Ilson Mateus, dono do Grupo Mateus (GMAT3), apareceu acompanhado de sua esposa na lista de bilionários de 2021. Enquanto ele acumula um montante de US$ 1,4 bilhão, Maria Pinheiro possui cerca de US$1 bilhão.
O grupo Mateus é atualmente o quarto maior atacarejo do País. No entanto, o “sucesso” nem sempre foi a tônica das empreitadas de Ilson. Antes de fundar a companhia, o empreendedor atuou como garimpeiro.
Após buscar ouro durante um ano e nada encontrar, ele desistiu do garimpo e passou a vender garrafas de vidro. Por meio dessa nova tentativa, conheceu a região de Balsas, no sul do Maranhão. Visto a dinâmica de cultivo de soja estabelecida na localidade — com muitos migrantes e poucos fornecedores de produtos básicos —, Ilson diagnosticou potencial para estabelecer um negócio. Tinha início ali a história do Grupo Mateus.
A companhia abriu seu capital em outubro de 2020. A captação total da operação foi de R$ 4,63 bilhões: o segundo maior IPO brasileiro do ano. Na época, a série Melhores Ações da Bolsa, de Max Bohm, analisou a oferta e indicou compra de ações do Grupo Mateus. Seis meses depois, GMAT3 permanece entre as recomendações do analista.
Veja abaixo o vídeo que o Max fez sobre o grupo Mateus:
Se o empreendimento teve início em um insight sobre a região de Balsas, a aposta da Empiricus nos papéis do Grupo Mateus também tem “motivações geográficas”. “A área onde a empresa atua, no Meio norte (que abrange o Maranhão, boa parte do Piauí e ainda cidades do Pará) possui uma dinâmica própria, e somente quem entende o local consegue ter vantagens competitivas lá”, comenta Max Bohm.
A expansão do Grupo Mateus em 2020. (Imagem: Reprodução/Grupo Mateus)
Na região específica onde a companhia de Ilson atua, não há competição à altura. Um de seus principais concorrentes, o Big, da marca Bompreço, por exemplo, possui 20% do seu número de lojas. Além disso, outros grandes players, como Carrefour e Pão de Açúcar, não têm interesse em avançar para a localidade devido, exatamente, à dominância do Grupo Mateus.
E o plano estratégico da empresa está pautado em continuar a expansão. Ilson visa alcançar mais localidades de estados onde já atua, como Maranhão, Pará e Piauí, e alcançar outros mais, como o Ceará. Entre 2020 e 2024 o Grupo planeja inaugurar 179 novas lojas.
Sobre esse planejamento, Max aponta que: “o crescimento do número de lojas é necessário para que a empresa consiga fazer um adensamento correto da região, melhorando sua performance logística, reduzindo custos, aumentando Ebitda e margens e chegando a locais onde os concorrentes não desejam entrar”.
Veja na imagem acima a explicação para o conceito de adensamento de Rota e resultados do Grupo Mateus (Imagem: Reprodução/Grupo Mateus)
Outro ponto que deve ser destacado é o fato de a empresa estar dedicando considerável parte de seus investimentos ao crescimento do seu e-commerce. Em 2020 as vendas online evoluíram 222% e a tendência é que sigam em expansão.
Evolução da linha de E-commerce do Grupo Mateus (Imagem: Reprodução/Grupo Mateus)
Apesar do cenário desafiador ocasionado pela pandemia, o Grupo Mateus inaugurou 39 lojas em 2020. Visto isso, Max Bohm acha “factível que a companhia consiga atingir o objetivo de inaugurar cerca de 40 unidades anualmente ao longo dos próximos anos”. Caso atingida a meta, a empresa rondaria o número de 300 estabelecimentos até 2024
Estimativas do número de lojas do Grupo Mateus nos próximos anos (Imagem: Empiricus)
No entanto, nem tudo são flores. Os analistas da Empiricus acreditam que o Grupo Mateus terá de fazer grandes investimentos para a construir os novos estabelecimentos. E esses gastos devem ser diretamente impactados pelo aumento do custo de matérias-primas.
Ao considerar todos esses aspectos, Bohm chega a conclusão de que “o valor justo de GMAT3 é de R$ 13”. Isso representa um potencial de valorização de 55% em relação ao fechamento desta quinta-feira (8).
“Ainda que o grupo Mateus não apresente crescimento de receita ou expansão de margem ao longo deste ano, o ativo continua em patamares extremamente assimétricos. Portanto enxergamos GMAT3 como um ótimo papel para ter em carteira”, conclui Max Bohm
2) Unity Software, de David Helgason
Caso você não conheça nenhum dos nomes citados no título dessa seção, vou facilitar para ti: já ouviu falar dos games Pokémon Go, Among Us ou Fall Guys? Tenho certeza que sim. Pois saiba que esses jogos só existem hoje por conta do trabalho da Unity Software (NYSE:U), a maior plataforma para criação e operacionalização de conteúdos 3D do mundo.
E a empresa de tecnologia, por sua vez, só existe devido à David Helgason, um de seus cofundadores. O islandês foi outro a aparecer na lista de bilionários de 2021 da Forbes, com um montante de US$ 1 bilhão.
Assim como em nosso case anterior, o ricão não viveu de sucessos em toda sua trajetória. A Unity foi fundada em 2004, na Dinamarca, com o nome Over the Edge Entertainment (OTEE). Seu foco na época era o desenvolvimento de games, e seu primeiro lançamento foi “GooBall” (produzido para o Mac), no qual o jogador controlava um Alien que ficava dentro de uma esfera.
Só de assistir o trailer você já deve imaginar os porquês de essa primeira empreitada não ter tido êxito. Apesar do insucesso, David não desistiu e resolveu fazer alterações em seu modelo de negócio. Em vez de criar os seus próprios jogos, a Unity agora ofereceria ferramentas de desenvolvimento para outros profissionais. Jogada de mestre!
Em setembro de 2020, as ações da empresa estreiavam na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). Com papéis precificados a US$ 52, a companhia captou US$ 1,3 bilhão em seu IPO.
As soluções oferecidas pela Unity permitem criar, operacionalizar e monetizar conteúdos 2D e 3D para Smartphones, Tablets, PCs, videogames e dispositivos de realidade virtual e aumentada (VR e AR, respectivamente). Uma área de atuação que apresenta tendência de crescimento no mercado.
Como aponta o analista João Piccioni, em sua série Money Rider, “cada vez mais a indústria de jogos eletrônicos se torna uma ‘nova economia’”. O setor, que movimentava cerca de US$ 15 bilhões na década passada, hoje vende na casa de US$ 140 bilhões. Além disso, o segmento se tornou a categoria de mídia que mais cresce no mundo: 31% da população global joga algum “game”, o que representa mais de 2,5 bilhões de jogadores no mundo.
“Dado que 53% dos jogos mais lucrativos da história do setor utilizaram em sua confecção as tecnologias oferecidas pela Unity, é possível perceber que estamos falando de uma empresa bem posicionada para capturar o mercado potencial nos próximos anos”, afirma Piccioni, em relatório a favor da compra das ações da companhia.
A despeito de David ter deixado o cargo de CEO em 2014, a Unity manteve um ritmo de crescimento bastante forte nos últimos anos. A empresa registrou em seu balanço mais recente (4T20), 793 clientes que compram em valores superiores a US$ 100 mil por ano. É mais que o dobro que ela tinha no início de 2018. Veja o gráfico abaixo:
Evolução de clientes que gastam mais de US$ 100/ano entre 1T18 e 2T20
A partir desses novos clientes, as vendas da empresa totalizaram US$ 220,3 bilhões no quarto trimestre de 2020. Um crescimento de 39% em relação ao mesmo período de 2019. Com isso, as receitas do ano de 2020 ficaram em US$ 772 milhões, 43% acima do valor contabilizado no ano anterior.
Para além dessa tendência de crescimento, Piccioni relembra que “a chegada do 5G e uma maior acessibilidade de dispositivos” poderão ser positivas para a companhia. Isso porque esses processos “fomentarão ainda mais o mercado de criação de conteúdo”.
“Dado a aceleração ainda maior pela digitalização e integração de plataformas com o 5G, escolhemos o player que não só fornece a ferramenta, mas que também fomenta a proliferação do conteúdo nessa ‘nova economia’”, conclui Piccioni.
3) XP Investimentos, de Guilherme Benchimol
Guilherme Benchimol é o último bilionário do qual falaremos, mas passa longe de ser o menos importante. Afinal, dentre os três, ele é o que possui a maior fortuna: US$ 2,6 bilhões. O economista é fundador da XP Investimentos, uma empresa brasileira, mas listada nos Estados Unidos (Nasdaq: XP).
Ao fundar a companhia, em 2001, o brasileiro abraçava o desafio de ingressar em um segmento historicamente oligopolizado. Mais um case de sucesso! Hoje a XP é líder do mercado em que atua, com uma plataforma tecnológica, direcionada para a oferta de serviços financeiros a uma taxa relativamente baixa.
A XP ganhou o segmento ao oferecer soluções de investimentos mais vantajosas para a pessoa física do que os grandes bancos. “A companhia se desenvolveu como uma alternativa sustentável de longo prazo ao modelo tradicional dos bancos, com um enorme ecossistema de rápida expansão totalmente focado em pessoa física”, dizia Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, em dezembro de 2019, poucos dias antes de a empresa abrir seu capital.
Naquele momento Felipe Miranda publicou uma “Edição Especial IPOs”, em que recomendava para os assinantes da Empiricus a compra de ações da XP na operação que ocorreria. A oferta inicial de ações da empresa acabou por se destacar como a nona maior do ano de 2019.
Apesar de criticado por alguns setores, visto que realizaria o IPO da XP na Nasdaq, fora do Brasil, Guilherme assistiu o êxito de sua empresa no dia de abertura. No total, a companhia captou US$ 2,25 bilhões, com ações precificadas em US$ 34,46.
Ao recomendar o ativo, o estrategista-chefe da Empiricus destacava a tendência de desbancarização que se apresentava no mercado. Isso é, na época, havia uma onda de transferência de recursos dos grandes bancos para plataformas de varejo, como a da XP.
“A XP Investimentos foi a corretora que mais se destacou nos últimos anos. Deixou para trás dezenas de competidores. Fruto desse “boom” do setor nos últimos anos, a instituição surfou sozinha a primeira onda e virou referência no segmento”, apontava ele.
A empresa de Guilherme Benchimol passaria ainda a ser indicada na série Money Rider, de João Piccioni. Porém, atualmente, o momento é outro. Desde dezembro de 2020, as ações da instituição não são mais recomendadas pela Empiricus.
Em vez da XP, a Empiricus recomenda a compra de outra ação que deve ganhar com a saída dos investidores brasileiros dos grandes bancos. Ela é considerada pelo Felipe Miranda uma das Oportunidades de Uma Vida (veja aqui mais informações).
IPOs em 2021: sua chance de pegar carona com os bilionários de 2022?
Se você ficou de fora dos IPOS no ano passado e perdeu a chance de ganhar dinheiro junto com os bilionários, não se desespere. Oportunidades não faltam! 2021 promete uma série de novas aberturas de capital, para que você possa, quem sabe, pegar carona com os bilionários de 2022.
Os IPOs aguardados para este ano são os mais diversos. Dentre eles estão o da CSN Mineração, Banco BV, Grupo Big, Tok & Stok e até Kalunga e Havan. No momento existem mais de 30 pedidos de empresas que desejam realizar suas ofertas iniciais no ano de 2021. Será que saem daí os novos bilionários?
Antes que você se empolgue, um alerta: nem todo IPO vale a pena. Muita gente “arruma a noiva” para o casamento e algumas empresas chegam no mercado valendo mais do que deveriam.
Para te ajudar a separar o joio do trigo, a equipe de análise da Empiricus avalia todos os IPOs e recomenda aos seus assinantes se vale a pena comprar ou não. Esses relatórios estão disponíveis para assinantes de qualquer série da Empiricus.