Em forte rali desde o início de 2023, as ações da Petrobras (PETR4) caem mais de 1% no pregão desta terça-feira (21). O motivo são os rumores de uma troca no comando da maior empresa brasileira.
Os boatos da demissão do presidente da estatal, Jean Paul Prates, tem origem na discordância entre Petrobras e governo sobre a política de precificação dos combustíveis.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem sido o membro do governo mais vocal e cobrado publicamente uma redução no preço dos combustíveis.
Por outro lado, Prates defende a atual precificação que, segundo ele, é fundamentada em aspectos técnicos.
Como a intenção do governo é a redução, a possibilidade de mudança na estatal ganhou força e deixou os investidores receosos.
Por que o mercado não aprova a substituição de Prates?
Embora Prates tenha sido visto com desconfiança pelo mercado quando assumiu a companhia, a gestão surpreendeu positivamente, afirmou o analista Ruy Hungria, da Empiricus.
Não à toa as ações PETR4 subiram mais de 60% em 2023 até o fechamento de ontem (20).
Isso porque Prates tem feito bem o papel de ‘fiel da balança’. Quando Lula foi eleito, os acionistas temiam um investimento acima do ideal em fontes menos rentáveis e uma política de precificação populista que prejudicaria o lucro e a distribuição de proventos da estatal.
No entanto, a missão de equilibrar os interesses de lucro e rentabilidade da Petrobras com a função social cobrada pelo governo vem sendo bem executada “na medida do possível”, na visão de Hungria.
“O que a gente viu até agora foi uma política de precificação de combustíveis próxima ao que já vinha sendo utilizada nos anos anteriores. Agora esses ruídos voltaram a atrapalhar a visão positiva do mercado”, avaliou.
A queda nas ações nesta terça-feira, portanto, tem relação com o temor de uma influência maior do governo no dia a dia da companhia, e a possível substituição de Prates seria uma sinalização nesse sentido.
E os dividendos da Petrobras?
O analista explicou que uma alteração exagerada no preço dos combustíveis afetaria diretamente o lucro e a geração de caixa da companhia. “No fim do dia é menos dividendo para o acionista”, avaliou.
Além disso, um investimento maior que o previsto em energias renováveis e outros ativos menos rentáveis também prejudicariam os dividendos da estatal.
“A grande geradora de caixa dentro da Petrobras é a exploração e produção de petróleo no pré-sal. É dali que saem os grandes resultados. Quanto mais dinheiro ela usa para investir em outros setores, menor é o dinheiro destinado à distribuição de dividendos”, afirmou Hungria.
O analista destaca que o mercado já previa um investimento maior em fontes renováveis e uma queda dos proventos em relação aos últimos anos.
O problema é justamente a quantidade de recursos direcionados a esses investimentos, que já se provaram ruins em termos operacionais para a Petrobras.
“Dá para investir em renováveis e ainda assim distribuir bons dividendos. Hoje a Petrobras tem um dividend yield entre 15% e 20%, está entre os maiores da Bolsa. Mas quanto mais você direcionar recursos para isso e outros segmentos, como fertilizantes, refinarias e outras coisas que o governo tem falado, a distribuição começaria a reduzir mais drasticamente”, afirmou.
Por conta de todos os riscos políticos que envolvem o case, a Empiricus Research deixou de recomendar as ações em agosto. Caso tenha interesse em conferir gratuitamente a petroleira recomendada pela casa, clique aqui.
Confira a entrevista completa de Ruy Hungria no Giro do Mercado: