Nesta semana, Assaí (ASAI3) anunciou que pretende iniciar um processo de desalavancagem. A ideia seria cortar dois terços do capex (capital utilizado para aquisição de maquinário e bens materiais) anual. A redução seria de um total de R$ 5 bilhões para R$ 2 bilhões e R$ 1,5 bilhões, em 2024 e 2025, respectivamente.
A aquisição de Extra pesou na alavancagem de Assaí
Desde 2011, a companhia cresce 26%, em média, anualmente. Saiu de um faturamento de R$ 4 bi, no primeiro ano, para R$ 70 bi nos últimos 12 meses.
“Nos últimos dois anos, principalmente, Assaí precisou aumentar muito o capex por conta da aquisição de mais de 66 lojas do Extra”, lembra Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research. “Como ela optou por usar a própria geração de caixa em vez de captar recursos via mercado de capitais, é normal a alavancagem ter aumentado“.
Hoje, a empresa tem uma alavancagem de 4,4 vezes Ebitda. Segundo Ferrer, é um patamar considerado alto, em especial com uma taxa Selic ainda elevada. “Em geral, como uma regrinha de bolso, gostamos de uma alavancagem de até 3 vezes Ebitda”.
Apesar disso, Ferrer considera muito oportunista a compra de pontos de supermercados já existentes, uma vez que, para montar uma unidade do Assaí do zero, leva em torno de cinco a seis anos. “Os competidores da companhia não tiveram essa visão e com isso ela conseguiu expandir muito a presença da marca em diferentes regiões. Hoje, Assaí tem 30% de participação no mercado”.
Os próximos passos de Assaí
O objetivo da companhia agora é finalizar a conversão de lojas Extra para Assaí até o final de 2023 e seguir usando sua geração de caixa para poder buscar um alívio nesse indicador. “Agora faltam apenas seis unidades para converter e a ideia, a partir de então, é buscar um patamar de 3,5 vezes até o final de 2024 e continuar o processo em 2025, para aí sim entrar em um nível bem saudável de estrutura de capital”.
Para Ferrer, o movimento é positivo, já que a companhia se beneficiaria da maturação desses novas lojas e também da taxa básica de juros caindo. “Vai gerar uma economia brutal de despesa financeira e a empresa vai entrar numa fase de rentabilização do crescimento que teve até agora”, afirma o analista.
Carrefour também pretende converter novas lojas: é uma ameaça?
O Carrefour Brasil (CRFB3) também anunciou recentemente que pretende converter 40 hipermercados em lojas Atacadão e Sam’s Club entre 2024 e 2026.
“Mesmo com esse tipo de movimentação de Carrefour, acabo tendo mais confiança no case de Assaí, por ser especializado em atacarejo e focar somente nisso”, opina Ferrer.
Segundo ele, a companhia conseguiu construir uma boa proposta de valor e fazer uma “arte” muito interessante em suas unidades. “Por exemplo, os produtos das lojas são personalizados para cada região e as lojas são muito mais aprazíveis hoje em dia. Vai ter região que precisa de três corredores de vinho, vai ter outra que uma só dá conta da demanda daquele bairro”, explica.
Além disso, o analista acrescenta, a rede de atacarejo conseguiu adaptar o modelo de negócio para atrair a pessoa física também. “Antigamente comprar atacado significava levar 50 refrigerantes de uma vez, hoje em dia com duas garrafas a pessoa já consegue o preço do atacado”.
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O que esperar de ASAI3?
Nesta terça (28), a ação da companhia está entre as maiores altas da Bolsa, subindo 1,85% às 15h.
Ferrer associa o movimento à notícia do processo de desalavancagem da companhia e ao aumento dos preços de alimentos, indicado no IPCA-15 de novembro.
“O mercado parece se animar porque os riscos da tese estão saindo da frente. O risco da alavancagem, por exemplo, já está se dissipando, assim como o da competição, já que é super burocrático abrir uma loja do zero, e, por fim, a ameaça da deflação dos alimentos também”.
Dado o potencial à frente, o analista continua recomendando investir em Assaí (ASAI3). “O papel está negociando muito barato, a 10 vezes lucro, e esse último gatilho da inflação dos alimentos deve atrair ainda mais investidores, principalmente no ano que vem”, finaliza.