Investimentos

Nesta quarta (29), mercado absorve dados do PIB americano do 3º tri e Livro Bege do Fed

Além disso, nos EUA o mercado de IPOs está finalmente ganhando impulso novamente após uma recessão de dois anos.

Por Matheus Spiess

29 nov 2023, 08:48 - atualizado em 29 nov 2023, 08:48

Imagem das iniciais da palavra Produto Interno Bruto sobre a bandeira do Brasil com algumas notas de reiais dados de emprego mercado
Reprodução: Shutterstock

Bom dia, pessoal. O mercado absorve hoje alguns dados cruciais nos EUA, notavelmente o PIB do terceiro trimestre, que deve corroborar a sólida tendência de crescimento observada entre julho e setembro, e o Livro Bege do Fed, delineando as condições econômicas nos 12 distritos sob a autoridade monetária americana, que deverá lançar as bases para a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) em dezembro. Nos mercados internacionais, os índices europeus e os futuros nos EUA iniciam a quarta-feira em alta, especialmente após vários membros do Fed expressarem incertezas sobre a possibilidade de elevação das taxas de juros. Christopher Waller, por exemplo, indicou que é provável que o Fed mantenha as taxas inalteradas ao longo de 2023, e a redução da inflação pode levar o banco a iniciar cortes em 2024.

Esse sinal positivo também repercutiu na Ásia, embora tenha sido moderado pela cautela diante das principais leituras econômicas da China. Em termos gerais, o clima parece promissor, apesar de os dados de hoje potencialmente complicarem o pregão (vale ressaltar que são dados predominantemente antigos). Não seria surpreendente ver, nas próximas semanas, alguns investidores passarem a considerar de forma mais enfática a possibilidade de cortes de juros já no primeiro trimestre do ano que vem. Além disso, estamos atentos aos dados preliminares de inflação de preços ao consumidor em novembro na Espanha e na Alemanha, bem como aos dados de crédito do Reino Unido. Como parte desse panorama, analisamos também o relatório de perspectiva econômica da OCDE. No cenário doméstico, além de acompanhar os desenvolvimentos internacionais, avaliamos atentamente a dinâmica política.

A ver…

· 00:52 — Anda ou não anda?

No Brasil, nos deparamos com dados frustrantes do IPCA-15 ontem, confirmando a hipótese de que os varejistas, especialmente os de vestuário, elevaram os preços na primeira metade do mês para depois reduzi-los na aguardada Black Friday. Parece que, de certa forma, seguimos a máxima do “tudo pela metade do dobro”.

Independentemente disso, a expectativa é uma consolidação da inflação em torno de 4,5% para o ano, podendo ser um pouco inferior, dependendo de possíveis quedas nos preços dos combustíveis. No entanto, o foco dos investidores está na agenda econômica em Brasília, que destaca as votações no Senado para o projeto que propõe taxar os fundos exclusivos e offshores.

Simultaneamente, não podemos negligenciar as novas concessões no texto que modifica a tributação federal sobre casos de subvenção estadual concedida a empresas, especialmente a subvenção do ICMS. Esta é possivelmente a proposta mais ambiciosa do Ministério da Fazenda para reduzir o déficit do próximo ano. Na busca por aprovação, foram sugeridos alguns ajustes, incluindo a incorporação de uma transação tributária específica para o estoque de créditos que foram deduzidos indevidamente pelas empresas. Estas empresas haviam abatido o ICMS da base do IRPJ e CSLL no financiamento de custeio e não em investimentos. Embora a proposta original buscasse alcançar cerca de R$ 35 bilhões em 2024, esse número deve ser revisado para baixo devido às mudanças. Independentemente dos valores, o ponto crucial é impulsionar o avanço da agenda econômica. Ela precisa andar…

· 01:50 — Uma abordagem mais flexível…

Nos Estados Unidos, a manchete proeminente de ontem derivou de observações mais moderadas de um membro do Federal Reserve, confirmando, principalmente, o otimismo do mercado acerca da interrupção do aumento das taxas de juros pelo banco central. Em determinados momentos, a ausência de grandes notícias configura-se como uma boa notícia, especialmente no final do ano, quando a atenção dos investidores se volta para as perspectivas do próximo ano. Neste período sazonalmente robusto para o mercado, há espaço para otimismo adicional.

Christopher Waller, um dos membros do Fed, indicou que o patamar atual das taxas de juros está desacelerando a economia dos EUA, contribuindo para levar a inflação à meta de 2% do banco central. Waller, que foi posteriormente apoiado por John Williams, de Nova York, observou que os dados econômicos recentes apontam para o início de um arrefecimento no mercado de trabalho nos EUA, com desaceleração nos gastos do consumidor e uma notável moderação na atividade econômica. Esses são sinais cruciais de que a política monetária restritiva do Fed está produzindo os efeitos desejados e de que a inflação continua a evoluir na direção correta, ainda que de maneira gradual.

É importante salientar que a inflação ainda permanece elevada, sendo prematuro afirmar com certeza que as recentes tendências econômicas mais suaves serão sustentadas. Contudo, os indícios são promissores. Na agenda, destacam-se alguns resultados interessantes, como os de Salesforce, Dollar Tree, Foot Locker e Victoria’s Secret. No âmbito macroeconômico, aguardamos a segunda estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) para o terceiro trimestre nos EUA. A estimativa prévia apontava para um crescimento anual ajustado sazonalmente de 4,9% no terceiro trimestre. Resultados alinhados ou abaixo do esperado abrem espaço para otimismo adicional.

· 02:46 — Uma COP murcha

A COP28 tem início hoje em Dubai, com líderes mundiais enfrentando crescente pressão por ações efetivas contra a mudança climática. Apesar disso, especialistas adotam uma postura cautelosa ao antecipar as respostas dos governos diante de demandas ambiciosas, especialmente após as frustrações decorrentes de metas propostas em encontros climáticos anteriores. O ceticismo prevalece devido ao interesse dos Emirados Árabes Unidos, país-sede do evento, em adiar o ponto mais urgente da agenda climática: estabelecer metas para a neutralização das emissões de CO₂ provenientes da queima de combustíveis fósseis.

A peculiaridade reside no fato de que o país anfitrião da COP28 planejava conciliar objetivos ambientais com a promoção de combustíveis fósseis durante a cúpula climática. Para se ter uma ideia, o presidente da COP28, Sultan Al Jaber, também ocupa o cargo de chefe da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc), pretendendo propor acordos energéticos centrados em combustíveis fósseis aos líderes internacionais participantes na conferência da ONU. O conflito de interesses, por sua vez, torna-se cada vez mais evidente.

Os participantes da COP28 avaliarão o progresso em direção às metas de redução das emissões de carbono. Os organizadores almejam impulsionar a transição para energias limpas, estabelecer algum consenso sobre o papel dos combustíveis fósseis no futuro e persuadir os países ricos a financiar esforços relacionados às mudanças climáticas. Outro problema é que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não participará da Cúpula do Clima. Dessa forma, o evento, antes mesmo de seu início efetivo, parece desprovido da relevância que se esperava.

· 03:35 — Ressuscitando os IPOs

De volta aos Estados Unidos, o mercado de IPOs está finalmente ganhando impulso novamente após uma recessão de dois anos. O interesse nas ofertas públicas iniciais decorre naturalmente da recuperação de cerca de 19% do S&P 500 até agora neste ano, embora esse desempenho seja predominantemente concentrado em grandes teses de tecnologia. Uma onda de IPOs poderia fortalecer a confiança na perspectiva de mais ganhos no mercado de ações e também oferecer algum alívio para as ações do setor bancário.

A mais recente estreia potencial de alto perfil é da Lineage Logistics, uma empresa global de armazenamento refrigerado que está supostamente discutindo um IPO já no primeiro semestre de 2024, com uma avaliação de US$ 30 bilhões. Outros candidatos incluem a empresa de mídia social Reddit, que está considerando uma avaliação de até US$ 15 bilhões, a empresa de varejo de moda Shein, com sede em Cingapura, que espera uma avaliação de até US$ 90 bilhões, a Skims, de Kim Kardashian, e a startup de segurança de dados e nuvem da Microsoft, a Rubrik.

Essa série de possíveis listagens marca uma reviravolta acentuada, considerando que os IPOs enfrentaram uma crise recente. O volume total deste ano nos Estados Unidos deverá ultrapassar apenas o de 2022, que foi o pior ano em mais de uma década. No Brasil, a situação é ainda mais dramática, sendo este o segundo ano consecutivo sem qualquer IPO. Na história recente do Brasil, não temos registro de algo assim; embora tenhamos tido um ano sem nenhuma oferta pública e um subsequente com apenas uma, ter dois anos consecutivos sem é a primeira vez desde o Plano Real. Vamos ver se a queda dos juros contribui para um cenário mais favorável em 2024.

· 04:13 — Um gigante nos disse adeus

Charles Munger, o companheiro, braço-direito e contraponto de Warren Buffett por quase 60 anos, período durante o qual transformaram a Berkshire Hathaway de uma fabricante têxtil quebrada em um império, faleceu ontem aos 99 anos. Munger desempenhou um papel fundamental na criação da filosofia de investimento em empresas de longo prazo, sendo vice-presidente da Berkshire. Sob sua liderança, a empresa alcançou um ganho médio anual de 20% entre 1965 e 2022, aproximadamente o dobro do ritmo do índice S&P 500.

Estamos falando da sétima empresa mais valiosa dos Estados Unidos, onde Munger não era apenas um colaborador, mas também um amigo pessoal próximo e mentor de Buffett. Ele foi um dos arquitetos da escola de investimento em valor (value investing) e do formato de investimentos que ainda seguimos hoje. Munger deixa um legado gigantesco para as próximas gerações. É seguro afirmar que a Berkshire Hathaway não seria o que é hoje sem sua participação, mesmo com o brilhantismo de Buffett, pois Munger aconselhou em uma série de assuntos, incluindo investimentos, aquisições e gestão empresarial. O mercado financeiro global perdeu um de seus gigantes.

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.