Nesta sexta-feira (15), às 10h, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realizou na sede da B3 (B3SA3), em São Paulo, o maior leilão de transmissão de energia já feito no Brasil. O evento envolveu três lotes e quatro sublotes, com investimentos que somaram R$ 21,7 bilhões.
As ofertas totalizaram 4.471 quilômetros em linhas de transmissão e 9.840 megawatts (MW) em capacidade transformação para subestações, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Os ativos negociados estão localizados em cinco estados: Goiás, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins.
Como funcionou o leilão de transmissão
Como o leilão tinham projetos complexos e que demandam alto investimento, o lote 1 da Aneel foi dividido em quatro sublotes (1A, 1B, 1C e 1D). Só ele exigia R$ 18,1 bilhões em investimentos, concedidos à chinesa State Grid. A companhia terá de entregar 1.468 quilômetros de linhas de transmissão em corrente contínua que atravessará os estados do Maranhão, Tocantins e Goiás.
No leilão por deságio, a empresa vencedora é a que oferecer a menor receita anual permitida (RAP) — remuneração dos serviços prestados pela companhia na transmissão de energia. No lote 1, a referência era de R$ 3,2 bilhões; a State Grid ofereceu R$ 1,9 bilhão, com um deságio de quase 40%.
Devido à complexidade, o projeto tem prazo de conclusão de 72 meses, mais longo que os habituais 60 meses.
O lote 2 (R$ 2,6 bilhões em investimentos) foi arrematado pelo Consórcio Olympus, com deságio de 47% e RAP em R$ 239 milhões; o lote 3 (R$ 1 bilhão), pela Celeo Redes Brasil, com deságio de 42% e RAP em R$ 101 milhões.
Leilão pouco vantajoso para as empresas
Segundo Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, chamou atenção o deságio médio elevado, de mais de 40%. “Não é boa notícia para as empresas, porque quanto maior o deságio, menor a receita que está aceitando receber por aquela concessão e menor a rentabilidade”.
Além disso, ele ressalta o fato de poucas empresas terem participado do leilão.
“Desta vez, já era esperada uma baixa competição. O investimento exigido era muito alto e envolvia muita complexidade tecnológica, já que foi de corrente contínua de alta voltagem – um segmento em que pouquíssimas companhias brasileiras atuam. Sem contar que vai ter um leilão importante em 2024 e muitas empresas estão se guardando para ele”, afirma.
Além da State Grid, a Eletrobras (ELET3;ELET6) era outra grande candidata a receber a concessão do lote 1. “Só Eletrobras e State Grid tinham balanço suficiente para encarar esse nível de investimento, mas no fim das contas a primeira decidiu ficar de fora, mas não temos como saber exatamente por que. Pode ter sido pelo deságio alto ou por qualquer outro motivo”.
Para a Empiricus Research, Alupar (ALUP11) continua a melhor do setor
Para Hungria, a Alupar ainda é a melhor empresa de transmissão para ter em carteira e já está em uma etapa mais avançada de consolidação.
“Damos preferência para Alupar porque ela já tem um portfólio robusto, já é um negócio estável e resiliente, não espera mais grandes novidades. Ela conseguiu vencer leilão por volta de 2016 e 2017 e desde 2018 não vinha ganhando mais porque a competitividade estava muito alta no Brasil e a companhia decidiu não topar tanta agressividade e passou a olhar mais para países vizinhos”.
O analista acredita que, daqui para frente, cada vez mais, a tendência é a companhia ter maior geração de caixa, além de uma maior distribuição de dividendos, por conta do baixo nível de investimentos.
Para conferir a entrevista completa de Ruy Hungria, assista este vídeo: