Fundos Abutres: o que são e como funcionam esse tipo de fundo de investimento?

Existem fundos de investimentos que são conhecidos por terem um perfil bastante arrojado, mas também com perspectivas de ganhos bastante elevados. Eles são conhecidos como fundos abutres.

Ainda que sejam mais comuns nos mercados financeiros de países desenvolvidos, os fundos abutres também podem ser encontrados em economias emergentes – como no Brasil.

O que são fundos abutres?

Fundos abutres são hedge funds que se especializam em comprar títulos de dívida de empresas ou países que estão em dificuldades financeiras ou à beira da falência. Ou seja, eles adquirem títulos de renda variável.

Nos países desenvolvidos, esses fundos também são chamados de vulture funds e são comprados a preços muito baixos, com a expectativa de lucrar com a valorização.

O termo “abutre” vem da forma como esses fundos se comportam, que é semelhante aos abutres na natureza que se alimentam de animais mortos ou moribundos.

Os investidores muitas vezes compram títulos considerados podres, também chamados de junk bonds, de organizações em processo de reestruturação ou de países com grandes problemas financeiros.

Uma vez que detêm uma parte significativa da dívida, eles podem ter uma influência considerável nas negociações de reestruturação delas ou nos processos de falência. 

Em alguns casos, esses fundos recorrem a litígios para forçar o pagamento total da dívida, inclusive juros e penalidades, o que pode ser muito mais do que o valor pelo qual compraram a dívida inicialmente.

Essa prática é controversa, pois, por um lado, os defensores argumentam que ela desempenha um papel importante no mercado de crédito, proporcionando liquidez e ajudando a estabelecer um preço para dívidas que de outra forma seriam consideradas sem valor.

Por outro lado, críticos afirmam que esses fundos podem exacerbar as dificuldades financeiras de devedores já vulneráveis e que suas táticas agressivas de cobrança podem ter consequências sociais e econômicas negativas.

Como funcionam os fundos abutres?

Os fundos abutres operam utilizando uma série de estratégias focadas em investir em dívidas consideradas de alto risco, com o objetivo de alcançar altos retornos. Dentre as estratégias dos fundos abutres mais comuns estão:

• compra de dívida com desconto;
• negociação e reestruturação de dívida;
• litígios e pressão legal;
• atuação em falências;
• venda em momento oportuno;
• estratégia de longo prazo.

Compra de dívida com desconto

Os investidores compram títulos de dívida de empresas podres ou governos que estão em dificuldades financeiras ou à beira da falência por um preço muito abaixo do seu valor nominal.

Essa compra é feita na expectativa de que haverá uma recuperação, reestruturação ou pagamento futuro que será mais lucrativo do que o preço de compra.

Negociação e reestruturação de dívida

Após adquirir uma quantidade significativa da dívida, os fundos abutres frequentemente tentam negociar com os devedores (empresas ou países) para reestruturar a dívida.

Eles podem buscar termos mais favoráveis ou tentar influenciar o processo de reestruturação para maximizar seus retornos.

Litígios e pressão legal

Em alguns casos, se as negociações não forem bem-sucedidas, os fundos abutres podem recorrer a ações judiciais para forçar o pagamento total da dívida, incluindo juros e penalidades.

Nesse caso, pode-se usar processos judiciais em diferentes jurisdições, especialmente em países com leis favoráveis aos credores, para pressionar os devedores a pagar.

Atuação em falências

Os fundos abutres muitas vezes se envolvem em processos de falência, onde podem ter uma voz significativa devido à posse de uma grande parte da dívida.

Eles podem influenciar o plano de reorganização de uma empresa falida para maximizar o valor recuperado de seus investimentos.

Venda em momento oportuno

Após uma reestruturação bem-sucedida ou uma decisão judicial favorável, os fundos podem vender os títulos de dívida por um preço mais alto do que o de compra, lucrando com a diferença.

Estratégia de longo prazo

Em alguns casos, os fundos abutres podem adotar uma abordagem de longo prazo, mantendo a dívida por um período extenso, esperando uma recuperação econômica ou uma mudança no ambiente político que possa aumentar o valor dos títulos.

Um bom exemplo disso aconteceu envolvendo a crise Argentina. Em 2001, o país anunciou o calote da dívida pública no valor de 100 bilhões de dólares.

No entanto, como essa dívida impossibilitava o país de contrair novos empréstimos no mercado internacional, em 2005 foi proposta uma negociação com os credores, entretanto, 7% deles discordaram das condições.

Diante desse impasse, os fundos abutres compraram essa dívida e foram à justiça exigir o pagamento.

O processo perdurou por uma década até que em 2016 o governo da Argentina fez um acordo com os fundos, que receberam 6,5 bilhões de dólares – um montante 75% superior ao que pagaram.

Vantagens e riscos dos fundos abutres

As vantagens dos fundos abutres incluem a injeção de liquidez em mercados de dívida em dificuldades, o que pode ajudar a estabilizar esses mercados. 

Além disso, ao investir em dívidas com problemas, esses fundos podem auxiliar no processo de reestruturação, oferecendo uma via para que as empresas ou países em dificuldades financeiras retomam um caminho mais sustentável.

Por outro lado, suas táticas agressivas, especialmente em litígios, podem exacerbar as dificuldades financeiras de países ou organizações já em situações precárias e, em casos de dívidas soberanas, a população do país devedor.

Além disso, as ações desses fundos podem levar a uma reestruturação de dívida menos favorável para outros credores e para o devedor, criando um cenário onde o benefício de um pequeno grupo de investidores vem à custa de outros stakeholders.

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