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Nike (NIKE34): 2º tri fiscal de 2024 superaram expectativas, mas frustraram nas projeções

A Nike reduziu a expectativa de crescimento para o ano, levando a uma queda de 10% das ações na última sexta (22)

Por Enzo Pacheco, CFA

26 dez 2023, 10:49 - atualizado em 26 dez 2023, 10:54

ações da Nike
Imagem: Unsplash

Na última quinta-feira (21), após o encerramento do pregão regular, a fabricante de produtos esportivos Nike (B3: NIKE34 | NYSE: NKE) reportou os seus balanços do segundo trimestre do ano fiscal de 2024 (encerrado em novembro).

Apesar dos números melhores do que o esperado pelos analistas, a companhia reduziu a expectativa de crescimento para o ano, fazendo com que as ações caíssem 10% na sexta.  

Vendas cresceram 1% em comparação anual

No período, a companhia apresentou vendas de US$13,388 bilhões, aumento de 1% (-1%, quando desconsiderada a variação cambial) em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.  

Os destaques de crescimento ficaram por conta das regiões da Ásia-Pacífico e América Latina, que reportaram alta de 13% (+10% ex-câmbio), e da Grande China, com aumento de 4% (+8%). Ainda assim, essas áreas ainda são as de menor representatividade para o negócio, com receita de US$1,805 bilhão e US$1,863 bilhão, respectivamente — 14% do faturamento total cada uma.  

Por outro lado, a receita da América do Norte apresentou recuo de 4% (-3% ex-câmbio), totalizando US$5,625 bilhões, principalmente pela queda de 5% na venda de calçados.  

Margem bruta subiu para 44,6%

Ainda que não tenha conseguido entregar um forte crescimento, a companhia ao menos fez o dever de casa e conseguiu melhorar a sua margem bruta em 1,7 ponto percentual, encerrando o trimestre nos 44,6% (ante 42,9% no 2T23).

Gráfico 9. Margem bruta (trimestral) da Nike, desde o 3T19 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Despesas de Nike se mantiveram estáveis

Além disso, o controle se estendeu para as despesas gerais e administrativas, que permaneceram estáveis em relação a receita da companhia (31% das vendas).  

Isso permitiu à empresa reportar um Ebit (lucro antes dos juros e impostos, proxy do lucro operacional) de US$1,9 bilhão (+14% vs. 2T23), o equivalente a uma margem de 14,2%, quase 2 pontos percentuais acima do apresentado no mesmo trimestre de 2022. 

Lucro líquido 21,2% maior em comparação anual

Na linha final de resultado, o lucro líquido da Nike foi de US$1,578 bilhão, ou US$1,03 por ação, valor 21,2% maior do que o reportado no 2T23 (US$1,331 bilhão, US$0,85/ação).  

Boa parte da melhoria dos números está ligada ao melhor gerenciamento dos estoques — como havíamos comentado na tese inicial de investimento. 

Isso porque, no 2T24, o saldo de inventário totalizou US$7,979 bilhões, um número 14% menor na comparação anual. Dessa maneira, a companhia não precisou atuar de maneira mais agressiva nas promoções de seus produtos — segundo a empresa, o preço médio dos calçados e itens de vestuários foram aumentando ao longo do trimestre, e o preço médio em todos os canais foram maiores graças a resiliência dos produtos de maior valor agregado.

Gráficos 10 e 11. Estoque da Nike (gráfico superior) e variação anual do estoque (inferior), desde o 3T19 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Contudo, todos esses pontos positivos acabaram sendo ofuscados por outros que, na visão de alguns investidores, não foram tão bons assim. 

Projeções de menor crescimento para 2024

O primeiro e mais notório foi a revisão da direção para o crescimento no segundo semestre fiscal da companhia. Se antes a empresa esperava crescer algo entre 5% e 10% no ano, as projeções atuais indicam um aumento de apenas 1% nas vendas anuais.  

No trimestre atual (3T24), que engloba as vendas de Natal, a empresa espera um leve recuo na receita do que o esperado anteriormente (devido a difícil base de comparação do ano anterior), e que no 4T24 o crescimento seja de um dígito baixo.  

De acordo com o CFO Matthew Friend, vários riscos para a empresa, como um dólar mais forte, o período de vendas das festas de fim de ano e os pedidos no atacado — algo que já haviam sido citados anteriormente — começaram a ficar mais claros na visão do executivo. 

A nova projeção, de acordo com Matthew, reflete maiores problemas de cunho macro, particularmente para a região da Grande China e da Europa, Oriente Médio e África.  

Os ajustes nas vendas dos canais digitais, revistos para baixo, aconteceu por conta do menor tráfego nesses canais, maiores promoções nos marketplaces, o ciclo de vida de algumas das principais franquias da companhia e um dólar fortalecido, que reduziu a receita reportada em relação ao trimestre anterior.

Ainda assim, a Nike espera reportar um incremento de 1,4 p.p. a 1,6 p.p. na sua margem bruta. Além disso, o lucro líquido ajustado no ano deve vir em linha com o projetado inicialmente. 

Outro ponto que provavelmente preocupou os investidores foi o anúncio de cortes de custos, que devem totalizar US$ 2 bilhões nos próximos três anos. 

Ainda que isso seja algo que tende a ser positivo na visão dos analistas, fato é que um ajuste dessa magnitude gera ruídos na organização.  

Isso porque, segundo a companhia, esse plano envolve a simplificação da oferta de produtos, uma maior automatização e uso de novas tecnologias e redução na estrutura organizacional. Tudo isso deve gerar um impacto de até US$450 milhões nos resultados já do 3T24.  

Recentemente, alguns jornais reportaram que a Nike estaria, discretamente, reduzindo o seu quadro de funcionários e sinalizando uma reestruturação de suas operações. Uma série de áreas como recrutamento, marca, engenharia, inovações, entre outros, sofreram com tais demissões. 

Investidores de Nike realizaram lucro

Apesar de ter entregado lucro acima das estimativas do mercado, as vendas abaixo do previsto pelo segundo trimestre consecutivo (algo que não acontecia desde 2016) parece ter sido uma ótima desculpa para que os investidores aproveitassem para realizar parte dos lucros recentes obtidos no ativo — desde as mínimas do ano, em setembro, até o dia do resultado, era quase 40% de ganhos. 

Mesmo que o curto prazo seja desafiador, a história tem mostrado que esses momentos de grandes desvalorizações abrem boas oportunidades de entrada na ação. 

Gráfico 12. Cotação de Nike, desde o IPO | Fontes: Bloomberg e Empiricus

 

Tabela 1. Retorno nas ações da Nike em 1, 3, 6 e 12 meses após as 20 maiores quedas desde o IPO | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Isso tudo, porém, não foi o suficiente para impedir que a empresa continuasse retornando recursos para seus acionistas: foram mais US$523 milhões em dividendos (+9% vs. 2T23) e US$1,2 bilhão em recompras de ações (de um programa de US$18 bilhões aprovado em junho de 2022, dos quais foram recomprado US$7,1 bilhões). 

O que disse a Nike

Mesmo com as dificuldades enfrentadas, o CEO John Donahoe fez questão de enfatizar na teleconferência de resultados que o poder da marca Nike tem permitido a companhia entregar resultados melhores que seus concorrentes. 

Segundo o executivo, as vendas na semana da Black Friday apresentaram crescimento perto de 10% (acima da média da indústria), com a Nike Digital tendo a sua melhor semana neste período de sua história e um número recorde de pessoas foram às compras nas lojas físicas no final de semana do Dia de Ação de Graças (‘Thanksgiving’). 

Além disso, a perspectiva de crescimento nos resultados da Grande China, mesmo que tenham vindo abaixo das estimativas, estão longe de ser um ponto de grande preocupação para a direção — ainda que seja necessário continuar sendo monitorado constantemente para validação (ou não) da tese de investimento.  

A não ser que entremos em um período mais complicado para a economia americana e mundial, entendo que a reação nas ações da Nike (B3: NIKE34 | NYSE: NKE) me parece desproporcional dado a qualidade da marca e seus vetores de crescimento. 

Por não ser uma papel que podemos considerar barato (30 vezes seus lucros projetados), mantenho o ativo na classificação de Alta Convicção, mas com um peso mais próximo do intervalo inferior (7%) do que do superior (10%). 

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Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Desde 2017 atua na análise dos mercados internacionais na série da Empiricus voltada a este propósito (MoneyBets).