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Três Poderes discursam em cerimônia de memória aos ataques de 8 de janeiro e semana terá agenda econômica agitada; saiba mais

A equipe econômica mantém seu compromisso em preservar a nova MP da Reoneração da folha e o veto de Lula ao dispositivo da LDO que estabelece um calendário para o governo tratar das emendas.

Por Matheus Spiess

08 jan 2024, 08:54 - atualizado em 08 jan 2024, 08:54

brasília mercado ibovespa payroll
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal! Bem-vindos de volta. Reiniciamos nossas conversas matinais nesta primeira segunda-feira útil de 2024. Os primeiros dias do ano transcorreram com uma movimentação mais contida, como era naturalmente esperado, mas com uma inclinação negativa, em grande parte corrigindo os excessos de 2023 e antecipando-se a possíveis abalos no ano que se inicia. Existe uma preocupação crescente em relação à possibilidade de uma recessão severa nos EUA e novos desafios geopolíticos, notadamente aqueles que começam a se intensificar no Mar Vermelho.

Na agenda, a segunda semana do ano traz consigo o início da temporada de resultados das empresas americanas, inaugurada pelos grandes bancos.

Nesta segunda-feira (8), a maioria das ações asiáticas registrou queda, reagindo ao aumento surpreendente nos dados sobre folhas de pagamento nos EUA na última sexta-feira. Esse acontecimento fez com que os mercados reavaliassem as expectativas de cortes iminentes nas taxas de juros, agora direcionando a atenção para uma série de leituras significativas sobre a inflação ao longo desta semana.

No cenário global, a quinta-feira se destaca como o dia mais crucial, com o IPCA de dezembro no Brasil, dados sobre inflação na China e o CPI nos EUA. Os mercados europeus iniciam a semana com declínio, assim como os futuros americanos. Quanto às commodities, enfrentam dificuldades para obter um desempenho positivo.

A ver…

· 00:56 — O vai e vem das desonerações

No contexto brasileiro, após um ano notável para as ações dos títulos do Tesouro, os investidores redirecionam suas preocupações para as notícias oriundas de Brasília.

Hoje, de maneira mais específica, o governo Lula organizou no Congresso uma cerimônia de memória dos ataques de 8 de janeiro, com discursos dos líderes dos Três Poderes. Consequentemente, a importância da agenda reside mais no simbolismo do que na aplicação prática.

Nos bastidores, a equipe econômica mantém seu compromisso em preservar a nova MP da Reoneração da folha e o veto de Lula ao dispositivo da LDO que estabelece um calendário para o governo tratar das emendas.

Até o momento, não há planos de Lula para efetuar grandes alterações entre os ministérios, buscando agradar ao Congresso. Essa postura pode ser interpretada como um equívoco.

Se não houver acordo para resolver o impasse dos congressistas em relação à reoneração gradual da folha, a Fazenda não terá alternativa senão ajustar a meta fiscal.

Reconhecemos que essa perspectiva parece ser uma inevitabilidade hoje, mesmo considerando tratar-se de uma alteração marginal.

Outras medidas de arrecadação podem surgir nas próximas semanas, mas a discussão certamente incorporará algum contingenciamento de gastos.

Essas tensões fiscais, naturalmente, exercem influência na curva de juros. Na agenda, as atenções se voltam para o IPCA de dezembro, cuja divulgação está programada para quinta-feira.

· 01:42 — Revisando 2023

Foi um ano expressivo para os ativos norte-americanos. No entanto, apesar dos esforços, o S&P 500 não conseguiu atingir um máximo recorde em 2023. O índice aproximou-se do seu pico histórico de 4.797, antes de sofrer uma leve queda no encerramento do ano. Mesmo assim, fechou com uma alta de 24%, registrando o maior ganho desde 2021. Esta foi a primeira vez desde 2012 que o S&P 500 não conseguiu fechar em uma máxima histórica pelo menos uma vez durante o ano.

O Nasdaq Composite, apesar do aumento de 43% ao longo do ano, também ficou aquém de um recorde. Apenas o Dow Jones Industrial Average conseguiu atingir essa marca ao fechar em um valor recorde em 13 de dezembro, continuando a subir posteriormente e encerrando o ano com um aumento de 14%.

Dessa forma, o ano pode ser considerado um êxito. A opinião consensual previa uma recessão nos EUA em 2023, mas essa previsão estava completamente equivocada. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu a uma taxa anual superior a 2% no primeiro semestre do ano, acelerando para 4,9% no terceiro trimestre. O quarto trimestre está a caminho de um crescimento anualizado do PIB de 2,3%, de acordo com o modelo GDPNow do Federal Reserve de Atlanta.

Essa dinâmica manteve os lucros das empresas elevados, apesar de alguns contratempos no início do ano, como a questão dos bancos regionais. O S&P 500 está a caminho de registrar um aumento no lucro por ação de cerca de 3% em 2023, com oito dos 11 setores reportando crescimento (aguardando confirmação na temporada de resultados). O próximo debate relevante se concentrará na possibilidade de uma recessão nos EUA e no início do ciclo de flexibilização da política monetária.

· 02:39 — Pelo menos não haverá shutdown

Após um positivo 2023, os primeiros dias de negociação no novo ano destacam os riscos persistentes no mercado. A escalada nos preços do petróleo, motivada pela tensão no Oriente Médio, e a continuidade do impasse entre os EUA e a China em relação aos semicondutores estão entre as preocupações. Apesar do S&P 500 permanecer próximo de sua máxima histórica, os investidores exibem otimismo. No entanto, o agravamento de qualquer desses riscos geopolíticos pode facilmente mudar o sentimento do mercado de ganância para medo.

Além dessas preocupações, questões mais convencionais também estão em jogo. Os mercados estão convencidos de que os primeiros cortes nas taxas de juros da Reserva Federal ocorrerão nos próximos meses, com probabilidades de uma redução de 25 pontos-base em março atingindo 60%, segundo a ferramenta CME FedWatch. Os dados desta semana, especialmente os de inflação na quinta-feira, projetam-se como elementos-chave para moldar as perspectivas, com uma expectativa de aumento de 3,2% na comparação anual.

Um ponto de atenção adicional é a questão do shutdown do governo americano, cujo adiamento tem sido a estratégia recente. Líderes do Congresso dos EUA anunciaram um acordo bipartidário sobre o nível de gastos para o atual ano fiscal, reduzindo as chances de uma paralisação parcial do governo em 20 de janeiro. O acordo, firmado entre democratas e republicanos, estabelece um limite de US$ 1,59 trilhão para os 12 projetos de lei de gastos anuais. Ao menos, essa dor de cabeça parece ter sido evitada.

· 03:25 — Aceita que dói menos

Na Ásia, os índices CSI 300 e SSEC, ambos da China, registraram quedas, estendendo as perdas observadas em 2024. A expectativa recai sobre os dados de inflação e comércio, programados para o final desta semana, que deverão refletir a persistente fragilidade da economia chinesa após leituras desfavoráveis do índice de gerentes de compras de dezembro. Diante dessa fragilidade, o presidente chinês, Xi Jinping, comprometeu-se a fortalecer a dinâmica econômica e impulsionar a criação de empregos, reconhecendo os desafios enfrentados em 2023 – uma rara admissão das adversidades internas que o país enfrenta. Ele aceitou a realidade.

Apesar de usar seu discurso anual de Ano Novo para destacar as conquistas da nação, o líder chinês, considerado o mais poderoso desde Mao Zedong, não deixou de reconhecer as derrotas. Diante desse cenário, a China está injetando novamente recursos na indústria para mitigar os impactos da crise imobiliária. Contudo, novas tensões comerciais globais entre a China e o mundo desenvolvido estão se intensificando. Em resposta aos recentes acordos de venda de armas a Taiwan, a China anunciou novas sanções contra cinco empresas da indústria de defesa dos EUA. O ano de 2024 promete ser intrigante para a geopolítica chinesa.

· 04:18 — E por falar em geopolítica…

As tensões no Mar Vermelho estão em ascensão. Os Houthis, localizados no Iémen e apoiados pelo Irã, iniciaram ataques contra navios comerciais na região em novembro, em resposta ao conflito entre Israel e Hamas. Nos últimos dias, a Marinha dos EUA afundou três embarcações controladas pelos rebeldes Houthi, resultando na morte de suas tripulações, enquanto respondia a um pedido de socorro de um navio Maersk. Em resposta, o Irã enviou um navio de guerra para a área, criando um clima tenso na região.

Para evitar a área afetada (cerca de 15% do comércio marítimo mundial passa normalmente pelo Mar Vermelho, incluindo 8% do comércio mundial de gás natural liquefeito), diversas grandes empresas de transporte marítimo começaram a adotar rotas mais longas ao redor da África. Essa situação levou a um aumento significativo nos preços do petróleo e nos custos de transporte.

No entanto, os EUA afirmaram o compromisso de garantir a segurança da rota comercial. Enquanto os ataques dos Houthis se intensificam, o governo dos EUA emitiu um ultimato, agravando ainda mais as perturbações no transporte marítimo global.

· 05:04 — A janela de oportunidade para ativos locais continua aberta

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.