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Por que Google (GOGL34) pode ser o grande nome entre as Big Techs?

Controlado pela Alphabet, Google tem investido em Inteligência Artificial e deve colher benefícios disso; entenda

Por Matheus Spiess

10 jan 2024, 11:32 - atualizado em 10 jan 2024, 11:36

Resultados Google (GOGL34)
Imagem: Unsplash

Sem dúvida, o ano de 2023 foi mais uma vez dominado pelas empresas de tecnologia, especialmente nos Estados Unidos. Nesta ocasião, as discussões giraram em torno do tema mais relevante do momento nesse setor: a inteligência artificial (IA). Destacam-se entre as empresas mais comentadas a Microsoft e a Nvidia, duas gigantes que estão destinadas a colher os benefícios desse movimento. Outro player que possui grande potencial para surfar essa onda é o Google (Nasdaq: GOOGL; B3: GOGL34).

O Google é uma empresa notável com poucos riscos significativos. A premissa aqui é que, embora a empresa possa enfrentar um crescimento mais moderado em seus resultados a curto prazo, está estrategicamente preparada não apenas para uma expansão expressiva posteriormente, mas também para uma posição líder de mercado em suas iniciativas de IA que impulsionam essa trajetória.

A empresa oferece uma variedade de produtos que integram nosso cotidiano. Seu mecanismo de busca, o Google Search, mantém um virtual monopólio, com uma participação estimada de mais de 90% no mercado global. O Google Search gerou cerca de US$ 162,5 bilhões em receitas de publicidade em 2022 e US$ 127,0 bilhões nos primeiros 9 meses de 2023.

YouTube

Além disso, a plataforma de vídeos, o YouTube, é uma das maiores do mundo, gerando US$ 29,2 bilhões em receitas em 2022 e US$ 22,3 bilhões nos primeiros 9 meses de 2023. Diferentemente de outras plataformas de mídia, não demanda altos custos iniciais de conteúdo, optando por um modelo de divisão de receitas com os criadores de conteúdo. O YouTube Music e o YouTube Premium, por exemplo, ultrapassaram 80 milhões de assinantes nos últimos números reportados em 2022.

A empresa também veicula anúncios por meio de sua tecnologia de publicidade direcionada na rede do Google, incluindo AdSense, AdMob e Google Ad Manager. Através desses programas, a empresa exibe anúncios em sites ou aplicativos dos clientes com base em conteúdo, localização geográfica e outros fatores. As redes do Google geraram US$ 32,8 bilhões em receitas em 2022 e US$ 23 bilhões nos primeiros 9 meses de 2023.

Google Cloud

E tudo isso sem sequer mencionar o Google Cloud, que se posiciona como a terceira empresa de infraestrutura em nuvem, seguindo os líderes AWS, da Amazon, e Azure, da Microsoft. O segmento gerou US$ 26,3 bilhões em receitas em 2022 e US$ 23,9 bilhões nos primeiros 9 meses de 2023.

O Google Cloud representa outra significativa oportunidade para a empresa, já que a computação em nuvem continua a ser um dos seus principais impulsionadores de receita, registrando um crescimento de aproximadamente 26% nos primeiros três trimestres de 2023. Embora ainda não tenha alcançado lucro anual, está no caminho certo para alcançá-lo neste ano, mesmo sendo um empreendimento de alto custo fixo.

Além disso, o Google detém propriedade sobre o sistema operacional Android, o Gmail, o navegador Chrome, o Google Classroom, as plataformas de navegação Maps e Waze, além do Google Fotos, entre outros. Sua presença se estende ao hardware com o smartphone Pixel, a linha de produtos domésticos inteligentes Nest, Chromebook e o dispositivo de streaming Chromecast. A empresa também está envolvida em projetos inovadores, como carros autônomos (Waymo), computação quântica (Sycamore) e cidades inteligentes (Sidewalk Labs).

Google vai investir em Inteligência Artificial

Considerando especificamente a inteligência artificial (IA), há indícios de que o Google está prestes a realizar uma significativa reestruturação, integrando IA e automação em suas operações. Embora não tenham declarado demissões, há especulações de que até 30 mil empregos possam ser cortados. Mesmo que isso não ocorra imediatamente, a perspectiva dessa eventualidade parece inevitável, delineando 2024 como um ano preparatório para reestruturações radicais impulsionadas pela IA (lembrando que o Google demitiu 12 mil funcionários no início de 2023).

É crucial destacar que, além das boas perspectivas de receita, a administração do Google prioriza a disciplina financeira. A empresa foi uma das pioneiras entre as grandes empresas de tecnologia a iniciar otimizações no número de funcionários cerca de um ano atrás, uma ação que, embora dolorosa para os colaboradores, beneficiou os acionistas, resultando em melhorias nas métricas de rentabilidade.

O Google direcionou investimentos substanciais para a inteligência artificial, visando sua aplicação abrangente em pesquisa, computação em nuvem e outras esferas. Áreas específicas de foco incluem tradução, visão computacional e processamento de linguagem natural. Atualmente, a IA é amplamente utilizada para testar variações de textos de anúncios, sugestões de palavras-chave, otimização de elementos visuais e ferramentas de engajamento. Essa tecnologia também contribui para a segmentação de público-alvo, permitindo análises preditivas para antecipar oportunidades e desafios de campanha. Prevê-se um aumento nos anúncios em vídeo curtos do YouTube Shorts, com a pesquisa tornando-se mais visual, com imagens e gráficos predominantes nos anúncios.

As integrações específicas de IA já em curso incluem a experiência generativa de pesquisa do Google. A empresa também possui dados sobre mais de quatro bilhões de pessoas em todo o mundo, conferindo-lhe uma vantagem significativa em seus esforços de IA. A Gemini, uma nova família de grandes modelos de linguagem, promete aprimorar aplicativos como o Google Search Generative Experience, enquanto a IA está sendo incorporada aos sistemas operacionais, potencialmente gerando receitas por meio de novos fluxos em chatbots, copilotos e APIs. A organização também explora a IA na área da saúde e está comprometida com práticas éticas em seus esforços de expansão. O potencial dentro da empresa é notável.

Antes de prosseguirmos, no entanto, vale a pena mencionar algumas considerações sobre a empresa em si.

Conhecendo um pouco melhor a empresa

A Alphabet, controladora da Google, representa uma empresa no setor de serviços de comunicação, fundada em 1998 por Sergei Brin e Larry Page. Atualmente, a Google, incontestável líder no mercado de mecanismos de busca, constitui um segmento operacional da Alphabet.

Aproximadamente 80% das receitas da empresa derivam de publicidade digital. No entanto, para uma análise financeira mais aprofundada, é recomendável ampliar a perspectiva e compreender até que ponto a empresa capta as tendências seculares favoráveis. Para empresas tecnológicas como a Google, uma tendência secular evidente é a transição para a digitalização, fenômeno consideravelmente acelerado pela pandemia de Covid-19.

Ao retrocedermos uma década, observamos que a empresa apresentou um desempenho financeiro robusto, com um CAGR (“Taxa de Crescimento Anual Composta”) de receita acima de 16% ao longo da década.

A empresa reduziu a participação da publicidade nas vendas totais de 90% em 2013 para 80% em 2022, um indicador positivo. Dependendo exclusivamente de um único fluxo de receitas, a empresa se expõe a riscos em circunstâncias cíclicas. Portanto, é positivo que a gestão adote uma abordagem proativa diante das mudanças seculares.

Histórico forte

Os últimos resultados trimestrais foram divulgados no final de outubro, surpreendendo positivamente em relação às estimativas de consenso. A receita registrou um sólido crescimento de 11% em comparação ao ano anterior, enquanto o lucro por ação ajustado apresentou uma notável expansão, passando de pouco mais de US$ 2 em 2018 para próximo de US$ 5 em 2022, devendo atingir algo como US$ 5,92 no consolidado de 2023 e US$ 7,10 em 2024.

O balanço patrimonial é uma fortaleza, com uma posição de caixa de US$ 120 bilhões. A empresa possui quase nenhuma alavancagem, detendo uma posição líquida de caixa de US$ 90 bilhões, proporcionando ampla margem para contínuos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento internos e aquisições estratégicas. Esse robusto balanço coloca a Alphabet em posição vantajosa para explorar novas fontes de receita por meio de aquisições.

O Google é reconhecido por seu histórico impressionante de aquisições, incluindo YouTube, Android e Maps, entre outros. Esses sucessos históricos consideráveis aumentam consideravelmente a probabilidade de futuras movimentações estratégicas economicamente sólidas. Ao longo da última década, o Google demonstrou consistentemente um Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) superior a 20% (24% em 2021 e 22% em 2022), superando o custo de capital. Portanto, há convicção quanto à capacidade do Google de reinvestir em projetos altamente rentáveis.

Os resultados do próximo trimestre estão programados para serem divulgados em 1º de fevereiro de 2024. As estimativas de consenso apontam para uma receita trimestral de mais de US$ 70 bilhões. Com a expectativa de aceleração no ritmo de crescimento das receitas, prevê-se uma continuidade nos resultados financeiros positivos. As projeções de consenso indicam uma expansão substancial do lucro para US$ 77 bilhões em 2023 e cerca de US$ 88 bilhões em 2024.

Interface gráfica do usuário, Gráfico, AplicativoDescrição gerada automaticamente

Essas previsões, considerando o desempenho do Google nos primeiros nove meses de 2023 com um crescimento anual de 7%, parecem conservadoras. Com o quarto trimestre historicamente sendo o mais forte, acreditamos que um crescimento de receita superior a 8% em relação ao ano anterior é factível para o ano fiscal como um todo. As projeções apontam para um crescimento de receita de 11,3% em 2024 e 10,9% em 2025.

Do ponto de vista da indústria de publicidade, o Google se beneficia de ventos favoráveis. A Precedence Research estima que o mercado de publicidade digital crescerá a uma CAGR de 9,7% na próxima década, sendo o Google provavelmente o principal beneficiário desse crescimento.

Além da robusta dinâmica de receitas, é notável a melhoria nas métricas de rentabilidade, especialmente nos segundo e terceiro trimestres, vitais anualmente pela perspectiva da margem operacional. Apesar do aprimoramento financeiro ao longo do ano, a margem operacional ainda permanece abaixo dos níveis de 2021, indicando espaço para mais melhorias. Dada a posição incontestável do Google como o mecanismo de busca mais usado globalmente e o YouTube como líder indiscutível em plataformas de streaming de vídeo, sua posição na publicidade digital permanece sólida.

Monetização de vídeos curtos é oportunidade

Outra grande oportunidade para a empresa é a monetização dos vídeos curtos do YouTube, conhecidos como “Shorts”. Com cerca de 2,7 bilhões de usuários ativos, o YouTube já é uma plataforma substancial. Desde 2023, o Google passou a compartilhar 45% da receita publicitária com criadores no Programa de Parcerias. Os criadores qualificados, com 1.000 seguidores e 10 milhões de visualizações de Shorts em 90 dias, podem agora ganhar dinheiro com seus vídeos curtos, incentivando a produção de conteúdo para competir com o TikTok. O desempenho positivo do YouTube Shorts é evidente, com um aumento de espectadores de 1,5 bilhão para 2,0 bilhões em um ano, conforme observado em julho.

Com oportunidades tão robustas para o crescimento da receita, aliadas a um considerável espaço para aprimorar a rentabilidade através da otimização da força de trabalho, não é surpresa que empresas de investimento de renome, como Needham e Wedbush, incluam essas ações em suas listas de melhores escolhas para 2024.

E o valuation?

O Google demonstrou uma notável generosidade nas recompras de ações ao longo da última década, investindo quase US$ 180 milhões nessa estratégia. Esse comprometimento tem sido uma fonte de estímulo para os investidores, que retomaram suas compras frenéticas de ações de tecnologia em 2023, após um desafiador 2022. As ações do Google registraram um notável aumento de quase 60% nos últimos 12 meses, superando significativamente o desempenho do mercado de ações dos EUA.

Dado o posicionamento de mercado incomparável da empresa, uma avaliação justa se baseia na comparação consigo mesma, especialmente com suas médias históricas. Nesse contexto, a ação parece estar adequadamente precificada, uma vez que as atuais métricas de avaliação estão próximas das médias históricas de forma geral.

Gráfico, Tabela, Gráfico de linhasDescrição gerada automaticamente

Atualmente, as estimativas de EBITDA para 2024 situam-se em torno de 11,9 vezes. Excluindo as perdas provenientes de outras apostas da Alphabet, o núcleo do negócio é negociado a um múltiplo de EBITDA de 11 vezes. Com base no consenso atual de EBITDA para 2025, as ações estão cotadas a um múltiplo de 10,6 vezes. Negociar com prêmio de um ou até dois desvios padrões da média histórica sugere um valuation entre US$ 175 e US$ 200 por ação.

Além disso, o Google atualmente ostenta um rendimento de fluxo de caixa livre de aproximadamente 4,4%, fundamentado no FCF de US$ 77,5 bilhões nos últimos doze meses. Podemos assumir grosseiramente, portanto, um acréscimo de mais de US$ 70 bilhões em caixa ao balanço ou sua devolução aos acionistas por meio de recompras. Consequentemente, o Google figura entre as ações de mega capitalização de tecnologia com uma das avaliações mais acessíveis.

Poucos riscos significativos a considerar

Conforme mencionado anteriormente, a empresa ainda depende consideravelmente do fluxo de receitas da publicidade digital, apesar de ter diluído sua representatividade ao longo dos últimos anos. Essa dependência é arriscada, pois torna o desempenho financeiro global altamente vulnerável a mudanças desfavoráveis na indústria. A competição acirrada na publicidade digital, com gigantes como a família de aplicativos de mídia social Amazon e Meta, adiciona outra camada de desafios.

No segmento de nuvem, embora a AWS da Amazon seja líder global incontestável, a nuvem do Google permanece significativamente atrás do Azure da Microsoft, que ocupa o segundo lugar. O terceiro lugar do Google, embora aparentemente seguro, enfrenta a improbabilidade de fechar a lacuna em relação aos líderes, dada a vasta expertise e recursos da MSFT e AMZN para investir em inovação contínua.

Outro risco considerável está relacionado às investigações antitruste, que envolveram a empresa tanto no mercado americano quanto na Europa. Essas investigações representam ameaças substanciais ao desempenho operacional e financeiro, com multas e penalidades impactando negativamente. Há também o risco de os reguladores imporem medidas mais drásticas, como a divisão do negócio.

A recente derrota antitruste diante da Epic Games na loja de aplicativos intensificou as preocupações dos investidores sobre o risco regulatório associado às práticas de monopólio em 2024 e além. Além disso, o lançamento do Gemini AI para usuários da nuvem teve resultados mistos, com problemas de relações públicas afetando a confiança. Embora o produto melhore eficiência e gestão de custos, isso pode temporariamente afetar o sentimento do público e dos investidores em relação às capacidades de IA do Google.

Embora acreditemos que o Google esteja bem posicionado para se beneficiar das mudanças seculares na computação em nuvem e IA, é crucial notar que a competição com gigantes como Microsoft e Amazon é intensa, colocando o Google em desvantagem em algumas áreas. A inconsistência nos resultados do ChatGPT e a revelação de que, enquanto o ChatGPT atingia 100 milhões de usuários, o Bard do Google gerava erros, indicam que, em termos de IA, o Google está atrás do parceiro da Microsoft, OpenAI.

Por último, mas não menos importante, os consideráveis investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) do Google precisam gerar retornos para evitar desilusões entre os investidores, o que poderia resultar em vendas e pressão sobre o preço das ações.

Mesmo com tais riscos, a conclusão para Google é favorável

A Alphabet mantém efetivamente um monopólio virtual nas pesquisas, uma condição que provavelmente continuará impulsionando o crescimento nos próximos anos. Sua habilidade única de oferecer anúncios orientados por desempenho, em contraste com os anúncios de marca, é incomparável quando comparada à maioria dos concorrentes. Vale ressaltar que os anúncios orientados por desempenho, posicionados no final do funil, demonstram maior resiliência em comparação com a publicidade de marca.

Dessa forma, antecipamos que o núcleo central dos negócios do Google continuará expandindo e enfrentando ventos favoráveis de longo prazo, resultando em maior rentabilidade. Os recentes resultados trimestrais da empresa refletem esse cenário, com um crescimento sólido na receita e expansão da lucratividade. Além disso, a dominância da Google na publicidade digital a posiciona de maneira vantajosa para capitalizar o crescimento previsto do setor, apesar da concorrência acirrada na computação em nuvem e inteligência artificial.

Embora o Google ainda esteja em posição de seguir seus principais concorrentes na nuvem e IA, sua presença nesses campos é substancial. A empresa está estrategicamente preparada para continuar investindo de forma substancial em inovação, ampliando seu amplo ecossistema. Adicionalmente, a avaliação das ações é relativamente atrativa, e o robusto balanço da empresa, combinado com a lucratividade expressiva da publicidade digital, oferece amplas oportunidades para investimentos sólidos em crescimento e inovação, tanto por meio de iniciativas internas quanto de aquisições estratégicas.

De modo geral, acreditamos que o Google representa uma empresa com perspectivas de crescimento previsíveis, e suas ações ainda estão ligeiramente subvalorizadas. Possivelmente, é uma das opções mais seguras no setor de tecnologia, destacando-se pela ampla penetração de mercado e um modelo de negócios diversificado, abrangendo diversas áreas de elite com fossos mais robustos do que a média. Dentro de uma carteira internacional de ações, nos parece um nome fundamental. Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.