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Mercados globais respondem de forma negativa às revisões das expectativas para as taxas de juros em 2024; veja os destaques desta quarta (17)

Digestão do PIB da China, Livro Bege nos EUA e declarações de autoridades monetárias estão no radar do mercado hoje

Por Matheus Spiess

17 jan 2024, 09:02 - atualizado em 17 jan 2024, 09:04

mercados globais

Bom dia, pessoal. Os mercados globais estão respondendo de forma negativa às revisões das expectativas para as taxas de juros em 2024. Conforme discutimos anteriormente, havia um otimismo exagerado entre os investidores sobre a redução das taxas de juros nas principais economias. Esta semana, em Davos, as autoridades monetárias estão trazendo os investidores de volta à realidade, um processo que deve ganhar força nos próximos dias. Considero isso uma medida positiva para alinhar as expectativas para o ano. Na China, mesmo o PIB tendo crescido além das metas em 2023, os investidores continuam desanimados, aguardando os próximos passos do governo chinês, que parece relutante em discutir estímulos.

Na quarta-feira, a maioria das ações asiáticas registrou queda, seguindo a tendência dos principais índices europeus. Os investidores estão processando a inflação de dezembro da Zona do Euro, que ficou levemente acima do esperado. Espera-se mais declarações de autoridades monetárias hoje, incluindo da presidente do BCE, Christine Lagarde, e do presidente do Fed regional de NY, John William. Outros dados importantes, como o Livro Bege e as vendas no varejo nos EUA, também podem influenciar os preços, especialmente se combinados com a temporada de resultados. As commodities também não estão tendo uma boa manhã, seguindo a tendência de queda dos futuros americanos. O dia promete ser cheio de desafios.

A ver…

· 00:51 — As negociações continuam a todo vapor

No Brasil, na ausência de dados econômicos locais relevantes hoje, os investidores estão focando no cenário internacional e nas discussões fiscais em Brasília. Neste contexto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem uma reunião agendada com o presidente Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira. O assunto principal é a muito debatida Medida Provisória (MP) de reoneração da folha de pagamento. A equipe econômica espera chegar a um consenso antes do fim do recesso legislativo, que se encerra no início de fevereiro, embora pareça improvável que isso ocorra. Acredito em um acordo intermediário entre o governo e os parlamentares, possivelmente estendendo a reoneração gradual da folha até 2029, um prazo mais longo do que o proposto pela MP.

Está claro que a meta fiscal será revista ainda neste trimestre, principalmente porque Lula está preocupado com os mecanismos de contingenciamento do arcabouço fiscal, que poderiam interferir em um possível projeto de reeleição em 2026 (ele não vai querer cortar gastos em um ano eleitoral). Por outro lado, manter temporariamente a meta de déficit zero tem um efeito pedagógico nas negociações da equipe econômica, evitando desgastes maiores das perspectivas. Essa postura acabou se tornando uma referência para a equipe da Fazenda. Como já mencionei, ninguém acredita em um déficit zero em 2024 (a expectativa do mercado é de um déficit de 0,8% do PIB). O crucial é estabelecer um plano de voo que equilibre as expectativas.

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· 01:47 — Colocando os pés no chão

Nos Estados Unidos, Christopher Waller, um dos membros do Federal Reserve, expressou que o banco central americano deve ser cauteloso e metódico ao iniciar a redução das taxas de juros. Apesar de Waller estar aberto à ideia de cortes nas taxas, algo que eu também acredito ser provável este ano, seus comentários parecem ir contra a expectativa do mercado de até seis reduções nas taxas durante o ano, o que pode ser excessivamente otimista. Com o PIB real dos EUA previsto para ter crescido entre 1% e 2% no último trimestre, o desemprego abaixo de 4% e a inflação básica das despesas de consumo pessoal em torno de 2% nos últimos seis meses, parece prematuro pensar em cortes nas taxas de juros agora.

Para hoje, além de mais declarações de autoridades monetárias em Davos, é importante ficar atento à continuação da temporada de divulgação de resultados financeiros, com empresas como Charles Schwab, Citizens Financial Group, Prologis e U.S. Bancorp apresentando seus números amanhã. Além disso, os dados de vendas no varejo de dezembro, que devem mostrar um crescimento de 0,3% em relação ao mês anterior, um resultado melhor do que o registrado em novembro, também merecem atenção. Por último, mas não menos importante, o Federal Reserve publicará seu Livro Bege pela primeira vez este ano, um relatório que compila informações sobre as condições econômicas atuais dos 12 bancos regionais do Fed, e que pode oferecer mais indícios sobre a direção da economia americana.

· 02:35 — Mas é possível mesmo esse cenários de Goldilocks?

Ontem discutimos a possibilidade de um cenário econômico global otimista, conhecido como “Goldilocks” (desaceleração da inflação sem a necessidade de uma recessão). Este panorama parece estar alinhado com os mais recentes dados do mercado de trabalho dos EUA. A taxa de desligamento dos trabalhadores americanos, que atingiu um pico histórico durante o fenômeno da “Grande Demissão” (“Great Resignation”) pós-pandemia, agora retorna a níveis normais. Embora o número total de vagas de emprego permaneça alto, está diminuindo rapidamente, indicando um esfriamento do mercado de trabalho, mas sem um declínio acentuado.

Adicionalmente, as pesquisas recentes com gestores de suprimentos do setor manufatureiro indicam uma recuperação modesta. Os dados do Índice de Gerentes de Compras (PMI) ainda estão ligeiramente abaixo de 50, o ponto que separa a expansão da contração, e as novas encomendas não são particularmente impressionantes. Esses indicadores sugerem que tanto uma recessão acentuada (“hard landing”) quanto um superaquecimento da economia (“no landing”) podem ser evitados. Esses dados positivos influenciaram os rendimentos dos títulos de 10 anos, que caíram mesmo sem sinais claros do início de um ciclo de flexibilização monetária. A crença em um cenário de “Goldilocks” é forte, mas é necessário ajustar o otimismo inicial quanto aos cortes de juros neste início de ano.

· 03:22 — O tão esperado crescimento chinês

Nesta quarta-feira, os índices Shanghai Shenzhen CSI 300 e Shanghai Composite da China registraram queda, refletindo o crescimento ligeiramente inferior ao esperado do PIB do país no quarto trimestre, que foi de 5,2%. Esse crescimento, embora tenha superado a meta de 5% estabelecida por Pequim para 2023, foi em grande parte impulsionado por uma base de comparação mais baixa em relação a 2022. Portanto, os dados recentes evidenciam que a maior economia da Ásia continua enfrentando dificuldades para manter um crescimento sustentável neste cenário pós-pandêmico, em meio a desafios como gastos fracos dos consumidores, investimento privado lento e uma crise contínua no setor imobiliário.

Esses resultados são um sinal preocupante para os mercados asiáticos em geral, considerando a posição dominante da China como parceiro comercial da região. O foco dos mercados agora se volta para 2024, tanto em termos de nível quanto de composição do crescimento. Para investidores que olham além da China, o que interessa é a tendência do país em importar. Apesar dos desafios significativos decorrentes das pressões deflacionárias e da crise imobiliária enfrentados no início do ano, as políticas destinadas a impulsionar a economia ainda não convenceram os investidores. Neste ritmo, a segunda maior economia do mundo parece incapaz de resolver os problemas persistentes que afetam a demanda interna e a confiança do mercado.

· 04:19 — Os rumos de Davos

A 54ª edição anual do Fórum Econômico Mundial em Davos prossegue com suas atividades intensamente, apesar da ausência de importantes figuras políticas brasileiras, como o presidente da República e o ministro da Fazenda, que estão empenhados em negociações no Congresso sobre questões fiscais. De qualquer forma, mais de meio século após sua primeira realização, o fórum continua sendo um espaço de discussão sobre os grandes desafios globais, tendo sido palco de acordos de paz e desenvolvimentos significativos nas décadas de 1980 e 1990.

Este ano, o tema central é “reconstruir a confiança em um mundo dividido”. Contudo, o próprio fórum enfrenta desafios de credibilidade, levando a críticas sobre sua natureza e propósito. Do ponto de vista da esquerda, é visto como um encontro elitista responsável por pilhar o mundo e desestabilizar democracias. Já a direita critica a proposta de Schwab de uma “Grande Reinicialização” (“Great Reset”) pós-pandemia, que sugere um “capitalismo das partes interessadas”, visto com ceticismo.

Há uma percepção crescente de que o fórum, assim como outras instituições como o Conselho de Segurança da ONU, necessita de uma reformulação significativa. Em um momento em que as perspectivas globais são sombrias e tendem a piorar na próxima década, enfrentamos uma crise de liderança em escala mundial. Em um ambiente onde os riscos geopolíticos estão em ascensão e a cooperação internacional enfraquece, a reforma de instituições internacionais é urgente para alcançar um novo nível de estabilidade global.

· 05:14 — Defesas geopolíticas

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.