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Com agenda econômica esvaziada, mercados se voltam para a temporada de resultados nos EUA e na Europa; veja os destaques desta terça (23)

Índices americanos bateram novos recordes, impulsionados pelas empresas de tecnologia. Neste contexto, mercado está de olho nos resultados da Netflix, que serão anunciados hoje

Por Matheus Spiess

23 jan 2024, 08:44 - atualizado em 23 jan 2024, 09:30

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Mercados estão de olho na temporada de resultados. Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Em um dia no qual dados econômicos relevantes são escassos no Ocidente, os investidores globais estão focados na temporada de resultados dos Estados Unidos e Europa, ao mesmo tempo em que analisam os recentes desenvolvimentos na Ásia. No Japão, o banco central optou por manter sua política monetária inalterada, enquanto na China, o governo anunciou que estuda um substancial pacote de suporte ao mercado de ações, avaliado em quase US$ 280 bilhões. Isso levou à valorização da maioria das ações asiáticas nesta terça-feira, seguindo o rastro de altas nos índices americanos, que bateram novos recordes impulsionados especialmente pelas empresas de tecnologia. O destaque de hoje fica para a Netflix, que anunciará seus resultados.

Por outro lado, os mercados europeus e os futuros americanos apresentam uma queda nesta manhã, ajustando-se após ganhos recentes. Em paralelo, as tensões geopolíticas intensificam-se, evidenciadas pelos recentes ataques aéreos dos EUA e do Reino Unido contra alvos Houthi no Iêmen, uma ação estratégica para proteger as rotas comerciais marítimas no Mar Vermelho. Enquanto isso, o preço do petróleo Brent, que ontem atingiu os US$ 80 por barril, hoje mostra sinais de estabilização. No cenário brasileiro, os ativos mostram uma tendência ascendente no pré-mercado americano, seguindo uma dinâmica local específica neste mês de janeiro, após o notável rali observado no final do ano passado.

A ver…

· 00:52 — Todo mundo tem medo do lobo mau

No Brasil, o tema fiscal continua sendo o foco das atenções, impactando significativamente o comportamento do mercado local, que se desvincula das tendências internacionais. Essa desconexão é agravada pela apreensão com possíveis políticas econômicas mais heterodoxas no segundo ano do governo atual, particularmente após a introdução de um pacote denominado “nova política industrial”, que discutirei em detalhe posteriormente. Em meio a este cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, persiste nas negociações em torno da Medida Provisória (MP) da reoneração. É provável que a MP seja substituída por um projeto de lei que busque um equilíbrio entre diferentes interesses, visando uma transição gradual para a reoneração de certos setores.

Durante sua participação no programa Roda Viva, Haddad expressou otimismo com a direção do país (imagine se ele, membro do governo, não estivesse animado), ressaltando especialmente as medidas microeconômicas planejadas para estimular investimentos, dando ênfase ao Marco de Garantias, que visa a revitalização do crédito. Paralelamente, há uma expectativa iminente de revisão da meta fiscal, possivelmente até março, gerando especulações sobre o valor dessa revisão e, consequentemente, sobre o possível contingenciamento de gastos pelo governo. Sobre o tema, é importante ficar atento à divulgação dos dados da arrecadação federal de dezembro, que podem oferecer insights adicionais sobre a situação fiscal do país.

· 01:43 — Baú de histórias: mais do mesmo ou um ponto de partida?

Na reunião de ontem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) no Palácio do Planalto, foi aprovado o programa “Nova Indústria Brasil” (NIB). Este programa propõe subsídios, incentivos fiscais e a imposição de requisitos de conteúdo nacional. O plano promete disponibilizar até R$ 300 bilhões em financiamentos até 2026, estabelecendo metas e diretrizes para o desenvolvimento da indústria nacional até 2033. Desse montante, R$ 250 bilhões seriam canalizados pelo BNDES, com R$ 194 bilhões representando novos recursos adicionais aos R$ 106 bilhões previamente anunciados em julho do ano passado. O NIB foca em seis áreas estratégicas: agroindústria, saúde, infraestrutura, transformação digital, bioeconomia e inovação.

Apesar da ambição deste projeto, há um ceticismo perceptível quanto à sua eficácia e originalidade. Existe uma sensação de que a “neoindustrialização”, conforme proposta pelo governo, não passa de uma reformulação da política industrial ultrapassada, que se baseia na utilização de fundos públicos para promover determinados campeões nacionais. Além disso, a preocupação com as implicações fiscais de possíveis emissões do Tesouro Nacional para financiar o BNDES é real, levantando questões sobre a viabilidade fiscal do programa. Em um ambiente de questionamento sobre as intenções do governo para 2024, o projeto não é bem recebido.

Embora o NIB seja, sem dúvida, um plano robusto, há dúvidas sobre sua capacidade de trazer resultados práticos, sugerindo que pode ser mais uma repetição de estratégias industriais anteriores que não alcançaram o sucesso esperado. Em suma, o programa parece ser mais uma compilação de medidas já existentes, agora apresentadas como uma novidade, mas que podem não passar de uma estratégia com mais aparência do que substância. Resta ver se este será um ponto de partida efetivo ou se acabará sendo mais uma iniciativa que não atinge seu destino pretendido.

· 02:53 — Ninguém segura as ações de tecnologia

As ações dos Estados Unidos alcançaram novos recordes, evidenciando a crescente confiança dos investidores em assumir riscos, mesmo diante de advertências sobre a velocidade do mercado em atingir altos patamares. Há uma aposta constante de que o Federal Reserve diminuirá as taxas de juros em 2024 e há uma crença generalizada no potencial de crescimento dos lucros impulsionados pela revolução da inteligência artificial, embora a origem exata dessa expectativa de aumento de produtividade não seja clara. Esta semana promete ser movimentada na temporada de balanços, com grandes nomes como Netflix, Tesla e Intel programados para divulgar seus resultados. A United Airlines, por exemplo, superou as previsões dos analistas com uma projeção de lucros otimista para este ano, anunciada após o fechamento do mercado americano na segunda-feira.

Do lado da política monetária, a ferramenta FedWatch da CME, que monitora as expectativas do mercado futuro para as taxas de fundos federais, agora indica uma probabilidade de 58,4% de que as taxas se mantenham estáveis em março. Esse ajuste nas expectativas reflete uma abordagem mais racional, especialmente em um momento em que as autoridades do Federal Reserve têm criticado publicamente o excesso de otimismo do mercado por um iminente corte nas taxas de juros. Embora a próxima reunião do comitê de política do Fed esteja agendada para a próxima semana, as atenções estão mais voltadas para a reunião subsequente, que pode trazer indicações mais claras sobre o futuro da política monetária.

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· 03:39 — Trump vem aí

As eleições presidenciais americanas de 2024 foram um tópico dominante no Fórum Econômico Mundial em Davos, na semana passada, apesar de ainda faltarem vários meses para o pleito. Logo após as convenções partidárias em Iowa, onde o ex-presidente Donald Trump garantiu uma vitória decisiva, ficou evidente a divisão de opiniões entre os participantes do fórum nos Alpes Suíços: alguns viam 2024 como mais um ano eleitoral, enquanto outros percebiam a eleição como um evento de significado extraordinário.

Davos, conhecido por reunir pessoas do mundo dos negócios e lideranças políticas, naturalmente se tornou palco de discussões sobre as eleições americanas. Até mesmo a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, conhecida por sua relutância em discutir política, foi levada a comentar sobre as eleições quando questionada (ela teme a vitória de Trump). Por outro lado, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, expressou ambivalência sobre o resultado, embora reconheça a possibilidade de uma vitória de Trump (já quer costurar alguma relação, claro).

Como abordamos anteriormente, as primárias de New Hampshire, que acontecem hoje, são um momento decisivo. Com apenas Trump e Nikki Haley na corrida, a ex-governadora da Carolina do Sul precisa de uma performance marcante para se manter viável na disputa. Além disso, Haley pode precisar de alguma intervenção judicial na candidatura de Trump antes da Super Terça de março, que reúne várias primárias no mesmo dia. No momento, o cenário mais provável é que Trump se mantenha como candidato principal, sendo o favorito para a eleição de novembro.

· 04:48 — As mais recentes movimentações asiáticas

No Japão, o mercado de ações recuou das altas recordes dos últimos 34 anos após o Banco do Japão optar por manter sua abordagem flexível na política monetária. A taxa de juros de curto prazo permaneceu em -0,1%, sem sinalização clara do banco central sobre quando as taxas de juros negativas podem terminar. Apesar de uma maior confiança do Banco do Japão em alcançar suas metas inflacionárias, essa decisão inicialmente resultou na desvalorização do iene contra o dólar, que mais tarde se recuperou levemente à medida que os investidores avaliavam o impacto dessa política.

Por outro lado, na China, o cenário financeiro ganhou um impulso positivo. O governo chinês está considerando estabelecer um fundo de estabilização do mercado de ações no valor de até US$ 278 bilhões. Este fundo tem o objetivo de comprar ações locais para prevenir uma queda acentuada nos mercados de ações, que enfrentaram um desempenho particularmente fraco na Ásia em 2023 e continuaram a lutar no início de 2024. A economia da China, a segunda maior do mundo, ainda luta para mostrar sinais de recuperação. Caso efetivo, este plano de estabilização pode ser um marco crucial para revitalizar os mercados chineses após períodos desafiadores.

· 05:37 — A gigante chinesa vem aí ou não?

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.