Investimentos

Por que esta equipe da Empiricus retirou Vale (VALE3) da carteira mesmo com múltiplos descontados?

Empresas de commodity tendem a render menos do que empresas de outros setores; veja quais

Por Lucas Molina

24 jan 2024, 10:54 - atualizado em 24 jan 2024, 10:59

Vale (VALE3)
Imagem: Washington Alves/Reuters

A Vale (VALE3) está negociando a um múltiplo de preço sobre lucro (P/L) abaixo da sua média histórica. Mesmo em meio a esse cenário, os analistas da série ‘Palavra do Estrategista’, da Empiricus Research, optaram em retirar as ações da maior produtora de minério de ferro do mundo de sua carteira.

A carteira dos analistas acumula um retorno expressivo desde que foi criada. Foram 420% de retorno desde setembro de 2015. Os investidores que seguiram à risca a alocação da carteira multiplicaram o investimento por mais de 5 vezes.  

É por isso que esse movimento pode ter causado estranheza para alguns investidores que seguem a alocação recomendada na carteira. Embora o movimento possa parecer pouco usual, ele tem explicação.

Como explicitado em relatório recente feito pelos analistas, existe uma discussão interessante a respeito de quando você deve comprar uma ação de commodities.

A resposta mais imediata e natural seria ‘quando elas estiverem baratas’, porém commodities carregam um comportamento diferente em relação aos seus múltiplos. 

Quando você vê um múltiplo muito baixo para uma empresa de commodity em um determinado ano, isso provavelmente significa que a matéria prima que a empresa produz está sendo negociada a um preço elevado e não que o preço de tela está baixo.

Para exemplificar, pensando no múltiplo preço sobre lucro, quando tal múltiplo fica ‘barato’ não significa necessariamente que a parte de cima da equação (preço) está baixa, mas sim que a parte do denominador (lucro) está excessivamente alta por conta do alto lucro que a produtora está obtendo em virtude da alta cotação da sua commodity. 

O contrário também é verídico. Quando o múltiplo está alto não significa que a ação está com a parte de cima (preço) alta, mas sim que o lucro está baixo por conta da cotação da commodity.

Em ambos os casos é de se esperar que, em algum momento, o preço da commodity em questão volte para a média histórica. Isto é, desvalorize, se o valor está muito alto, ou valorize, se o seu preço está muito baixo.

Em outras palavras, se o valor da commodity cair, o lucro da companhia também deverá cair, fazendo com que o múltiplo baixo fique alto rapidamente. 

Da mesma forma, basta que o preço da commodity suba para que a empresa lucre mais e o múltiplo que estava alto em virtude do lucro menor se torne baixo rapidamente.

Para os analistas, existe um risco não-desprezível de que a mesma dinâmica aconteça com Vale (VALE3): 

‘Commodities carregam essencialmente um componente de reversão à média. Compradores e ofertantes obedecem às sinalizações do sistema de preços. Se seu preço está muito alto, isso emite um sinal ao produtor, que vê naquilo uma oportunidade de vender algo caro lá na frente e apurar um bom lucro. Então, a oferta se expande e o preço cai. Quando você vê um múltiplo muito baixo para uma empresa de commodity (pense no Preço sobre Lucro) num determinado ano, isso provavelmente significa um preço elevado para a matéria-prima, que se traduz em um lucro anual muito alto. O que acontece depois? Se o preço da commodity cair e o lucro da companhia também deverá cair. O múltiplo baixo rapidamente fica alto. Há um risco não-desprezível de que dinâmica semelhante aconteça com a Vale.’ – Relatório “Um ano dos domésticos sensíveis a juro e baratos”, de 10/01/24

O risco se dá porque os preços do minério de ferro encontram-se acima de US$ 120 por tonelada. Toda a curva de preços futuros projetados também sugere preços elevados.

A princípio, isso poderia ser visto como uma boa notícia, pois flerta com alta rentabilidade para as mineradoras à frente. 

Contudo, o alto patamar não parece condizente com a desaceleração da economia global, com o comportamento de outras commodities nem com os riscos hoje proeminentes associados à China. 

Se levarmos em conta a dinâmica típica de reversão à média e uma sazonalidade menos favorável depois de um final de ano mais forte, poderíamos ter uma correção à frente.

Em paralelo a esses acontecimentos, os analistas da série ‘Palavra do Estrategista’ acreditam que empresas mais sensíveis à queda de juros serão as mais beneficiadas para o ano de 2024. 

Em momentos de virada de ciclo esse grupo de ações performa melhor do que as empresa ligadas a commodities

Os analistas não estão sozinhos nessa tese. Uma pesquisa realizada pelo Banco Santander mostra preferência dos investidores pelos setores ligados ao ciclo doméstico. 

Entre os respondentes, os setores com maior expectativa de uma alocação overweight (acima da média) foram: varejo e bens de consumo (55%), bancos (52%), real estate (48%) e utilities (45%). Os segmentos ligados a commodities apresentaram percentuais bem menores.  Petróleo & Gás apareceu com 3%; e Papel & Celulose com 7%. 

Existe um motivo pelo qual os investidores estão optando pelas ações desses segmentos em detrimento das empresas de commodities.

O desempenho das ações ligadas ao chamado ‘ciclo doméstico’ é superior em relação ao desempenho das ações de commodity em momentos de queda dos juros. Isso acontece por dois motivos principais, segundo os analistas:

O primeiro deles está relacionado ao desempenho do índice de Small Caps — composto pelas menores ações da Bolsa. Em momentos de alta de juros, as empresas menores sofrem mais e, por isso, ficam mais descontadas em relação àquelas que compõem o Ibovespa — que em sua maioria são commodities e bancos.

Porém, em momentos de retomada, o índice de Small Caps tende a superar a valorização das empresas do Ibovespa. 

Essa dinâmica pode ser observada agora. A razão entre os dois índices (Small Caps vs Ibovespa) está 1,07x abaixo da média histórica, o que comprova que commodities e bancos, no geral, andaram melhor do que o resto. 

O segundo ponto destacado pelos analistas tem carácter mais técnico, com ligação ao fluxo de investimento. 

Os últimos anos foram marcados pelo pesado fluxo de resgate dos fundos de ações e fundos de multimercados. Os analistas acreditam que, com a iminente queda na taxa de juros, o interesse do investidor pessoa física brasileira por ações locais aumente. 

Veja abaixo um trecho retirado do relatório:

‘A pessoa física também só vendeu bolsa. Fluxo comprador, basicamente, veio do gringo. Isso pode mudar em 2024. Performance passada (não deveria ser assim, mas é) sempre foi um indicador antecedente da captação dos fundos e da participação da pessoa física em renda variável. A isso se soma o prognóstico de queda da taxa Selic para algo em torno de 9%. Tudo o mais constante, deveríamos ter um aumento do fluxo comprador dos locais para as ações. Principalmente os fundos guardam um histórico de maior participação em ações com previsibilidade, associadas ao fator “quality”. Você, claro, pode encontrar uma posição ou outra ligada a commodities, mas o grosso da exposição tipicamente está em coisas já conhecidas, que compõem retorno ao longo do tempo e maior capacidade de modelagem. ‘

Toda essa conjuntura de fatores fez com que os analistas tirassem as ações da Vale da sua carteira recomendada. Eles acreditam que outras ações deverão superar o rendimento dela

Enquanto as ações da Vale podem despencar, as desta outra empresa podem dobrar em menos de 1 ano

Entre as ações que os analistas estão mais entusiasmados para o ano está uma que, segundo análise, pode dobrar em menos de 12 meses.

Trata-se de uma ação do setor de varejo que foi castigada em 2022 por erros operacionais cometidos ao longo do ano e o aumento da aversão ao risco dos investidores por conta da alta das taxas de juros.

Hoje ela está cotada em apenas R$ 11, mas em breve esse patamar deve mudar. Isso porque a empresa, antes considerada premium pelos investidores, hoje é avaliada como um case de turnaround (processo de uma empresa que está passando por dificuldades financeiras), o que aos olhos da equipe de analistas parece exagerado pela qualidade de seus ativos e histórico de execução. 

Afinal, o ciclo de alta nas taxas de juros do país chegou ao fim, dando espaço para uma política monetária de afrouxamento, aumentando o apetite de risco dos investidores. 

Conheça a lista de ações que valem mais a pena que a Vale, segundo analistas

E esta é apenas uma das 10 indicações dos analistas para o mês de janeiro. Eles acreditam que existem 10 ações sendo negociadas agora em Bolsa que representam uma grande oportunidade de compra para os investidores.

Trata-se de uma análise detalhada e criteriosa, já que existem mais de 400 empresas listadas em Bolsa.

A equipe de analistas acredita que os investidores que possuírem esses papéis em mãos hoje poderão ganhar um bom dinheiro.

Falando mais especificamente da ação que custa hoje 11 reais: segundo projeções, os investidores poderão dobrar o dinheiro em 12 meses.

Para conhecer a lista completa de ações, basta clicar aqui e fazer um cadastro gratuito. O relatório com o nome de todas as ações será encaminhado para o seu e-mail imediatamente.

Você pode conhecer cada uma das teses e decidir depois se quer realmente investir nelas. 

Sobre o autor

Lucas Molina

Redator Jornalista de dos dois maiores portais econômicos do Brasil, Seu Dinheiro e Money Times, com mais de 3 anos de experiência e 200 textos escritos sobre finanças e mercado.