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Dia dos dados de inflação: mercado de olho no PCE, nos EUA, e IPCA-15; veja os destaques desta sexta (26)

Previsões apontam para um incremento anual de 2,6% no PCE, e de um avanço de 0,47% no IPCA-15 em relação ao mês anterior

Por Matheus Spiess

26 jan 2024, 09:11 - atualizado em 26 jan 2024, 09:17

Imagem representando a inflação, mostrando gráficos e setas subindo.

Bom dia, pessoal. A recente comunicação do Banco Central Europeu transcorreu sem surpresas, aderindo estritamente às expectativas do mercado. A instituição insinuou possíveis reduções nas taxas de juro por volta do meio do ano, um tópico que deve se intensificar a partir de março. Esse cenário justifica o otimismo observado ontem nos mercados, que se estendeu até esta manhã. Já nos Estados Unidos, o clima é mais tenso, com uma antecipação palpável em relação aos dados do PCE, o principal indicador de inflação utilizado pelo Federal Reserve, levando a uma retração nos futuros de mercado.

Paralelamente, a temporada de divulgação de resultados corporativos tem sido um ponto focal de atenção. Ontem, as ações da Intel sofreram uma queda acentuada no mercado pós-fechamento, após a divulgação dos resultados do quarto trimestre. O impacto real desses números será sentido hoje, com as ações continuando a cair mais de 10% no pré-mercado. Esse clima negativo não está confinado apenas aos EUA; na Ásia, as ações do setor automotivo (especificamente de veículos elétricos) enfrentaram dificuldades pelo segundo dia consecutivo. No entanto, há sinais de recuperação no setor chinês de construção, impulsionados pelos recentes estímulos governamentais.

A ver…

· 00:46 — E esse IPCA-15?

No cenário econômico brasileiro, destaca-se hoje uma informação crucial: a divulgação do IPCA-15 de janeiro, a prévia da inflação oficial. As previsões apontam para uma alta de 0,47% em relação ao mês anterior, indicando uma aceleração em relação ao índice de dezembro. Este aumento já era esperado e, a meu ver, não deve interferir no andamento da normalização da inflação que estamos vivenciando. Com isso, a tendência de redução das taxas de juros deve se manter, e o mercado projeta uma Selic de 9% até o final do ano, um patamar plausível. Além disso, antecipo que essa tendência de queda na Selic deve se estender para o próximo ano, independentemente de quem suceda Roberto Campos Neto na liderança do Banco Central.

Do lado corporativo, dois eventos têm sido foco de atenção dos investidores. Primeiramente, a Vale enfrenta desafios judiciais relacionados às tragédias de Mariana e Brumadinho. Recentemente, a empresa foi condenada a pagar R$ 47,6 bilhões por danos morais coletivos devido ao desastre de Mariana. Paralelamente, observa-se uma potencial mudança na gestão da Vale, com a possibilidade de Eduardo Bartolomeo deixar o cargo de CEO, podendo ser substituído por um nome como Luís Guimarães, ex-Cosan. Outro assunto relevante é a situação da Gol, que protocolou um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos sob o Chapter 11. Esse movimento era antecipado por muitos, mas permanece a incerteza sobre suas implicações para o restante do setor aéreo.

· 01:51 — E o PIBão veio…

Nos Estados Unidos, os dados recentes sobre o Produto Interno Bruto (PIB) surpreenderam positivamente, revelando um crescimento mais robusto do que o previsto. Mesmo com indicativos de que os níveis de estoque possam sinalizar uma desaceleração futura, o anúncio de que o PIB do quarto trimestre expandiu a uma taxa anualizada de 3,3% impulsionou o S&P 500 a alcançar um novo recorde.

A razão para tal otimismo reside na moderação da inflação, uma mudança significativa na perspectiva dos investidores, que antes estariam apreensivos com o crescimento vigoroso do PIB e suas implicações inflacionárias e nas taxas de juro. Atualmente, contudo, a confiança predominante é de que cortes nas taxas de juro são iminentes neste ano, independentemente das oscilações econômicas.

Em relação aos dados econômicos de hoje, o foco está no índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE) de dezembro. As previsões apontam para um incremento anual de 2,6%, mantendo-se alinhado aos dados de novembro. O núcleo do PCE, que exclui os mais voláteis preços dos alimentos e energia, é projetado para um aumento de 3%. Interessantemente, a variação anual deste índice essencial se situa em seu menor patamar desde março de 2021 e apresenta um valor anualizado de 1,9%, ligeiramente abaixo da meta inflacionária de 2% estabelecida pelo Fed nos últimos seis meses, uma indicação promissora.

Esses dados, juntamente com os números sobre renda pessoal e gastos de dezembro nos EUA, são em grande parte antecipados pelos resultados trimestrais divulgados ontem. Há um clima de otimismo generalizado, reforçado por declarações da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, que afirmou que a inflação agora está bem controlada. A expectativa é que haja uma redução nas taxas de juro ainda neste semestre, o que é visto como uma evolução positiva pelo mercado.

· 02:42 — Os estímulos chineses

As ações de empresas chinesas do setor imobiliário registraram uma notável alta nesta sexta-feira. O segmento imobiliário, representado no índice CSI 300, alcançou seu ponto mais alto em quase quatro semanas. Esta alta é uma resposta direta às recentes ações dos reguladores chineses, que intensificaram seu suporte ao setor. Uma das medidas adotadas inclui a ampliação da flexibilidade no uso de empréstimos comerciais, parte de uma estratégia mais ampla para combater a desaceleração do setor imobiliário e restaurar a confiança do mercado. As autoridades anunciaram que os empréstimos garantidos por propriedades comerciais dos desenvolvedores poderão ser utilizados para a quitação de outros empréstimos e obrigações financeiras. Esse anúncio foi feito logo após a declaração do Banco Central da China sobre a redução do depósito compulsório dos bancos, insinuando que outras ações de suporte estão em consideração.

A crise imobiliária prolongada na China tem sido um desafio considerável para a economia do país, levando a várias intervenções governamentais. A instabilidade econômica da China, particularmente no setor imobiliário, tem sido um tópico recorrente nas notícias, evidenciando questões como desemprego e insatisfação crescente entre os jovens. Há debates sobre como essa desaceleração econômica pode influenciar a política externa e comercial da China. Enquanto alguns analistas sugerem que a desaceleração pode levar a uma moderação na postura externa agressiva da China, outros acreditam que isso poderia intensificar os esforços militares sob a liderança do Presidente Xi Jinping. Pessoalmente, inclino-me a acreditar na primeira possibilidade, especialmente considerando os esforços recentes do governo chinês em reatar laços com investidores e estabilizar sua economia.

· 03:38 — Índia, a aposta de uma nova China

Atualmente, a Índia se destaca como um ponto focal no cenário econômico global. Recentemente, a sua bolsa de valores ultrapassou a de Hong Kong em termos de valor de mercado, um marco impressionante impulsionado pelo crescimento acelerado de investidores de varejo e robustos lucros empresariais. Este país, o mais populoso do mundo, vem se consolidando como uma forte alternativa à China, capturando a atenção e o capital de investidores individuais e corporações internacionais. Sua estabilidade política e uma economia voltada para o consumo, que se mantém entre as de mais rápido crescimento no mundo, são fatores-chave nesse processo.

As aspirações econômicas da Índia geram um crescente otimismo. O Primeiro-Ministro Narendra Modi propõe um ambicioso plano de tornar a Índia uma “nação desenvolvida” até o centenário de sua independência em 2047. Embora eu seja otimista quanto ao futuro econômico da Índia e a veja como uma potencial terceira maior economia mundial na próxima década, o país enfrenta desafios significativos. Um exemplo é o impacto potencial da inteligência artificial generativa no setor de terceirização de processos empresariais da Índia, como os call centers, que poderiam ver uma diminuição na demanda dos mercados ocidentais. Estima-se que o avanço da IA possa reduzir o crescimento anual da produtividade da Índia em aproximadamente 0,3% nos próximos 10 anos ou mais, representando um obstáculo considerável no caminho do país rumo ao desenvolvimento.

· 04:24 — Considerações finais sobre o Fórum Econômico Mundial: o Sul Global e a Inteligência Artificial

Durante os últimos dias, compartilhei algumas impressões significativas de participantes do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, Suíça. Há mais duas observações relevantes a respeito deste evento que merecem atenção especial. Primeiramente, a Índia, como de costume, teve uma presença marcante, reforçando sua posição como uma crescente potência industrial e tecnológica, beneficiada por um vasto mercado interno e uma demografia vantajosa. Junto a outras nações como Brasil, México e Arábia Saudita, a Índia é vista como um dos líderes emergentes do Sul Global nos próximos anos.

Além disso, um tema em particular tende a se destacar a cada ano em Davos. Em 2022, foram as criptomoedas, seguidas pelo hidrogênio verde em 2023, e este ano, como esperado, o foco foi a inteligência artificial (IA). A IA promete transformar a sociedade possivelmente mais rapidamente e de forma mais abrangente do que a Internet, não apenas por seus consideráveis ganhos de produtividade, mas também pela maneira como pode alterar a alocação de recursos. Contudo, surge uma preocupação significativa quanto ao impacto esperado da IA nos níveis e tipos de emprego, com opiniões divididas sobre quais setores seriam os primeiros a sentir essas mudanças. Esse debate é crucial e deve permanecer em foco nos próximos anos.

· 05:19 — Uma debênture pimentinha

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.