Bom dia, pessoal. Teremos hoje o início das reuniões de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, com suas decisões finais previstas para amanhã, na conhecida “Super Quarta”. Antecedendo isso, já teremos uma visão inicial sobre o emprego nos EUA com a pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de mão de obra (relatório JOLTS) de hoje, além de importantes anúncios de resultados financeiros após o fechamento do mercado, incluindo empresas como Alphabet e Microsoft. É importante destacar que a ascensão das empresas de tecnologia continua, impulsionada pelas inovações em inteligência artificial e pelo crescimento dos lucros, o que tem estimulado os índices do mercado americano.
Por falar neles, os futuros americanos iniciam o dia com certa cautela, enquanto os mercados europeus exibem um movimento ascendente. Isso ocorre no contexto em que os investidores analisam os resultados do PIB do quarto trimestre da Zona do Euro, que surpreendentemente não indicou uma contração no período, como era previsto. Enquanto isso, os mercados asiáticos e do Pacífico tiveram uma terça-feira predominantemente negativa, com os mercados de Hong Kong apresentando as maiores quedas na região. Esse cenário é influenciado pelas contínuas repercussões da crise da Evergrande, com as ações da incorporadora imobiliária sendo suspensas na segunda-feira após uma queda acentuada de mais de 20%, devido à iminente liquidação da empresa.
A ver…
· 00:47 — O Congresso voltará aos trabalhos na semana que começa o Carnaval? Truco!
No mercado financeiro brasileiro, o Ibovespa vem enfrentando dificuldades para se manter estável acima dos 128 mil pontos. A tendência de correção observada em janeiro prossegue, influenciada negativamente pela queda nas ações da Vale. A mineradora, juntamente com outras empresas do setor de commodities metálicas, tem sido afetada pelas crescentes preocupações com a intensificação da crise imobiliária na China. Acrescentam-se a isso eventos recentes que tiveram impactos negativos: o contínuo desenrolar da tragédia de Mariana, a controversa indicação de Guido Mantega pelo governo e a cobrança de quase R$ 26 bilhões referente à renovação de concessões ferroviárias durante a gestão de Bolsonaro. Hoje, o mercado está avaliando o relatório de produção e vendas da Vale, cujas ADRs demonstram uma alta no pré-market em Nova York, impulsionadas pela percepção de uma produção robusta, apesar das vendas não tão favoráveis.
Outro aspecto relevante no cenário local é o resultado fiscal recentemente divulgado. Em uma semana de Copom, o Governo Central reportou um déficit primário de R$ 116 bilhões em dezembro, um número alinhado com as expectativas. Para o ano de 2023, o déficit alcançou R$ 230,5 bilhões, o que representa 2,1% do PIB, marcando o segundo maior déficit na série histórica, superado apenas pelo registrado no primeiro ano da pandemia. Excluindo os precatórios, que tiveram um impacto significativo em dezembro, o déficit do governo central ficou em 1,5% do PIB, contrastando com o superávit de 0,5% em 2022. Este rombo fiscal é notável, especialmente considerando ser um primeiro ano de governo (outro ponto de impacto foi o acordo com os governadores sobre o ICMS dos combustíveis). Com isso, espera-se que o debate sobre a revisão da meta fiscal para 2024 ganhe força. Contudo, há uma incerteza quanto à efetiva retomada dos trabalhos no Congresso, que, apesar de oficialmente retornar no dia 5, possivelmente só voltará a funcionar após o feriado de carnaval.
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· 01:52 — As gigantes de tecnologia
Nos Estados Unidos, uma reviravolta notável no final do pregão de ontem impulsionou os índices acionários para patamares recordes, após um dia marcado predominantemente pela estabilidade. A virada no mercado foi desencadeada pelo anúncio do Departamento do Tesouro a respeito do financiamento projetado para os meses de janeiro e março, que se revelou inferior ao esperado (discorrerei mais sobre isso adiante). Essa notícia reduziu a pressão sobre os títulos do Tesouro, facilitando um avanço mais expressivo nos ativos americanos.
Agora, os investidores estão concentrando suas atenções em três aspectos principais: i) os dados de emprego; ii) os resultados corporativos; e iii) a reunião do Federal Reserve, sem uma ordem específica de prioridade. Esta semana, cerca de 100 empresas do S&P 500 estão divulgando seus resultados do quarto trimestre, incluindo colossos tecnológicos.
Somente hoje, temos anúncios importantes de empresas como Advanced Micro Devices, Alphabet, Electronic Arts, General Motors, HCA Healthcare, Marathon Petroleum, Microsoft, Mondelez, Pfizer e Starbucks. Surpresas positivas ou negativas, especialmente das gigantes de tecnologia, têm o potencial de influenciar significativamente as movimentações do mercado.
· 02:45 — A maior impressora do mundo
Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA registraram queda após o anúncio de uma redução na previsão de endividamento para o início de 2024 pelo Departamento do Tesouro. Haverá uma emissão de US$ 760 bilhões em títulos no primeiro trimestre, que é US$ 55 bilhões a menos do que o estimado em outubro do ano anterior. Para o segundo trimestre, a expectativa é de que a emissão de títulos diminua ainda mais, chegando a cerca de US$ 200 bilhões. Essa redução é particularmente relevante para a percepção da situação fiscal dos EUA, um fator que afetou negativamente os mercados globais entre agosto e outubro do ano passado.
De fato, os Estados Unidos enfrentam um problema fiscal considerável. Ademais, nenhum dos principais candidatos à presidência para o ano de 2024 parece estar dando a devida atenção a essa questão. Um relatório recente do UBS destaca que, em um cenário de vitória de Donald Trump, acompanhada pela eleição de um Congresso Republicano, a dívida pública dos EUA, atualmente em 125% do PIB, poderia alcançar 135%. Isso se deve em grande parte à possível implementação de uma política de redução de impostos. Por outro lado, sob a gestão de Biden, o déficit provavelmente se originaria de um aumento nos gastos, em vez de uma diminuição na arrecadação fiscal. De qualquer forma, fica evidente que a trajetória da dívida pública dos EUA está em um caminho insustentável.
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· 03:39 — Sonhando com o cenário ideal
Recentemente, discuti a possibilidade de um cenário econômico conhecido como “Goldilocks”, uma alusão ao conto de fadas da “Cachinhos Dourados”, que descreve uma situação ideal e quase mágica para os ativos de risco (céu de brigadeiro). Surpreendentemente, apesar de historicamente improvável, parece que estamos nos aproximando de tal realidade. A compreensão do mercado sobre a economia tem sido equivocada, variando desde previsões generalizadas de uma recessão no início de 2023 até a subestimação do crescimento econômico no final do ano. O consumo dos clientes se mantém robusto e as taxas de desemprego continuam baixas.
As últimas informações sobre o principal índice de despesas de consumo pessoal, a métrica de inflação preferida do Federal Reserve, adicionaram mais nuances a essa perspectiva. É particularmente impressionante que o crescimento tenha sido tão expressivo, mesmo com a redução significativa das taxas de inflação. No entanto, este “sonho tornado realidade” traz desafios para o Federal Reserve. Normalmente, o ciclo econômico segue uma sequência: a economia superaquece, a inflação acelera e o Federal Reserve eleva as taxas de juros. Em seguida, a economia esfria, podendo até entrar em contração, antes de a inflação ser controlada.
Aqui reside o problema: o maior e mais rápido aumento nas taxas de juros em uma geração não desestabilizou a economia. Considerando o “gap” com que a política monetária opera, especialmente num contexto pós-pandêmico, pode ser prematuro afirmar que o aumento das taxas de juros teve um impacto substancial na redução da inflação. Paralelamente, é crucial reconhecer que outras partes do mundo, como Europa, Japão e China, enfrentam situações econômicas muito mais desafiadoras. De qualquer modo, nunca estivemos tão próximos de testemunhar a concretização de um cenário “Goldilocks” como agora.
· 04:41 — Mais um pouco sobre a Índia
Tenho abordado com frequência as oportunidades nos mercados emergentes, com especial enfoque nos países que lideram o que hoje se denomina de “Sul Global”, como a Índia, o Brasil, o México e a Arábia Saudita. A Índia, em particular, tem atraído a atenção de grandes investidores, sendo vista como uma possível nova potência econômica similar à China, num contexto em que esta última enfrenta um distanciamento dos Estados Unidos e um crescimento menos expressivo do que no passado. A expectativa é que a economia indiana registre a taxa de crescimento mais alta entre as principais economias globais e alcance o status de uma economia de renda média-alta na próxima década. Contudo, a transição para um país de renda alta é um desafio maior, implicando um aumento do PIB per capita de cerca de US$ 2.500 para aproximadamente US$ 14.000. Alcançar este objetivo até 2047 seria extremamente ambicioso, tanto à luz da história quanto segundo as projeções atuais.
Resumindo, o primeiro-ministro Narendra Modi, que concorre ao seu terceiro mandato nas eleições deste ano, tem como objetivo superar a “armadilha da renda média”, um desafio que tem impedido o progresso de muitas outras nações em desenvolvimento, como o Brasil. Será uma tarefa árdua. Apesar das condições favoráveis para o crescimento, como o fortalecimento dos balanços empresariais e o retorno do investimento estrangeiro, ainda existem barreiras estruturais significativas ao investimento ampliado. Um aspecto particularmente preocupante para muitos investidores na Índia é o tamanho da burocracia, especialmente no que diz respeito às regulamentações fundiárias e trabalhistas e ao ritmo das reformas. Além disso, muito desse otimismo já está refletido nos preços atuais. Por isso, investir agora implica assumir esses desafios com múltiplos de investimento já bastante elevados, tornando a tarefa mais complexa do que em momentos anteriores.
· 05:32 — Reforçando nossa tese em um nome de shoppings
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