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Adeus, taxas negativas: Japão ajusta juro para 0% e marca fim da era das taxas sub-zero; veja este e outros destaques desta terça (19)

Decisão do Banco do Japão encerrou uma experiência de 17 anos e marca uma mudança de direção na política monetária do país

Por Matheus Spiess

19 mar 2024, 09:01 - atualizado em 19 mar 2024, 09:01

Banco do Japão
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Após dezessete anos navegando por taxas negativas, uma estratégia adotada na esteira da crise financeira de 2008, o Japão ajustou sua taxa de juros para 0%, marcando o fim global da era das taxas sub-zero. Contudo, essa mudança histórica não impediu o enfraquecimento do iene durante o dia. Nos mercados asiáticos, observou-se uma mistura de resultados, com avanços no Japão contrastando com recuos na China, esta última ainda assombrada pela crise da Evergrande, que revelou ter superestimado suas receitas em impressionantes US$ 78 bilhões nos dois anos anteriores à crise. Espera-se que, nesta noite, a China mantenha suas taxas de juros estáveis, apesar de uma recente onda de dados indicando uma atividade forte.

Na Europa, o otimismo matinal prevaleceu nos mercados após a divulgação do índice ZEW alemão sobre o sentimento empresarial, que superou as expectativas. Nos Estados Unidos, por outro lado, o ambiente é de cautela, com os futuros oscilando em meio a uma semana repleta de decisões de política monetária, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, intensificando a volatilidade e posturas defensivas entre os investidores. Em Nova York, há divisão de opiniões quanto à possibilidade de redução da taxa de juros já em junho, com muitos aguardando o gráfico de pontos do Federal Reserve para orientações mais definitivas. No mercado de commodities, enquanto os preços do petróleo recuam, os do minério de ferro apresentam sinais de recuperação.

A ver…

· 00:49 — O difícil ambiente brasileiro

Na sessão desta segunda-feira no Brasil, o Ibovespa registrou uma modesta alta de 0,17%, encerrando o dia com 126.954,18 pontos, sem conseguir ultrapassar a marca dos 127 mil pontos. As ações da Vale e do Magazine Luiza se destacaram pelo desempenho positivo. A Vale acompanhou a trajetória ascendente do minério de ferro durante a semana, uma vantagem que a Petrobras não pôde capitalizar apesar do avanço do petróleo para US$ 87 o barril, afetada pela perspectiva política.

Os investidores mantêm uma postura de cautela, aguardando as decisões do Banco Central sobre a política monetária. Espera-se um corte de 50 pontos-base nos juros amanhã, mas há incertezas sobre a manutenção do forward guidance. Acredito que, independentemente das mudanças na orientação futura, dados econômicos até junho podem justificar um corte adicional de 50 pontos, além dos previstos para março e maio. No entanto, o mercado está cada vez mais inclinado a acreditar numa desaceleração do ciclo de flexibilização para 25 pontos-base de corte em junho.

Em Brasília, durante uma reunião com quase todos os ministros, o presidente Lula destacou a importância de cortes orçamentários quando necessários, preparando o cenário para possíveis contingenciamentos. Além disso, o Tribunal de Contas da União (TCU) manifestou-se contrariamente à limitação de contingenciamento de despesas a R$ 25,9 bilhões para atingir a meta de déficit zero em 2024, proposta pelo governo Lula. Simultaneamente, a equipe econômica esforça-se para elevar a arrecadação, com a apresentação de um projeto de lei visando a taxação de aplicações financeiras.

· 01:41 — A ansiedade ainda não bateu

Nos Estados Unidos, a sessão de negociação de ontem espelhou tendências vistas ao longo de 2023, com destaque para as ações do Magnificent 7 superando o mercado, apesar dos rendimentos dos títulos alcançarem seus picos de vários meses. O foco no avanço da inteligência artificial se sobrepôs, capturando as atenções às vésperas de uma semana com peso macroeconômico considerável. Ainda não se percebe uma preocupação iminente dos investidores quanto à conferência de Jerome Powell. Isso refletiu nos resultados robustos da Big Tech, com a Tesla avançando 6,3%, a Alphabet subindo 4,6% e a Meta Platforms crescendo 2,7%.

Antecipando-se a um evento muito aguardado da Nvidia, onde a companhia deveria apresentar suas últimas inovações e anunciar novas colaborações em inteligência artificial, os ganhos significativos da Big Tech ressaltam a expectativa. Hoje, esperam-se os dados atualizados sobre construção de moradias de fevereiro. Resultados acima do previsto poderiam elevar ainda mais os juros dos títulos de 10 anos, que já ultrapassam os 4,30%, impondo pressão sobre os ativos de risco não apenas nos Estados Unidos, mas globalmente, refletindo uma tendência já observada no Brasil neste ano.

· 02:37 — O CEO de jaqueta de couro

A Nvidia deu início à sua prestigiada conferência anual de inteligência artificial, com o discurso do seu CEO, Jensen Huang, reacendendo o fervor em torno dos avanços tecnológicos. O evento GTC (GPU Technology Conference), que atrai este ano mais de 300 mil participantes à Califórnia, está definido para desvendar inovações cruciais no campo da IA. Durante sua apresentação, Huang revelou uma nova geração de chips, destacando-se o Blackwell, projetado para elevar significativamente a capacidade de processamento em aplicações de inteligência artificial.

Estes chips, dotados de 208 bilhões de transístores, prometem revolucionar o funcionamento de computadores e dispositivos diversos, encontrando aplicação nos principais data centers globais, que incluem gigantes como Amazon, Microsoft, Google e Oracle. Este anúncio injetou um otimismo robusto entre os investidores, consolidando a posição da Nvidia como líder indiscutível no avanço da inteligência artificial. É notável observar que, em apenas um ano, a GTC ascendeu ao posto de encontro mais vital da comunidade de IA, atraindo um ecossistema inteiro em prol do avanço e da disseminação do conhecimento no setor.

· 03:22 — Encontro de gigantes

Ontem, tivemos a informação de que a Apple estaria em discussões para integrar a tecnologia Gemini AI do Google ao ecossistema do próximo iOS 18, abrangendo iPhones e outros dispositivos da marca. Essa movimentação representa um marco potencialmente significativo tanto para a Apple quanto para o Google, marcando uma estratégica colaboração em inteligência artificial generativa. Até o momento, ambas as empresas pareciam estar um passo atrás na corrida da IA, em comparação com a rápida ascensão da OpenAI. Após o anúncio, as ações da Alphabet (empresa-mãe do Google) chegaram a experimentar um salto superior a 7%, enquanto as da Apple também viram uma valorização de mais de 2%.

Embora esta não seja a primeira vez que Apple e Google colaboram — considerando o substancial acordo em que o Google paga anualmente cerca de US$ 18 bilhões à Apple para manter seu status como motor de busca padrão nos dispositivos da Apple —, esta nova parceria em torno da Gemini AI poderia nivelar o campo de jogo contra a OpenAI, impulsionando a posição de ambas no segmento de IA. Para a Apple, o acordo pode alterar a percepção de que a empresa está atrasada na adoção da IA, enquanto para o Google, representa um avanço significativo e uma oportunidade de liderança no mercado altamente competitivo. Caso o acordo se concretize, a tecnologia Gemini AI poderia alcançar mais de 2 bilhões de iPhones globalmente, marcando uma expansão sem precedentes da presença de IA em dispositivos móveis.

· 04:18 — Virada histórica: o fim do reinado das taxas de juros negativas

O Banco do Japão, em uma decisão altamente antecipada revelada durante a madrugada, confirmou as expectativas do mercado ao encerrar sua longa experiência com taxas de juros negativas. Com efeito imediato, ajustou a principal taxa de juros de curto prazo de -0,1% para um intervalo entre 0% e 0,1%. Esta ação, a primeira desse tipo em 17 anos, marca uma significativa mudança de direção na política monetária japonesa, retirando o país do território de taxas negativas.

Entretanto, contrariando as expectativas de uma mudança mais agressiva na política monetária, o Banco do Japão adotou uma abordagem gradual e afirmou que manterá uma postura de facilitação financeira, causando uma desvalorização imediata do iene em resposta à percepção de que as medidas não corresponderam ao rigor esperado por alguns investidores.

Ainda assim, esta estratégia sinaliza o fim da era ultraflexível do BoJ, ainda que a instituição não pareça pronta para iniciar um ciclo rigoroso de aperto monetário, especialmente diante das previsões de desaceleração da inflação. Em outras palavras, embora esta transição para taxas positivas não indique uma postura agressivamente restritiva, ou hawkish, do banco central, é um passo bem-vindo em direção à normalização da política monetária no país.

· 05:05 — Preocupado? Um pouco, mas nem tanto…

A preocupação com possíveis interferências políticas nas empresas estatais, particularmente na Petrobras, tem sido uma fonte de inquietação para o mercado. Recentemente, um desenvolvimento que afetou negativamente a confiança dos investidores foi a decisão da Eletrobras (ELET6) de ceder à pressão do governo e expandir o Conselho de Administração para incluir indicados pelo governo federal, o que contribuiu para a queda de suas ações na B3. Embora essa situação gere desconforto, especialmente considerando as diversas iniciativas do governo em várias frentes, a influência sobre a Eletrobras não deveria ser prioritária, dado o amplo leque de questões mais prementes que o governo enfrenta.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.