O segundo semestre começou invertendo a lógica do reflation trade.
Explico.
O movimento de escalada da inflação e consequente subida dos juros fez com que os investidores priorizassem empresas de determinados setores. Os investidores já se posicionavam para isso desde o início do ano.
As estrelas do primeiro semestre não poderiam ser outras: bancos, cujos spreads se beneficiam de juros mais altos, e commodities, cujos fluxos de caixa polpudos já estavam se beneficiando da alta de preços mundial.
O movimento foi global. BTG Pactual subiu 28% nos primeiros seis meses do ano. Goldman Sachs, 43%. No campo das commodities, ponto alto da economia tupiniquim (verdade seja dita), Vale viu seu preço subir 28%. Gerdau viu o seu aumentar 23%.
A propósito, os assinantes da Carteira Empiricus capturaram todas essas altas.
Tudo bem que existem fatores microeconômicos contribuindo para essas oscilações impressionantes, mas a dominância do assunto foi inegável na primeira metade do ano.
Com efeito, o discurso conservador dos bancos centrais brasileiro e americano já foi belamente precificado.
Agora, a estória é outra. Aliás, uma pena que a palavra estória foi eliminada do dicionário da língua portuguesa. Vou me permitir o neologismo.
De volta ao assunto.
Agora, os olhos estão voltados para a reabertura econômica brasileira e para o crescimento das gigantes de tecnologia.
É impressionante como o mercado olha à frente. Os investidores se posicionam com, no mínimo, alguns meses de antecedência. Assim, a Bolsa se torna um indicador de vanguarda.
Se o consenso estiver certo (e ele quase sempre está), é como se tivéssemos a chance de observar uma bola de cristal diariamente, lançando luz sobre o futuro de qualquer economia do mundo. Basta acessar as cotações nas respectivas Bolsas. Não é intrigante?
Os investidores são assim. E vou te dizer que os bons empresários também.
Veja o caso da Magazine Luiza. A empresa anunciou a abertura de 50 lojas no estado do Rio de Janeiro somente no segundo semestre deste ano. O momento foi oportuno para entrar na região fluminense, até então dominada por Casas Bahia e Ponto Frio, marcas da agora Via (antes Via Varejo). Veja as oportunidades estratégicas: pontos ainda descontados em razão da pandemia, vacinação avançando, tráfego de pedestres prestes a retomar — foi a chance de atacar a terra do rei. A estreia teve direito a Anitta como garota-propaganda e iluminação especial no Cristo Redentor.
Magalu já sobe 11% nos primeiros 15 dias de julho.
É como diz o Oráculo de Omaha: quanto melhor executivo, melhor investidor; e vice-versa. CEO bom tem que saber alocar capital.
Lá fora, a temática do reflation trade invertido é a mesma.
Amazon escalou 7% no mesmo período — em dólar. E mesmo com Jeff Bezos saindo do posto de CEO para se tornar chairman, quase uma prerrogativa dos fundadores bem-sucedidos. A licença poética é toda dele; vai feliz que é um sinal de sucesso.
Foi o mesmo movimento feito pela Microsoft de Bill Gates há alguns anos, e pelo Google de Larry Page e Eric Schmidt. É um belo final de carreira para bons fundadores.
Quem sabe aqui nosso Caio Mesquita também não faz esse movimento? Joguei a bomba e saí correndo…
Pois bem, continuando a lógica do reflation trade às avessas. Microsoft sobe 4% na segunda metade do ano. Google, 5%. Tudo em dólar.
Importante notar que todos esses papéis fazem parte da Carteira Empiricus.
Na conversa que Howard Marks teve com o Felipe Miranda há alguns meses, e que foi transmitida ao vivo para nossos assinantes, Marks disse que o exercício de futurologia é inescapável para qualquer investidor. Que bela notícia para o deleite do meu intelecto.
Aliás, o Felipe se vacinou esses dias. A imunização está chegando bem pertinho e, com isso, um segundo semestre pujante para os papéis beneficiados pelo reflation trade torcido.
Assim seguimos, em um mercado que sempre olha para o futuro, um exercício intelectual primoroso para qualquer nerd.
Com o brilho eterno de uma mente sem lembranças — e cheia de futurologia.
Um abraço,
Larissa