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A Super Quarta chegou… O que vai mudar?

Fed deve manter as taxas de juros inalteradas, enquanto BC deve reduzir a Selic em 50 pontos-base

Por Matheus Spiess

20 mar 2024, 09:08 - atualizado em 20 mar 2024, 09:08

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Imagem: Shutterstock

Bom dia, pessoal. A atenção do mercado financeiro se concentra na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve, iniciada ontem e com conclusão prevista para esta quarta-feira. Prevê-se que o Fed mantenha as taxas de juros inalteradas pelo quinto encontro consecutivo, com olhos voltados para as projeções atualizadas no influente gráfico de pontos, que efetivamente orienta as expectativas de política monetária. A previsão é que o gráfico revele que a média das expectativas dos membros do FOMC aponte para uma redução de 75 pontos-base nas taxas de juros ao longo do ano. Dada a reação histórica de Jerome Powell aos indícios de enfraquecimento econômico, apesar da persistência de uma inflação elevada, não seria surpreendente uma postura mais flexível (dovish) por parte dele durante a coletiva de imprensa após a reunião. Ademais, o Fed planeja dar início a discussões detalhadas sobre a gestão de seu balanço patrimonial, cujo foco será definir até que ponto pode ser diminuída sua carteira de ativos, atualmente avaliada em US$ 7,5 trilhões.

Os mercados na Ásia reagiram de forma estável hoje, seguindo a decisão do banco central chinês de manter suas taxas de juros estáveis. Um ponto de destaque na região é a decisão do Japão de elevar suas taxas de juros pela primeira vez em 17 anos, encerrando assim um longo período de taxas negativas. Contudo, a falta de firmeza nessa política de aperto monetário (e o fato de as taxas ainda estarem em níveis que estimulam a economia) levou o iene à sua menor cotação em quatro meses. A leve recuperação observada hoje pouco fez para reverter a desvalorização recente do iene. Na Europa e nos Estados Unidos, os mercados acionários e os contratos futuros iniciaram o dia em baixa, antecipando uma sessão desafiadora. No setor de commodities, o petróleo Brent recua ligeiramente após ganhos recentes, sendo negociado próximo a US$ 87 por barril, enquanto o preço do minério de ferro registra uma modesta queda após uma recuperação notável desde o final de semana.

A ver…

· 00:56 — Espaço para a manutenção do forward guidance

Na sessão anterior à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), o Ibovespa apresentou um aumento de 0,45%, alcançando 127.528 pontos, movimento este alinhado aos avanços observados nos principais índices de Nova York. Observou-se uma inversão de papéis entre Vale e Petrobras: a primeira beneficiou-se de um modesto crescimento no preço do minério de ferro, superando períodos anteriores de adversidade, enquanto a segunda não acompanhou a valorização do petróleo, influenciada em grande parte por turbulências políticas. Recentemente, declarações do presidente Lula, comprometendo-se a reduzir os preços da gasolina, geraram preocupações no mercado, especialmente devido ao temor de maior intervenção política após a Petrobras optar por não distribuir dividendos extraordinários. Com a gasolina sem reajustes há 151 dias e comentários recentes de Lula, estamos cada vez mais atentos à disparidade entre os preços internos e internacionais do combustível, com a Abicom apontando uma diferença de 19% em relação aos preços no Golfo do México para a gasolina, e de 13% para o diesel S10 (sem reajustes há 84 dias).

Contudo, o foco principal do dia não está diretamente relacionado à Petrobras, mas à reunião do Copom. Poucas dúvidas pairam sobre a decisão referente à taxa Selic, com o consenso apontando para uma redução de 50 pontos-base, fixando-a em 10,75% ao ano. O questionamento principal gira em torno da comunicação do Banco Central, especialmente se continuará indicando futuros cortes de 50 pontos-base (teremos pelo menos mais um corte de 50 pontos em maio). Enquanto alguns analistas esperam a eliminação dessa orientação futura, antecipando uma referência somente para a próxima reunião, outros preveem a manutenção dessa diretriz por mais duas sessões. Acredito que a manutenção do indicativo para ajustes nas próximas duas reuniões é mais provável, seguida pela sugestão de que a orientação futura será abandonada subsequentemente, depois de junho (seria uma decisão mais ponderada). Em síntese, entendo que o Copom realizará o corte de 50 pontos, sinalizará mais duas reduções dessa magnitude (maio e junho) e cessará orientações futuras mais distantes.

· 01:47 — E por falar no Diesel

Em uma entrevista, Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, anunciou planos para dialogar com o Senado sobre a possibilidade de incluir o Diesel R, um produto coprocessado da empresa, no âmbito do projeto de lei “Combustível do Futuro”, que foi recentemente aprovado pela Câmara dos Deputados. Prates enfatiza que o objetivo principal na transição energética deve ser a redução de emissões, sem necessariamente excluir ou favorecer determinados grupos. Ele reconhece o potencial do diesel desenvolvido no Brasil como uma alternativa escalável e acessível para países em desenvolvimento, posicionando-se como uma valiosa oferta ao Sul Global, em complemento aos veículos elétricos, que ainda apresentam custos elevados.

Contudo, o projeto “Combustível do Futuro” ainda não está pronto para ser votado no Senado. Até o momento, a proposta nem mesmo foi enviada para a Casa, permanecendo na Câmara para despacho. Quando finalmente for encaminhada ao Senado, será direcionada à Comissão de Infraestrutura por Rodrigo Pacheco, presidente do Senado. O relator da proposta solicitou uma análise técnica de ajustes de última hora, necessários para garantir a aprovação do texto, que procurou equilibrar as demandas tanto do setor agrícola quanto dos profissionais da área de energia. Um dos principais pontos de controvérsia diz respeito à proporção de biodiesel a ser misturada ao diesel convencional, com o setor agrícola argumentando a favor de um percentual mais alto, em oposição aos representantes do setor de energia, que defendiam uma porcentagem menor. A versão original do relatório propunha que essa mistura alcançasse 20% até 2030, enquanto atualmente está fixada em 14%.

· 02:31 — O Show de Powell

Nos Estados Unidos, a preocupação dos investidores com as taxas de juros e a política monetária parece ter sido colocada de lado durante o pregão de ontem. À véspera do encerramento da reunião do Federal Reserve, que incluirá hoje o anúncio de novas diretrizes para 2024, o S&P 500 atingiu um nível recorde. Esse fenômeno caracteriza 2024: apesar da aceitação de um Fed potencialmente mais rígido, o mercado de ações persiste em sua trajetória ascendente. Esse comportamento pode ser atribuído a uma alteração na narrativa dominante, agora centrada na superação de um “pouso suave” e na transição para uma nova fase do ciclo econômico, estimulada por dinâmicas como investimentos em tecnologia, mudanças no padrão de consumo, realocação de cadeias produtivas (“nearshoring” e “friendshoring”) e novos gastos do governo. Embora esse panorama ofereça uma perspectiva otimista, não se pode negar a importância crítica da decisão do Fed hoje para os mercados globais.

A expectativa geral é que as taxas de juros permaneçam inalteradas nesta ocasião, direcionando a atenção para o Resumo das Projeções Econômicas do Fed, com especial interesse no cronograma dos possíveis cortes de taxas em 2024. Desde junho de 2023, o Fed tem mantido sua meta para a taxa de fundos federais entre 5,25% e 5,5%, embora as projeções para o futuro das taxas de juros tenham variado significativamente conforme os novos dados econômicos são divulgados. Além das projeções econômicas e da coletiva de Powell, qualquer indicação do Fed sobre o enfraquecimento de seu programa de aperto quantitativo ou sobre a redução de ativos em seu balanço poderia agitar os mercados. A redução no ritmo do chamado QT, que exerce um efeito contracionista na economia similar aos aumentos de taxa, poderia, por si só, impulsionar o mercado de ações, mesmo sem a implementação de cortes nas taxas.

· 03:25 — Biden concorda com Trump

O presidente Joe Biden expressou que a U.S. Steel, uma empresa do setor industrial americano com mais de um século de história, deve permanecer em mãos americanas e ser operada por trabalhadores americanos filiados a sindicatos. Essa posição foi destacada em meio a sua campanha presidencial, num contexto em que a proposta de aquisição da U.S. Steel pela Nippon Steel Corp, no valor de US$ 14 bilhões, levantou questionamentos.

Apesar de um encontro entre o sindicato United Steelworkers e representantes da Nippon Steel ter ocorrido este mês, as negociações não avançaram significativamente. Com a politização do tema, não seria surpreendente que candidatos eleitorais utilizassem a situação em suas campanhas. A Nippon Steel, por sua vez, comprometeu-se a preservar a identidade da U.S. Steel, mantendo sua sede em Pittsburgh e aproximadamente mil empregos atuais, além de respeitar os acordos existentes com o United Steelworkers, com planos de aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, assim como expandir a produção.

A Câmara de Comércio Americana alertou que a interferência de Biden no acordo poderia comprometer os investimentos estrangeiros nos Estados Unidos, incentivar retaliações de outros países contra empresas americanas no exterior e potencialmente deteriorar as relações diplomáticas entre EUA e Japão. Biden, conhecido por seu forte apoio ao movimento sindical, adota uma postura reminiscente da de Donald Trump em 2016, quando este enfatizou a revitalização da indústria nacional.

Atualmente, o Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos está revisando o acordo, que a Nippon Steel espera concluir entre o segundo e o terceiro trimestre do ano. Biden também estendeu um convite ao primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, para uma reunião na Casa Branca em 10 de abril.

· 04:12 — Taxa mantida

O Banco Popular da China decidiu manter estáveis as taxas de juros preferenciais para empréstimos de um e cinco anos em 3,45% e 3,95%, respectivamente. A taxa para empréstimos de um ano serve como base para a maior parte dos financiamentos residenciais e empresariais, enquanto a taxa de cinco anos é utilizada principalmente para empréstimos hipotecários. Esta decisão seguiu a divulgação de dados econômicos encorajadores no último fim de semana, que impulsionaram o preço do minério de ferro. É importante notar que o mercado de ações chinês teve uma recuperação notável no último mês, após Pequim introduzir estímulos econômicos moderados e adotar uma postura rigorosa contra a venda a descoberto. A melhoria nos indicadores econômicos também tem contribuído para este cenário. No entanto, o ponto frágil do mercado chinês permanece sendo seu setor imobiliário.

Esta situação de relativa estabilidade financeira na China pode enfrentar desafios em breve, dado que mais de 23 construtoras ou empresas afiliadas estão à beira de receber ordens de liquidação em Hong Kong, iniciadas por credores desde o começo da crise imobiliária. Uma possível onda de liquidações poderia desestabilizar, especialmente, os investidores internacionais, e incentivar aqueles que recentemente lucraram com a recuperação do mercado de ações chinês a retirar seus investimentos. Até o momento, cinco dessas empresas já receberam ordens de fechamento, deixando o futuro de muitas outras ainda incerto. O China Evergrande Group figura entre as afetadas. Por outro lado, se a crise imobiliária se estabilizar ou até mesmo começar a mostrar sinais de melhora, isso poderia impulsionar ainda mais a recuperação econômica do país.

· 05:09 — Ainda há espaço para mais?

Na sessão de ontem, a Super Micro se destacou como a maior baixa no S&P 500, uma reviravolta notável para a empresa que, até então, vinha sendo a estrela do ano. Especializada na fabricação de servidores avançados para centros de dados focados em inteligência artificial (IA), a Super Micro viu suas ações valorizarem mais de 300% até 13 de março, promovendo sua ascensão ao grupo das grandes capitalizações de mercado e sua recente inclusão no índice S&P 500. O anúncio inicial em 1º de março de que entraria no índice foi bem recebido pelo mercado, mas à medida que a data efetiva de 18 de março se aproximava, as ações enfrentaram um declínio acentuado, caindo mais de 20% desde o dia 13 de março, incluindo um recuo de quase 9% apenas no último pregão. Esse movimento sinaliza possivelmente um…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.