Na quinta-feira (21), após o fechamento do mercado, a Nike (B3: NIKE34 | NYSE: NKE) divulgou os seus resultados referentes ao terceiro trimestre do ano fiscal de 2024 (encerrado em fevereiro). Os números reportados vieram levemente superiores às expectativas de mercado.
No período, as vendas da companhia foram de US$12,429 bilhões, praticamente estável na comparação anual (US$12,390 bilhões no 3T23).
Europa, Oriente Médio e África impactaram negativamente as vendas
Analisando por região, a China e a Ásia-Pacífico/América Latina foram os principais vetores de crescimento no trimestre, com aumento de 5% (+6%, desconsiderando variação cambial) e 3% (+4%) nas vendas, respectivamente.
A América do Norte, responsável pela maior parte do faturamento (cerca de 40%), cresceu 3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Por outro lado, o resultado não foi melhor por conta do recuo de 3% (-4%) nas vendas na Europa, Oriente Médio e África, diante dos desafios enfrentados por essas regiões nos últimos meses, além da queda de 19% (-20%) no faturamento da Converse.
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Nike conseguiu reduzir custos e ampliar margem bruta
Entretanto, a companhia conseguiu reduzir seus custos em 2% na comparação anual, o que resultou em um lucro bruto de US$5,562 bilhões no trimestre (+4% vs. 3T23). A margem bruta do período foi de 44,8%, 1,5 ponto percentual superior ao reportado um ano atrás.
Já as despesas totais da empresa cresceram 7% no período, totalizando US$4,266 bilhões no 3T24 (ante US$3,959 bilhões). Importante salientar, porém, que grande parte desse aumento (US$340 milhões) está atrelado aos gastos relacionados ao processo de reestruturação anunciado este ano pela companhia.
O lucro operacional da companhia totalizou US$1,352 bilhão, valor 8% menor na comparação anual e o que representa uma margem EBIT de 10,9% (-1 p.p. vs. 3T23).
O recuo nesse indicador, entretanto, veio basicamente pela pior performance da Converse (US$98 milhões, -40% vs. 3T23) e dos maiores custos corporativos (US$874 milhões, +26%) — esse último também por conta dos gastos ligados à reestruturação.
Já a marca Nike viu seu EBIT totalizar US$2,128 bilhões (+6%), principalmente por conta da performance da América do Norte (US$1,4 bilhão, +18%).
Lucro por ação cresceu 24% em 12 meses
O lucro líquido da Nike no trimestre foi de US$1,172 bilhão, ou US$0,79 por ação, uma queda de 3% em relação ao 3T24. Quando ajustado pelos eventos extraordinários (reestruturação), o lucro por ação foi de US$0,98/ação, 24% acima do resultado reportado no mesmo período do ano anterior.
Sempre é bom lembrar que parte relevante da tese de investimento em Nike está relacionada ao melhor gerenciamento dos estoques da companhia — que acabam impactando negativamente as margens da companhia caso esteja em patamares muito elevados.
No 3T24, o valor dos estoques recuou 13% na comparação anual e encerrou o trimestre nos US$7,726 bilhões, comparado com quase US$9 bilhões um ano antes.
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O que achamos dos resultados de Nike?
Apesar dos números terem sido satisfatórios na minha visão — tanto que as ações subiram mais de 5% no after-market —, as falas dos executivos na teleconferência com os analistas desanimou os investidores, fazendo com que as ações caíssem quase 7% na sexta (22).
Isso porque ainda que tenha reforçado as projeções anteriores para o ano fiscal de 2024 (receita crescendo 1% e margem bruta expandindo 1,2 ponto percentual), o CFO Matthew Friend já aproveitou para falar a respeito das perspectivas para o ano fiscal de 2025, com projeção de queda de receita no primeiro semestre fiscal (mesmo com a perspectiva de crescimento nas vendas e lucros para o ano como um todo).
Segundo o executivo, essa projeção tende a ser a mais prudente dadas as condições atuais da companhia, que espera contratempos relacionados à gestão do ciclo de algumas de suas principais franquias mais do que compensando os ganhos relacionados aos novos produtos. Isso sem falar nas incertezas macro mundo afora.
No que a Nike pode melhorar
É importante comentar que a empresa tem ciência de que a sua performance nos últimos trimestres tem sido abaixo do seu potencial — algo pontuado pelo CEO John Donahoe logo no começo da teleconferência —, e que demonstra que atitudes precisam ser tomadas para recolocar a companhia no caminho do crescimento no longo prazo.
Donahoe elencou quatro áreas que necessitam de ajustes:
- aprimorar o foco nos esportes;
- gerar um fluxo contínuo relacionado à inovação de novos produtos;
- marketing mais incisivo e diferenciado;
- e voltar a atuar mais próximo dos parceiros de vendas no atacado para manter a atratividade de seus produtos perante ao público.
Já nas próximas semanas a companhia pretende realizar eventos para divulgação de novos produtos da linha Air (mundialmente conhecida por ser a franquia de Michael Jordan) assim como aqueles voltados às Olimpíadas de Paris, que acontecem este ano.
Não esquecendo que também teremos tanto a Eurocopa como a Copa América no meio do ano, o que deve gerar um interesse dos fãs por itens ligados a esses eventos.
Turbulência passageira
Obviamente ninguém gosta de ver uma ação da carteira tendo uma performance tão ruim (a ponto de comprometer a carteira como um todo, dado o seu peso atual). Mas entendo que o investimento nas ações da Nike (B3: NKE | NYSE: NIKE) estejam passando por um momento parecido com aquele que vimos na Disney.
Isso porque estamos falando de uma marca altamente reconhecida (e desejada) do grande público, ainda que tenha sofrido com alguns de seus últimos lançamentos. E isso tem sido visto nos seus últimos resultados, mesmo com alguns avanços notáveis que parecem ser deixados de lado (pense no gerenciamento dos estoques da mesma forma como o mercado estava olhando os resultados dos streamings da Disney).
E, da mesma maneira que pontuava que via uma assimetria interessante na ação da Disney (quando bateu os US$90, parecia ter pouco espaço para quedas mais acentuadas), entendo que estejamos passando o mesmo com a Nike, dado o nível atual de valuation comparado com os seus últimos cinco anos.
Talvez, diferentemente do caso da Disney, o ponto aqui é que uma eventual retomada da ações da companhia para a casa dos US$100/ação não traga tanto mais potencial de valorização para a posição — a não ser que as medidas tomadas pela direção comecem a dar resultados mais rápido que o mercado espera.
Por ora, vou preferir manter a ação da Nike (B3: NIKE34 | NYSE: NKE) na carteira, por entender que conseguimos sair por um preço melhor do que o atual (lembrando que, ajustando o resultado, o lucro por ação cresceu mais de 20% na comparação anual).
Só que também tenho em mente que aquela perspectiva de que as ações poderiam valorizar aproximadamente 20% do preço anterior (chegando próximo dos US$120/ação) pode ser algo distante da realidade atual, e devemos pensar se valeria a pena segurar o papel mais tempo do que desejado inicialmente. Um problema de cada vez, contudo, analisando a reação do ativo nas próximas semanas.