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SLC Agrícola (SLCE3): resultado do 1T24 foi impactado pelo El Niño, mas foco no algodão amenizou queda da receita

A estratégia da SLC em focar no algodão, enquanto o cenário para o milho e a soja continua desfavorável, ajudou a amenizar a queda

Por Ruy Hungria

10 maio 2024, 14:21 - atualizado em 10 maio 2024, 14:21

produção de grãos SLC Agrícola SLCE3
Imagem: Unsplash

A SLC Agrícola (SLCE3) divulgou seu resultado do 1T24 com números atrapalhados pelo impacto do El Niño na produtividade dos principais grãos, o que já havia sido antecipado por nós mesmos e pelo mercado.

Foco no algodão foi estratégia acertada da SLC Agrícola em meio a cenário desafiador

A estratégia da companhia em focar no algodão, enquanto o cenário para o milho e a soja continua desfavorável, ajudou a amenizar a queda. Mesmo assim, a receita líquida recuou 11,8% vs 1T23, para R$ 2 bilhões.

A receita do algodão em pluma avançou 72,6% na comparação anual. Já soja e o milho recuaram 37% e 68% respectivamente, por conta da queda de produtividade e preços das culturas

Apesar da maior receita proveniente da soja, vale a pena lembrar que quando olhamos para a contribuição de cada cultura no Lucro Bruto, a estratégia de focar mais no algodão recentemente se mostra bastante assertiva. 

Fonte: companhia. Elaboração: Empiricus.

No entanto, isso também provocou impacto negativo na margem bruta, dado que o algodão tem custos unitários de produção maiores.

Além disso, um recuo brando nos custos de produção de soja (que caiu muito menos que o preço do grão) fez com que o custo consolidado subisse para R$ 1,2 bilhão, alta de +6,6% vs 1T23.

Queda na linha de despesas não conseguiu reverter queda da receita

Embora com menor representação no todo, a linha de despesas ficou em R$ 137,2 milhões, uma retração de -23,4% vs 1T23, ajudada pela retração nas despesas com fretes, armazenagem, royalties, parcialmente compensados por despesas com exportação. 

Mas isso não foi suficiente para reverter a queda na receita e pressão altista dos custos, e o Ebitda Ajustado (que exclui as variações do Ativo Biológico, que não possuem efeito caixa) atingiu R$ 704 milhões (-28,9% vs 1T23) com margem de 36% (-8,6 p.p. vs 1T23). 

Graças ao aumento das obrigações por conta de aquisições de terras, o resultado financeiro ficou em -R$ 190,4 milhões, piora de 28,9% em comparação ao mesmo trimestre do último ano. 

Piora do lucro líquido de SLC veio em linha com as expectativas do mercado

Por fim, a companhia reportou um lucro líquido de R$ 228,9 milhões. Apesar da queda de -60,2% frente ao 1T23 e redução de -14,2p.p. na margem líquida, o indicador está em linha com as expectativas reduzidas do mercado. 

No trimestre, tivemos uma geração negativa de caixa da ordem de -R$ 196 milhões. O número foi um pouco impactado pela queda de preço da soja, mas em linha com a sazonalidade negativa do primeiro trimestre – no 1T23 houve consumo de -R$ 262 milhões já excluindo as compras de terras. 

Podemos ver algum impulso nos preços

Um ponto positivo mencionado na teleconferência foi a situação do plantio adiantado do algodão, estratégia adotada pela companhia para minimizar o impacto negativo de outras culturas. Embora o clima seco do MT acima da média não seja favorável para o cultivo do algodão, esse adiantamento da plantação deve amenizar efeitos negativos no desenvolvimento. 

Além do mais, o preço das principais culturas estão próximos do breakeven dos produtores, o que pode diminuir a oferta e, em consequência, voltar a trazer algum impulso positivo para os preços.

Também podemos ver impactos positivos no preço do milho após a praga de cigarrinhas na Argentina, e nos preços do algodão, já que o La Niña mais provavelmente tende a prejudicar a produção nos Estados Unidos. 

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Como vemos os resultados de SLC Agrícola (SCLE3)?

Entendemos que a SLC Agrícola está bem posicionada para capturar uma virada no cenário do setor que, cada vez mais, nos parece próximo de acontecer. E mesmo que isso demore, é importante lembrar que ela está entre os produtores de menor custo. Além disso, os múltiplos atuais já embutem baixas expectativas. 

Por 9,6x preço/lucros esperados para 2024, SLCE3 segue como recomendação de compra na Empiricus Research. 

Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.