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S&P 500 e Nasdaq alcançaram novos recordes, antes mesmo da ata do Fed e dos resultados de Nvidia desta quarta (22)

No Brasil, há grande expectativa em torno da participação do ministro Fernando Haddad em uma comissão da Câmara pela manhã.

Por Matheus Spiess

22 maio 2024, 08:39 - atualizado em 22 maio 2024, 08:43

ações americanas 2024

Bom dia, pessoal. A diminuição do otimismo em relação à economia chinesa afetou negativamente os mercados regionais, levando a uma postura cautelosa entre os investidores nesta quarta-feira (22), especialmente em relação às ações de tecnologia, antes da divulgação dos resultados da Nvidia, uma das favoritas do mercado.

Ontem, Wall Street registrou um desempenho moderadamente positivo, mas enviou sinais fracos aos mercados asiáticos. Paralelamente, várias autoridades do Federal Reserve expressaram preocupações de que a inflação persistente poderia prolongar o período de taxas de juros elevadas.

No entanto, impulsionados pelos ganhos no setor tecnológico, o S&P 500 e o Nasdaq alcançaram novos recordes, antecipando a publicação da ata do Fed e os resultados da Nvidia, ambos previstos para hoje.

Neste cenário, a maioria dos índices asiáticos apresentou quedas hoje, apesar dos dados do Japão indicarem um crescimento nas exportações em abril. Contudo, a fraca demanda da China ofuscou esses resultados positivos.

Na Europa, os mercados abriram em baixa, refletindo uma postura similar nos futuros dos EUA. Os investidores aguardam dados que possam sugerir um corte de juros mais iminente na Europa do que nos Estados Unidos.

Essas expectativas estão em linha com declarações recentes de Andrew Bailey, presidente do Banco da Inglaterra, e Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, que mencionaram a “forte probabilidade” de um relaxamento monetário pelo BCE em junho. Se confirmado, isso poderia aliviar a pressão sobre a curva de juros de países emergentes, como o Brasil.

A ver…

· 00:58 — Arrecadação boa, mas o clima ainda não é dos melhores

No Brasil, a atenção do mercado está voltada para a questão fiscal, com grande expectativa em torno da participação do ministro Fernando Haddad em uma comissão da Câmara pela manhã e a divulgação do segundo Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas pelo Ministério do Planejamento na parte da tarde.

Ontem, o Ibovespa registrou sua terceira queda consecutiva, com uma redução de 0,27%, fechando aos 127.412 pontos. Esse desempenho negativo foi impulsionado pela queda nas ações de commodities e varejo. Nem mesmo as ações da Vale, que tinham expectativas positivas devido aos estímulos econômicos na China, conseguiram apresentar ganhos. As ações da Petrobras também recuaram acompanhando a baixa nos preços do petróleo.

Apesar desse cenário, um ponto positivo é a arrecadação federal, que continua robusta. Em abril, a arrecadação totalizou R$ 228,87 bilhões, em comparação com R$ 190,6 bilhões em março, o que está alinhado com as expectativas e representa um aumento de 8,26% na base anual, o maior da série histórica. No acumulado do ano até abril, a arrecadação atingiu R$ 886,6 bilhões, um crescimento de 8,33% em relação ao mesmo período de 2023.

No entanto, apesar da forte arrecadação, o crescimento dos gastos públicos supera proporcionalmente o da receita, dificultando a transformação do déficit primário em superávit num prazo razoável. Embora os fundamentos econômicos do Brasil estejam mais robustos hoje do que no passado, é essencial que o governo mantenha a prudência e respeite os limites fiscais para evitar erros estratégicos.

· 01:45 — E esse resultado da Nvidia?

Nos Estados Unidos, após o Dow Jones atrair atenção ao atingir 40 mil pontos na semana passada, o S&P 500 e o Nasdaq voltaram ao centro das atenções. Ontem, esses índices subiram 0,2%, com o S&P alcançando seu vigésimo quarto recorde de fechamento no ano.

Durante a maior parte do dia, as ações permaneceram estáveis, mas comentários de Christopher Waller, governador do Federal Reserve, sobre a política monetária impulsionaram ganhos nos três principais índices. Waller criticou a ideia de reduzir as taxas de juros uma única vez e depois mantê-las inalteradas por seis meses, considerando essa abordagem impraticável.

Hoje promete ser ainda mais agitado. A divulgação dos resultados da Nvidia após o fechamento do mercado e a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) são aguardados com grande expectativa, pois qualquer um desses eventos pode desafiar os recentes recordes de mercado. As ações já estão em alta, antecipando os resultados da Nvidia, líder no setor de semicondutores e no centro da revolução da inteligência artificial. A expectativa é que a receita da Nvidia cresça significativamente, impulsionada pela crescente demanda em seus negócios de data center. Investidores ao redor do mundo estão atentos para ver se os avanços na IA corresponderão às elevadas expectativas em torno dessa tecnologia.

· 02:32 — A tão aguardada ata do Fed

O principal evento econômico desta semana é a divulgação da ata da reunião de maio do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que decidiu manter as taxas de juros inalteradas. Os investidores analisarão detalhadamente o documento, em busca de qualquer sinal sobre quando o banco central poderá começar a reduzir as taxas. Atualmente, o mercado ainda espera pelo menos dois cortes de juros em 2024.

Nos últimos dias, além da expectativa pela ata, diversos representantes do Fed fizeram comentários públicos. Entre eles, Raphael Bostic, do Fed de Atlanta; Susan Collins, do Fed de Boston; e Loretta Mester, do Fed de Cleveland, todos adotando posturas cautelosas, embora com nuances diferentes. Qualquer indício na ata de que um corte em setembro é possível certamente animará o mercado.

· 03:21 —  “Vibecession”

Ainda nos EUA, quanto ao cenário macroeconômico de curto prazo, um tema discutido com certa frequência é que se tem chamado de “vibecession”, destacando a desconexão entre a situação econômica do país e o ânimo dos agentes econômicos, incluindo consumidores e empresários. No lado da demanda, os consumidores estão mais preocupados com o nível historicamente elevado dos preços do que com a taxa de inflação propriamente dita. A percepção generalizada é que, nos últimos três anos, os preços subiram mais do que nos últimos dez, afetando inclusive as eleições.

Por outro lado, há um aumento na confiança no mercado de trabalho, sustentado por um cenário sem recessão iminente. Este sentimento no mercado de trabalho sugere que, apesar das pressões inflacionárias, os consumidores acreditam na estabilidade e na continuidade de suas fontes de renda. Essa dicotomia entre a percepção inflacionária e a confiança no mercado de trabalho exemplifica a complexidade do atual panorama econômico. Enquanto os altos preços continuam a ser uma preocupação significativa, a ausência de uma recessão proporciona um alívio relativo, permitindo um otimismo moderado quanto ao futuro próximo. 

· 04:17 — Guerra permanente

Recentemente, o presidente russo, Vladimir Putin, em uma de suas primeiras decisões do novo mandato, substituiu o antigo ministro da Defesa, Sergei Shoigu, pelo economista Andrey Belousov. Esta mudança foi vista como polêmica e chamou muita atenção. Qual a intenção por de trás dela? Shoigu era considerado um homem de confiança de Putin, apesar de ser alvo de críticas de várias facções dentro do próprio exército russo. Um exemplo notável foi o motim fracassado de Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, no ano passado. A gestão de Shoigu sem dúvida frustrou o Kremlin por não conseguir uma vitória na Ucrânia em uma guerra que deveria ser curta. Mais de dois anos se passaram e ainda não há um vencedor claro, mesmo com o apoio à Ucrânia diminuindo.

Ao mesmo tempo, a ala dos economistas russos está ganhando prestígio. Liderados pela Chefe do Banco Central, Elvira Nabiullina, e pelo Ministro das Finanças, Anton Siluanov, conseguiram o que parecia impossível: manter a economia russa funcionando, apesar das sanções ocidentais. Agora, a nomeação de um economista para o Ministério da Defesa levanta várias questões. Parece que os russos estão se preparando para transformar o país em uma máquina de guerra, mantendo a sustentabilidade econômica enquanto continuam a invasão territorial. O receio é que isso resulte em uma guerra eterna contra o Ocidente que seja economicamente sustentável para a Rússia, adicionando mais um capítulo a esta espécie de Nova Guerra Fria que estamos vivendo.

· 05:09 — Mudanças na Petrobras

Os seguidores de longa data do M5M+ estão cientes da minha insistência na inclusão de verdadeiros hedges geopolíticos em nossos portfólios para atenuar as crescentes influências internacionais no mercado. Um dos mercados mais sensíveis a tais influências é o petroleiro, exemplificado por recomendações que fiz, incluindo ETFs como XOP e XLE, além de títulos individuais como Petrobras (PETR4), que recentemente tem sido centro de debates sobre intervenção governamental.

A substituição recente na presidência da Petrobras é indiscutivelmente desfavorável. Porém…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.