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Mercado em 5 minutos

Divulgação do PIB brasileiro tem número acima das estimativas dos analistas; veja os detalhes

Crescimento acima das expectativas acabou pressionando levemente para cima a curva de juros

Por Enzo Pacheco, CFA

05 jun 2024, 08:28 - atualizado em 05 jun 2024, 08:28

Imagem das iniciais da palavra Produto Interno Bruto sobre a bandeira do Brasil com algumas notas de reiais dados de emprego mercado pib
Reprodução: Shutterstock

Bom dia, pessoal. Ontem tivemos a divulgação do PIB do Brasil no primeiro trimestre de 2024, com um crescimento de 0,8% na comparação com o quarto trimestre do ano passado. O número veio acima das estimativas dos analistas, que projetavam uma alta de 0,7% no período.

Um aumento melhor do que o esperado é, de fato, uma boa notícia. Mas isso não significa que tudo esteja resolvido aqui por terras brasilis

Isso porque o maior crescimento acabou pressionando levemente para cima a curva de juros, com a percepção de que o Banco Central poderia ter mais dificuldade para combater a inflação.

E não bastasse os nossos próprios problemas, o cenário exterior também não ajudou, com a forte queda das commodities puxando para baixo o principal índice da Bolsa brasileira: o Ibovespa encerrou o dia com queda de 0,19%, nos 121.809 pontos.

Lá fora, o dia também foi de extrema volatilidade, com os principais índices americanos alternando entre perdas e ganhos ao longo do pregão. Ainda assim, conseguiram encerrar o dia no positivo: S&P 500, +0,15%; Nasdaq, +0,17%; e Dow Jones, +0,36%.

· 00:51 — “Ééééé, é do Brasil!”

A performance negativa do índice brasileiro comparado com os americanos acentuou ainda mais a diferença no ano. Enquanto o S&P 500 e o Nasdaq se valorizam mais de 10% em 2024, o Ibovespa amarga perdas de 9% no período.

E a situação fica ainda pior quando colocamos a variação do dólar na conta. 

Depois de começar o ano abaixo dos R$4,90, as incertezas do lado fiscal brasileiro somado à revisão de menos cortes nos juros americanos por parte do Federal Reserve fez com que a moeda americana passasse a ser negociada nesses últimos dias perto dos R$5,30.

Dessa forma, o Ibovespa medido em dólares apresenta desvalorização de mais de 16%, a pior performance dentre as principais bolsas no mundo no ano. 

A segunda pior colocada, a do México (com queda de 6% em moeda local e 11% em dólares) só obteve tal posto após as eleições ocorridas no último final de semana, na qual a candidata governista Claudia Sheinbaum ganhou com ampla vantagem – além de ter feito maioria tanto na Câmara como no Senado –, o que levantou o receio dos investidores de que conseguiria aprovar medidas populistas.

· 01:21 — Bota casaco, tira casaco

A indefinição acerca da política monetária nos Estados Unidos também tem dificultado a vida dos economistas que (ainda) tentam projetar a cotação da moeda americana.

Isso porque após começar o ano com expectativas de seis a sete cortes na Fed Funds Rates (a taxa básica de juros americana), atualmente o mercado precifica, no máximo, dois cortes até o final do ano.

E mesmo assim essas apostas variam ao sabor dos dados econômicos divulgados. Ontem, por exemplo, o relatório JOLTS mostrou que o número de vagas de trabalho disponíveis em abril totalizava 8,059 milhões – menor do que o projetado (8,350 milhões) e do que o número anterior (8,488 milhões, revisado para 8,355 milhões).

Além disso, alguns dados divulgados na segunda reforçaram a ideia de uma desaceleração da economia na Terra do Tio Sam, como os gastos da construção retraindo (-0,1%, ante +0,2% esperado) e do ISM da indústria (48,7 vs. 49,5 esperado).

As apostas de um corte de juros na reunião de setembro, que uma semana atrás tinha 42% de probabilidade de acordo com o CME FedWatch Tool, passaram para mais de 55% de chance. 

Mas é importante ter em mente que alguns membros do Federal Reserve tem pontuado que gostariam de ver “vários meses” com bons dados de inflação para ficarem tranquilos com o início do afrouxamento monetário – sendo que alguns enxergam apenas um corte esse ano.

E com a possibilidade de um juro mais alto por mais tempo na Terra do Tio Sam, somado a divergência com outros BCs do mundo desenvolvido (o Banco Central Europeu deve iniciar o corte de juros já na reunião deste mês), é capaz de continuarmos vendo um dólar forte ao redor do mundo.

· 02:47 — A ajuda pode vir de onde a gente menos espera, mas…

A forte desvalorização nos preços das commodities, principalmente o petróleo, pode ajudar a controlar a inflação nos Estados Unidos e dar parte do conforto necessário para os formuladores de política monetária iniciarem o afrouxamento monetário.

Ainda que a decisão de manutenção dos cortes pela OPEP era altamente esperada (que hoje está perto dos 5,8 milhões de barris diários), o comunicado pontuou que os cortes voluntários (que totalizam 2,2 milhões de barris) seriam prolongados até setembro e, a partir de então, retomados ao longo dos próximos doze meses.

Esse possível aumento inesperado da produção ainda em 2024 fez com que o preço do barril de petróleo tivesse forte queda na segunda (-4%) e ontem (-1%), voltando para perto dos US$70/barril.

Só que a retomada da produção cortada involuntariamente é condicionada às condições de mercado. Caso o preço do petróleo continue a se desvalorizar, entendo que a OPEP pode facilmente anunciar que estenderá tais cortes – e, possivelmente veremos o barril se valorizar neste dia.

Mas o cenário de alguns analistas, de que o petróleo poderia chegar aos US$100 neste ano, parece improvável no momento. Um intervalo entre US$70 e US$90 me parece o mais plausível atualmente, com uma retomada nos preços somente no caso de um recrudescimento das tensões no Oriente Médio.

· 04:03 — No aguardo de uma ChipBrás (ou uma IABrás)

Parte importante da valorização nas bolsas internacionais no ano está ligada à temática de Inteligência Artificial – que, com muita boa vontade, dificilmente encontraremos na Bolsa brasileira.

Em maio, os setores com melhores performances foram Tecnologia de Informação, Serviços de Comunicação (com um grande peso em Alphabet e Meta) e Utilities. Esta última, ainda que sofra com os juros mais altos, se beneficiou da leitura dos investidores de que essa tecnologia demandará mais energia do que o sistema fornece atualmente.

Mas o grosso do movimento tem vindo especificamente das empresas de semicondutores. O índice SOX, composto por companhias desse segmento, apresenta valorização de mais de 22% em 2024 – em grande parte pela forte valorização das ações da Nvidia, que mais do que dobraram no ínterim.

E, dado as perspectivas para o maior desenvolvimento e utilização da IA nos próximos anos, ainda é possível ver algum desses ativos no mercado internacional entregando bons resultados ao longo do ano.

· 05:01 — A Blue Chip dos chips

Os últimos dias foram recheados de anúncios das empresas de semicondutores em relação a novos produtos.

Em evento realizado em Taiwan no último final de semana, Nvidia, AMD e Intel lançaram novos chips voltados à Inteligência Artificial. O mais impressionante é que, no caso das duas primeiras, esses anúncios aconteceram poucos meses depois de já terem lançados novos produtos nessa seara.

A Intel, empresa histórica do setor, tem ficado para trás na corrida, mas enxerga a possibilidade de retomar sua relevância com os novos chips divulgados.

Ainda que a Nvidia seja a líder disparada no setor, entendo que as empresas (principalmente as Big Techs) não gostariam de ficar dependentes de apenas um fornecedor, estimulando para que outras empresas ofereçam soluções viáveis nesse segmento.

Neste caso, entendo que uma das melhores apostas hoje seriam as ações da…

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Desde 2017 atua na análise dos mercados internacionais na série da Empiricus voltada a este propósito (MoneyBets).