Investimentos

Relatório de produção da Vale e ofertas de Sabesp e Eletrobras são destaques da agenda econômica brasileira da semana; confira

Enquanto isso, EUA aguarda mais de 50 resultados corporativos a serem divulgados nesta semana

Por Matheus Spiess

15 jul 2024, 09:25 - atualizado em 15 jul 2024, 09:26

Vale VALE3
Imagem: Shutterstock

Bom dia, pessoal. Se você não vive em uma caverna, deve ter visto a tentativa de assassinato ao ex-presidente americano Donald Trump no sábado. O que poderia ter sido uma tragédia, por um centímetro, acabou se tornando uma poderosa arma eleitoral para Trump, aumentando ainda mais suas chances de retornar à Casa Branca na eleição de novembro.

O atentado ocorreu logo antes da Convenção Nacional Republicana, que deve confirmar o nome de Trump (e de seu ainda desconhecido vice) como candidato nesta semana. Após o incidente, o dólar e o Bitcoin subiram.

Nesta manhã, os futuros americanos estão em alta, apesar da queda nos mercados europeus.

Na Ásia, a maioria das ações recuou nesta segunda-feira (15), após números decepcionantes de crescimento econômico da China. Os dados econômicos divulgados durante a noite pela China foram, em geral, fracos. O PIB do segundo trimestre apresentou um crescimento inferior ao esperado e os dados das vendas no varejo de junho indicam uma fraqueza na demanda interna.

Naturalmente, a maior chance de vitória de Trump também afeta negativamente as ações chinesas devido à incerteza sobre os próximos passos na guerra comercial.

Na agenda, está o início do Terceiro Plenário na China (há bastante expectativa pelo anúncio de mais estímulos).

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, dará hoje uma entrevista, mas, após seus testemunhos no Congresso na semana passada, é pouco provável que os mercados mostrem grande interesse.

Também está prevista a divulgação da pesquisa de sentimento manufatureiro do NY Empire State.

Nos próximos dias, acompanharemos a temporada de resultados, tanto nos EUA quanto em outros mercados, que começa a ganhar tração.

No Brasil, os principais vetores são políticos, com a aproximação do início do recesso legislativo.

A ver…

· 00:56 — Entre alguns movimentos corporativos e a agenda de Brasília

Na sexta-feira (12), o Ibovespa registrou uma notável valorização, encerrando o dia com 128.897 pontos. Essa elevação foi impulsionada por dados de inflação dos Estados Unidos que vieram abaixo das expectativas, o que aumentou o otimismo nos mercados internacionais sobre a possibilidade de uma redução nas taxas de juros pelo Fed em setembro.

Esse avanço marcou a décima alta consecutiva do índice, que acumulou um ganho de 2% na semana, consolidando o quarto período seguido de alta.

Para a semana, a agenda econômica brasileira reserva eventos importantes. Entre eles, destaca-se o relatório de produção e vendas da Vale, previsto para ser divulgado amanhã. Espera-se, ainda, as ofertas de ações da Sabesp e da Eletrobras, que juntas devem movimentar aproximadamente R$ 20 bilhões, sendo que cerca de R$ 16 bilhões deste montante serão provenientes do processo de privatização.

Adicionalmente, será publicado o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) referente ao mês de maio, que oferecerá mais insights sobre o estado atual da economia brasileira.

Em Brasília, à medida que se aproxima o recesso legislativo, ainda há incertezas significativas acerca de temas críticos, como a dívida dos estados e a questão da compensação pela reoneração da folha de pagamento.

Há uma apreensão de que a regulamentação da reforma tributária, aprovada na Câmara, possa ser postergada para o ano que vem no Senado.

Além disso, com a recente autorização do presidente Lula para um corte de R$ 26 bilhões nas despesas obrigatórias do orçamento de 2025, o mercado aguarda ansiosamente pelo relatório bimestral de receitas e despesas, que será divulgado no dia 22 de julho.

Este relatório será decisivo para demonstrar se o governo poderá cumprir as metas fiscais de curto prazo, uma questão crítica em ano eleitoral.

As questões fiscais de longo prazo permanecem uma incógnita para 2026.

· 01:41 — Acelerando a temporada da resultados

Nos Estados Unidos, a temporada de resultados do segundo trimestre começou de forma desfavorável, com resultados mistos de alguns dos maiores bancos do país. Embora o trimestre tenha sido positivo para a banca de investimento – as taxas do JPMorgan Chase aumentaram 52% em relação ao ano anterior e as do Citigroup saltaram 63% – o desempenho dos negócios comuns de empréstimos dos bancos ficou aquém das expectativas.

No cenário macroeconômico, após a inflação ao consumidor ter surpreendido positivamente, o índice de preços ao produtor de junho trouxe uma surpresa negativa.

O índice principal subiu 0,2% em junho, enquanto o núcleo – excluindo alimentos e energia – aumentou 0,4%, lembrando que a trajetória da inflação é e continuará sendo irregular.

No entanto, as expectativas de cortes de juros em setembro permanecem, com a trajetória ainda apontando para os 2%.

Todos os olhares estão voltados para o mercado de trabalho, especialmente para aqueles que esperam cortes nas taxas de juros pela Reserva Federal ainda este ano.

O presidente do Fed, Jerome Powell, durante dois dias de testemunho no Congresso, destacou o “equilíbrio” dos riscos, mensagem reforçada por um relatório de inflação moderado em junho.

Nesta semana, cerca de 50 empresas do S&P 500 estão programadas para divulgar seus resultados trimestrais.

Entre os destaques estão BlackRock e Goldman Sachs na segunda-feira, Bank of America, Morgan Stanley e UnitedHealth Group na terça-feira, ASML, Johnson & Johnson, Prologis e United Airlines na quarta-feira, Netflix e Taiwan Semiconductor Manufacturing na quinta-feira, e American Express na sexta-feira.

Além disso, teremos o Livro Bege do Fed, que fornecerá várias percepções econômicas.

· 02:33 — Os democratas ainda precisam decidir quem vai perder para o Trump

A imagem de Donald Trump ensanguentado e com os punhos cerrados sob um céu azul e uma bandeira americana se tornou instantaneamente um ícone histórico, representando um daqueles momentos que definem uma era. A tentativa de assassinato do ex-presidente dos EUA, durante um comício no sábado, transformou uma campanha já volátil e imprevisível, marcada por retóricas acirradas e opiniões radicalizadas. Esse evento parece alterar irrevogavelmente o cenário político a favor de Trump nas eleições de novembro. Ele não apenas sobreviveu ao tiro que passou de raspão por sua orelha, mas a narrativa que ele construiu ao longo dos anos, de que estava sendo perseguido, pareceu validada. As apostas em sua vitória dispararam.

Isso é profundamente preocupante para as democracias ocidentais, que buscam no líder do mundo livre uma aparência de ordem e clareza. Os democratas, por outro lado, estão desorientados enquanto o presidente Joe Biden, de 81 anos, se mantém firme, apesar das crescentes dúvidas sobre sua idade e capacidade mental, com apelos cada vez mais frequentes para que ele se retire. Biden foi retirado das manchetes.Líderes ao redor do mundo expressaram solidariedade a Trump, assim como a elite empresarial norte-americana: Elon Musk, Bill Ackman, Jeff Bezos, Tim Cook, entre muitos outros, enviaram mensagens de apoio.

Com a aproximação da Convenção Nacional Republicana, que deve coroar Trump como o candidato republicano oficial, o clima na convenção que começa hoje promete ser intenso, dado o culto à personalidade em torno do ex-presidente. Ainda não sabemos quem será o vice-presidente, escolha que pode aumentar ainda mais sua popularidade dependendo do nome (uma mulher ou um negro, por exemplo, poderiam abrir espaço em segmentos onde os republicanos tradicionalmente não têm forte apoio). Atentados contra presidentes ou ex-presidentes não são novidade na história americana, e muitos viram sua popularidade crescer após tais eventos. Estamos nos aproximando de um segundo mandato de Trump.

· 03:27 — Trump 2.0: um dólar mais forte e mais inflação

O episódio de violência na Pensilvânia aumentou significativamente as chances de um retorno de Trump ao poder. Com isso, podemos começar a considerar os possíveis desdobramentos desses eventos.

O dólar americano, por exemplo, teve um desempenho extraordinariamente forte este ano. Embora sua ascensão tenha desacelerado após o ressurgimento da esquerda nas eleições na França, ele continua em uma trajetória de sucesso.

O dólar está cerca de 13% mais forte (medido pelo índice do dólar da economia estrangeira avançada da Fed) do que estava em 2021, antes do Federal Reserve começar a aumentar as taxas de juros. Sim, a alta mais recente do dólar tem uma carga política, mas, essencialmente, tudo se resume ao Fed.

Se a vantagem de Trump se transformar em vitória em novembro, é provável que haja a preservação ou expansão dos cortes fiscais e o aumento das tarifas. Durante os debates presidenciais do mês passado, Trump reiterou seu desejo de impor uma tarifa de 10% sobre todas as importações, o que provavelmente aumentaria a inflação e geraria dúvidas sobre os cortes nas taxas de juros. Uma expansão dos cortes fiscais de 2017 aumentaria drasticamente os déficits, fortalecendo ainda mais o dólar americano. Além disso, uma economia americana forte também reforça o dólar. Um dólar forte torna as exportações dos EUA mais caras e reduz os lucros das empresas americanas que operam no exterior, quando esses lucros são convertidos novamente em dólares. Também aumenta a concorrência das importações mais baratas. Embora um dólar forte reduza o custo das matérias-primas importadas, pode aumentar a inflação e prejudicar os investimentos estrangeiros. Ainda há muitos outros cenários para analisarmos…

· 04:19 — O Terceiro Plenário

Na Ásia, os índices Shanghai Shenzhen CSI 300 e Shanghai Composite da China mantiveram-se estáveis em meio a negociações agitadas, enquanto as perdas nas ações continentais levaram o índice Hang Seng de Hong Kong a cair 1,1%. Essas movimentações ocorreram após o produto interno bruto (PIB) da China crescer menos do que o esperado, registrando uma alta anual de 4,7% no segundo trimestre, prejudicado principalmente pelos fracos gastos dos consumidores e pela demanda. Essa tendência negativa compensou em grande parte as melhorias na produção industrial e na atividade manufatureira. Os dados foram divulgados pouco antes do início do Terceiro Plenário, em Pequim, que reúne os principais líderes do Partido Comunista da China. Espera-se que a reunião traga uma série de medidas de estímulo à economia, além de outras diretrizes políticas.

Duas narrativas conflitantes surgiram sobre a expansão industrial da China, impulsionada por veículos elétricos, energia renovável e produtos de alta tecnologia. Uma perspectiva argumenta que o país está se beneficiando de vantagens comparativas, como uma força de trabalho abundante e um vasto mercado interno. Outra visão sustenta que o aumento das exportações de Pequim é um subproduto de políticas distorcidas que ameaçam a economia global. Independentemente de qual narrativa prevaleça, o presidente chinês Xi Jinping tem, com o plenário, a oportunidade de reforçar sua afirmação de que a capacidade industrial da China é um reflexo da concorrência justa, ou optar por acomodar as preocupações econômicas das capitais estrangeiras. Como a China é o principal parceiro comercial do Brasil, qualquer novidade derivada do plenário pode ter também impacto nas perspectivas locais.

· 05:02 — Uma previdência global

Tenho consistentemente destacado a importância de uma diversificação eficaz nas carteiras de investimentos, enfatizando a utilização de diversos veículos e classes de ativos. Um dos exemplos que frequentemente ressalto é a previdência complementar, que recomendo constituir cerca de 10% da carteira total de investimentos. Esta modalidade permite a inclusão de uma gama variada de ativos, como renda fixa, ações, multimercados e investimentos internacionais.

Além disso, sublinho a relevância de ampliar a exposição a mercados internacionais, uma vez que muitos investidores brasileiros ainda possuem uma participação limitada fora do país, muitas vezes não adotando as estratégias mais eficientes para maximizar seus retornos. Portanto, proponho…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.