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Day One

O ranking de medalhas olímpicas é justo?

Com o noticiário tomado pelas Olimpíadas de Paris 2024, ninguém quer saber muito de economia e finanças.

Por Rodolfo Amstalden

31 jul 2024, 14:00

Olimpíadas 2024 Paris Economia
Imagem: Wikimedia Commons

“Oh, esporte, tu és Justiça!
A equidade perfeita, perseguida em vão pelos homens
em suas instituições sociais, se estabelece ao teu redor”.

– Pierre de Coubertin

Com o noticiário tomado por notícias olímpicas, ninguém quer saber muito de economia e finanças por enquanto.

Então o jeito foi pensar na interdisciplinaridade dos temas.

Felizmente, e sem forçar a barra, existe sim um vasto campo de estudos para interesses correlatos entre esporte e economia – ainda largamente inexplorado.

Só para citar um exemplo: pelas lentes do Design de Mecanismos, podemos adentrar um dos debates históricos mais acalorados dos Jogos Olímpicos.

Qual é a maneira mais “justa” de definir o ranking de medalhas?

Como padrão, a tabela das Olimpíadas é ordenada prioritariamente de acordo com o número de medalhas de ouro, de modo que as premiações de prata e bronze sirvam a critérios de desempate.

Mas essa regra está longe de ser consensual, sobretudo por violar alguns princípios horizontais sugeridos pelo Barão de Coubertin na criação dos Jogos modernos.

As posições de Cuba são frequentemente usadas como provocação nesse sentido, já que o país geralmente consegue um grande número de medalhas de ouro sobre seu (relativamente) pequeno total de medalhas.

Em Tóquio, os cubanos levaram sete ouros (14ª posição no ranking geral), de um total de “apenas” 15 medalhas. Já os sul-coreanos levaram seis ouros (16ª geral) dentre 20 medalhas.

Outra opção seria a de simplesmente contabilizar o total de medalhas, sem fazer distinção dentro do pódio. 

Os defensores desse método argumentam que ele carrega um maior viés de potencialidades no esporte, ao dar mais valor para construções probabilísticas do que para o resultado observado, muitas vezes definido por caprichos irrisórios ou injustos.

Por outro lado, a contabilidade uniforme pode roubar parte da ambição saudável em se buscar o lugar exclusivo de campeão entre campeões – um marcador vital da própria essência competitiva do mundo esportivo.

Por fim, teríamos um meio termo entre esses dois extremos, por meio do qual seriam estabelecidas taxas de câmbio entre ouro, prata e bronze, traduzidas finalmente em um score de pontuação que ditaria o ranking geral.

Daria um pouco mais de trabalho, e suscitaria novas (infinitas) discussões sobre qual é a taxa de câmbio adequada para cada intermediação entre medalhas, mas poderia funcionar também. 

De um jeito ou de outro, passando rápido o olho por Tóquio, Rio de Janeiro, Londres e Pequim, eu fiquei com a impressão de que não faria tanta diferença assim.

É claro que ocorrem melhoras ou pioras sensíveis para alguns países específicos, de acordo com o método escolhido, mas a hierarquia consolidada não me parece ficar substancialmente alterada.

Alguém com mais tempo disponível do que eu pode conferir se as regras interferem de maneira significativa na ordenação geral, mas minha impressão é a de que existe uma correção forte entre ouros e total de medalhas.

Agora, outra questão, bem mais interessante, seria: uma mudança na regra de contabilização mudaria também a própria distribuição futura das medalhas? Países bitolados em criar fábricas de ouro tratariam o esporte e seus atletas de forma mais sadia?  

Fica aí a sugestão de pauta para um próximo episódio do Sports MMakers.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.