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Super Quarta trará mudanças? Analista destaca o poder das entrelinhas pré-decisão da Selic e dos juros americanos

A manutenção parece ser o movimento predominante desta Super Quarta – entenda a visão do analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, sobre as próximas decisões do Copom e Fed

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Por Camila Paim

30 jul 2024, 14:54 - atualizado em 30 jul 2024, 14:54

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Imagem: Flickr/Raphael Ribeiro/BCB

É provável que as taxas de juros do Brasil e dos Estados Unidos saiam inalteradas desta Super Quarta (31).  

Nos Estados Unidos, o consenso de mercado parece apontar para uma manutenção dos juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas com uma sinalização de corte para o próximo encontro. 

Já no Brasil, os dirigentes do Banco Central se reúnem para mais um Comitê de Política Monetária (Copom) que deve renovar a Selic de 10,50% ao ano, após uma sequência de sete cortes consecutivos. O freio na retração da taxa básica de juros acontece em meio à desconfiança do mercado na situação fiscal brasileira e à postura ainda duvidosa do governo no combate à inflação. 

Não se espera novos cortes na taxa de juros para este ano, sendo mais provável que ocorram apenas em 2025”, comenta o analista de ações da Empiricus Research, Matheus Spiess.

Na própria quarta-feira (31), o Giro do Mercado terá uma programação especial, às 18h30. A live vai dar recomendações de novos rumos de investimentos a partir da nova decisão da taxa Selic e dos juros americanos, com a participação do convidado especial Samuel Pessôa, chefe de Pesquisa Econômica do Julius Baer Brasil. 

Insegurança do fiscal no Brasil deve segurar a Selic

A preocupação com a situação fiscal no país deve ser um dos principais fatores que vão determinar o rumo da taxa Selic na reunião do Copom nesta quarta-feira (31) e também nos próximos encontros. 

Atualmente, o endividamento federal conseguiu aumentar ainda mais em relação ao PIB, o que reflete uma economia com tendência ainda mais pressionada. 

“A situação fiscal do Brasil continua alarmante, com as despesas crescendo a um ritmo mais rápido que as receitas, em desacordo com as diretrizes do novo arcabouço fiscal. As medidas implementadas até agora não conseguiram corrigir essa tendência”, avalia Matheus Spiess. 

Além disso, os gastos aumentaram 8% acima da inflação, distante do novo modelo fiscal que estabelece um limite anual de 2,5%. 

Por isso, o mercado parece voltar mais os olhos para as entrelinhas dos direcionamentos econômicos, prestando atenção em fatores como o detalhamento do corte de gastos públicos que deve ser divulgado nesta terça-feira (30). 

Neste cenário, somado à valorização do dólar, o analista avalia que é justificada a manutenção da Selic a 10,50%.

EUA podem estar diante de um momento mais otimista

A previsão de manutenção dos juros também permanece para o Federal Reserve, que vai definir sobre a política monetária dos EUA nesta quarta-feira (31).

Atualmente, a taxa de juros dos Estados Unidos estão entre 5,25% e 5,50% ao ano  – nível mais alto em duas décadas.

Contudo, Spiess acredita que a terra do Tio Sam está desenhando um cenário econômico mais positivo do que o brasileiro. Dados de crescimento do PIB acompanhados do índice de gastos com consumo pessoal (PCE) apontam que a tradicional relação de crescimento e inflação parece estar “enfraquecida”.

Além disso, o analista acredita que o cenário mais provável seja de dois cortes de 25 pontos cada, um em setembro e outro em dezembro, estabilizando a taxa entre 4,75% e 5,00% ao final do ano, “o que seria suficiente para acalmar o mercado”, diz ele.

“Espera-se que essa possibilidade [de corte dos juros em setembro] seja abordada na coletiva de imprensa de Jerome Powell após a reunião de quarta-feira”, comenta Spiess. 

BC, Fed, BoJ e BoE decidem taxas de juros

Além do Brasil e Estados Unidos, o Bank of Japan (BoJ) e Bank of England (BoE) também estão encarregados de atualizar as taxas de juros do Japão e Reino Unido, respectivamente. Na visão de Spiess, as taxas no Brasil e EUA devem se manter estáveis, mas com “comunicações distintas”.

“No Brasil, o tom deve ser conservador, refletindo uma deterioração do cenário econômico. Nos Estados Unidos, espera-se uma inclinação inicial para um possível corte de juros em setembro”, aponta o analista.

Nesse ritmo, ele acredita que isso poderá ajudar o real brasileiro a se fortalecer em relação às outras divisas. 

“A decisão do Banco do Japão também será crucial, pois um possível aumento dos juros japoneses poderia afetar negativamente o real, já que o iene é frequentemente utilizado como moeda de financiamento em operações de carry trade”, complementa.

Por fim, caso o aperto monetário dos EUA sinalize uma folga, mercados emergentes com grande sensibilidade aos juros americanos podem se beneficiar. “Isso poderia abrir um segundo semestre mais promissor para as ações dessas regiões, especialmente no Brasil, que tem demonstrado grande sensibilidade às variações dos juros americanos”, conclui. 

Se você deseja ficar por dentro de todos os desdobramentos após a divulgação da nova taxa Selic, nossa dica é ficar ligado na edição especial do Giro do Mercado nesta quarta-feira, às 18h30. Para assistir, é só clicar aqui.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Sobre o autor

Camila Paim

Jornalista formada na Universidade de São Paulo (USP), com mobilidade acadêmica na Université Lumière Lyon 2 (França). Trabalhou com redação de jornalismo econômico e mercado financeiro, webdesign e redes sociais, além de escrever sobre gastronomia e literatura.