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Super Quarta chegou: o que precisamos para subir ao pódio nesta quarta-feira (31)?

Nesta Super Quarta, fique ligado na agenda macroeconômica do dia e o que entra na radar dos investidores.

Por Matheus Spiess

31 jul 2024, 09:20 - atualizado em 31 jul 2024, 09:22

rali de fim de ano Bolsa
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Não há como escapar: o grande assunto do dia é macroeconômico. Começamos com a análise da decisão de política monetária do Japão, que aumentou os juros.

Esse movimento fortaleceu o iene em relação ao dólar e deve impactar negativamente o real, já que a moeda japonesa é usada como funding para o carry trade no Brasil.

Paralelamente, a maioria das ações asiáticas subiu nesta quarta-feira (31), com os mercados chineses se recuperando de mínimas de cinco meses.

Dados econômicos medianos alimentaram as expectativas de mais medidas de estímulo na China. Ainda aguardamos as decisões de política monetária nos EUA e no Brasil. Embora as taxas de juros devam permanecer inalteradas, as comunicações podem indicar um tom diferente para o mercado.

Nos EUA, há a possibilidade de um corte de juros em setembro, enquanto no Brasil espera-se a manutenção da taxa atual.

Os mercados europeus registram alta nesta manhã, acompanhados pelo otimismo nos futuros americanos.

A inflação ao consumidor na zona do euro para julho superou ligeiramente as expectativas, mas ainda é vista como moderada, com a expectativa de convergência gradual para a meta nos próximos meses.

A temporada de resultados corporativos continua em foco, especialmente após os números decepcionantes da Microsoft na noite anterior, que podem influenciar negativamente o sentimento dos investidores hoje.

No mercado de commodities, o petróleo voltou a subir devido às tensões geopolíticas no Oriente Médio. Já o minério de ferro mantém-se acima de US$ 100 por tonelada, impulsionado pela esperança de novos estímulos do governo chinês, apesar dos dados econômicos fracos do gigante asiático.

A ver…

· 00:57 — Um discurso duro

No Brasil, a tensão dos investidores em torno das decisões monetárias de hoje (31) fez o Ibovespa fechar em queda na terça-feira (30), principalmente devido às correções nas empresas de commodities. A incerteza quanto à demanda chinesa afetou negativamente os preços do petróleo e do minério de ferro, impactando diretamente as ações no mercado brasileiro.

Agora, todas as atenções estão voltadas para os próximos passos do Banco Central, que deve emitir um comunicado mais assertivo para estabilizar as expectativas locais. No entanto, é crucial que essa postura não seja exagerada. Embora o mercado já precifique uma possível elevação da Selic, um posicionamento excessivamente severo pode intensificar essas expectativas.

Na minha opinião, manter a Selic no nível atual é a melhor estratégia, pois um aumento agora seria muito custoso. A situação se complica com a valorização do dólar, os ajustes negativos nas projeções da pesquisa Focus, o mercado de trabalho restrito — com dados do Caged mostrando a criação de 201,7 mil postos de trabalho em junho, acima das expectativas — , o aumento da renda, a pressão na inflação de serviços e as crescentes dificuldades para cumprir as normas fiscais.

Por falar nisso, o cenário fiscal do país permanece preocupante. Ontem à noite, foi divulgado o decreto que detalha o corte de R$ 15 bilhões no orçamento, visando ajustar os gastos ao novo arcabouço fiscal e cumprir a banda inferior da meta (déficit de 0,25% do PIB).

Esse ajuste afetou todos os ministérios, proporcionalmente às suas receitas, com os setores da Saúde, Cidades, Transportes e Educação sendo os mais impactados pelos congelamentos de despesas. Está claro que mais reduções de gastos serão necessárias nos próximos meses para aliviar a pressão fiscal.

· 01:41 — Azedou: chance de mais rotação setorial

Nos EUA, estamos no auge do período mais movimentado de divulgação de resultados do segundo trimestre, com uma avalanche de empresas publicando seus balanços esta semana. Mais de 150 componentes do S&P 500 estão programados para divulgar seus resultados somente esta semana. Os lucros estão a caminho de aumentar 12% em relação ao ano anterior, com as empresas superando as estimativas em sua margem usual.

O problema é que as ações das Big Tech têm pressionado os índices, principalmente antes da divulgação de seus resultados. No after-market de ontem e no pre-market de hoje, as ações da Microsoft (MSFT34) despencaram. Isso sugere que podemos ver mais uma rotação setorial muito em breve.

Os resultados da Microsoft ficaram abaixo do esperado no segmento de computação em nuvem, ofuscando os lucros. A receita do Azure, o principal motor de crescimento da Microsoft nos últimos anos, aumentou 29% no quarto trimestre fiscal, comparado a um aumento de 31% no período anterior. Além de ser uma desaceleração, o crescimento foi abaixo do esperado.

Além disso, como vimos nos resultados da Alphabet (GOGL34) na semana passada, o investimento pesado na construção de recursos e produtos de inteligência artificial é muito caro. Hoje, mais de 50 empresas do S&P 500 devem divulgar seus resultados, incluindo a Meta (M1TA34), o que poderá trazer mais volatilidade para o mercado derivada desses números.

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· 02:38 — Será em setembro?

O Federal Reserve provavelmente manterá as taxas de juros inalteradas hoje, deixando a taxa básica entre 5,25% e 5,50%, mas poderá preparar o terreno para um corte em setembro. Essa mensagem deve ser transmitida na tradicional coletiva de imprensa de Jerome Powell, logo após a publicação da decisão. A expectativa unânime é que tanto o comunicado quanto o tom de Powell sejam mais dovish, confirmando as apostas para o primeiro corte em setembro.

Acredito que haja espaço para dois cortes este ano, um em setembro e outro em dezembro, ambos de 25 pontos-base, embora o mercado esteja precificando três cortes, acumulando uma redução de 75 pontos até o início de 2025. Não sinalizar nada na reunião de hoje seria jogar água fria no mercado.

A razão para isso é que, após a última reunião de junho e em comentários públicos desde então, as autoridades do Fed notaram que a inflação tem progredido em direção à meta anual de 2%, com o mercado de trabalho em melhor equilíbrio. Em outras palavras, se essas tendências continuarem, pode ser o momento de aliviar a política monetária restritiva antes que o crescimento econômico desacelere excessivamente devido aos juros elevados.

O próximo lote de dados será divulgado na sexta-feira (2 de agosto), quando o Bureau of Labor Statistics deve relatar um aumento de 175 mil folhas de pagamento não agrícolas em julho no relatório de payroll, após um ganho de 206 mil em junho. A taxa de desemprego deve permanecer inalterada em 4,1%.

· 03:25 — A movimentação no Japão veio!

O índice Nikkei 225 do Japão subiu após o Banco do Japão aumentar as taxas de juros em 15 pontos-base, atingindo o limite superior das previsões do mercado, fixando-as em 0,25%. Além disso, o banco central anunciou a redução do volume de compras mensais de títulos para aproximadamente US$ 19,6 bilhões a partir do primeiro trimestre de 2026, uma diminuição inferior ao esperado. Essas medidas refletem os esforços do governador Kazuo Ueda em normalizar a política monetária do Japão, após um longo período de políticas extremamente flexíveis que incluíram a última taxa de juros negativa do mundo até março deste ano.

Esta postura mais agressiva, adotada poucas horas antes da reunião do Federal Reserve dos EUA, pode ser interpretada como um indicativo de fortalecimento do iene, à medida que os investidores ajustam suas expectativas para um possível estreitamento do diferencial de taxas de juros entre os EUA e o Japão.

O iene se valorizou em relação ao dólar ao longo do dia, e essa tendência deve continuar nas próximas semanas. Com o grande volume de posições de “carry trade” que apostam na valorização de outras moedas em detrimento do iene, podemos observar movimentos significativos no mercado cambial. O dólar australiano, por exemplo, apresentou queda, e o real brasileiro pode seguir uma trajetória semelhante.

· 04:16 — O estímulo vem ou não?

O PMI industrial oficial da China registrou uma leve queda, passando de 49,5 em junho para 49,4 em julho, superando marginalmente a expectativa dos analistas, que era de 49,3. Simultaneamente, o PMI de serviços caiu de 50,5 para 50,2 no mesmo período, também próximo à previsão de 50,3. Vale ressaltar que valores abaixo de 50 indicam contração na atividade econômica.

Em resposta, os principais índices de ações chineses subiram mais de 1%, recuperando-se dos menores níveis desde fevereiro. Embora os dados de julho indiquem uma fraqueza persistente na atividade empresarial, com o PMI industrial encolhendo pelo terceiro mês consecutivo, esses resultados aumentaram as expectativas de que o governo chinês precisará adotar novas medidas de estímulo econômico.

Essa expectativa foi reforçada dias após o presidente Xi Jinping afirmar que os mercados teriam um “papel decisivo” na alocação de recursos. No entanto, ações recentes dos reguladores chineses contradizem essa declaração.

O Banco Popular da China (PBOC) implementou o controle da curva de juros, uma estratégia semelhante à utilizada pelo Japão para orientar as taxas de juros de curto e longo prazo. Além disso, intervenções artificiais, como a restrição das operações de vendas a descoberto no mercado de ações, devem ser evitadas em favor de medidas que promovam a autonomia decisória dos agentes econômicos. A tendência intervencionista da China em gerenciar seus mercados pode limitar a participação mais ampla e a confiança dos investidores internacionais. Uma revisão dessa abordagem seria benéfica.

· 05:02 — Revisitando o nosso kit geopolítico

Na madrugada local, a Guarda Revolucionária do Irã anunciou que Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, foi assassinado em Teerã após participar da cerimônia de posse do novo presidente iraniano. Israel não comentou oficialmente o ocorrido, mas já havia prometido retaliar os líderes do Hamas após o ataque de 7 de outubro, e seu histórico recente inclui a eliminação de figuras chave no Irã.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.