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Mercados globais adotam tendência de queda temendo desaceleração nos EUA – veja os destaques desta sexta-feira (2)

Bolsas globais caem prevendo desaceleração econômica significativa nos EUA. Acompanhe os principais eventos do mercado de hoje (2).

Por Matheus Spiess

02 ago 2024, 09:37 - atualizado em 02 ago 2024, 09:38

Imagem representando o Market share, que é uma porcentagem que uma empresa possui em relação ao total de vendas de um determinado mercado.

Bom dia, pessoal. As ações europeias e os futuros americanos continuam em baixa, refletindo a queda observada nos mercados globais e a tendência de venda maciça por parte dos investidores na Ásia nesta sexta-feira (2).

A situação é ainda mais agravante no Japão, onde o mercado sofreu uma correção severa, repercutindo o aumento das taxas de juros pelo Banco do Japão. O mercado japonês despencou quase 6%, marcando sua maior queda diária desde o início da pandemia de Covid-19.

Ao redor do mundo, essas quedas são impulsionadas pelo temor de uma desaceleração econômica significativa nos EUA, com preocupações crescentes de que a economia americana possa se aproximar do risco de recessão. Esse sentimento de incerteza explica os movimentos nos mercados entre ontem e hoje, sugerindo uma nova narrativa de ansiedade de curto prazo entre os investidores.

Os dados fracos do índice de gerentes de compras dos EUA e do mercado de trabalho divulgados ontem aumentaram as preocupações com uma possível desaceleração na maior economia do mundo, levando a crer que um eventual corte nas taxas de juros em setembro pelo Federal Reserve possa não ser suficiente para garantir um “pouso suave” da economia.

Além disso, os últimos dias foram marcados por resultados corporativos decepcionantes de empresas como Amazon (AMZO34) e Intel (ITLC34), que frustraram as expectativas do mercado e contribuíram para o pessimismo no pregão de hoje. Nem mesmo o resultado um pouco mais positivo da Apple (AAPL34) conseguiu mudar esse sentimento.

O relatório de emprego dos EUA, que será divulgado hoje (2), deve desempenhar um papel crucial. Idealmente, os dados deveriam se alinhar de perto com as expectativas do mercado, pois um resultado muito fraco ou muito forte pode intensificar as preocupações atuais.

A ver…

· 00:54 — Prejudicado pelo pessimismo global

No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem com uma queda de 0,20%, mas ainda se mantendo acima dos 127 mil pontos, resistindo parcialmente ao pessimismo internacional que se deu logo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 10,50% ao ano pela segunda reunião consecutiva, em uma decisão unânime, conforme discutido anteriormente.

O principal índice de ações do Brasil poderia ter fechado com uma leve alta, não fosse o desempenho negativo de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), que foram impactadas junto com suas respectivas commodities devido ao temor global de uma recessão. No entanto, o câmbio não teve a mesma sorte.

A aversão ao risco em escala global atingiu duramente as moedas emergentes, levando o dólar a alcançar novamente a marca de R$ 5,74, mesmo com as expectativas de corte de juros nos EUA em setembro. Conforme o tradicional gráfico do “Dollar Smile”, uma economia americana muito forte ou o risco de recessão tende a fortalecer o dólar mundialmente, pois os investidores buscam ativos mais seguros.

Nem mesmo a boa notícia local de que o governo brasileiro decidiu adotar um controle preventivo de despesas para assegurar o cumprimento da meta de resultado das contas públicas conseguiu reverter esse cenário. Com a nova diretriz, os ministérios terão restrições para gastar cerca de R$ 47 bilhões até setembro.

A determinação de Lula em garantir que todos os seus ministros cumpram as regras do arcabouço fiscal é evidente, mas, no atual contexto, isso não é mais suficiente para estabilizar o mercado. Voltamos a enfrentar um ambiente internacional mais desafiador, similar ao do primeiro trimestre. Além de realizarmos nossa parte em termos de disciplina fiscal internamente, é fundamental contar com uma conjuntura externa minimamente favorável. Esse cenário é possível, claro.

Se o corte de juros se concretizar nos EUA e o “pouso suave” da economia americana continuar sendo o cenário-base nos próximos meses, o segundo semestre poderá ser melhor que o primeiro, mesmo com a rotação setorial acontecendo no exterior, o que pode até ser benéfico para países como o Brasil. O que não pode ocorrer é uma intensificação do medo de uma recessão global.

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· 01:48 — Dureza

Nos EUA, as ações caíram acentuadamente após uma nova leva de dados econômicos fracos, o que levou os investidores a questionarem se o Federal Reserve está certo em adiar o corte das taxas de juros antes de setembro. Novamente, parece que o mercado está excessivamente ansioso. É essa falta de sobriedade que gera tanta volatilidade.

Os pedidos de seguro-desemprego atingiram seu maior nível em quase um ano, e a atividade industrial registrou uma contração. Como resultado, o Dow Jones Industrial Average caiu 1,2%, o S&P 500 recuou 1,4%, o Nasdaq Composite perdeu 2,3% e o Russell 2000 sofreu uma queda de 3%. As ações caíram ao mesmo tempo em que os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos caíram para menos de 4%, enquanto o mercado de swaps agora está totalmente precificando três cortes de 25 pontos-base nas taxas do Fed ainda este ano.

Para agravar o clima hoje, os resultados corporativos não foram satisfatórios. A Intel registrou um prejuízo líquido de US$ 1,6 bilhão no segundo trimestre, revertendo um lucro de US$ 1,5 bilhão registrado no mesmo período de 2023, o que fez suas ações caírem 20% no pre-market. Além disso, a Amazon reportou uma receita inferior ao esperado e decepcionou com seu guidance, fazendo suas ações caírem mais de 8% no pre-market.

Apenas a Apple não apresentou resultados tão ruins, superando as projeções de lucro e receita, apesar da queda nas vendas na China. Um destaque positivo nos resultados foi a Índia, conforme já havíamos antecipado nos últimos meses. A Apple é uma das poucas grandes empresas que subiram no pre-market, ainda que de forma tímida. Mais resultados corporativos são esperados hoje, com empresas como Chevron e Exxon Mobil.

No entanto, todas as atenções agora se voltarão para o relatório oficial de empregos dos EUA.

· 02:35 — Bad news is bad news

Até recentemente, os sinais de desaceleração na economia dos EUA eram vistos de maneira positiva pelos mercados. A economia havia saído de um período de vigor incomum no pós-pandemia, mas continuava crescendo de forma robusta.

Um crescimento mais moderado traria consigo uma inflação mais baixa e uma política monetária menos restritiva por parte do Federal Reserve, o que impulsionou ações e títulos nas últimas semanas. Hoje, no entanto, a preocupação predominante é que a economia pode estar desacelerando rápido demais, mesmo que a inflação elevada ainda não tenha sido controlada.

A expressão “notícia ruim é realmente notícia ruim” reflete esse sentimento, como evidenciado ontem pelos números dos pedidos iniciais de seguro-desemprego e pela medida do ISM de preços pagos pelos fabricantes.

Portanto, o grande destaque de hoje será o relatório oficial de emprego para julho, conhecido como payroll. O mercado espera um aumento de 175 mil postos de trabalho no setor não agrícola, após um ganho de 206 mil em junho, enquanto a taxa de desemprego deve permanecer inalterada em 4,1%.

Pragmaticamente, a economia dos EUA adicionou em média mais de 250 mil empregos por mês em 2023, e cerca de 220 mil por mês no primeiro semestre de 2024. Em outras palavras, espera-se que as contratações diminuam novamente em julho. 

Se a tendência de normalização do mercado de trabalho continuar, o Federal Reserve poderia reduzir as taxas de juros já em setembro, iniciando o tão aguardado ciclo de flexibilização da política monetária nos EUA. Um número muito forte no relatório pode reduzir a probabilidade de um corte em setembro, enquanto um número muito fraco pode aumentar o risco de recessão. O cenário ideal seria um resultado o mais próximo possível do consenso, evitando surpresas significativas para o mercado.

· 03:22 — Carro voador?

Minnesota tornou-se o segundo estado dos EUA a implementar regulamentações para carros voadores, seguindo o exemplo de New Hampshire, que aprovou uma legislação semelhante em 2020. A nova lei permite que os cidadãos possuam “aeronaves rodoviárias,” concedendo aos motoristas a habilidade de se tornarem pilotos do mesmo veículo.

Conhecida como “Lei Jetsons”, a legislação autoriza que veículos híbridos, que funcionam tanto como aviões quanto como carros, sejam registrados como veículos motorizados. Em vez de uma placa tradicional, esses veículos poderão exibir seu número de cauda. Os carros voadores, no entanto, devem decolar e pousar em um campo de pouso adequado, o que significa que não poderão aterrissar em rodovias ou vias públicas, exceto em casos de emergência.

Durante o voo, os veículos com dupla finalidade terão que obedecer a todas as regras da FAA, a agência de controle aéreo dos EUA, o que se tornará ainda mais crucial à medida que outros estados adotem legislação semelhante. É provável que, em um estágio posterior, quando os carros voadores se tornarem mais viáveis, haja uma regulamentação em nível federal nos EUA.

Fabricantes de aviões tradicionais, como Airbus e Boeing, além de companhias aéreas comerciais como American Airlines, Delta e United, estão investindo milhões em táxis voadores, protótipos eVTOL e parcerias de transporte. Até a Embraer (EMBR3)está participando dessa corrida. Esse debate está crescendo em paralelo com o dos carros autônomos, que são veículos projetados para dirigir sozinhos, sem a necessidade de um piloto humano.

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· 04:11 — A força das companhias aéreas

Mais de quatro anos após o início da pandemia, as companhias aéreas estão se preparando para um recorde de viagens de verão no hemisfério norte. As viagens aéreas globais já ultrapassaram os níveis pré-pandêmicos e, no ano passado, as viagens aéreas domésticas nos EUA quase se recuperaram completamente.

Nos Estados Unidos, por exemplo, foi registrado um recorde de 2,9 milhões de passageiros em um único dia, e a previsão é de que este verão tenha o maior número de passageiros de todos os tempos para as companhias aéreas americanas. Embora as viagens de lazer tenham liderado a recuperação, as viagens de negócios também estão aumentando, embora só devam atingir os níveis de 2019 em 2026.

No entanto, há turbulência. Apesar da alta demanda, as companhias aéreas dos EUA registraram um prejuízo total de US$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 48% em relação ao ano passado, enquanto lutavam com custos mais elevados de combustível e mão de obra. Em outras palavras, os custos exorbitantes estão criando turbulências nos lucros.

Este é o quinto ano consecutivo em que o primeiro trimestre não é lucrativo para a indústria. Ainda assim, a receita global das companhias aéreas deve atingir um recorde de US$ 996 bilhões este ano. Resta saber se essas despesas maiores manterão os lucros estagnados.

· 05:09 — O acordo nuclear

A disputa pela participação do governo federal na Eletrobras (ELET6) se intensificou nos últimos dias. O governo Lula está em tratativas para negociar parte das ações que detém na grande empresa do setor elétrico, com o objetivo de obter controle total sobre a Eletronuclear.

Apesar de a Eletrobras ter confirmado que as negociações estão em andamento, os detalhes ainda não foram divulgados. Essa negociação, chamada de “acordo nuclear”, gerou entusiasmo entre os investidores nesta semana, mesmo diante da volatilidade predominante no mercado.

A pergunta é: esse acordo é vantajoso?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.