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EUA está atrasado no corte de juros? Vai ter recessão? Entenda a reação negativa do mercado nesta segunda-feira (5)

Os Estados Unidos enfrentam um cenário delicado após um payroll decepcionante. O Fed deveria ter cortado os juros na semana passada? Confira.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Por Camila Paim

05 ago 2024, 16:17 - atualizado em 05 ago 2024, 16:17

nyse eua bolsa
Imagem: Unsplash

O payroll de julho nos Estados Unidos decepcionou profundamente o mercado. O relatório do Bureau of Labor Statistics, de número de empregos criados, indicou 114 mil novas vagas no mês, enquanto as expectativas eram de mais de 170 mil. Enquanto isso, a taxa de desemprego cresceu em 0,2 pontos percentuais no mês, para 4,3%. O valor representa a maior taxa de desemprego nos EUA desde novembro de 2021.

Mas o que isso pode significar para a economia americana? 

“O dado de sexta-feira (2) do payroll reacendeu a conversa sobre o Federal Reserve estar atrás da curva e que se demorar muito para cortar [a taxa de juros], poderia colocar os Estados Unidos em uma recessão ‘desnecessária’”, comenta Enzo Pacheco, analista CFA de mercado internacional da Empiricus Research. 

Fed está “atrasado” para cortar juros?

Na semana passada, na quarta-feira (30), o comitê de política monetária americana optou pela manutenção dos juros entre 5,25% a 5,50%. 

Contudo, os dados do payroll indicando uma piora de temperatura no mercado de trabalho animaram as discussões de que o Fed já deveria ter começado os cortes de juros. 

“Já se pondera um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião de setembro. Até a semana passada, a aposta majoritária era de corte de 0,25 p.p.”, explica Pacheco. 

Por outro lado, na semana passada o Bank of Japan (BoJ) foi o único banco central a subir juros, “diferente dos outros países desenvolvidos e até mesmo emergentes”, comenta o analista.

Enquanto isso, o dólar segue alcançando patamares mais elevados, cotado hoje (5), por volta das 14h30, a R$ 5,71, uma alta de mais de 4% nos últimos 30 dias. 

“Índice do medo” dispara 130,99% com aversão global ao risco

Nos mercados globais, esta segunda-feira (5) ficou marcada como um dia de forte aversão ao risco, enquanto as bolsas de valores desempenhavam em maioria no vermelho. 

O VIX, apelidado de “Índice do medo”, teve sua maior alta desde março de 2020 na pandemia. Nesta segunda-feira (5), por volta das 9h da manhã (Brasília), o indicador subia 130,99%, a quase US$ 54,00. 

O indicador representa a volatilidade de negociações, segundo o preço de opções do mercado nos próximos 30 dias. Ele é conhecido pelos investidores por representar a aversão ao risco nos negócios. 

“Não acho, sinceramente, que a economia estaria à beira de uma recessão pesada. Acredito que teremos uma desaceleração importante, mas isso seria o suficiente para uma reavaliação dos investidores, principalmente com as teses que valorizaram muito no ano”, salienta Pacheco. 

Além disso, o analista ainda traz à tona o movimento de rotation trade (rotação de negócios), que está sendo visto nas bolsas americanas recentemente: a valorização de small caps, que foram abaladas pela alta inflacionária e agora se beneficiam de uma previsão de juros menores. 

Do lado contrário, os balanços fracos das big techs fazem os investidores darem um passo para trás nas companhias que aparentavam serem as mais promissoras do mercado. 

“Ainda que os resultados trimestrais [de big techs] tenham vindo melhores que as expectativas, os balanços não animaram muito os investidores pela demora do retorno dos investimentos em inteligência artificial”, avalia Pacheco.  

No cenário atual, em quais setores dos EUA vale a pena investir? 

Neste cenário, talvez você esteja se perguntando como investir nos EUA e ao mesmo tempo se proteger da “tempestade”. Para o analista, empresas cíclicas deverão sofrer mais, com a preocupação do mercado recaindo ainda sobre o risco de recessão. “Nos EUA, eles estão muito mais preocupados com o desemprego do que com a inflação”, avalia. 

Neste cenário, Pacheco pondera que pode ser interessante ao investidor reduzir sua posição em companhias de tecnologia, e olhar mais para companhias mais tradicionais de qualidade. “O Russell 200 – indicador que reúne empresas small caps – tem muitas companhias que não têm qualidade e que surfaram com a perspectiva de queda de juros. Acho que haverá uma limpeza disso”, diz Pacheco. 

Na visão do analista, este é um bom momento para ir atrás de empresas que têm maior estabilidade. “Empresas do setor de saúde, por exemplo, continuam sendo necessárias independente do cenário. O segmento de tecnologia ainda parece um bom porto seguro independente do cenário econômico. Apesar de estarem sofrendo, elas têm muito caixa, mesmo que sofram com o cenário econômico”, completa o analista. 

De forma geral, empresas com fundamentos para valorizar no médio prazo podem ser interessantes para uma carteira internacional. Aqui é possível acessar um relatório completo com 10 recomendações de ações estrangeiras para investir, selecionadas por Enzo Pacheco e mais analistas da Empiricus Research. Veja a lista completa aqui. 

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Sobre o autor

Camila Paim

Jornalista formada na Universidade de São Paulo (USP), com mobilidade acadêmica na Université Lumière Lyon 2 (França). Trabalhou com redação de jornalismo econômico e mercado financeiro, webdesign e redes sociais, além de escrever sobre gastronomia e literatura.