Times
Investimentos

‘Calmaria voltou’: mercados internacionais retomam clima ameno em meio à temporada de balanços do 2T24; veja quem divulga resultados nesta quarta-feira (7)

Nesta quarta-feira (7), o mercado recupera a tranquilidade após estresse econômico no Japão e EUA.

Por Matheus Spiess

07 ago 2024, 09:16 - atualizado em 07 ago 2024, 09:16

Imagem representando o VIX, também conhecido como “Índice da Volatilidade”, esse índice é um indicador que quantifica a volatilidade esperada no mercado de ações.

Bom dia, pessoal. Uma nova onda de compras impulsionou uma alta nas ações dos EUA após a queda de segunda-feira (5). Todos os principais grupos do S&P 500 registraram ganhos ontem, com o índice fechando 1% mais alto.

A Nvidia (NVDA34) destacou-se com uma subida de 6,6%, liderando os ganhos entre os fabricantes de chips.

As ações das “Magnificent Seven” também subiram, assim como o índice Russell 2000.

Nesta quarta-feira (7), estamos observando a continuidade dessa recuperação nos ativos de risco, embora ainda haja sinais de volatilidade, apesar da estabilização aparente. Os investidores estão cautelosos e preocupados com a possibilidade de fragilidade no atual movimento ascendente. Curiosamente, o mercado japonês quase apagou completamente as perdas de segunda-feira, o que reforça a tese de que a queda inicial dos ativos globais foi excessivamente exagerada.

Naturalmente, a maioria das ações asiáticas subiu na quarta-feira (7), recuperando-se das perdas, impulsionada por alguns comentários encorajadores do Banco do Japão sobre as taxas de juros. No entanto, os dados de exportação da China em julho foram mais fracos do que o esperado, o que moderou um pouco os ganhos observados no Japão, devido às preocupações com uma possível desaceleração econômica global.

A redução nas exportações chinesas levanta dúvidas sobre a meta de crescimento do PIB de 5% do país. Por outro lado, as importações chinesas foram robustas, o que deu um impulso às commodities nesta manhã. No calendário econômico, mais dados da balança comercial são aguardados, com destaque para a Alemanha. Além disso, a agenda de hoje é fraca tanto nos Estados Unidos quanto na zona do euro.

A ver…

· 00:51 — De grão em grão

No Brasil, o mercado seguiu a tendência de recuperação global, com o Ibovespa encerrando o dia com uma alta de 0,80%, enquanto o dólar recuou para R$ 5,65.

Apesar da queda nos preços do minério de ferro, as ações da Vale (VALE3) tiveram um aumento de 0,51%, enquanto as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) registraram um aumento significativo de 1,74%.

Na véspera da divulgação de seus resultados, o Itaú (ITUB4) teve um desempenho positivo, assim como o restante do setor financeiro. Os resultados foram favoráveis, sugerindo uma continuação do bom momento para os ativos locais, impulsionados pelo otimismo global e pelo aumento das commodities. O lucro líquido do banco, de R$ 10 bilhões, superou as expectativas médias e impulsionou as ADRs listadas nos EUA.

A temporada de resultados financeiros está em pleno andamento, com 22 empresas, incluindo Banco do Brasil (BBAS3) e Eletrobras (ELET3), programadas para divulgar seus resultados nesta quarta-feira (7), após o fechamento do mercado.

Além disso, a ata do Copom de julho foi analisada ontem. Embora o documento tenha se mostrado mais hawkish em comparação ao comunicado da semana anterior, ele parece desatualizado frente aos desenvolvimentos recentes, como o relatório de emprego americano e as correções de mercado ocorridas recentemente.

A ata não refletiu essas mudanças, indicando que o Banco Central deve manter uma política monetária contracionista por um período mais prolongado. Não espero um aumento na Selic, mas também não prevejo uma redução; é provável que as taxas básicas de juros permaneçam em dois dígitos durante todo o restante de 2024.

Paralelamente, o país apresentou um desempenho excepcional na balança comercial, com um superávit de US$ 7,6 bilhões em julho, o segundo maior resultado para o mês na história, ficando atrás apenas de julho de 2023, que registrou US$ 8,2 bilhões. No acumulado do ano, o superávit comercial atingiu US$ 50 bilhões, com as exportações alcançando um recorde histórico para o período.

Nos últimos 12 meses, o superávit foi de US$ 96 bilhões, ligeiramente abaixo do resultado de 2023. Espera-se que 2024 encerre com um superávit comercial entre US$ 80 e US$ 90 bilhões, o que destaca a robustez da balança comercial brasileira, uma das características econômicas marcantes do país.

· 01:45 — Comprando na baixa

Nos EUA, os principais índices de ações tiveram uma recuperação ontem, impulsionados pelo desempenho das “Magnificent 7“, embora nem todas tenham apresentado alta, já que Alphabet (GOGL34) e Apple (AAPL34) ainda registraram quedas.

Dentro do S&P 500, aproximadamente 400 ações fecharam o dia em alta. Vale destacar que os hedge funds fizeram um movimento agressivo de compra de ações de tecnologia logo após a queda de segunda-feira, aproveitando o pior desempenho do S&P 500 em quase dois anos. A compra líquida de ações foi a maior em cerca de cinco meses, totalizando US$ 14 bilhões, revertendo as vendas das megacaps de tecnologia dos últimos meses. Como comentamos anteriormente, a venda de segunda-feira foi bastante exagerada.

Apesar da recuperação, os investidores ainda não estão completamente fora de perigo. Agosto é historicamente um mês desafiador para o mercado, e há poucos dados econômicos programados para as próximas semanas que possam alterar a narrativa atual. Portanto, é importante manter a cautela; ainda não é hora de relaxar.

Vários resultados corporativos estão no radar, incluindo empresas como CVS Health, Equinix, Hilton, Monster Beverage, Novo Nordisk, Shopify, Walt Disney (DISB34) e Warner Bros. Discovery. Entre os dados macroeconômicos, destaque para os números de crédito ao consumidor para junho.

  • VOCÊ JÁ DOLARIZOU SEU PATRIMÔNIO? A Empiricus Research está liberando uma carteira gratuita com 10 ações americanas pra comprar agora. Clique aqui e acesse.

· 02:32 — Companheiro de chapa decidido

Ontem, comentei sobre as possíveis escolhas para vice na chapa de Kamala Harris. A vice-presidente indicada pelo Partido Democrata para a próxima eleição nos EUA escolheu o governador de Minnesota, Tim Walz, como seu companheiro de chapa, buscando formar uma coalizão eleitoral que combine a costa oeste (representada por ela) e o Centro-Oeste (representado por ele). Essa decisão segue a sabedoria convencional de equilíbrio de chapas, complementando Harris — que é da Califórnia e almeja se tornar a primeira mulher presidente na história dos EUA — em termos demográficos, culturais e políticos.

Tim Walz, embora menos conhecido nacionalmente, é popular em seu estado natal. Harris escolheu Walz por sua experiência e histórico de políticas voltadas para o bem-estar social, incluindo créditos fiscais para crianças e licença remunerada para famílias de classe média. Walz é um homem branco, ex-militar e ex-professor, que traz um perfil complementar ao de Harris, que é vista como mais à esquerda.

Apesar de progressista (no sentido americano), ele não é tão liberal para agradar aos republicanos, não vem de um estado-chave (swing state) e não oferece a mesma vantagem entre eleitores indecisos que Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, poderia oferecer. Historicamente, os candidatos a vice tendem a adicionar pouco à campanha presidencial, e isso provavelmente será o caso nesta eleição.

· 03:29 — Recuperação japonesa

As ações asiáticas tiveram uma recuperação significativa hoje, após o vice-governador do Banco do Japão, Shinichi Uchida, afirmar que a autoridade monetária não aumentaria as taxas de juros caso os mercados continuassem instáveis, tranquilizando investidores preocupados com a recente valorização do iene. Esses comentários ofereceram uma garantia necessária num momento em que muitos ainda se preocupam com a possível continuação da desalavancagem do carry trade do iene, que é usado como moeda de funding. Com essa indicação, é provável que haja uma pausa nos aumentos das taxas de juros.

Os índices Nikkei 225 e TOPIX destacaram-se como os de melhor desempenho na Ásia nesta quarta-feira, cada um subindo mais de 3%. Combinados com os fortes ganhos de terça-feira, esses índices conseguiram reverter a queda de segunda-feira, quando ambos atingiram mínimas de oito meses e entraram em território de mercado em baixa. Além disso, o iene japonês enfraqueceu consideravelmente em relação ao dólar, o que também beneficiou as ações locais.

· 04:14 — Muita calma nessa hora

A recente desmontagem das posições de “carry trade” no Japão ainda tem um caminho significativo a percorrer, especialmente considerando que o iene continua sendo uma das moedas mais subvalorizadas globalmente. Fontes do mercado sugerem que essa redução no “carry trade”, pelo menos no contexto dos investimentos especulativos, já foi concluída em cerca de 50% a 60%. Essa informação é uma das razões pelas quais os comentários recentes das autoridades monetárias japonesas foram recebidos de forma tão positiva, como já mencionei.

É improvável que o “carry trade” retorne aos níveis anteriores ao fortalecimento do iene em um futuro próximo, devido aos danos substanciais que a volatilidade recente causou às carteiras de investimento. No cenário mais otimista, podemos esperar uma estabilização dos mercados nos níveis atuais, possivelmente com uma recuperação modesta. No entanto, é comum que esses movimentos continuem, embora em um ritmo mais controlado.

As recentes correções de mercado, impulsionadas pela rotação setorial e intensificadas pela queda de segunda-feira, abriram espaço para perspectivas mais pessimistas. A BCA Research, uma consultoria de mercado influente, sugere que as ações dos mercados emergentes estão à beira de uma desvalorização significativa, devido à contínua fraqueza econômica dos EUA. Eles acreditam que estamos no início de um “bear market” e não apenas passando por uma correção temporária. Essa visão implica que todos os mercados, incluindo a Índia, enfrentariam quedas consideráveis.

No entanto, eu discordo dessa avaliação por algumas razões. Em primeiro lugar, não vejo uma recessão iminente nos EUA. Além disso, acredito que a rotação setorial ainda beneficiará os setores tradicionais e as ações de valor, em detrimento dos setores de tecnologia e das ações de crescimento. Curiosamente, essas características (ativos subvalorizados e uma base econômica tradicional) são predominantes nos mercados emergentes, como o Brasil, o que representa uma vantagem nesse contexto global.

· 05:06 — Para além da rotação setorial

Como discutido anteriormente, a construção de carteiras sofisticadas envolve a inclusão de teses temáticas, alternativas e estruturais. Normalmente, apenas uma pequena parte do portfólio é destinada a essas teses devido ao seu alto risco, com a expectativa de que amadureçam ao longo de três a cinco anos. Essas teses não devem exceder 1% do portfólio total, podendo chegar a 2,5% em casos específicos.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.