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Resultado da Petrobras (PETR4) no 2T24 deve impactar Ibovespa e ações globais encerram semana em clima de recuperação; veja os destaques desta sexta-feira (9)

A recuperação das ações globais prosseguiu na Ásia nesta sexta-feira (9) enquanto o Brasil se prepara para um Ibovespa abalado pelo balanço da Petrobras no 2T24.

Por Matheus Spiess

09 ago 2024, 09:35 - atualizado em 09 ago 2024, 09:39

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(Imagem: Montagem Canva Pro)

Bom dia, pessoal. A recuperação das ações globais prosseguiu na Ásia nesta sexta-feira (9), seguindo os ganhos registrados em Wall Street no dia anterior, impulsionados por sinais de resiliência no mercado de trabalho dos EUA e por um aumento no consumo na China.

A inflação chinesa superou as expectativas, gerando esperanças de uma recuperação na demanda doméstica, fator que tem sido um peso sobre o crescimento ao longo deste ano.

O petróleo, após três dias de recuperação, se estabilizou, enquanto os investidores continuam atentos aos desdobramentos no Oriente Médio e à recuperação dos mercados mais amplos.

Nos EUA, junto com o Catar e o Egito, há um apelo para uma nova rodada de negociações de cessar-fogo visando encerrar a guerra em Gaza, em um momento em que a região se prepara para um possível ataque iraniano a Israel. Com esse cenário, há expectativas de que as ações globais encerrem uma semana tumultuada de maneira ligeiramente positiva, com os futuros americanos e os índices europeus em alta nesta manhã.

Por aqui, porém, o dia deverá ter contornos negativos com o resultado da Petrobras (PETR4), divulgado na noite de ontem.

A ver…

· 00:58 — Nada é tão ruim que não possa piorar

No Brasil, o mercado voltou a fechar em alta ontem, recuperando o patamar de 128 mil pontos, registrando um dos melhores desempenhos globais desde a correção ocorrida na segunda-feira (5). A Bolsa subiu e o dólar recuou, aliviando o estresse generalizado. No entanto, o sentimento positivo observado no exterior poderá enfrentar desafios hoje. 

Primeiramente, se o debate para prefeito de São Paulo na noite de ontem foi desastroso, o resultado da Petrobras (PETR4) foi ainda pior. Em sua primeira divulgação sob a liderança de Magda Chambriard, a estatal contrariou as expectativas de lucro de mais de R$ 14 bilhões, apresentando um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no trimestre. Esse resultado foi fortemente impactado pela variação cambial e pelo acordo tributário firmado com o Carf, que gerou uma baixa contábil de R$ 11,9 bilhões.

Além disso, não haverá pagamento de dividendos extraordinários referentes ao segundo trimestre de 2024, o que é surpreendente, considerando que esses recursos seriam bem-vindos pelo Tesouro. Embora a Petrobras continue sendo uma empresa com imenso potencial, os fatores políticos negativos parecem estar prevalecendo desta vez.

Em segundo lugar, é importante destacar a repercussão das declarações de Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do Banco Central e provável sucessor de Roberto Campos Neto. Em seu discurso, Galípolo adotou um tom sóbrio e alinhado com a ala mais conservadora do mercado, sugerindo que ainda há espaço para uma eventual alta da Selic, possibilidade que ele não descartou. Embora eu não acredite que esse aumento ocorrerá, especialmente considerando a queda dos juros nos Estados Unidos, suas palavras têm peso no mercado. A preocupação é ampliada pelo impacto do câmbio, que persiste acima de R$ 5,50.

Por fim, o terceiro ponto de destaque do dia é a divulgação do IPCA de julho. A expectativa é que o índice acelere para 0,35% na comparação mensal, ante 0,21% em junho. Em 12 meses, a mediana das projeções indica um avanço de 4,23% para 4,47%, aproximando-se perigosamente da banda superior da meta de inflação do Banco Central, que é de 4,50%. Esse é um sinal preocupante, alimentando as expectativas de uma possível alta da Selic.

Uma fraqueza nas commodities, decorrente do temor de uma recessão global, poderia oferecer algum alívio inflacionário, embora prejudique nossa balança comercial. O ponto crucial é que já estamos no limite de suportar choques exógenos de inflação. É fundamental que o câmbio se estabilize nos próximos meses; caso contrário, o mercado poderá enfrentar mais volatilidade devido a novas projeções de alta nos juros.

· 01:41 — Aquecendo os motores para a agenda política

O mercado está prestes a enfrentar novamente a habitual volatilidade de Brasília nos próximos dias, com a retomada dos trabalhos legislativos. Na próxima semana, a provável votação da renegociação da dívida dos Estados e da compensação pela desoneração da folha de pagamento promete ser um dos temas centrais para a equipe econômica. Em uma reunião realizada ontem entre Lula e seus ministros, o ministro Haddad defendeu a necessidade de cortes de despesas, ressaltando que o desafio fiscal depende, em grande parte, da colaboração de outros poderes. 

Entretanto, o governo, na prática, opera como uma minoria, sem força suficiente para influenciar o Congresso de forma eficaz. Além disso, parece haver uma carência de criatividade nas soluções propostas. A equipe econômica tem apresentado novas ideias de taxação, direcionadas a diversos segmentos, sendo a mais recente a possibilidade de taxação e mudança na correção de precatórios.

A situação pode se tornar ainda mais complexa após as eleições municipais, dependendo do resultado eleitoral. Uma derrota significativa do partido do governo e de seus aliados pode aumentar ainda mais o “custo” de negociação no Congresso. O segundo semestre promete trazer uma dose adicional de volatilidade. No entanto, conforme destacado pelo JP Morgan, o Ibovespa parece já ter atingido seu ponto mais baixo, ou está próximo disso, o que é evidenciado pelos valuations atuais.

· 02:35 — Sem recessão

Nos Estados Unidos, o mercado continua a se recuperar da queda ocorrida na segunda-feira (5). O avanço registrado ontem foi impulsionado por dados de pedidos de seguro-desemprego menores do que o esperado.

O relatório semanal revelou que cerca de 233 mil pessoas solicitaram o benefício na semana passada, enquanto a expectativa dos investidores era de 240 mil. Essa queda nos pedidos, a maior em quase um ano, aliviou as preocupações de que o mercado de trabalho estivesse desacelerando de forma mais rápida do que o previsto, especialmente após o decepcionante relatório de empregos (payroll). Como resultado, os principais índices registraram alta.

Como já mencionei, não acredito que uma recessão nos EUA seja iminente, ao contrário do que muitos no mercado temiam. No entanto, isso não significa que não haja espaço para cortes na taxa de juros. Acredito que um caminho gradual seja o mais adequado, com pelo menos dois cortes de 25 pontos-base, um em setembro e outro em dezembro. Essa abordagem já seria suficiente para melhorar o sentimento global de forma significativa.

· 03:22 — Perdidos no espaço

Você acha que os problemas da Boeing se limitam aos incidentes envolvendo a aeronave 737? Pense de novo! A nave espacial Boeing Starliner tem enfrentado desafios sérios desde sua missão à Estação Espacial Internacional em junho, incluindo vazamentos de hélio, essencial para a propulsão, e falhas nos propulsores, fundamentais para a desorbitação. Esses problemas têm mantido os astronautas Butch Wilmore e Sunita Williams no espaço muito além do previsto.

A missão, inicialmente planejada para durar apenas oito dias, já se estende por dois meses, e há rumores de que essa situação pode se prolongar por muitos outros meses. Mais um péssimo sinal para uma das maiores fabricantes de aeronaves, que sofre já há algum tempo.

Embora a Boeing tenha assegurado que a nave está sob controle, a liderança da NASA ainda debate se o veículo pode ser considerado seguro para trazer os astronautas de volta à Terra. Como medida de precaução, a agência está analisando um plano alternativo para o retorno dos astronautas, que envolveria o uso de uma nave da SpaceX, concorrente da Boeing.

A SpaceX já entregou alimentos e suprimentos adicionais à estação, incluindo roupas extras para Wilmore e Williams. As próximas semanas serão decisivas, pois a NASA precisará decidir se vai reservar dois assentos vazios na próxima missão da SpaceX. No entanto, essa missão está programada para começar apenas em setembro, com o retorno previsto para setembro de 2025.

· 04:14 — Caminho diplomático

Nos últimos dias, uma grande troca de prisioneiros entre Rússia e Estados Unidos resultou na libertação de várias figuras de destaque, incluindo o repórter do Wall Street Journal, Evan Gershkovich, o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, a jornalista Alsu Kurmasheva, e o crítico do Kremlin Vladimir Kara-Murza. O presidente Joe Biden se pronunciou com orgulho sobre a libertação de 16 prisioneiros, dos quais 12 eram estrangeiros. Em troca, Vadim Krasikov, um russo condenado na Alemanha pelo assassinato de um ex-militante checheno, também foi liberado, embora deva retornar à Rússia para enfrentar nova prisão em um futuro próximo.

Essa movimentação sugere que Moscou já está ajustando suas estratégias diplomáticas com os EUA em preparação para o próximo presidente, seja quem for. Se Trump for eleito, ele provavelmente pressionaria por uma rodada de negociações para um cessar-fogo na Ucrânia, enquanto Kamala Harris, que adota uma postura bem diferente de Biden em relação a Putin, estaria supostamente mais inclinada a dialogar diretamente com o líder russo, em contraste com a abordagem confrontacional do atual presidente.

· 05:06 — A curva me parece errada

Hoje é dia da divulgação do IPCA de julho, e vale lembrar que o índice de junho trouxe uma surpresa positiva ao ficar abaixo das expectativas, o que reduziu as chances de uma elevação da Selic — cenário que, na minha opinião, continua pouco provável…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.