Investimentos

Jackson Hole, dados de arrecadação e corrida eleitoral: o que movimenta esta semana no Brasil e no mundo

O destaque desta semana será o aguardado simpósio de Jackson Hole, organizado pelo Federal Reserve em Wyoming.

Por Matheus Spiess

19 ago 2024, 08:59 - atualizado em 19 ago 2024, 08:59

Imagem de um gráfico para representar os scalpers, investidores que assumem um alto risco no mercado em busca de lucros rápidos mercado.

O grande destaque desta semana será o aguardado simpósio de Jackson Hole, organizado pelo Federal Reserve em Wyoming, que ocorrerá entre os dias 22 e 24 de agosto. Promovido pelo Fed de Kansas, o simpósio é uma das conferências mais tradicionais de bancos centrais no mundo.

O evento reunirá economistas, participantes do mercado financeiro, e representantes de governos dos Estados Unidos e de outros países para debater questões de política econômica de longo prazo, com ênfase especial em políticas monetárias.

Os investidores estarão atentos aos discursos dos palestrantes, incluindo o presidente do Fed, Jerome Powell, em busca de sinais sobre uma possível flexibilização da política monetária. Com a expectativa crescente em torno do evento, as sessões de negociação na Ásia encerraram de forma mista, enquanto os índices europeus indicam uma tendência predominantemente positiva nesta manhã. Os futuros americanos, por sua vez, operam sem uma única direção.

A ver…

· 00:57 — Força total

Hoje, espera-se a apresentação de uma nova versão do texto sobre a compensação da desoneração, tema que deverá ser o principal foco das discussões em Brasília ao longo da semana. Simultaneamente, o mercado continua a reagir aos dados de atividade econômica divulgados na última sexta-feira, quando o IBC-Br de junho, considerado uma estimativa mensal do PIB, apresentou um crescimento de aproximadamente 1,4% em relação ao mês anterior, superando consideravelmente as expectativas do mercado. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, o crescimento foi de 3,2%. Esse resultado surpreendente foi impulsionado pela aceleração da produção industrial e pela recuperação do setor de serviços.

Apesar de se esperar uma desaceleração econômica no segundo semestre devido à diminuição do impacto do impulso fiscal, com uma provável contenção adicional de gastos, a previsão é que o PIB cresça cerca de 2,5% este ano. Contudo, uma atividade econômica mais robusta, embora destaque positivo para o Brasil, pode aumentar a probabilidade de um cenário de alta dos juros, alinhando-se com as mensagens mais rigorosas recentemente emitidas pelo Banco Central.

Ainda que eu não considere esse cenário como o mais provável, especialmente se houver cortes de juros nos Estados Unidos, as possibilidades parecem mais abertas do que imaginávamos anteriormente. Será crucial observar um maior controle fiscal para auxiliar na ancoragem das expectativas econômicas. Sobre esse tema, é esperado que a Receita Federal divulgue, ao longo da semana, os dados de arrecadação referentes ao mês de julho.

· 01:41 — Trabalhando a expectativa

Nos Estados Unidos, observamos uma contínua tendência de recuperação dos ativos de risco, após a correção ocorrida há duas semanas, quando a perspectiva de uma recessão repentinamente parecia iminente. Uma série de fortes ralis nos últimos dias impulsionou os principais índices norte-americanos, resultando na melhor semana do ano: o S&P 500 registrou um aumento de 3,9%, enquanto o Nasdaq Composite subiu 5,3%, interrompendo uma sequência de quatro semanas de perdas.

Esse otimismo foi alimentado por uma combinação de fatores, incluindo a queda da inflação, fortes vendas no varejo e dados robustos sobre o mercado de trabalho. Além disso, há uma crescente expectativa de que o Federal Reserve esteja finalmente prestes a iniciar um ciclo de cortes nas taxas de juros.

No entanto, essa expectativa será colocada à prova nesta semana, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, fizer seu discurso anual no simpósio de Jackson Hole. É esperado que Powell reforce que as decisões do Fed continuarão a ser baseadas em dados, ao mesmo tempo em que reafirme a postura moderada adotada pelos membros do Federal Reserve. Além disso, a ata da última reunião de política monetária da instituição será divulgada, mas deverá ter um impacto secundário, uma vez que o foco principal está no discurso de Powell e no encerramento da temporada de resultados corporativos.

· 02:35 — A sucessão de Biden

Nos Estados Unidos, a política volta ao centro das atenções com o início da Convenção Nacional Democrata, que ocorre em Chicago. O evento começa hoje, com discursos do presidente Biden e de Hillary Clinton. Amanhã, será a vez de Barack Obama, e na quinta-feira, a atual estrela do partido, a vice-presidente Kamala Harris, tomará a palavra. Desde que Harris foi anunciada como a substituta de Biden na chapa, a campanha democrata ganhou um impulso inesperado, reduzindo drasticamente as chances de vitória de Trump, que até então liderava as pesquisas.

Não vejo mais um claro favorito nessa disputa, que deverá se decidir em seis estados-chave, deixando espaço para possíveis reviravoltas de última hora. Isso se torna ainda mais relevante diante do fato de que o ímpeto de Harris parece ter perdido um pouco de força. O evento desta semana pode revitalizar sua campanha, enquanto os republicanos continuam a focar seus ataques em Harris.

Essas críticas se intensificaram após Harris apresentar seu plano econômico durante um evento na Carolina do Norte. Muitas das propostas foram inspiradas nas políticas do presidente Biden, mas Harris deu um passo adiante: entre as novas iniciativas está um crédito tributário de US$ 6.000 para famílias de baixa e média renda com recém-nascidos, além da retomada do crédito tributário expandido para crianças, que esteve em vigor em 2021.

Outras propostas abrangem áreas como alimentação, moradia e saúde. No entanto, uma parte significativa dessas propostas parece mais uma resposta às políticas de Trump, que seguem uma linha similar, sem introduzir algo verdadeiramente inovador. Os próximos 80 dias até a eleição prometem ser extremamente interessantes.

· 03:26 — Sobre e desce

O preço do petróleo está em queda pela quarta vez em cinco sessões, enquanto os investidores observam atentamente os esforços liderados pelos Estados Unidos para alcançar um cessar-fogo no conflito de 10 meses entre Israel e o Hamas, apoiado pelo Irã, na Faixa de Gaza. Nesta manhã, o Brent está sendo negociado abaixo de US$ 80 por barril.

Contribuindo para o tom de baixa recente, surgiram novos sinais de fragilidade na China, o maior importador mundial de petróleo, onde o crescimento econômico desacelerou e os esforços de descarbonização no setor de transportes reduziram parte da demanda por combustível. Enquanto isso, Israel e Hamas continuam a se acusar mutuamente pelo fracasso em alcançar um cessar-fogo e um acordo de troca de reféns, enquanto o principal diplomata dos EUA chega a Tel Aviv para intensificar as negociações.

Na semana passada, a cotação dos barris de petróleo fecharam em queda, à medida que o mercado retirava parte do prêmio de risco, já que, até o momento, os ataques prometidos pelo Irã contra Israel, que poderiam escalar o conflito no Oriente Médio, não ocorreram. O primeiro-ministro do Catar teria alertado os líderes iranianos sobre os riscos de um aumento das tensões durante uma ligação telefônica.

No início da semana passada, os preços do petróleo subiram mais de 4% devido ao temor de um ataque iminente. No entanto, se a promessa de Joe Biden de que um cessar-fogo em Gaza está “mais próximo do que nunca” se concretizar, o petróleo pode se estabilizar mais próximo de US$ 70 do que de US$ 80 por barril.

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· 04:18 — Precisamos nos preocupar?

O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças elevou hoje o nível de risco para a mpox, passando de baixo para moderado, um dia após a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmar um caso de infecção por uma nova cepa do vírus na Suécia, o primeiro registrado fora da África. Na última quarta-feira (14), a OMS declarou a mpox como uma emergência de saúde pública global, seu mais alto nível de alerta, após um surto no Congo que se espalhou para países vizinhos.

A diretora do órgão de saúde pública da União Europeia afirmou que é provável que novos casos da nova cepa de mpox sejam importados para a Europa nas próximas semanas, embora o risco de uma transmissão sustentada permaneça baixo.

Dada a proximidade entre a Europa e a África, é essencial que estejamos preparados para a possibilidade de mais casos surgirem. Outros países também estão relatando casos de mpox em pacientes que retornam de viagens. A grande questão é: devemos nos preocupar? Acredito que não, mas o mercado financeiro tende a ficar atento a surtos de doenças após a experiência com a Covid-19.

· 05:04 — A briga das moedas

O Banco Popular da China (PBoC) sublinhou o compromisso da China em avançar de maneira gradual e cuidadosa na internacionalização do yuan, além de impulsionar o desenvolvimento de centros financeiros internacionais. O objetivo central é criar um ambiente de negócios mais acessível e inclusivo.

Nesse cenário, o banco central chinês está focado em aprimorar a estrutura regulatória das políticas monetária e macroprudencial para garantir a estabilidade tanto do valor da moeda quanto do sistema financeiro do país. No entanto…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.