Times
Investimentos

Selic vai ficar mais alta e juros dos EUA verão corte maior? Confira as principais notícias desta terça-feira (20)

O mercado financeiro está cada vez mais convencido de que a taxa Selic será elevada, enquanto Powell deve falar sobre a taxa americana nesta semana.

Por Matheus Spiess

20 ago 2024, 09:19 - atualizado em 20 ago 2024, 09:19

Imagem representando o VIX, também conhecido como “Índice da Volatilidade”, esse índice é um indicador que quantifica a volatilidade esperada no mercado de ações.

O otimismo global continua a dominar os mercados, impulsionando a recuperação que começou após a correção provocada pelo mercado japonês no início do mês. A expectativa agora está centrada no possível corte de juros nos Estados Unidos, que deve ganhar mais clareza durante o Simpósio de Jackson Hole, em Wyoming, neste fim de semana.

Assim, nesta manhã (20), as ações europeias parecem preparadas para subir, seguindo o movimento de alta tímida das ações asiáticas após uma sessão otimista em Nova York. 

No entanto, uma notícia desfavorável veio com a aceleração da inflação anual ao consumidor na zona do euro, o que diminuiu um pouco o ímpeto dos índices na região. Para complicar, os dados de preços ao produtor de julho na Alemanha também foram decepcionantes.

Além disso, o Banco Popular da China (PBOC) manteve as taxas de juros das LPRs de 1 ano e 5 anos estáveis em 3,35% e 3,85%, respectivamente, nesta terça-feira, o que contribui para um cenário global menos animador, já que sinaliza a ausência de novos estímulos econômicos por parte da China.

A ver…

· 00:58 — Parece que a Selic vai subir mesmo

No Brasil, o Ibovespa encerrou o dia de ontem com uma alta de 1,36%, atingindo 135.777,98 pontos, o nível de fechamento mais alto já registrado pelo índice. Durante o pregão, o Ibovespa também alcançou um novo recorde intradiário, chegando a 136.179 pontos.

Ao mesmo tempo, o dólar se aproximou novamente de R$ 5,40, refletindo um otimismo nos mercados globais, impulsionado pela resiliência da economia americana e pela expectativa de que o Federal Reserve possa em breve iniciar um ciclo de corte de juros. Entretanto, o cenário político e econômico interno promete ser mais desafiador nas próximas semanas, com vários temas importantes em pauta em Brasília.

Entre as questões críticas estão o projeto de reoneração da folha de pagamentos, as tensões entre o Supremo Tribunal Federal e o Legislativo, as discussões sobre as indicações para o Banco Central e o andamento da regulamentação da Reforma Tributária. Hoje, está prevista a votação do parecer do senador Jaques Wagner sobre a reoneração gradual da folha de pagamentos. Além disso, a apresentação da Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 ao Congresso está marcada para o dia 30 deste mês.

Enquanto os debates fiscais continuam, as discussões sobre a política monetária parecem caminhar para um consenso mais claro. As nomeações para o Banco Central devem ser confirmadas em breve, com Gabriel Galípolo sendo o principal candidato para assumir a presidência da instituição, e o mercado está cada vez mais convencido de que a taxa Selic será elevada.

Embora eu acredite que a taxa poderia ser mantida inalterada por mais tempo, a firme postura das autoridades monetárias sugere que seguir outro caminho poderia ser prejudicial. A ata mais conservadora, as declarações duras de Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo, a inflação no limite superior da meta do Banco Central, a economia ainda aquecida e o desemprego em níveis historicamente baixos reforçam essa perspectiva.

Além disso, a recente valorização do dólar para cerca de R$ 5,40 não é apenas reflexo do cenário internacional favorável, mas também da postura assertiva do Banco Central (atuação vocal). Portanto, adiar o aumento da Selic agora poderia ser mais prejudicial, considerando que o mercado já está precificando essa medida (uma alta hoje significa mais cortes em 2025).

Hoje (20), espera-se que mais detalhes sobre os aspectos fiscais e monetários sejam discutidos durante o evento Macro Day, organizado pelo BTG Pactual (BPAC11), com a presença de figuras como Fernando Haddad e Campos Neto. Resta saber se será necessário um aumento mais agressivo da Selic até o final do ano. Se é que ele virá mesmo. O mercado é tão ansioso algumas vezes…

· 01:44 — Bom desempenho dos emergentes

Os mercados globais começaram a semana com otimismo, impulsionados pela expectativa em torno do simpósio em Jackson Hole, um evento que tradicionalmente marca anúncios importantes do Federal Reserve sobre mudanças em sua política monetária. Embora já existam algumas indicações, a aguardada fala de Jerome Powell na sexta-feira (23) é vista como crucial. Ao mesmo tempo, as moedas de mercados emergentes estão se valorizando, refletindo o crescente apetite por ativos de maior risco à medida que o evento se aproxima.

O mercado também está atento a Kazuo Ueda, presidente do Banco do Japão (BoJ), especialmente após o impacto do aumento inesperado das taxas de juros no Japão no mês passado, que desencadeou uma reconfiguração significativa nas operações de carry trade.

Além das moedas, os mercados de ações emergentes também estão em alta. Um ponto central no cenário atual é que, com os dados econômicos mais recentes dos EUA, estamos vendo um retorno à perspectiva de um “pouso suave” para a economia americana. O cenário “Goldilocks“, que representa um equilíbrio ideal entre crescimento e controle da inflação, está novamente em destaque nas análises de mercado.

· 02:39 — Elas estão de volta

Nos EUA, o índice Nasdaq Composite saiu ontem do território de correção, após uma breve fase de ajuste que durou apenas 11 dias de negociação. Na segunda-feira (19), o Nasdaq subiu 1,4%, estendendo sua sequência de vitórias para oito sessões consecutivas. Movimentos de otimismo também foram observados nos índices S&P 500 e Dow Jones Industrial Average.

Como resultado, o rali dos ativos de risco já adicionou mais de US$ 3 trilhões em valor de mercado desde as mínimas registradas neste mês, impulsionado pelas expectativas de que o Federal Reserve possa sinalizar em breve o início de um ciclo de cortes nas taxas de juros.

Historicamente, essa recuperação tende a ser ainda mais robusta após o índice Nasdaq sair de um período de correção. O índice costuma apresentar ganhos médios após uma semana, duas semanas, três semanas, um mês, três meses, seis meses e até um ano depois de sair da correção.

Um ano após essa recuperação, o Nasdaq registrou alta em 86% das vezes, com um ganho médio de 23,6%. Esse desempenho positivo é suficiente para que o setor de tecnologia retorne ao centro das atenções no mercado. Embora a rotação setorial prevista para continuar neste semestre ainda seja relevante, o foco sobre ela pode ser parcialmente ofuscado por esse ressurgimento do setor de tecnologia.

· 03:21 — Quem tem medo da IA?

Algumas pesquisas recentes mostram que 56% das empresas do ranking Fortune 500 agora veem a inteligência artificial (IA) como um risco potencial para seus negócios, um aumento significativo em relação aos 9% registrados em 2022. Muita coisa mudou de lá para cá, claro.

Afinal, o avanço nesse setor tem sido tão acelerado que, no mundo da tecnologia, semanas podem parecer anos. Especificamente, entre as 108 empresas que mencionaram a IA generativa, capaz de criar textos e imagens realistas semelhantes aos produzidos por humanos, apenas uma minoria a veem como uma oportunidade, enquanto 70% a consideram um risco. Será para tanto?

Entre as diversas preocupações relacionadas à IA, destaque para o aumento da concorrência, riscos à reputação e desafios operacionais, além de questões éticas, incluindo o impacto potencial da tecnologia nos direitos humanos, no emprego e na privacidade. Embora as preocupações com o futuro do trabalho sejam legítimas, acredito que esse ainda não seja um problema imediato.

Aliás, a atual temporada de resultados dá suporte a teoria de Daron Acemoglu e da equipe do Goldman Sachs, que sugere que os benefícios da IA podem demorar a se concretizar, indicando que muitos dos temores sociais atuais podem ser exagerados no curto prazo. No entanto, isso não elimina a necessidade de regulamentações claras para definir os limites dessa tecnologia de maneira adequada. Estamos apenas no começo desse debate.

· 04:15 — Menor tensão

Os preços do petróleo caíram novamente ontem após relatos de que Israel teria aceitado um esboço de cessar-fogo proposto pelos EUA, conforme anunciado pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na segunda-feira. A proposta tem como objetivo a libertação de reféns em Gaza, que estão detidos desde outubro do ano passado. No entanto, o Hamas ainda não aceitou a proposta, o que é crucial para que o acordo avance.

Em resposta a essas notícias, o preço do barril de petróleo continuou a cair, marcando a maior queda em duas semanas, refletindo um alívio nos riscos de fornecimento em meio a crescentes preocupações sobre a demanda global. Se o cessar-fogo for concretizado, é provável que o preço do petróleo se estabilize mais próximo de US$ 70 do que de US$ 80, já que as perspectivas de demanda continuam fracas, embora eu não preveja uma recessão nos EUA no curto prazo.

· 05:03 — Atenção para as farmacêuticas

Como mencionei ontem, os casos de mpox, anteriormente conhecida como varíola dos macacos, estão se tornando cada vez mais comuns em todo o mundo, com o vírus se espalhando para países como Suécia, Paquistão e Filipinas.

Esse avanço levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma emergência global de saúde pública na semana passada, o que pode agilizar o acesso e a distribuição das vacinas necessárias…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.