Fala-se que a ruptura das cadeias de suprimento globais tem causado inflação.
Pode até ser o caso para outras economias, mas, no Brasil, alguns fatores mais específicos parecem ter gerado o viés altista nos preços.
A crise hídrica quebrou as safras, o que inflacionou o preço dos alimentos.
Ela também causou uma escassez de energia elétrica, já que nossa rede depende muito do volume de chuvas, por conta das hidrelétricas. Para evitar um racionamento, o governo tascou a tarifa mais cara.
Ainda, um dólar em alta, por vários motivos, incluindo os políticos, desencadeou um efeito dominó sobre todas as cadeias cujos insumos são dolarizados, como eletrônicos, materiais de construção e combustíveis.
Para colaborar, a Opep segue tímida no aumento da oferta de petróleo. Lembremos que essa entidade, por controlar uma parte relevante da oferta global da commodity, exerce um efeito imediato (e altista) nos seus preços ao segurar a oferta enquanto temos uma demanda quase normalizada.
Como cidadãos, só nos resta apertar os cintos.
E o Banco Central?
Ele não consegue mandar chover, o que resolveria os preços dos alimentos e da energia elétrica.
Também não consegue marretar o dólar, por mais que suavize seus movimentos por meio dos seus leilões de swap cambial.
Resumidamente, o BC não consegue influenciar a oferta de bens e serviços de uma forma rápida. O jeito, então, é controlar a demanda.
Para tanto, ele sobe os juros, o que está tornando os empréstimos mais caros. Isso tende a desacelerar a demanda por bens e serviços. Com isso, a tendência é que a pressão sobre os preços se alivie em algum momento.
E qual a consequência disso para nós, investidores?
A primeira é que devemos nos posicionar em empresas que têm os juros como fonte de receita, e não de custos. Estou falando de instituições financeiras principalmente.
A segunda é que devemos evitar empresas muito alavancadas, cujas despesas financeiras devem subir consideravelmente diante de um juro mais alto.
Estamos observando um achatamento da curva de juros, que reflete as expectativas dos investidores para o juro no futuro. Antes, ela estava um tanto inclinada, com os investidores esperando um juro bem maior em 2030 do que em 2025.
Agora, ela começa a se achatar, com investidores esperando um juro para 2030 não muito diferente daquele de 2025. O juro está, agora, em cerca de 11% ao longo de boa parte da curva futura, o que embute uma expectativa de que esse patamar de taxa será suficiente para controlar os preços – sem subidas adicionais.
Os destaques da PEC dos Precatórios serão votados na Câmara hoje, o que anima o mercado – até segunda ordem – pois daria uma segurança maior sobre o controle das contas públicas e, por conseguinte, da pressão inflacionária exercida pela demanda.
Se a votação emperrar, pode ser que a curva volte a se inclinar. Isso porque, com um governo gastador, o viés inflacionário só faria aumentar, o que, por sua vez, levaria o BC a subir mais os juros. Assim, a curva voltaria a empinar.
Aliás, como parte da comemoração de 12 anos da Empiricus, transmitiremos, hoje às 14h, minha conversa com o Morgan Housel, autor do excelente “A Psicologia Financeira”. Dentre várias perguntas interessantes, abordo o movimento global de aperto monetário e o que isso significa para os investidores. Recomendo, ainda, que o leitor fique atento à programação desta semana especial, que está recheada de painéis incríveis – de verdade.
De volta ao assunto. Vivemos um momento de definição importante, que dará o tom da estabilidade da nossa economia no próximo ano (ou não). Monitoremos de perto.
Enfim, um punhado de palavras que nos leva a uma conclusão: cada um usa as armas que tem. Como investidores, usemos as nossas: estejamos do lado certo dessa equação.
Um abraço,
Larissa