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Construir, preservar ou destruir

Cornelius nasceu no fim do século 18, em uma família simples de Staten Island, distrito proletário de Nova York. Como era esperado de um jovem de sua condição, começou a trabalhar muito cedo. Abandonou os estudos aos 11 anos e foi ajudar o pai a operar uma balsa que ligava o seu bairro à ilha de Manhattan.

Por Caio Mesquita

16 nov 2021, 08:58

Cornelius nasceu no fim do século 18, em uma família simples de Staten Island, distrito proletário de Nova York.

Como era esperado de um jovem de sua condição, começou a trabalhar muito cedo. Abandonou os estudos aos 11 anos e foi ajudar o pai a operar uma balsa que ligava o seu bairro à ilha de Manhattan.

Aos 16, Cornelius, com US$ 100 (cerca de US$ 2 mil a valores de hoje) emprestados por sua mãe, decide comprar sua própria embarcação, entrando na mesma linha de negócios do seu pai.

Sua energia e entusiasmo causavam admiração em seus colegas, que lhe emprestaram a alcunha de The Commodore, apelido que o acompanharia por toda a sua vida.

Também comum em sua época, Cornelius se casou muito cedo, aos 19 anos. Sua escolhida, Sophia, era sua prima-irmã e juntos tiveram 13 filhos.

Em 1817, Cornelius foi convidado a ocupar um cargo gerencial pelo operador de balsas Thomas Gibbons, um dos principais da região portuária de Nova York. Cornelius aceita a proposta, mas continua operando sua própria empresa em paralelo.

Ao lado de Gibbons, Cornelius monta uma estratégia agressiva para contrapor os incumbentes do setor, à época desorganizados por questões sucessórias.

Após o falecimento do antigo patrão, Cornelius passa a dedicar-se exclusivamente aos seus negócios, que começam a escalar rapidamente. Ao final dos anos da década de 1830, suas embarcações dominam toda a logística de cabotagem do nordeste americano.

Na década seguinte, Cornelius dá o seu grande passo e começa a adquirir ativos ferroviários, setor que o alçaria à posição de homem mais rico dos Estados Unidos.  

O sobrenome de Cornelius, Vanderbilt, passou a ser sinônimo da aristocracia capitalista que transformou os Estados Unidos na potência que é até hoje.

Ao morrer, a fortuna de Cornelius era maior do que todo o dinheiro detido pelo Tesouro americano.

Apesar de seu herdeiro, Billy, ter conseguido dobrar a fortuna herdada do pai, a história da dinastia Vanderbilt talvez seja um dos casos mais clássicos de destruição de riqueza geracional.

Há três coisas a fazer com riqueza. Construir, preservar ou destruir.

Planejadores financeiros alertam que fortunas familiares são dissipadas em três gerações. No caso dos Vanderbilt, Cornelius construiu, Billy preservou e os netos e bisnetos destruíram.

Três décadas após a morte de Cornelius, nenhum membro da família Vanderbilt estava entre os mais ricos dos Estados Unidos. E meio século após sua morte, a fortuna dos Vanderbilt estava completamente perdida.

Pode-se colocar a culpa da decadência da família nas gerações seguintes, mas os erros de Cornelius criaram as condições para o declínio.

O primeiro erro foi a falta de diversificação do grupo. A erosão da predominância das ferrovias e transporte de cabotagem dentro da economia americana contribuiu para a diminuição da relevância da família como grupo empresarial.

O outro equívoco ficou por conta da falta de ativos reais no portfólio da família. Herdeiros recebiam ações das empresas que podiam ser vendidas facilmente no mercado. Não havia trava para usar a venda do patrimônio familiar para financiar despesas correntes que, dado o estilo de vida dos herdeiros, eram bastante significativas.

Tanto Cornelius como seu filho Billy negligenciaram a aquisição de ativos tangíveis, como imóveis e propriedades. Pode-se apenas imaginar o valor de ativos imobiliários que Cornelius e Billy poderiam ter adquirido na Nova York do início do século 19 se tivessem direcionado uma pequena parte dos dividendos recebidos para adquiri-los.

Cornelius Vanderbilt pode ter sido o maior capitalista do planeta, mas o mesmo não pode ser dito de suas habilidades como investidor e planejador financeiro.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço,

Caio

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus