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Mercado reage após resultados da Nvidia e PIB americano são destaques desta quinta-feira (29); confira análise sobre o cenário global

Os resultados da Nvidia continuam ecoando no pre-market, enquanto aguarda-se o PIB dos EUA. Confira os destaques do mercado hoje (29).

Por Matheus Spiess

29 ago 2024, 09:15 - atualizado em 29 ago 2024, 09:15

24.7 Jogando parado

Os mercados europeus e os futuros americanos estão em alta nesta manhã, contrastando com o recuo nas ações asiáticas nesta quinta-feira (29), pressionadas principalmente pelas perdas no setor de tecnologia após a divulgação dos resultados da Nvidia (NVDC34), uma das queridinhas do mercado.

O mais intrigante é que os resultados foram bons! No entanto, algumas percepções relativas, como um guidance que não superou as expectativas como em ocasiões anteriores, o atraso em um produto chave para a empresa e a impressão de que o ritmo acelerado de crescimento pode ter atingido seu limite, acabaram pesando sobre os papéis no after-hours de ontem, reflexo que se estende para o pre-market de hoje. 

Isso nos leva a questionar: será que agora não basta mais superar as expectativas, o resultado tem que ser espetacular toda vez, caso contrário já é motivo para uma correção? Às vezes, parece que o pessoal se emociona muito facilmente…

Hoje (29), o foco da agenda está na nova leitura do PIB americano e nos pedidos de auxílio-desemprego, enquanto aguardamos o PCE, a medida de inflação preferida do Fed, que será divulgado amanhã. No Brasil, os investidores estão atentos à formalização de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central e aguardam a apresentação do PLOA de 2025, prevista para sexta-feira (30).

A ver…

· 00:59 — Sem surpresas

Por aqui, a desaceleração do IGP-M em agosto tem recebido pouca atenção em comparação com a confirmação de Gabriel Galípolo para suceder Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central (além de três novos diretores a serem indicados nos próximos meses). Não me leve a mal: essa nomeação já era amplamente esperada, como temos discutido há algum tempo.

Agora, Galípolo passará pela sabatina no Senado, prevista para a primeira metade de setembro, e deverá assumir o comando da autoridade em janeiro de 2025, com um mandato de quatro anos.

Apesar dos esforços recentes de Galípolo em adotar uma postura “hawkish” (mais rígida e menos tolerante com a inflação), o mercado ainda deve testá-lo.

Afinal, a comunicação foi tão contundente que os investidores precificaram uma elevação da Selic de volta para 12%. Embora essa possibilidade exista, acredito que possa vir a se provar um equívoco, considerando que os juros já estão em um nível restritivo. De fato, a inflação atual não é das mais favoráveis, como o atual presidente do BC destacou ontem ao comentar o IPCA-15 de agosto. Além disso, a atividade econômica permanece robusta, com o mercado de trabalho demonstrando resiliência, conforme observado nos dados do Caged desta semana.

Concordo que poderia haver espaço para um aumento nos juros, até para preservar a credibilidade, dado que a expectativa de alta já foi criada, mas não vejo necessidade de retornar aos 12%. Duas elevações de 25 pontos-base podem ser suficientes, especialmente considerando que os EUA devem começar a reduzir suas taxas de juros em breve. O mercado está dividido sobre esse debate, enquanto aguarda a apresentação do PLOA de 2025.

O recado da Fazenda na quarta-feira (28) sugeriu que há, de fato, um esforço do governo em promover cortes de gastos, com o secretário executivo Durigan reafirmando o corte projetado de R$ 25,9 bilhões para 2025. Resta saber se esse esforço será suficiente para cumprir as metas do arcabouço fiscal

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· 01:46 — E essa alíquota?

Novos cálculos da equipe econômica indicam que a alíquota padrão do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), previsto na Reforma Tributária, deve ficar em torno de 28% após as alterações feitas pela Câmara. Este aumento é resultado das várias concessões feitas a setores beneficiados por isenções e regimes especiais, com os parlamentares ampliando a lista de itens que terão isenção ou redução na alíquota cobrada.

A Fazenda tentará ajustar essa alíquota durante a tramitação da PEC no Senado, buscando definir compensações para os benefícios concedidos; afinal, se a alíquota de 28% for confirmada, o Brasil terá a maior taxa de imposto sobre consumo do mundo. 

A tramitação no Senado, no entanto, está paralisada, aguardando que o governo retire a urgência constitucional do projeto. Os senadores desejam que a análise ocorra de forma mais cuidadosa, com a votação em plenário prevista apenas para depois das eleições municipais em outubro. A resolução dessa questão ainda parece distante. O ideal seria que isso fosse solucionado o quanto antes, permitindo que a transição comece a valer já a partir do próximo ano.

· 02:31 — O PIB americano

Nos EUA, o mercado passou por um dia de correção ontem, enquanto aguardava o resultado da Nvidia e os dados macroeconômicos relacionados à atividade e inflação. Nesta manhã, os futuros americanos registram alta, apesar da queda nas ações da Nvidia.

Não se engane: a Nvidia não decepcionou. A empresa superou as estimativas de lucro por ação e receita e ainda anunciou a expansão de seu programa de recompra de ações. No entanto, isso pode não ter sido suficiente para satisfazer investidores que estavam à procura de qualquer detalhe que justificasse uma realização de lucros. A queda de ontem, no entanto, parece refletir mais do que apenas uma semana sem grandes notícias econômicas. E qual a razão disso?

Bem, com o fim de agosto, o verão nos EUA está chegando ao fim, o que costuma reduzir o entusiasmo no mercado, já que muitos aproveitam os últimos momentos da estação. Setembro, por sua vez, traz consigo expectativas eleitorais e possíveis cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve, acelerando a dinâmica do mercado.

Antes disso, será divulgada hoje a nova leitura do PIB do segundo trimestre, que deve confirmar uma taxa anual ajustada sazonalmente de 2,8%, em linha com a estimativa preliminar publicada em julho. Amanhã, será a vez do PCE. No entanto, o tamanho do corte de juros em setembro pelo Fed talvez só seja definido na próxima semana, após a divulgação do relatório de emprego de agosto (payroll).

· 03:25 — Não foi ruim!

As ações da Nvidia caíram entre o fechamento de ontem e a abertura de hoje, refletindo a ausência do fator surpresa ao qual os investidores estavam acostumados nos resultados da empresa. Isso demonstra que, daqui para frente, não basta a empresa apresentar bons números — eles precisam ser excepcionais. Esse comportamento do mercado parece um tanto exagerado.

Ontem, a fabricante de chips anunciou que mais uma vez superou as expectativas, registrando um segundo trimestre impressionante, embora não tenha sido suficiente para satisfazer as altíssimas expectativas dos investidores. A Nvidia reportou US$ 30 bilhões em vendas, superando a previsão de US$ 28,7 bilhões para o segundo trimestre. Esse número representa um aumento de 122% em relação ao ano anterior e segue três trimestres consecutivos de crescimento triplicado. 

A empresa também projetou uma receita de US$ 32,5 bilhões para o trimestre atual, superando as expectativas dos analistas, mas não alcançando as previsões mais otimistas. Esse resultado gerou preocupações sobre uma possível desaceleração no ritmo de crescimento. Além disso, a Nvidia terá que lidar com preocupações sobre possíveis atrasos na produção de seu chip de próxima geração, o Blackwell, que a empresa reconheceu ontem, após relatos de que o lançamento poderia ser adiado por até três meses.

Vale lembrar que um dos motivos pelo qual os lucros da Nvidia são tão acompanhados é o fato de a empresa ter grandes clientes como Microsoft (MSFT34), Alphabet (GOGL34), Meta (M1TA34) e Tesla (TSLA34), fazendo de seus resultados um indicador dos gastos com IA das Big Techs. A demanda por seus chips permanece forte.

Além disso, o conselho da Nvidia aprovou um programa de recompra de ações no valor de US$ 50 bilhões e declarou um dividendo trimestral de 1 centavo, seu primeiro pagamento desde o desdobramento de ações (10 por 1) anunciado no último balanço. Sem dúvida, a Nvidia continua a ser um nome de peso no setor de tecnologia. O pessoal se emociona muito facilmente…

· 04:17 — O desafio chinês

Instituições financeiras continuam a revisar para baixo suas projeções de crescimento para a economia chinesa em 2024 e 2025, citando uma contração mais acentuada do que o esperado no mercado imobiliário como a principal razão. As estimativas mais recentes indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) da China deve crescer 4,6% em 2024, uma redução em relação à previsão anterior de 4,9%. Para 2025, a expectativa foi revisada para um crescimento de 4%, também inferior aos 4,6% de antes.

Apesar das medidas implementadas pelo governo chinês desde o final de 2022 para flexibilizar as políticas do setor imobiliário — que incluíram a redução dos requisitos para financiamento, a diminuição das taxas de hipoteca e o afrouxamento das restrições de compra de imóveis —, a execução dessas ações tem sido lenta e insuficiente para revitalizar o setor. A fragilidade persistente no mercado imobiliário continua sendo o maior obstáculo para o dinamismo econômico e o crescimento da China. Mesmo com iniciativas do governo para comprar o excesso de estoque de moradias, essas ações podem não ser suficientes para reverter o declínio.

Além disso, o resultado das próximas eleições nos Estados Unidos pode complicar ainda mais o cenário, especialmente se houver um aumento no protecionismo comercial. Caso haja uma guinada protecionista após as eleições de novembro, países como México, China e Canadá, que juntos representam mais de 40% das importações americanas, seriam particularmente vulneráveis a novas medidas restritivas.

Embora as exportações de bens da China para os EUA representem uma parcela relativamente pequena de seu PIB, cerca de 3%, e o déficit comercial americano com a China tenha diminuído desde o pico em 2018, os setores chineses de máquinas e equipamentos elétricos permanecem especialmente expostos. Esses setores representam quase metade das importações americanas vindas da China, com computadores e telefones correspondendo a cerca de um quinto desse total.

· 05:03 — A máxima nominal nos impede de sermos otimistas com o Brasil?

Ontem, o Ibovespa encerrou o dia com uma alta de 0,42%, atingindo 137.344 pontos, uma nova máxima histórica de fechamento. Somente neste mês, o índice já acumula uma valorização de 7,59% (9,20% em dólares), alcançando esses novos recordes nominais. Esse avanço ocorre após um início de mês marcado por intensa volatilidade, impulsionada pela reversão do “carry trade” no Japão.

Desde então, os ativos globais têm se beneficiado da expectativa de flexibilização da política monetária nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, onde os cortes de juros devem começar em setembro.

A grande questão agora é: estamos em um ponto de correção iminente ou podemos continuar subindo?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.