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PIB do Brasil, payroll e mais: confira os eventos econômicos desta semana “que promete muita emoção”

Os investidores estão se preparando para uma segunda-feira (2) de liquidez reduzida com os mercados americanos fechados para o Dia do Trabalho.

Por Matheus Spiess

02 set 2024, 09:04 - atualizado em 02 set 2024, 09:24

Imagem representando o financial deepening, uma expressão que denota um avanço significativo na sofisticação dos produtos oferecidos no mercado financeiro.

Os investidores estão se preparando para uma segunda-feira (2) de liquidez reduzida, já que os mercados americanos estarão fechados devido ao feriado do Dia do Trabalhador. Apesar dessa pausa, a semana promete ser intensa, com uma agenda cheia de eventos significativos.

Entre os destaques estão os dados macroeconômicos cruciais tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, com ênfase no relatório de emprego americano de agosto, o payroll, que será divulgado na sexta-feira (6). Este relatório é especialmente importante, pois poderá influenciar a decisão do Fed sobre o tamanho do corte nas taxas de juros em setembro.

Na Ásia, os mercados encerraram o primeiro pregão de setembro de forma mista, sem uma direção clara, mas com quedas acentuadas nas bolsas chinesas, onde os investidores reagiram negativamente aos dados de atividade industrial, que apresentaram uma retração maior do que a esperada em agosto. Esse sentimento de cautela também foi refletido na abertura dos mercados europeus, que começaram o dia com uma postura mais conservadora.

A ver…

· 00:52 — A força da atividade brasileira

Na última sexta-feira (30 de agosto), foi apresentada no Brasil a Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025, que traz consigo planos para novos aumentos de arrecadação. O documento propõe elevações na alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), aumentando-a em um ponto percentual para empresas em geral e em dois pontos percentuais para instituições financeiras, o dobro do que era esperado.

Além disso, a alíquota do Imposto de Renda retido na fonte sobre Juros sobre Capital Próprio (JCP) passaria de 15% para 20%. O governo projeta arrecadar cerca de R$ 21 bilhões em 2025 com essas medidas. No entanto, é importante notar que o Congresso dificilmente aceitará esse aumento de arrecadação sem resistência. Até mesmo a compensação pela desoneração, que já está acordada, dependerá da aprovação dos parlamentares, o que significa que há incerteza sobre o sucesso dessas propostas no orçamento, gerando um possível ruído fiscal neste semestre, como antecipamos.

Temos ainda duas questões importantes em pauta nesta semana. A primeira é a política monetária, especialmente após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adotar um tom menos agressivo na última sexta-feira. Isso sugere que qualquer ajuste será gradual, em linha com o que ocorre no cenário internacional, onde o Brasil pode elevar os juros enquanto os Estados Unidos iniciam cortes.

Mesmo assim, a confirmação de Gabriel Galípolo como próximo presidente do Banco Central, a partir de 2025, reforçou a expectativa de que o Copom aumentará os juros na próxima reunião e continuará com uma postura mais rígida até que as expectativas de inflação estejam sob controle. O Produto Interno Bruto (PIB) a ser divulgado amanhã poderá fornecer mais informações sobre o nível de atividade econômica, que tem sido uma preocupação constante do Banco Central.

Já podemos considerar a possibilidade de um crescimento de 3%?

· 01:46 — Insegurança jurídica?

No cenário nacional, um dos assuntos que ganhou destaque internacional foi o conflito entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e Elon Musk, que resultou no banimento da plataforma X no Brasil. A suspensão ocorreu após Musk se recusar a cumprir uma ordem do ministro Alexandre de Moraes para nomear um representante legal local para a plataforma.

Musk alegou que está sendo punido por não acatar as “ordens ilegais de Moraes para censurar seus oponentes políticos”, referindo-se à remoção de contas de figuras públicas que, segundo o STF, violaram normas legais. Independentemente de quem esteja certo nessa situação, o ponto que quero abordar é o impacto no mercado. E, meus amigos, esse episódio traz uma preocupação séria. Em um momento em que o Brasil precisa atrair investimentos estrangeiros para impulsionar seu mercado, esse tipo de situação gera uma péssima imagem.

Moraes já havia ordenado o congelamento das contas bancárias da Starlink, empresa de internet via satélite de Musk, uma ação que a empresa considerou inconstitucional e uma tentativa de responsabilizá-la pelas ações do X. Para investidores internacionais, isso transmite uma sensação de insegurança jurídica, o que é extremamente prejudicial. O mesmo vale para a recente controvérsia sobre o uso de VPNs, que já foi parcialmente revisada.

No sábado, o influente investidor de Wall Street, Bill Ackman (Pershing Square), classificou como ilegal a suspensão do X no Brasil e o bloqueio das contas da Starlink, alertando para o risco de o país perder investimentos, como, segundo ele, aconteceu na China. A percepção é realmente negativa. A Primeira Turma do STF já começou a julgar virtualmente a decisão sobre o bloqueio do X, mas é improvável que os ministros decidam desautorizar um colega do tribunal.

· 02:31 — Feriado

Nos Estados Unidos, após um PIB do segundo trimestre acima do esperado e um índice de inflação, preferido pelo Fed, que se manteve contido em julho, as atenções dos investidores se voltam para os dados do mercado de trabalho americano nesta semana. Um resultado mais fraco pode fortalecer as chances de um corte de 50 pontos-base nos juros em setembro.

Por outro lado, se o mercado de trabalho continuar robusto, o Fed provavelmente adotará uma postura mais cautelosa, optando por um ajuste mais gradual, com um corte inicial de 25 pontos-base. Antes disso, porém, teremos um feriado nesta segunda-feira (2), o que deve reduzir a liquidez nos mercados globais.

De qualquer forma, o período até setembro tem sido positivo para as ações americanas, impulsionado pela expectativa de cortes nos juros, apesar da volatilidade observada no início de agosto. O cenário geral permanece favorável para ativos de risco.

· 03:23 — Perdendo força

O preço do petróleo voltou a cair nesta segunda-feira (2), com o barril de Brent para dezembro sendo negociado ligeiramente abaixo de US$ 77. A queda foi impulsionada por novas manifestações em Israel, que pressionam o governo a negociar um cessar-fogo em Gaza, visando a libertação de reféns mantidos pelo Hamas desde os ataques terroristas de outubro do ano passado. Um cessar-fogo reduziria as tensões na região, diminuindo o risco de escalada e, consequentemente, aliviando a pressão sobre o preço do petróleo.

Além disso, na semana passada, surgiram indícios de que a OPEP+ avançará com seu plano de aumentar a produção a partir de outubro, adicionando 180 mil barris por dia, à medida que retoma gradualmente a produção interrompida desde 2022. Esse cenário, somado à fraqueza econômica da China, contribui para a diminuição da força da commodity.

· 04:18 — Nervosismo político alemão

As eleições regionais na Alemanha costumavam ser questões puramente domésticas, mas esse cenário mudou no último fim de semana. Isso porque a coalizão governante do chanceler Olaf Scholz foi duramente punida eleitoralmente em duas eleições regionais no domingo. Partidos populistas de extrema direita e esquerda conquistaram mais de 60% dos votos na Turíngia e quase metade na Saxônia.

Embora a reação inicial do mercado possa ser limitada, essa votação sinaliza que as próximas eleições gerais podem ser mais desafiadoras para os partidos tradicionais e pragmáticos, preferidos pelos mercados devido à previsibilidade que oferecem.

Toda vez que uma economia importante como a alemã enfrenta a possibilidade de ascensão do extremismo, é natural que os investidores fiquem apreensivos. A eleição do fim de semana marcou o primeiro triunfo de um partido de extrema direita em uma votação estadual na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial, embora seja altamente improvável que esse partido consiga formar um governo, dado que é amplamente rejeitado pelos outros partidos representados no parlamento. Ainda assim, o impacto político já está sendo sentido em Berlim. 

A Alternativa para a Alemanha (AfD) já vinha crescendo e era o segundo maior bloco em vários parlamentos estaduais. Nacionalmente, seu avanço foi notável em 2017, quando se tornou o principal partido de oposição.

O resultado dessa eleição regional pode intensificar as tensões dentro da coalizão governante, que é profundamente impopular, e aumentar os apelos por uma eleição antecipada na maior economia da Europa, em um cenário semelhante ao que ocorreu na França.

· 05:04 — Bandeira vermelha

No fim de semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu acionar a bandeira vermelha patamar 2 para o mês de setembro, em resposta à severa seca de agosto e às previsões de chuvas muito abaixo da média para este mês.

Essa medida, que não era adotada há mais de três anos, trará um aumento de R$ 7,88 por 100 quilowatts-hora (kWh) nas contas de luz, o que poderá intensificar as pressões inflacionárias…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.