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PIB do segundo trimestre é divulgado nesta terça-feira (3) e pode orientar expectativas de inflação; veja destaques do dia

Enquanto os mercados financeiros dos EUA retomam suas atividades, esta terça-feira (3) é marcada pela divulgação do PIB no Brasil.

Por Matheus Spiess

03 set 2024, 09:05 - atualizado em 03 set 2024, 09:21

Imagem para representar o value investing, uma estratégia de investimento que se baseia na busca por ações que estejam subvalorizadas no mercado.

Hoje (3), os mercados financeiros dos Estados Unidos retomaram suas atividades após o feriado de segunda-feira (2), dando início a um mês que, historicamente, tende a trazer maior volatilidade aos índices acionários americanos. A semana promete ser intensa, com uma agenda econômica carregada de eventos relevantes, especialmente o aguardado relatório de emprego de agosto, o payroll, que será divulgado na sexta-feira (6). 

Antes disso, serão apresentados hoje alguns dados cruciais sobre a atividade econômica ao redor do mundo, com destaque para a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre. Assim como ocorreu ontem, os ativos de risco começaram o dia sob pressão, refletindo um clima contínuo de aversão ao risco.

Essa postura cautelosa também foi observada nos mercados asiáticos, onde a maioria das bolsas fechou em queda nesta terça-feira (3), em meio a incertezas sobre a capacidade da China de atingir sua meta de crescimento de 5% para 2024.

A ver…

· 00:56 — O nosso ponto forte contra os nossos pontos fracos

Por aqui, iniciamos o mês com uma queda de 0,81% no Ibovespa, que recuou para abaixo dos 135 mil pontos no fechamento de ontem, em uma sessão marcada por baixa liquidez devido ao feriado nos Estados Unidos e pela desvalorização das commodities.

As expectativas de inflação para 2024 continuam a se deteriorar, enquanto as projeções para 2025 permanecem abaixo de 4%, pelo menos por enquanto. Para entender melhor o comportamento da inflação, é fundamental observar a atividade econômica, o que torna o dado do PIB do segundo trimestre, divulgado hoje, especialmente relevante.

A mediana das expectativas aponta para um crescimento de 0,90%, com estimativas variando entre 0,4% e 1,6%, após uma expansão de 0,8% no primeiro trimestre. Para 2024 como um todo, as projeções já giram em torno de 2,5%, enquanto para 2025 espera-se um crescimento de cerca de 2%. É importante destacar que o impacto das cheias no Rio Grande do Sul sobre o PIB foi menor do que o esperado, apesar da grave tragédia humanitária no estado.

Embora o crescimento econômico seja um ponto positivo, o cenário fiscal e monetário apresenta desafios consideráveis. Começando pelo Orçamento de 2025, que, como mencionei ontem, não foi bem recebido pelo mercado devido à percepção de que ele não é realista. O documento superestima as receitas, com várias linhas extraordinárias, e subestima as despesas, transformando-se, na prática, em uma peça de ficção que provavelmente será amplamente revisada pelo Congresso. Além disso, há incertezas quanto aos próximos passos do Banco Central.

As apostas estão divididas entre aqueles que esperam um aumento mais agressivo na Selic e aqueles que não acreditam em nenhuma alta. Pergunto-me: por que não considerar uma solução intermediária, com um ajuste menos severo do que o apontado pela curva de juros, em linha com as declarações de Roberto Campos Neto na semana passada? Se há uma lição para o próximo mandato do BC, é a importância de melhorar a comunicação. Já vimos o impacto negativo que uma comunicação inadequada pode causar.

· 01:41 — A corrida começou

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, se reuniu ontem com líderes da bancada ruralista em Brasília e assegurou o apoio do grupo ao candidato que ele indicar para sua sucessão. Três políticos estão na disputa pelo respaldo de Lira: Elmar Nascimento (União-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antonio Brito (PSD-BA). Dentre eles, Nascimento desponta como o favorito de Lira, enquanto Brito é considerado o menos cotado.

Durante o encontro, Lira analisou o cenário político, destacando os pontos fortes e fracos de cada candidato, e solicitou que os líderes da bancada compartilhassem suas impressões. Seu objetivo é consolidar os três possíveis sucessores em torno de uma candidatura única.

Lira também informou aos ruralistas sobre sua estratégia de construir uma chapa que reúna apoio tanto da esquerda quanto da direita, mencionando conversas recentes com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo fontes, Lira expressou a intenção de anunciar seu candidato até o final desta semana.

A eleição para a presidência da Câmara é crucial, pois o governo, que atualmente opera como um governo minoritário, depende fortemente da cooperação do legislativo. A escolha do próximo presidente da Câmara oferecerá uma visão mais clara sobre o rumo político do país nos próximos anos.

· 02:39 — Agosto foi muito bom, obrigado

Nos Estados Unidos, após o feriado, os mercados celebram o encerramento de agosto com um forte desempenho que marcou o fim do verão, levando os principais índices de ações de volta às suas máximas históricas. O Dow Jones Industrial Average alcançou seu 25º recorde de fechamento do ano, enquanto o S&P 500 se aproxima de maneira impressionante de renovar seu topo histórico.

O Nasdaq também teve uma recuperação notável, ganhando mais de 1.000 pontos no último mês, embora ainda enfrente algumas pressões no setor de tecnologia após os recentes ganhos da Nvidia (NVDC34), líder de mercado e referência em inteligência artificial.

Esse otimismo reflete, em parte, a resiliência do consumidor americano, que foi o principal motor para a revisão do PIB dos EUA na semana passada. As ações estão recuperando rapidamente suas perdas à medida que os temores de uma desaceleração acentuada no crescimento econômico estão se dissipando com a mesma velocidade. Além disso, os investidores estão ampliando suas exposições a ativos de risco, antecipando um ciclo de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve.

Historicamente, esse movimento tem sido um sinal de desempenho superior para o mercado de ações em períodos em que a economia desacelera, mas consegue evitar uma recessão. É por isso que os dados econômicos melhores do que o esperado estão sendo recebidos positivamente pelo mercado de ações, já que a inflação deixou de ser a principal preocupação tanto para os investidores quanto para o Fed.

· 03:24 — Mas há um nervosismo no ar

Historicamente, setembro tem sido um mês desafiador para os investidores, com o S&P 500 registrando sua maior perda percentual desde 1950 nesse período. Este ano, os investidores podem precisar se preparar para um cenário ainda mais turbulento, especialmente com a aproximação do relatório sobre o mercado de trabalho americano, previsto para sexta-feira.

Espera-se que o relatório indique uma aceleração nas contratações e no crescimento salarial em agosto, o que poderia lançar dúvidas sobre a probabilidade de um corte de um quarto de ponto na taxa de juros do Federal Reserve, atualmente precificado para setembro.

Essa volatilidade não afeta apenas o mercado de ações, mas também o crédito. Para exemplificar, o crédito de grau de investimento gerou perdas para os investidores em setembro em nove dos últimos dez anos. No entanto, é importante notar que esse é um tamanho de amostra relativamente pequeno.

Por exemplo, março é conhecido como um mês complicado para o crédito, devido ao pânico generalizado que ocorreu quando a pandemia de Covid-19 atingiu os EUA, com o high yield registrando uma queda de mais de 11% naquele mês.

Da mesma forma, setembro carrega uma média histórica particularmente negativa, em grande parte devido aos retornos desfavoráveis em setembro de 2022, quando as taxas de juros já estavam em alta, impulsionadas pelas preocupações com a inflação, que faziam os investidores preverem que as taxas do Federal Reserve permaneceriam elevadas por mais tempo. Esse contexto cria um ambiente desfavorável para ativos de risco.

· 04:13 — Mais um capítulo na guerra comercial

Se você acha que apenas os EUA e a União Europeia estão dispostos a intensificar a guerra comercial com a China, é hora de repensar. Outros aliados, como Canadá, Austrália e Japão, também estão entrando nesse jogo. Recentemente, o Canadá impôs pesadas taxas sobre os veículos elétricos fabricados na China, o que levou a China a iniciar investigações antidumping sobre as exportações canadenses. O “dumping” refere-se à prática de vender produtos no exterior a preços abaixo do mercado, uma tática que, embora rara, é frequentemente associada ao nacionalismo econômico, como as acusações de dumping feitas pelos EUA e pela UE contra a China.

O nacionalismo econômico é mais visível no comércio de bens, mas também se manifesta em outras áreas. Restrições aos fluxos de capital têm sido uma característica histórica desse tipo de nacionalismo.

Além disso, a regulamentação pode ser usada para favorecer interesses nacionais, e mercados como a União Europeia, com uma base significativa de consumidores de classe média, possuem uma vantagem nesse sentido. É fundamental distinguir entre as tendências destrutivas do nacionalismo econômico e as forças mais positivas que impulsionam a eficiência da localização. No entanto, essa distinção será desafiadora à medida que testemunhamos a formação de uma nova “Segunda Guerra Fria” em pleno curso.

· 05:07 — Eu avisei que esse tipo de empresa é complicada…

Recentemente, Mark Zuckerberg revelou que a Meta (M1TA34) foi pressionada pela Casa Branca durante a pandemia de Covid-19.

Em uma carta enviada ao Comitê Judiciário da Câmara, o CEO da Meta afirmou que, em 2021, a administração Biden tentou influenciar a empresa a censurar determinados conteúdos sobre a Covid-19, uma prática que ele considerou inapropriada — a Meta removeu mais de 20 milhões de postagens relacionadas à pandemia por violarem suas diretrizes de conteúdo.

Tenho destacado repetidamente a dificuldade de…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.