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Petróleo cai quase 5% e Brasil entrega ‘PIBão’ no segundo trimestre – veja os destaques desta quarta-feira (4)

O cenário internacional segue desafiador, com o mercado de ações registrando nova queda nesta manhã de quarta-feira (4).

Por Matheus Spiess

04 set 2024, 09:13 - atualizado em 04 set 2024, 09:13

Imagem representando o índice futuro, contrato do mercado financeiro que deriva de um índice de mercado. pib orçamento mercados inflação eua

O cenário internacional segue desafiador, com o mercado de ações registrando nova queda nesta manhã de quarta-feira (4), após a correção observada na terça-feira (3).

Os investidores, em busca de culpados, direcionam sua frustração à pesquisa de sentimento industrial ISM dos EUA. No entanto, essa crítica parece injustificada, já que o ISM é apenas um entre vários indicadores econômicos. É importante lembrar que, apesar de o sentimento indicar cinco meses consecutivos de contração, a produção industrial nos EUA permanece acima dos níveis registrados no início do ano. Portanto, essa reação do mercado parece ser mais um movimento exagerado, semelhante ao que observamos no início do mês passado. Ainda assim, o temor de uma contração econômica mais acentuada persiste.

Esse clima de incerteza é reforçado pela queda significativa das ações asiáticas no pregão de hoje (4), refletindo o desempenho negativo das ações de tecnologia nos EUA na terça-feira (3). Na Europa, os mercados também abriram em baixa, acompanhados por uma queda nos futuros americanos.

No segmento de commodities, o pessimismo ainda prevalece, embora dificilmente seja tão intenso quanto ontem, quando o petróleo Brent recuou quase 5% e o minério de ferro caiu novamente abaixo de US$ 100 por tonelada. Enquanto aguardamos o relatório de emprego dos EUA (payroll) previsto para sexta-feira, seguimos acompanhando os dados econômicos americanos.

Hoje, a agenda inclui o relatório de rotatividade de mão de obra, que trará informações sobre a taxa de abertura de vagas, além da divulgação do Livro Bege do Fed, que pode fornecer mais insights sobre o estado da economia americana.

A ver…

· 00:54 — O Brasil continua surpreendendo em termos de crescimento

Nem todas as notícias são negativas. No Brasil, por exemplo, apesar do pessimismo causado pelo cenário internacional, os investidores receberam com entusiasmo os dados do PIB divulgados ontem. A economia brasileira registrou um crescimento de 1,4% no segundo trimestre de 2024, superando o avanço de 0,8% no trimestre anterior e bem acima das expectativas de 0,9%.

Em termos anuais, o PIB avançou 3,3%, acelerando em relação ao crescimento de 2,5% observado anteriormente, o que gera um carrego estatístico positivo de 2,5% para 2024. Isso nos permite seriamente considerar a possibilidade de o país atingir um crescimento de 3% neste ano, como já havia antecipado em outras ocasiões.

Agora, essa previsão ganhou força, sendo adotada por várias instituições logo após a divulgação dos dados. Do lado da demanda, o destaque do trimestre foi o forte crescimento do consumo público, que subiu 3,1% na comparação anual. O consumo das famílias também surpreendeu positivamente, com uma alta de 4,9% nos últimos 12 meses. 

Embora parte desse desempenho possa ser atribuída a fatores como os estímulos fiscais, aumento do salário mínimo, retomada do crédito e crescimento da renda real, que podem se estabilizar no resto do ano, o cenário geral é positivo. O crescimento brasileiro foi o segundo maior entre 58 países analisados pela Austin Rating.

Além disso, houve revisões para cima nos dados dos dois trimestres anteriores, o que reafirma a tendência de surpresa positiva na atividade econômica do Brasil, que vem superando as expectativas do mercado desde 2021. No entanto, esse vigor econômico aumenta as chances de uma postura mais restritiva por parte do Banco Central, elevando as apostas em um possível aumento da Selic. Os números do PIB reforçam a necessidade de cautela nas próximas decisões do Copom.

Na agenda de hoje, o destaque é a produção industrial de julho. Além disso, logo pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dará uma entrevista ao vivo à GloboNews.

· 01:42 — Pesou

Nos Estados Unidos, o nervosismo voltou a dominar o mercado ontem. O mês de setembro começou com um temor recorrente em relação ao crescimento econômico, levando à pior queda desde o susto registrado no início de agosto.

Os dados fracos da indústria de transformação foram o principal catalisador dessa correção, ocorrendo antes mesmo da divulgação de indicadores de emprego mais relevantes, como o relatório de rotatividade de mão de obra de hoje, os pedidos de auxílio-desemprego de amanhã e o payroll de sexta-feira (6). Essa queda fez com que diversas instituições financeiras começassem a projetar um cenário mais desafiador para os índices americanos nos próximos dois meses.

Conforme mencionei ontem, setembro costuma ser um mês historicamente difícil, mas isso não significa que o restante do ano esteja comprometido. Correções ao longo do caminho são normais e, se acontecerem de forma gradual, podem ser bem-vindas, ajudando a consolidar as posições.

O que também chamou atenção foi o desempenho negativo do setor de tecnologia. As ações da Nvidia (NVDC34) caíram 9,5%, resultando em uma perda de US$ 279 bilhões em valor de mercado — a maior queda diária de uma única empresa.

Outras empresas do setor de semicondutores também sofreram quedas significativas: as ações da Intel recuaram 8,8%, Advanced Micro Devices perdeu 7,8%, Qualcomm caiu 6,9% e Broadcom encerrou o dia com uma queda de 6,2%. Esse movimento de realização foi motivado pela notícia de que as vendas totais de semicondutores caíram 11% em julho em comparação ao mês anterior.

A maior parte dessa queda foi atribuída ao segmento de memórias, que registrou uma redução de 31% nas vendas no mês. Contudo, em termos anuais, a receita total de semicondutores ainda apresentou um crescimento de 15%. Importante lembrar que há uma expectativa de que as receitas de semicondutores aumentem 11% no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior, o que sugere que o setor ainda possui um potencial de recuperação no curto prazo.

· 02:35 — O mercado está nervoso

O petróleo bruto tenta se recuperar nesta manhã, após ter sofrido uma queda de quase 5% na terça-feira, quando a possível diminuição da instabilidade política na Líbia desviou o foco para o plano da OPEP+ de aumentar a produção, ao mesmo tempo em que persistem preocupações sobre a demanda global. O West Texas Intermediate (WTI) caiu abaixo de US$ 70 por barril pela primeira vez desde o início de janeiro, enquanto o Brent também recuou para níveis próximos, atingindo sua cotação mais baixa no ano e apagando todos os ganhos acumulados em 2024.

Um banqueiro central líbio indicou que um acordo estava próximo para resolver a disputa entre os governos rivais do país, devastado por conflitos, o que poderia impulsionar a retomada da produção de petróleo. Adicionalmente, os recentes dados econômicos da China têm decepcionado continuamente, a ponto de o minério de ferro já estar sendo negociado abaixo de US$ 100 por tonelada.

Ainda assim, tendo em vista o cenário global, acredito que o mundo está mais próximo de uma desaceleração controlada do que de uma recessão propriamente dita. Entretanto, o curto prazo promete continuar marcado por volatilidade, à medida que o mercado aguarda um possível corte de juros nos Estados Unidos.

· 03:29 — O corte vem aí

Hoje, iniciamos o dia com algumas atualizações econômicas da Europa. Com exceção da Alemanha, que registrou uma nova queda no índice dos gerentes de compra (PMI), o cenário europeu, de maneira geral, não apresenta grandes sinais de alerta. Os indicadores da Zona do Euro indicam certa resiliência.

O progresso nos dados de atividade divulgado nesta manhã, embora não reverta a recente queda na inflação ao produtor, sugere a possibilidade de que o Banco Central Europeu (BCE) possa seguir o Federal Reserve com novos cortes de juros até o final do ano.

Gediminas Šimkus, um dos dirigentes do BCE, destacou a viabilidade de um corte de 25 pontos-base nas taxas de juros já em setembro. Ele minimizou a chance de cortes adicionais em outubro ou de uma redução mais expressiva de 50 pontos-base, mas reforçou que a política monetária do BCE continuará sendo cautelosa e orientada por dados, com o objetivo de equilibrar o crescimento econômico com o controle da inflação.

Em outras palavras, qualquer ajuste futuro dependerá da evolução das condições econômicas, deixando a porta aberta para mais cortes ao longo dos próximos meses, especialmente se os Estados Unidos adotarem uma política monetária mais flexível. Esse cenário pode ser positivo para ativos de risco, desde que o risco de uma recessão não se concretize.

· 04:11 — Mais um possível integrante do BRICS+

A Turquia apresentou oficialmente seu pedido de adesão ao grupo BRICS+ antes da próxima cúpula, que ocorrerá na Rússia no final de outubro deste ano. Essa iniciativa segue a recente expansão do bloco, que, no início de 2024, acrescentou quatro novos membros: Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Egito. Juntamente com a sua participação na Organização de Cooperação de Xangai, esses movimentos refletem a busca da Turquia por novas relações comerciais e financeiras que possam rivalizar com o G7.

Após anos de frustração com seu processo de adesão à União Europeia, estagnado desde 2016 devido às exigências de reformas econômicas e políticas, a Turquia agora procura diversificar suas alianças internacionais. Se a adesão aos BRICS+ se concretizar, a Turquia será o primeiro país da OTAN a integrar o bloco, fortalecendo sua estratégia de ampliação de influência no cenário global.

Com os Estados Unidos e seus aliados impondo sanções econômicas à Rússia após a invasão da Ucrânia e intensificando a guerra comercial com a China, o apelo dos BRICS+ para desafiar o que seus membros veem como “hegemonia americana” vem ganhando força. Nesse contexto, surgem alternativas ao sistema de pagamentos SWIFT e o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento, concebido para se contrapor a instituições financeiras tradicionais dominadas pelo Ocidente, como o Banco Mundial e o FMI.

· 05:08 — Boas notícias

Nesta semana, a Gerdau (GOAU4) obteve uma vitória importante no Superior Tribunal de Justiça (STJ) na disputa sobre ágio interno.

O ministro Herman Benjamin negou o recurso da União, mantendo a decisão favorável à empresa proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Isso resultou na exclusão da cobrança de R$ 363,2 milhões referentes a Imposto de Renda (IRPJ) e CSLL, provenientes da amortização de ágio gerado por reorganizações societárias entre 2004 e 2005.

O tema é especialmente relevante para a Gerdau, já que há outros processos administrativos e judiciais envolvendo questões semelhantes de reorganização societária. Somadas, essas disputas podem gerar um impacto de R$ 7,9 bilhões em caso de derrota, tornando cada vitória um ponto a ser comemorado.

Diante disso, surge a questão: depois de subir 6% desde a recomendação, ainda vale a pena manter a empresa em carteiras diversificadas de ações, mesmo com essas incertezas judiciais?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.