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Ibovespa recupera perdas de setembro e dados dos EUA podem ‘inquietar’ os ativos na espera do payroll; fique por dentro dos destaques desta quinta-feira (5)

A agenda internacional de hoje está cheia de novos dados dos EUA, com destaque para a pesquisa ADP sobre o mercado de trabalho e os pedidos de auxílio-desemprego.

Por Matheus Spiess

05 set 2024, 08:58 - atualizado em 05 set 2024, 09:00

Dólar como hedge

Fonte: Pixabay

A agenda internacional desta quinta-feira (5) está repleta de novos dados econômicos dos EUA, com destaque para a pesquisa ADP sobre o mercado de trabalho e os pedidos de auxílio-desemprego, que antecedem o aguardado relatório de emprego (payroll) de amanhã, considerado o indicador mais importante da semana.

Estamos presenciando uma semana marcada pela aversão ao risco nos mercados globais, impulsionada pelo receio de uma desaceleração na economia americana. Embora essa desaceleração seja o resultado esperado de uma política de juros mais restritiva, o temor de uma recessão continua a ressurgir e gerar inquietação.

Atualmente, o mercado financeiro é significativamente mais ansioso do que no passado, em grande parte devido à rápida disseminação de informações e ao acesso democratizado a elas. Dados econômicos mais fracos, porém, podem abrir caminho para um corte nas taxas de juros pelo Federal Reserve já em setembro — resta saber se será de 25 ou 50 pontos-base.

Após a continuidade da correção observada na última terça-feira (3), os ativos internacionais iniciam o dia sem uma direção clara. O número de vagas de emprego nos EUA caiu em julho para o menor nível desde o início de 2021, o que traz certa cautela.

Observamos uma tentativa de recuperação nos principais índices asiáticos, paralelamente à valorização do iene, geralmente visto como um porto seguro em momentos de incerteza nos ativos de risco. O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, reforçou a possibilidade de novos aumentos nas taxas de juros, fortalecendo a moeda local, mas gerando pressão sobre as moedas de mercados emergentes, conhecidas pelo “carry trade”.

Enquanto isso, os temores sobre uma possível decepção com o crescimento econômico da China continuam a pairar no cenário global. Na Europa e nos EUA, os mercados tentam esboçar uma recuperação cautelosa, com os futuros operando em leve alta. O petróleo sobe, enquanto o minério de ferro cai.

A ver…

· 00:52 — Love Is in the Air

No Brasil, após um início de mês negativo, o Ibovespa voltou a subir ontem, ultrapassando novamente a marca dos 136 mil pontos. O movimento foi impulsionado pela reação positiva dos investidores às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que foram interpretadas como mais favoráveis à revisão das despesas governamentais.

Em entrevista à GloboNews, Haddad afirmou que concorda com a necessidade de discutir o crescimento das despesas obrigatórias, que ameaçam reduzir o espaço para os gastos discricionários no orçamento federal. Essa sinalização foi bem recebida pelo mercado, especialmente porque o presidente Lula parece ter dado aval para que a despesa com o Auxílio Gás não seja considerada “excepcional”.

Além disso, o reforço do Secretário do Tesouro, Rogério Ceron, de que a mudança da meta fiscal para 2024 não está em discussão, trouxe alívio aos investidores, apesar dos desafios fiscais consideráveis, tanto para este ano quanto para o próximo. Para alcançar o déficit zero em 2025, o governo precisará de uma arrecadação extra de R$ 168 bilhões, sendo R$ 121 bilhões provenientes de medidas administrativas e R$ 46 bilhões de aumentos de impostos, como a elevação da alíquota da CSLL e a tributação sobre o JCP. No entanto, há incertezas sobre a aprovação dessas medidas pelo Congresso, o que pode exigir novas revisões no PLOA.

Nesse contexto, vale acompanhar a divulgação das contas do Governo Central de julho, que será publicada junto com a balança comercial de agosto. Também merece destaque a revisão da bandeira tarifária pela Aneel, que agora pesa menos sobre o IPCA, passando de vermelho 2 para vermelho 1, o que deverá ter um impacto menor sobre a inflação. Com a bandeira vermelha 1, a projeção para o IPCA de setembro fica em 0,42%, enquanto com a bandeira vermelha 2, a previsão seria de 0,56%. Isso reduz as chances de o IPCA ultrapassar o teto da meta de inflação de 4,5%, o que torna menos provável um aumento agressivo da Selic em 2024. 

Ainda é esperado que a taxa básica de juros seja elevada, mas o ritmo pode ser mais gradual, especialmente considerando o cenário de normalização econômica. Apesar do bom resultado do PIB no segundo trimestre, os dados de produção industrial de julho decepcionaram as expectativas, mesmo levando em conta a base de comparação elevada.

Se esse movimento de ajuste ocorrer de forma mais gradual e sem grandes surpresas, os ativos locais poderão continuar a se beneficiar da queda dos juros nos EUA. Essa rotação setorial, em um cenário de queda das taxas globais, fortalece as perspectivas de que o Ibovespa possa alcançar entre 160 e 170 mil pontos até o final de 2025.

· 01:46 — O desafio da sucessão

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP – AL), tem se reunido nesta semana com líderes e presidentes de partidos aliados para discutir o processo de sucessão no comando da Casa. Até pouco tempo atrás, o nome mais cotado para sucedê-lo era Elmar Nascimento (União – BA), que também tem participado dos encontros. Lira tem buscado unificar as candidaturas em torno de um único nome, mas tem enfrentado resistência de alguns grupos parlamentares, que relutam em fechar um consenso em torno de Nascimento. Isso tem levado a debates intensos sobre a formação de alianças, com o objetivo de enfraquecer a liderança do União Brasil na sucessão.

Diante desse cenário, membros do União Brasil já consideram que a candidatura de Elmar Nascimento está perdendo força na disputa, especialmente após a desistência de Marcos Pereira (Republicanos – SP), vice-presidente da Câmara, de participar da corrida pela sucessão. Pereira retirou-se da disputa e indicou Hugo Motta (Republicanos – PB) como seu substituto, o que trouxe mais peso à candidatura de Motta. Este, por sua vez, já iniciou conversas informais tanto com Lula quanto com Bolsonaro, aumentando sua relevância na corrida pela presidência da Câmara.

A reunião de Motta com Lula levantou questionamentos a respeito de seu histórico político, principalmente devido à sua antiga ligação com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que desempenhou um papel crucial no impeachment de Dilma Rousseff. Em 2016, Motta votou favoravelmente ao afastamento de Dilma e ingressou na Câmara em 2010 com o apoio de Cunha.

Por outro lado, Bolsonaro expressou preocupação quanto à proximidade de Motta com o governo atual. Mesmo assim, Motta tem se consolidado como um candidato com capacidade de transitar entre diferentes espectros políticos, conseguindo apoio tanto de setores da esquerda quanto da direita. Um candidato que certamente agrada gregos e troianos.

· 02:35 — Desaceleração organizada

Nos Estados Unidos, o mercado de ações tem demonstrado crescente preocupação com a saúde da economia, e os dados mais recentes sobre o emprego não trouxeram alívio. A Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho, divulgada ontem (4), indicou que o número de vagas de emprego em julho chegou a 7,67 milhões, abaixo da previsão de 8,1 milhões feita pelos economistas. Esse relatório, conhecido como Relatório JOLTS, tem ganhado atenção crescente por parte dos investidores, que estão cada vez mais atentos à situação do mercado de trabalho americano.

Como reflexo dessa apreensão, o índice S&P 500 registrou uma queda de 0,2% no dia, enquanto o Nasdaq Composite caiu 0,3%. Já o Dow Jones Industrial Average apresentou uma leve alta de 0,1%, resultado amplamente influenciado pela composição particular do índice, que é ponderado pelo preço das ações, e não pelo valor de mercado. Assim, empresas como o UnitedHealth Group, com ações cotadas a US$ 604, exercem mais peso no índice do que gigantes da tecnologia como Amazon (AMZO34) e Apple (AAPL34), cujas ações estão sendo negociadas abaixo de US$ 225. No entanto, o desempenho da quarta-feira não foi particularmente animador para o mercado.

Agora, as atenções se voltam para o relatório nacional de emprego de agosto, que será divulgado hoje, assim como os dados sobre pedidos de auxílio-desemprego, em antecipação ao aguardado relatório de payroll de amanhã. As expectativas de cortes nas taxas de juros na próxima reunião do Federal Reserve, prevista para setembro, permanecem em aberto, com os analistas discutindo se a redução será de 25 ou 50 pontos base. Em meio a essa incerteza, o mercado tem observado com interesse a desinversão recente da curva de rendimentos.

Historicamente, o desempenho médio do S&P 500 nos 12 meses subsequentes à desinversão inicial da curva de rendimentos tem sido um ganho de 12,2%, com dados que remontam a 1980. Das seis vezes em que isso ocorreu desde então, o índice subiu em quatro delas, sempre com ganhos de dois dígitos. Vale lembrar que a curva de juros já está invertida há algum tempo, o que continua sendo um fator de influência sobre as expectativas do mercado.

· 03:27 — Mais problemas com a Nvidia

A semana já havia começado mal para a Nvidia (NVDC34), mas piorou ainda mais na quarta-feira (4), quando o Departamento de Justiça dos Estados Unidos emitiu uma intimação à fabricante de chips como parte de uma investigação sobre o possível abuso de sua posição dominante no mercado. A Nvidia negou ontem ter recebido uma intimação formal, embora, mesmo que o termo técnico utilizado não tenha sido esse, a empresa foi de fato solicitada a responder a questionamentos sobre possíveis violações de leis antitruste.

A investigação está focada em coletar informações que possam esclarecer se a aquisição da empresa de software RunAI pela Nvidia foi conduzida de acordo com as normas concorrenciais, além de apurar se a Nvidia concede tratamento preferencial a clientes que adquirem maiores volumes de seus produtos.

Essa notícia chega logo após um impacto significativo no setor de semicondutores, ocorrido na terça-feira, quando a capitalização de mercado da Nvidia sofreu uma perda de 279 bilhões de dólares (equivalente a 9,5%), representando a maior queda em um único dia na história das ações da empresa. Essa queda afetou todo o setor de tecnologia, e a Nvidia ainda não conseguiu se recuperar plenamente desse golpe.

A investigação do Departamento de Justiça tem o potencial de causar danos não apenas à Nvidia, mas também de abalar todo o setor de tecnologia e semicondutores, gerando incertezas sobre o futuro das práticas de mercado e aumentando a pressão sobre as grandes empresas dessa indústria.

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· 04:11 — Movimentação frustrante no mercado de aço

Tudo indica que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, está prestes a bloquear a aquisição da US Steel pela japonesa Nippon Steel, uma transação avaliada em US$ 14,1 bilhões, alegando preocupações relacionadas à segurança nacional. No entanto, essa justificativa poderá enfrentar questionamentos legais, já que a invocação de segurança nacional nesse contexto pode ser difícil de sustentar. O nacionalismo econômico, contudo, vai além do simples comércio de bens, englobando também os fluxos de capital.

O acordo proposto está sob análise do Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos, e Biden pretende vetá-lo assim que a decisão chegar à sua mesa. Como resultado, as ações da US Steel sofreram uma queda significativa, impactando negativamente o setor siderúrgico como um todo.

A fusão enfrenta oposição de diversos lados, incluindo candidatos presidenciais e o sindicato United Steelworkers, em meio a temores de fechamento de fábricas e a possibilidade de que a empresa perca sua sede em Pittsburgh. Outro fator importante nesse contexto é o cenário eleitoral. Kamala Harris também se posicionou contra o acordo.

A justificativa de segurança nacional parece não ter muito fundamento, uma vez que o Japão é um dos aliados mais próximos dos EUA. Além disso, a Nippon Steel não apenas fez uma oferta de US$ 55 por ação, como também se comprometeu a investir US$ 2,7 bilhões para melhorar as operações da US Steel nos Estados Unidos. Isso sugere que a verdadeira motivação por trás da decisão de Biden pode ser política, embora essa estratégia pareça mal calculada.

A US Steel deverá gerar cerca de US$ 1,7 bilhão em fluxo de caixa livre entre 2025 e 2026, e, sem o investimento adicional de US$ 2,7 bilhões, o fechamento de fábricas seria quase certo. A decisão, portanto, pode acabar sendo um autêntico tiro no pé.

· 05:04 — Você já tem fundos de infraestrutura na carteira?

Como já mencionei anteriormente, em outras edições do M5M+, acredito que todo investidor, independentemente do cenário econômico ou perfil, deve considerar a inclusão de fundos listados de debêntures incentivadas em sua carteira.

Naturalmente, proporção e quantidade de fundos irão variar conforme o tamanho da carteira e a estratégia individual de cada investidor, mas vejo essa classe de ativos como estruturalmente atraente.

Existem três principais razões que fundamentam essa tese…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.