Observamos uma alta nos ativos europeus e nos futuros americanos nesta manhã de segunda-feira (9), contrastando com o desempenho mais fraco dos mercados asiáticos, impactados pela inflação abaixo do esperado na China. Essa recuperação no Ocidente vai na contramão do sentimento predominante na semana passada, quando aumentaram as preocupações sobre uma possível recessão.
No entanto, como não acredito em uma recessão iminente, vejo com otimismo o início do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve. O Fed deve começar com uma redução de 25 pontos-base na taxa de juros na próxima semana, já que o dado mais aguardado da semana passada, o payroll de agosto, não foi suficientemente fraco para garantir uma chance de 100% de que o Fed adotaria uma postura mais agressiva no início de seu afrouxamento monetário.
Nos próximos dias, teremos a divulgação dos índices de preços ao consumidor e ao produtor, que ainda podem fortalecer a tese de um corte maior, de 50 pontos-base. Embora o cenário ainda esteja indefinido, o início de um ciclo de cortes de juros parece inevitável. Outro ponto de atenção esta semana é o Banco Central Europeu, que deve reduzir suas taxas de juros na quinta-feira (12), marcando mais um movimento importante no cenário global de política monetária.
A ver…
· 00:57 — O desafio da credibilidade
Na última semana, o Brasil apresentou um déficit no Governo Central maior do que o previsto, reacendendo preocupações sobre a capacidade do governo de alcançar as metas fiscais estabelecidas para este ano e para o próximo.
Membros da equipe econômica, com destaque para o ministro Fernando Haddad, têm enfatizado que o governo não está focado apenas em aumentar a arrecadação, mas também em realizar cortes significativos nas despesas, o que tem ajudado a aliviar parte das preocupações em torno do risco fiscal.
Até o presidente Lula defendeu publicamente uma revisão minuciosa dos benefícios fiscais, embora suas declarações tragam certa inconsistência. Enquanto fala em austeridade, ele também promete aumentos reais no salário mínimo, afirmando que “salário não é gasto”, além de manter a promessa de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais. Essas mensagens contraditórias intensificam os desafios do governo em recuperar sua credibilidade.
Nesse contexto, a desancoragem das expectativas de inflação, a pressão sobre o real (R$ 5,60), a instabilidade fiscal e a comunicação ambígua do Banco Central levantam dúvidas sobre o futuro da política monetária. Hoje, o Banco Central parece inclinado a aumentar a Selic em setembro, provavelmente adotando um ritmo mais moderado, com elevações de 25 pontos-base por reunião. Como o mercado já antecipou essa trajetória de aperto monetário, é provável que os ativos de risco não sofram tanto, especialmente diante de um cenário internacional onde a tendência é de cortes de juros.
Sobre o tema, é essencial acompanhar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, que será divulgado amanhã e pode mostrar uma inflação próxima de zero, o que facilitaria um ajuste menos agressivo por parte do Banco Central, em linha com a projeção de três aumentos de 25 pontos-base, em vez de três de 50.
Além disso, dados importantes de atividade econômica serão divulgados nos próximos dias, como os números do setor de serviços na quarta-feira (11), as vendas no varejo na quinta-feira (12) e o IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, na sexta-feira (13).
- Veja mais: enquanto FGTS Futuro não ‘decola’, brasileiros aprendem estratégia que pode gerar até 50% de ‘desconto’ em imóveis
· 01:45 — Nervosismo
Nos Estados Unidos, o mercado está agora mais convicto em relação à perspectiva de cortes nas taxas de juros do que em qualquer outro momento desde o início da pandemia. No entanto, os investidores não estão celebrando. Em vez disso, a preferência habitual por uma política monetária mais branda foi ofuscada por crescentes preocupações com a saúde da economia.
Uma série de cortes de juros pelo Federal Reserve já foi amplamente precificada nos mercados. Agora, porém, os investidores já prestam atenção no próximo desafio: a inevitável desaceleração que acompanha todos os ciclos econômicos. O importante é que ela seja organizada.
O relatório de emprego da semana passada, que comentarei mais adiante, mostrou que o mercado de trabalho permanece relativamente saudável, mas está claramente em processo de desaceleração. E quanto mais ele desacelera, maior é a inquietação dos investidores. A boa notícia é que o Fed agora tem margem para iniciar os cortes de juros em sua reunião de setembro.
Para reforçar essa tendência, os índices de preços ao consumidor e ao produtor que serão divulgados esta semana podem fornecer mais argumentos a favor dessa decisão. Além disso, o recente corte de juros pelo Banco Central Europeu na Zona do Euro também contribui para esse cenário favorável.
· 02:32 — Fraco, mas não tão fraco
Nos Estados Unidos, o relatório de emprego divulgado na última sexta-feira indicou essencialmente um cenário de “pouso suave” para a economia. Houve sinais de desaceleração nas contratações, mas sem aumentos significativos nas demissões, o que é consistente com um cenário “Goldilocks“, bastante favorável para as ações. O Departamento do Trabalho relatou a criação de 142 mil empregos em agosto, um número abaixo das expectativas dos economistas, elevando a média trimestral de criação de empregos ao nível mais baixo desde meados de 2020.
Além disso, as estimativas para junho e julho foram revisadas para baixo, com uma redução total de 86 mil empregos. A taxa de desemprego caiu para 4,2% em agosto, a primeira queda em meses, enquanto o rendimento médio por hora subiu 0,4% no mês e 3,8% ao longo do ano, superando a inflação. Portanto, a leitura dos dados é mista.
De um lado, há sinais claros de desaceleração no mercado de trabalho, o que praticamente garante um corte de juros pelo Fed. Por outro lado, os dados não foram fracos o suficiente para justificar um corte mais agressivo de 50 pontos-base na próxima reunião, o que, na minha visão, é positivo.
Atualmente, cerca de 75% do mercado precifica um corte de 25 pontos-base, o que parece ideal. Olhando pelo lado otimista, o mercado de trabalho mais equilibrado abre espaço para cortes de juros, o que tende a beneficiar os ativos de risco. Ao mesmo tempo, a ausência de uma fraqueza acentuada nos dados afasta o risco de uma recessão iminente, algo que tem preocupado os investidores.
Além disso, um corte muito grande neste momento poderia ser interpretado como um sinal de desespero. Uma abordagem gradual parece mais adequada nesse momento de transição, sendo mais favorável para os ativos de risco globais.
- Fim do X pode ‘respingar’ nas ações brasileiras? Veja as perspectivas para o Ibovespa em meio à briga de Musk e Moraes.
· 03:29 — Mais taxas
Às vésperas do debate presidencial dos Estados Unidos, marcado para a noite de terça-feira (10), o ex-presidente Donald Trump sugeriu um novo aumento de impostos sobre os consumidores norte-americanos, propondo uma tarifa de 100% para produtos vindos de países que “não utilizam o dólar” em suas transações internacionais. Embora sua retórica em torno de tarifas não seja novidade e possa parecer mais agressiva sob Trump, é importante notar que os democratas não estão tão distantes dessa postura.
Na verdade, durante o governo Biden, os EUA também incentivaram seus aliados a adotarem medidas similares. O Canadá, por exemplo, impôs uma tarifa de 100% sobre veículos elétricos chineses vendidos em seu território. A China condenou a medida e, em retaliação, iniciou uma investigação sobre as exportações canadenses de canola, produto do qual o país asiático importa cerca de 90% da produção canadense.
Vale lembrar que, no final de maio, o governo de Joe Biden quadruplicou as tarifas sobre as importações de veículos elétricos chineses, elevando-as para 100%, sob o argumento de que a China estava subsidiando sua indústria de veículos de emissão zero, prejudicando de forma desleal as montadoras dos EUA. Esse novo capítulo da guerra comercial ocorre num momento em que o Banco do Canadá reduziu sua taxa de juros pela terceira vez consecutiva.
No entanto, o cenário político canadense também é de instabilidade, com o Novo Partido Democrático abandonando a coalizão governista dos Liberais, enfraquecendo ainda mais o já frágil governo de Justin Trudeau, que enfrenta um futuro incerto nas eleições do próximo ano. Se o quadro político permanecer como está, é provável que os conservadores saiam vitoriosos.
· 04:13 — Resolução de conflitos
Após mais de dois meses de impasse, o presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou um político veterano e legislador experiente para assumir o cada vez mais desafiador cargo de primeiro-ministro. A escolha reflete a tendência europeia de nomear tecnocratas em momentos de incerteza política, especialmente quando nenhuma aliança ou partido conseguiu formar uma maioria no Congresso.
Michel Barnier, mais conhecido internacionalmente por seu papel como negociador-chefe da União Europeia para o Brexit, tem uma longa trajetória, ocupando cargos de destaque tanto na França quanto na União Europeia. Com 73 anos, Barnier se tornará o primeiro-ministro mais velho da Quinta República, substituindo Gabriel Attal, o mais jovem a ocupar o cargo.
A principal missão de Barnier será tranquilizar tanto a UE quanto os investidores, demonstrando sua capacidade de conduzir a França para fora da crise política e fiscal que o país enfrenta. Em particular, ele precisará lidar com o grande déficit orçamentário deste ano e garantir a aprovação de um orçamento que vise a redução do déficit para 2025, uma tarefa técnica e desafiadora. Para enfrentar essa missão, Barnier tentará formar um governo de unidade nacional, integrando figuras influentes da centro-esquerda, do bloco centrista de Macron e da centro-direita. Embora difícil, essa coalizão não está fora de alcance. O mercado europeu reagiu positivamente à nomeação. A volatilidade que marcou o mercado francês entre junho e julho parece ter ficado para trás, sinalizando que a escolha de Barnier trouxe um certo alívio e confiança para os investidores.
· 05:01 — O novo iPhone
Chegamos novamente àquela época especial para os investidores da Apple (AAPL34): o aguardado evento de lançamento do iPhone, conhecido como “Glowtime”.
Enquanto os consumidores estão ansiosos para conhecer os novos detalhes de hardware, os investidores estarão atentos a possíveis anúncios relacionados à inteligência artificial generativa, que têm movimentado as ações da empresa.
Vale lembrar que, no início de 2024, as ações da Apple enfrentaram dificuldades, só revertendo o cenário após a divulgação de projetos envolvendo IA generativa, que passaria a ser incorporada aos seus ecossistemas. Historicamente, o dia do lançamento do iPhone não costuma gerar grandes reações no mercado, mas o rumo das ações pode mudar, dependendo do que for revelado no evento.
Estamos entrando em uma dessas janelas positivas?