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Dados de inflação e debate de Trump e Kamala Harris – fique por dentro dos principais destaques desta terça-feira (10)

A divulgação dos dados de inflação no Brasil em agosto movimentam o mercado, enquanto os ativos globais aguardam o debate dos candidatos a presidente dos EUA.

Por Matheus Spiess

10 set 2024, 09:04 - atualizado em 10 set 2024, 09:04

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Imagem: iStock/ Nikada

Ontem (9), observamos um movimento comprador entre os ativos globais, marcando uma recuperação após a onda de preocupações econômicas da semana passada. Agora, os investidores aguardam com expectativa os dados de inflação desta semana, buscando sinais que indiquem a magnitude dos cortes de juros pelo Federal Reserve. 

Se não houver uma recessão, os ativos de risco têm boas chances de encerrar o ano em alta, apesar da volatilidade típica de setembro, que historicamente afeta tanto os mercados dos EUA quanto os do Brasil. Meu cenário base continua sendo de que uma recessão no curto prazo é improvável, o que faz das correções recentes, como as de agosto e da semana passada, boas oportunidades de entrada.

Na reta final do ano, o resultado da eleição americana será um fator determinante para os mercados, e o caminho até lá deve ser observado de perto. O grande destaque no cenário internacional hoje é o debate presidencial americano, que pode influenciar os mercados de maneira significativa.

No contexto atual, observamos uma leve correção nos mercados ocidentais nesta manhã, após os índices asiáticos terem fechado o dia sem uma direção clara, devido a dados mistos da balança comercial da China. As exportações superaram as expectativas, mas a desaceleração das importações, especialmente ruim para o setor de commodities, trouxe cautela. Os mercados europeus enfrentam dificuldade para avançar, assim como os futuros americanos.

Após a alta de ontem, o preço do petróleo recuou, à espera do relatório mensal de produção da OPEP. Além do debate presidencial, a agenda internacional de hoje inclui discursos de autoridades monetárias dos EUA, que podem fornecer mais pistas sobre os próximos passos do Fed em relação aos cortes de juros na semana que vem.

A ver…

· 00:59 — O número de inflação pode ajudar no ambiente doméstico?

No Brasil, o desempenho do mercado foi mais modesto em comparação ao avanço global de ontem (9), com o índice não conseguindo se manter acima dos 135 mil pontos ao fechar a segunda-feira.

Hoje (10), as atenções se voltam para os dados de inflação de agosto, especialmente após o relatório Focus ter indicado uma elevação nas expectativas para a Selic. O ajuste da taxa, já sugerido pela postura do BC, dependerá não apenas do comportamento do índice de preços local, mas também da desancoragem das expectativas e da dinâmica dos cortes de juros no cenário internacional.

Para o IPCA, o mercado projeta uma desaceleração da inflação mensal para 0,02%, em comparação aos 0,13% do mês anterior, e uma redução no acumulado de 12 meses, de 4,50% para 4,28%. Embora esses números sejam positivos, eles não alteram a perspectiva de um aumento na Selic. Caso o IPCA confirme as projeções, poderá reforçar a expectativa de um ajuste mais gradual nos juros. Nada mal…

Ao mesmo tempo, as finanças públicas continuam no centro das atenções. Ontem à noite, a Câmara dos Deputados aprovou o requerimento de urgência para a votação das medidas de desoneração da folha de pagamento e renegociação das dívidas dos estados com a União, com a votação prevista para iniciar hoje no plenário. Embora essa medida possa ser vista como um passo positivo, o Tribunal de Contas da União (TCU) traz uma dose de cautela.

A equipe técnica do TCU está preparando um alerta ao governo sobre o risco de descumprimento da meta fiscal de déficit zero estabelecida para este ano. A principal preocupação é que as receitas extraordinárias, fundamentais para garantir o equilíbrio fiscal em 2024, estão muito abaixo do esperado, com destaque para as arrecadações provenientes do Carf. Fica claro que serão necessárias medidas adicionais de corte de gastos para alcançar a meta fiscal.

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· 01:44 — Falta convicção

Nos EUA, a forte queda da semana passada já parecia distante quando o mercado encerrou ontem em alta. Após sua pior semana em 18 meses, o S&P 500 registrou um avanço de 1,16% na segunda-feira, em linha com o Nasdaq Composite. O Dow Jones Industrial Average também seguiu a tendência positiva, subindo 1,2%.

Embora os mercados mantenham um otimismo cauteloso, refletindo expectativas de que os cortes nas taxas de juros possam evitar uma desaceleração econômica, há uma falta de convicção clara, como demonstrado pela queda dos futuros nesta manhã. Os investidores conseguem aproveitar correções mais acentuadas, como a da semana passada, mas ainda parecem incertos quanto à sustentabilidade desse movimento, dada a incerteza persistente sobre a possibilidade de recessão.

Os dados de inflação desta semana podem trazer mais clareza sobre como essas preocupações estão influenciando os preços dos ativos.

É importante destacar que o dia de ontem foi positivo, apesar das preocupações em torno da gigante Google (GOGL34). A empresa está enfrentando seu segundo processo antitruste em menos de um ano, desta vez sob acusações de manter controle ilegal sobre o mercado de software utilizado para a compra e venda de anúncios digitais, conhecido como “ad-tech”.

Se a Google perder mais este caso, os impactos consecutivos de decisões judiciais poderão afetar significativamente suas fontes de receita, justamente num momento em que a empresa está investindo fortemente em inteligência artificial (IA) para competir com a Microsoft (MSFT34) e várias startups financiadas para desenvolver sistemas de computação cada vez mais avançados. Falando em IA, a Apple (AAPL34) apresentou ontem o iPhone 16, seu primeiro modelo desenvolvido após a parceria com a OpenAI. Esse lançamento marca um passo importante para a empresa, que vinha ficando para trás na corrida pela inteligência artificial generativa, e sinaliza um novo capítulo em sua estratégia tecnológica.

· 02:37 — O grande debate

A vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump se preparam para o aguardado debate desta noite. Este será o segundo debate presidencial deste ciclo eleitoral, mas o primeiro — e possivelmente único — confronto direto entre esses dois candidatos, já que o desempenho de Joe Biden no debate anterior fez com que muitos apoiassem sua substituição como candidato democrata. Com as pesquisas apontando um empate técnico, ambos buscarão se destacar.

Esse debate tem o potencial de adicionar uma nova camada de volatilidade, em um momento em que a incerteza sobre o mercado de trabalho, taxas de juros e questões geopolíticas já vem pressionando os investidores. Com apenas oito semanas até o dia da eleição, o embate entre Harris e Trump pode ser decisivo para determinar o vencedor.

Até agora, a entrada de Kamala Harris revitalizou a campanha democrata, superando as expectativas iniciais. Não só evitou a possibilidade de uma “onda republicana”, como também a posicionou como a favorita nas intenções de voto popular em nível nacional. No entanto, o voto popular tem um impacto limitado nas eleições americanas devido ao sistema do Colégio Eleitoral.

A verdadeira disputa acontece em seis estados-chave: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin. A Carolina do Norte também pode ser considerada, embora eu acredite que ela não será um “swing-state” decisivo, com Trump provavelmente levando o estado.

Além disso, o resultado da eleição será decidido por um grupo relativamente pequeno de eleitores, espalhados por cerca de 45 condados cruciais nesses estados, representando menos de 500 mil eleitores. Isso ilustra a complexidade do sistema eleitoral americano, garantindo que a corrida permaneça incerta até os momentos finais.

Nesse cenário, parece provável que o Congresso permaneça dividido, independentemente de quem vença a Casa Branca, com os republicanos ganhando o controle do Senado e os democratas reconquistando a Câmara. Essa divisão legislativa deve impedir que medidas mais radicais sejam aprovadas nos próximos anos.

· 03:21 — Fragilidade alemã

Hoje foi divulgada a inflação da Alemanha, que subiu 1,9% em termos anuais em agosto, em linha com as expectativas, mas apresentou uma leve queda de 0,1% no mês. Esse resultado veio após dados fracos de atividade econômica divulgados na semana passada, além de resultados eleitorais que chamaram a atenção no final do mês passado.

O desempenho recente da economia alemã tem sido claramente negativo, o que, em parte, explica o crescimento do apoio ao partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD). No entanto, as frustrações dos eleitores do AfD são mais profundas, especialmente entre os moradores da antiga Alemanha Oriental. Muitos perderam a confiança de que os políticos tradicionais possam resolver os problemas econômicos estruturais do país. Esse sentimento é algo que se observa em várias partes do mundo, como nos EUA e até nas eleições municipais no Brasil.

A falta de investimentos em infraestrutura básica nas últimas décadas deixou um legado difícil de ignorar. Sistemas de pensão e saúde estão cronicamente subfinanciados, há uma carência de professores e creches, e o país tem lutado para lidar com o aumento da imigração. A região do leste alemão, em particular, ficou significativamente atrás do oeste em termos de desenvolvimento, e essa disparidade não foi corrigida ao longo dos anos. Pesquisas indicam que eleitores do AfD são frequentemente aqueles que vivem em regiões onde essa percepção de abandono é mais forte. Além disso, o tema da imigração, que já é uma questão central, deve ganhar ainda mais destaque nas eleições do próximo ano.

Dado o contexto atual, é provável que o Partido Conservador, outrora liderado por Angela Merkel, retorne ao poder, embora com uma liderança menos estável e carismática que a da antiga chanceler. Ainda assim, a AfD deverá ganhar mais espaço no parlamento alemão, refletindo as crescentes insatisfações sociais e econômicas. 

· 04:16 — O trabalhador indiano

Até 2030, uma em cada cinco pessoas em idade produtiva no mundo será indiana. Essa projeção impressionante é um dos principais motivos pelos quais tantos economistas enxergam a Índia como o próximo grande motor de crescimento global. No nível mais básico, existem duas formas principais de fazer uma economia crescer: aumentando o número de trabalhadores ou elevando a produtividade de cada trabalhador. A Índia tem potencial para fazer ambas as coisas nos próximos anos, mais do que qualquer outro país.

O primeiro-ministro Narendra Modi tem removido muitos dos obstáculos ao crescimento do país, mostrando-se especialmente eficiente no desenvolvimento de infraestrutura e na atração de investimentos estrangeiros. No entanto, transformar esse potencial em realidade será um enorme desafio. O país precisará criar pelo menos 115 milhões de novos empregos até 2030. Além disso, será fundamental aumentar a proporção de trabalhadores no setor formal, que atualmente representa apenas cerca de 10% da força de trabalho. Essa transição, no entanto, não será tarefa fácil.

· 05:03 — A troca de comando

Nas últimas semanas, as ações da Azzas 2154 (AZZA3) registraram uma queda significativa, com uma desvalorização superior a 13% nos últimos 30 dias. Esse movimento negativo foi intensificado pelo anúncio da saída de Rony Meisler, um dos principais acionistas e fundador da Reserva, a marca mais influente do portfólio da Azzas e principal impulsionadora de crescimento da empresa desde 2019.

A grande questão que surge é: qual o real impacto dessa mudança no comando sobre o futuro da companhia?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.