Investimentos

Mercados europeus sobem em aguardo da decisão do Fed – veja os destaques do mercado nesta terça-feira (17)

As atenções do mercado permanecem sobre a decisão do Federal Reserve de corte de juros dos EUA.

Por Matheus Spiess

17 set 2024, 08:57 - atualizado em 17 set 2024, 08:57

Imagem representando o dólar turismo, uma cotação usada no Brasil nas negociações de dólares feita entre pessoas físicas.

Os investidores internacionais estão atentos ao início da reunião de política monetária do Federal Reserve, que terá sua conclusão amanhã (18), no final da tarde. Enquanto isso, alguns mercados asiáticos, como os da China, Taiwan e Coreia do Sul, permanecem fechados devido a feriados, o que diminui a liquidez global.

No Ocidente, os mercados europeus mostram valorização, com os principais índices do continente atingindo a maior alta das últimas duas semanas nesta manhã, à medida que aguardam a decisão do Fed sobre o corte de juros, o que poderá abrir caminho para uma maior flexibilização por parte da autoridade monetária europeia.

No calendário econômico, destaque para a divulgação da pesquisa alemã ZEW, que avalia o sentimento do mercado. Uma observação interessante é o fortalecimento das expectativas, desde a última sexta-feira (13), de que o ciclo de cortes de juros nos EUA será mais agressivo do que o inicialmente previsto. No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) também dá início à sua reunião, embora o caminho a ser trilhado aqui deva seguir em uma direção oposta à dos países desenvolvidos.

A ver…

· 00:57 — A desancoragem é relevante

No Brasil, a semana começou com uma leve alta no principal índice de ações, mantendo o Ibovespa acima dos 135 mil pontos. Os investidores estão focados nas próximas decisões de política monetária, tanto no cenário internacional, com o Federal Reserve nos Estados Unidos prestes a iniciar um ciclo de corte de juros, quanto no Brasil, onde o Comitê de Política Monetária (Copom) está no centro das atenções.

A expectativa é de que haja um possível aumento na taxa Selic, e como já comentei anteriormente, um ajuste mais contido, em torno de 25 pontos-base, parece ser o mais provável. O que precisa ser evitado é uma divisão no Copom, pois isso poderia gerar um efeito negativo considerável sobre as expectativas do mercado, que já se encontram voláteis, como indicado no Relatório Focus divulgado ontem pelo Banco Central, mostrando uma elevação nas previsões de inflação para 2024, 2025 e 2026.

Grande parte dessa incerteza no mercado está diretamente relacionada à questão fiscal no Brasil, um tema frequentemente abordado. A frustração com algumas iniciativas de arrecadação, como o impacto limitado da implementação do voto de qualidade no Carf, tem levado o governo a buscar alternativas.

Uma dessas alternativas é a expectativa do Ministério da Fazenda de receber cerca de R$ 10 bilhões em dividendos extraordinários do BNDES ainda este ano, com o objetivo de ajudar a equilibrar as contas públicas. Essa arrecadação poderá compensar parcialmente o desempenho fraco de outras medidas fiscais. Propostas mais estruturais, como as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), que envolvem o aumento da idade mínima e ajustes na indexação, são vistas como positivas, mas enfrentam forte resistência política, o que torna sua implementação incerta. Dessa forma, as expectativas permanecem sem uma ancoragem sólida, mantendo a volatilidade no horizonte.

· 01:45 — Apostas agressivas ganham espaço

Nos Estados Unidos, à medida que se aproxima a reunião de política monetária do Federal Reserve, os investidores começam a se alinhar em torno da possibilidade de um corte de juros mais agressivo, o que marcaria o início de um aguardado ciclo de afrouxamento monetário com grande impacto. Atualmente, os futuros de fundos do Fed indicam uma probabilidade de 65% de um corte de 50 pontos-base na taxa-alvo do Fed nesta quarta-feira (18), enquanto a chance de um corte de 25 pontos-base é de 35%.

Essa mudança de perspectiva é significativa em relação ao cenário de apenas uma semana atrás. Até a sexta-feira passada, a maioria dos investidores via a combinação de uma economia relativamente robusta e uma inflação em desaceleração como justificativa para um corte mais cauteloso, quase cirúrgico, nas taxas de juros. Agora, o sentimento parece estar inclinado para uma abordagem mais assertiva.

Embora eu compreenda essa mudança, mantenho um certo ceticismo. Acredito que um corte de 25 pontos-base continua sendo o cenário mais provável, pois um corte de 50 pontos poderia sinalizar que o Fed está mais preocupado com a deterioração da economia do que se imaginava, indicando que seria necessário flexibilizar as condições financeiras para evitar uma recessão iminente. Essa percepção mais sombria poderia acabar gerando preocupações entre os investidores, que até agora se mostraram relativamente confiantes no desempenho da economia dos EUA.

Por outro lado, um corte de 25 pontos seria interpretado como uma medida mais moderada, sugerindo que a economia está em uma trajetória sólida, necessitando apenas de um pequeno estímulo para acelerar o crescimento. A persistente incerteza quanto ao próximo movimento do Fed é atípica, especialmente com a proximidade da reunião.

O Fed passou anos tentando evitar surpresas em suas decisões, geralmente sinalizando suas intenções de forma mais clara. Desta vez, porém, essa oscilação nas expectativas pode fazer parte da estratégia. Vale destacar que não se via uma divisão tão grande entre os investidores sobre o rumo da política monetária do Federal Reserve desde a crise financeira de 2008. Talvez os dados de vendas no varejo e serviços de alimentação para agosto possam ajudar a alinhar melhor as expectativas do mercado antes da decisão final do Fed.

· 02:39 — E as queimadas não param

Os incêndios florestais sem precedentes, que continuam sem dar trégua, estão gerando um impacto econômico substancial no Brasil, ampliando as perdas significativas já enfrentadas pelo setor agrícola. Sendo o Brasil um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, tanto o governo quanto o setor privado reconhecem que esses incêndios representam não apenas uma catástrofe ambiental, mas também uma séria ameaça à reputação dos produtos brasileiros no mercado internacional. Essa situação é agravada pela queda nas colheitas de várias culturas, o que indica que a combinação de incêndios e seca pode desencadear uma crise econômica profunda em 2024 e 2025.

Em resposta, o governo brasileiro tem se empenhado em transmitir, em fóruns internacionais, que os incêndios estão ocorrendo em meio a uma seca severa, apontando também para a possibilidade de ações criminosas que estariam exacerbando a situação. O Brasil também ressalta que outros países enfrentam problemas semelhantes e destaca os esforços internos no combate às chamas. Hoje, o presidente Lula reúne-se com os chefes dos três poderes para discutir a emergência dos incêndios florestais.

Esse cenário crítico coincide com um momento sensível no campo das relações internacionais. Onze países da União Europeia, incluindo líderes como Olaf Scholz, da Alemanha, Luís Montenegro, de Portugal, e Ulf Kristersson, da Suécia, enviaram uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, pedindo a aceleração das negociações para um acordo de livre comércio com o Mercosul. Emmanuel Macron, presidente da França, foi ainda mais enfático, condicionando seu apoio ao acordo e à entrada do Brasil na OCDE a uma mudança significativa na postura ambiental brasileira.

A crise climática, que se reflete agora em incêndios descontrolados, está gerando custos elevados para o Brasil, tanto no aspecto ambiental quanto econômico. Até o momento, o governo tem falhado em apresentar soluções eficazes para conter as queimadas, o que agrava a situação estrutural do país e compromete sua imagem internacional.

· 03:21 — A história do banimento

Não é apenas no Brasil que as redes sociais estão enfrentando momentos de tensão, como evidenciado pelo recente bloqueio do X (antigo Twitter). Em escala global, vimos a prisão do CEO do Telegram, Pavel Durov, que já mencionamos anteriormente, e o emblemático caso da proibição permanente do TikTok nos Estados Unidos, discutido no início do ano.

Agora, a empresa chinesa continua sua batalha judicial para manter sua presença como uma das principais redes sociais no país. Esta semana marcou o início de sua defesa em um tribunal federal de apelações em Washington, onde o TikTok tenta anular uma lei aprovada pelo Congresso em abril. A legislação prevê a proibição do aplicativo em território americano, a menos que seja vendido para uma empresa dos EUA até o próximo ano.

O resultado desse embate entre o TikTok e o Departamento de Justiça não só determinará o futuro da plataforma em seu maior mercado, como também estabelecerá um precedente significativo para outras empresas estrangeiras de mídia social operando nos EUA.

O TikTok, argumentando que a venda até o prazo de janeiro é inviável, tenta convencer um grupo de juízes — em grande parte céticos — de que a proibição violaria os direitos constitucionais de seus 170 milhões de usuários americanos, com base na Primeira Emenda. Os advogados da empresa também contestam a falta de provas substanciais apresentadas pelo Congresso para justificar a proibição em nome da segurança nacional. Paralelamente, criadores de conteúdo que utilizam a plataforma alegam que tal medida seria ilegal, defendendo seu direito constitucional de trabalhar com o editor de sua escolha.

Embora a opinião dos especialistas jurídicos esteja dividida quanto ao desfecho deste caso, a percepção pública parece estar gradualmente se inclinando a favor do TikTok. No entanto, acredito que o aplicativo pode ser efetivamente suspenso, o que aprofundará ainda mais as tensões entre China e Estados Unidos.

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· 04:16 — Fundo soberano

Devem os EUA criar um fundo soberano? A ideia de os Estados Unidos estabelecerem um fundo soberano, semelhante ao da Noruega ou dos Emirados Árabes Unidos, tem ganhado tração nos últimos tempos, com apoio em diversos espectros políticos.

O ex-presidente Donald Trump manifestou apoio à iniciativa durante um discurso sobre sua agenda econômica para um possível segundo mandato, enquanto a administração Biden, de maneira mais discreta…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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