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Na antessala da decisão, corte do Fed é certo e Copom deve elevar Selic – entenda a mudança de ciclo econômico desta quarta-feira (18)

Esta quarta-feira (18) movimentará o mercado brasileiro e global com as decisões do Copom e Fed.

Por Matheus Spiess

18 set 2024, 09:04 - atualizado em 18 set 2024, 09:41

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Imagem: Flickr/Raphael Ribeiro/BCB

Após muito tempo de uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos, o Federal Reserve cortará as taxas de juros hoje pela primeira vez desde a pandemia de Covid-19, período em que foi forçado a implementar cortes emergenciais. Embora haja debate sobre a magnitude desse movimento, o essencial é que o ciclo de flexibilização será iniciado. No Brasil, o cenário será diferente, com o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciando sua decisão sobre a taxa Selic após o fechamento dos mercados, com expectativa de seguir uma direção oposta à dos EUA.

Enquanto o mundo aguarda ansiosamente a decisão do Fed, os mercados asiáticos, retornando em sua maioria do feriado, encerraram esta quarta-feira (18) sem uma direção clara. Já na Europa, as bolsas apresentam desempenho misto, enquanto os futuros americanos sobem de forma tímida nesta manhã. Embora outros dados importantes, como a inflação na Europa, também estejam sendo divulgados, eles acabam ofuscados pela relevância da chamada “Super Quarta“. Estamos à beira de uma mudança significativa no ciclo econômico.

A ver…

· 00:56 — Pode endurecer a política monetária, mas isso não diminui a urgência de realizar cortes nos gastos

Às vésperas das decisões de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o Ibovespa encerrou o dia em leve queda, abaixo dos 135 mil pontos. No Brasil, a expectativa predominante no mercado é de um aumento de 25 pontos-base na taxa Selic, uma projeção que também compartilho. Entretanto, há quem preveja um aumento mais agressivo, de 50 pontos-base.

Após o anúncio, espero um comunicado com tom mais severo do Banco Central, indicando a possibilidade de mais dois ajustes de mesma magnitude até o fim do ano, divergindo de algumas análises que preveem uma aceleração no ritmo dos ajustes. Vale lembrar que o atual patamar de 10,5% já impõe uma forte restrição à economia. Adicionalmente, com a expectativa de continuidade dos cortes de juros nos países desenvolvidos, especialmente nos EUA, novos aumentos mais agressivos por aqui podem se tornar desnecessários.

Além disso, o principal risco permanece no campo fiscal. O crescimento das despesas no primeiro semestre superou as expectativas, pressionando a demanda e dificultando a busca por um ajuste fiscal adequado. O simples aumento dos juros não será suficiente se o governo não conseguir conter os gastos. Embora a arrecadação tenha atingido recordes, o crescimento das receitas tem sido insuficiente para compensar a expansão das despesas, agravada por manobras contábeis que pioram a percepção de credibilidade fiscal. Esse desequilíbrio, apesar de ter impulsionado o crescimento econômico, levou a uma política monetária mais restritiva (devemos finalizar o ano em 11,25% de Selic), criando um cenário que, no longo prazo, é insustentável, especialmente com o aumento da razão dívida sobre PIB (risco de dominância fiscal).

No entanto, pode ser necessário esperar a conclusão das eleições municipais para termos uma visão mais clara da trajetória fiscal. Ontem, o presidente Lula sancionou, com vetos, a lei que prorroga a desoneração da folha de pagamentos, acompanhada de medidas de compensação. Ótimo, mais uma página virada. Agora, o Ministério da Fazenda precisa agir com cautela. Sem cortes substanciais nos gastos e uma recuperação da credibilidade fiscal, corremos o risco de ver uma desvalorização cambial acentuada, ao invés de uma valorização, demandando uma nova rodada de altas nos juros. Este é o cenário de incerteza que os mercados enfrentam neste mês.

· 01:47 — O que importa é a trajetória

Nos Estados Unidos, finalmente chegou o aguardado dia da decisão do Federal Reserve, que será divulgada hoje à tarde, junto com o Sumário de Projeções Econômicas (SEP, na sigla em inglês) e uma coletiva de imprensa do presidente da instituição, Jerome Powell. O Fed já vem se preparando para este momento, e o mercado agora precifica uma probabilidade maior de um corte mais ousado, de 50 pontos-base.

Tradicionalmente, o Federal Reserve evita contrariar expectativas tão amplamente disseminadas — o ideal seria que a comunicação tivesse alinhado as previsões de forma mais coesa. Ainda assim, acredito que um corte de 25 pontos-base seja o desfecho mais provável, ajustando a taxa de juros para a faixa entre 5,00% e 5,25% ao ano.

Caso o corte seja de 0,5 p.p., Powell pode adotar um tom mais cauteloso, sugerindo que o mercado não deve esperar uma série de cortes expressivos nas próximas reuniões. Por outro lado, uma redução de 25 pontos provavelmente deixaria aberta a possibilidade de ajustes maiores futuramente. Independentemente do desfecho, o mais importante é que o ciclo de flexibilização da política monetária terá início — e isso é o que realmente importa.

Além disso, as projeções econômicas do Fed trarão mais detalhes. O relatório, que é atualizado trimestralmente, oferece uma visão das previsões dos membros da autoridade monetária, com destaque para o chamado “gráfico de pontos”, que registra as projeções individuais dos sete membros do Conselho de Governadores e dos 12 presidentes regionais do Fed — 19 pontos anônimos ao todo, sendo a mediana das estimativas destacada. Desde 1990, houve cerca de 50 cortes nas taxas de juros, e apenas sete desses ocorreram quando o índice S&P 500 estava a menos de 1% de uma nova máxima histórica (atualmente, o índice está em 5.634 pontos, próximo ao recorde de 5.667,20 registrado em julho).

A única vez em que o Fed iniciou um ciclo de cortes tão perto de um pico recorde foi em julho de 1995, quando o índice subiu 1,2% no dia e avançou 11% nos seis meses seguintes. Se uma recessão for evitada, os próximos meses podem trazer um cenário positivo para os mercados.

· 02:39 — Nova rodada de investimentos

A BlackRock (BLAK34) e a Microsoft (MSFT34) estão se unindo em uma das maiores iniciativas já vistas para financiar a construção de data centers e infraestrutura energética voltada ao crescimento da inteligência artificial. Com o apoio do veículo de investimento MGX, dos Emirados Árabes Unidos, as empresas pretendem levantar US$ 30 bilhões em capital de private equity, que será alavancado para alcançar até US$ 100 bilhões em investimentos potenciais.

A maior parte dos recursos será destinada a projetos de infraestrutura nos EUA, embora uma parte seja direcionada a países parceiros. O fundo, que está sendo lançado pela BlackRock em conjunto com sua nova unidade de investimento em infraestrutura, a Global Infrastructure Partners (GIP), deve se tornar um dos maiores veículos de investimento já levantados por Wall Street. Além disso, a Nvidia (NVDC34) contribuirá com sua expertise para a operação. Este será o primeiro grande fundo da GIP desde que foi adquirida pela BlackRock por US$ 12,5 bilhões no início deste ano.

· 03:28 — Mais sobre a deflação chinesa

As preocupações com a deflação e suas potenciais consequências para a segunda maior economia do mundo estão crescendo rapidamente.

O temor central é que, se o governo chinês não agir de forma decisiva para enfrentar a deflação, a economia do país poderá sofrer danos irreversíveis. A deflação, caracterizada pela queda nos preços, pode desencadear uma espiral negativa: com a renda das famílias diminuída, o consumo cai ou é postergado na expectativa de novas quedas de preços, o que afeta as receitas empresariais, desencoraja investimentos e leva a mais cortes salariais e demissões.

Alguns indícios sugerem que essa espiral já está em andamento, como demonstrado pela redução de salários iniciais em comparação com os níveis de dois anos atrás. O presidente Xi Jinping, consciente dessa ameaça, pediu recentemente que as autoridades locais intensifiquem seus esforços para garantir que o país atinja suas metas de crescimento.

A situação da China é frequentemente comparada à do Japão nos anos 1990, quando o país enfrentou uma longa estagnação após o estouro de bolhas imobiliárias e financeiras. No entanto, em certos aspectos, a Coreia do Sul no final do século passado pode ser uma analogia mais adequada. Mesmo assim, a China é significativamente maior e mais influente globalmente, e sua desaceleração já está causando preocupação em economias desenvolvidas, como os EUA.

O grande desafio para os líderes em Pequim é reativar os motores de crescimento, compensando os impactos do enfraquecido mercado imobiliário. Parte dessa estratégia envolve o fortalecimento dos laços com o Sul Global, que inclui países em desenvolvimento na África e América do Sul. A China espera que esses mercados emergentes absorvam sua produção de veículos elétricos e painéis solares, ajudando a aliviar a desaceleração econômica doméstica.

· 04:13 — Mais uma vez tensionado

As tensões no Oriente Médio voltaram a se intensificar. O Hezbollah acusou Israel de ter orquestrado um ataque envolvendo pagers no Líbano, que resultou em várias mortes e deixou milhares de feridos. Autoridades libanesas relataram que mais de 2.700 pessoas foram feridas e nove morreram quando pagers sem fio explodiram simultaneamente em diferentes partes do país na tarde de ontem. E sim, você leu corretamente: “pagers”.

O Hezbollah teria adotado o uso desses dispositivos após os ataques de 7 de outubro, temendo que Israel tivesse comprometido seus sistemas de comunicação via celular. O episódio gerou temores de uma escalada para uma guerra em grande escala na região, o que impulsionou os preços do petróleo na terça-feira. 

Apesar dessa escalada, os preços do petróleo voltaram a cair nesta manhã, enquanto investidores lidam com outros fatores, como sinais de aumento nos estoques de petróleo dos EUA e expectativas sobre a política de taxas de juros do Federal Reserve.

No acumulado do ano, a commodity permanece significativamente mais barata, impactada pela fraca demanda da China e pelos planos da OPEP+ de eventualmente retomar o fornecimento anteriormente interrompido, o que tem pressionado os preços. Contudo, tensões geopolíticas, como as de ontem, podem novamente impulsionar uma alta no preço do barril, dependendo da evolução da situação.

· 05:04 — Uma oferta interessante

A Kinea Investimentos, reconhecida por sua atuação no mercado de Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs), administra mais de R$ 30 bilhões nesse segmento.

Desde sua fundação em 2007, a gestora se consolidou como referência no setor de crédito, com destaque para dois dos principais fundos do Índice de Fundos Imobiliários (Ifix): o Kinea Índice de Preços (KNIP11) e o Kinea Rendimentos (KNCR11). No entanto, o objetivo deste texto é apresentar uma nova e promissora oferta…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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