Day One

Em que jogo você está?

Sim. A Bolsa brasileira está barata.

Por Larissa Quaresma, CFA

23 nov 2021, 10:13

Sim. A Bolsa brasileira está barata.

No agregado do Ibovespa, o múltiplo de preço sobre o lucro estimado para os próximos 12 meses está em 7 vezes.  Mais uma vez, criamos uma nova mínima no ano. Na média de outubro, o índice negociou a 7,1 vezes. De setembro, 7,5 vezes. Agosto, 8,5.

O ponto, no olhar dos pessimistas com o país – que têm feito esses preços –, é que esses múltiplos, na verdade, estão caros. Isso porque as estimativas para os lucros do próximo ano, dizem, não refletem a realidade. Então, colocando as estimativas em um patamar mais realista, o múltiplo atual seria, na verdade, mais alto. Quiçá mais alto até que a média histórica.

A narrativa segue que os lucros serão mais baixos por causa de uma inflação crescente, juros ascendentes e economia em desaceleração. Porque as empresas que não conseguem repassar a pressão inflacionária nos seus custos sentirão o impacto nos seus lucros. Ainda, que um juro crescente reduz a demanda por bens e serviços. Com isso, não só as margens seriam pressionadas, mas as receitas também enfrentariam uma desaceleração, em conjunto com toda uma economia em arrefecimento.

No campo das commodities, a demanda chinesa, provavelmente a maior determinante individual dos preços, tem uma expectativa de desaceleração. Para a China, qualquer dado de crescimento além do estelar se torna sinônimo de desaceleração.

Um juro americano com perspectivas de subida também não ajuda, com qualquer ponto percentual a mais no Treasury fazendo um arrasto de capital no mundo todo. Pagando mais, todo mundo quer os títulos soberanos mais seguros do globo. Nesse cenário, não há perdão para as Bolsas de países emergentes.

Pois bem. Essa é a narrativa.

E não digo que está errada.

Com as informações que temos hoje, esse é o cenário mais provável.

O ponto, entretanto, é que estamos em uma zona compradora de Bolsa brasileira – mas não sei por quanto tempo nem com qual intensidade. De fato, pode piorar antes de melhorar.

Quem tem cota diária se vira nos 30 para ganhar dinheiro nesse cenário. Vende Bolsa brasileira para comprar ativos americanos. Entra vendido em juros. Usa derivativos a torto e a direito para mostrar um número positivo no final do mês (ou menos negativo).

Mas e você: qual jogo você está jogando?

Você tem estômago para montar uma estratégia vendida em Brasil e ver seus rendimentos derreterem quando qualquer surpresa eleitoral positiva pode virar o jogo?

Sim, porque o cenário eleitoral virou um fator de decisão relevante para quem movimenta grandes quantias de capital e, no final do dia, os preços.

Você estaria confortável com uma carteira predominantemente internacional sendo que seu poder de compra é definido em reais brasileiros?

Ou, do outro lado da moeda, por quanto tempo você aguenta esperar até que a Bolsa brasileira volte a negociar em patamares normalizados, para colher retornos maiores à frente?

Você está no jogo de mais risco e mais retorno? Ou o caminho inverso?

São perguntas a que você precisa responder.

Se você consegue esperar com algum nível comprado em Bolsa brasileira, readeque sua carteira para atravessar esse momento de incerteza.

Priorize ações defensivas. Evite empresas muito alavancadas. Esteja em empresas líderes nos seus mercados e, se possível, que se beneficiam com uma demanda o mais inelástica possível à variação de preços.

Se você quiser permanecer nessa guerra, que esteja devidamente entrincheirado.

De toda forma, não aceite conselhos de quem joga um jogo diferente do seu.

Sua paz de espírito é soberana.

Um abraço,
Larissa

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.