Nos EUA, o Federal Reserve anunciou o primeiro corte de juros desde março de 2020. O movimento era amplamente esperado pelos mercados, embora a magnitude do movimento tenha sido além do consenso de mercado. O Fed reduziu em 50 pontos-base os juros (ao invés de 25bps), levando o intervalo da taxa básica para 4,75-5,00% ao ano.
Durante a entrevista após a decisão, o presidente Jerome Powell foi habilidoso em evitar que um cenário extremamente brando (dovish) se instaurasse. Powell afirmou que a decisão era parte do movimento de recalibragem da política monetária, que passou a mirar primordialmente a manutenção do cenário de pouso suave (soft-landing).
Powell ainda enfatizou que a autoridade monetária não vê indícios de recessão na atividade americana, mas não deixou uma prescrição futura (forward-guidance) clara em relação aos próximos passos do Fed, embora tenha referenciado o mapa de pontos (dot-plot) atualizado que indica mais dois cortes de 25 pontos-base neste ano e quatro reduções da mesma magnitude em 2025.
Ainda sobre as projeções econômicas atualizadas, houve ajuste na expectativa de crescimento do PIB de 2024, com a previsão sendo elevada para 2,0%. Já a taxa de desemprego foi revisada para 4,4%, mais uma vez refletindo um enfraquecimento no mercado de trabalho. O Fed espera que essa taxa de desemprego se estabilize até 2025, enquanto a inflação de preços deve desacelerar para 2,6% no próximo ano, com uma tendência de queda contínua até 2026.
Olhando para frente, contudo, vemos uma chance não trivial de um novo corte de 50 pontos-base, o que novamente surpreenderia o mercado. Isso porque, os próximos dados de mercado de trabalho ainda devem mostrar uma deterioração do mercado americano, incluindo um aumento da taxa de desemprego acima das expectativas.
Neste caso, o mercado caminharia para uma redução total de 75 pontos-base (e não 50) no Fed Funds neste ano, o que deveria ser bastante positivo para os ativos de risco global.
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Brasil caminha em sentido contrário de olho na pressão inflacionária: risco não trivial
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu um caminho contrário ao dos EUA e elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a.. No comunicado, os destaques foram as revisões para cima das projeções de inflação e de atividade.
Finalmente, o BC reconheceu um hiato do produto positivo, isto é, que o nível de produção ou PIB efetivo do país está acima de seu potencial. O PIB potencial é o nível de produção que uma economia pode sustentar sem gerar pressões inflacionárias, considerando pleno emprego e uso eficiente dos recursos. Consequentemente, o hiato positivo significa que a economia está operando além de sua capacidade normal, o que tende a gerar inflação, devido ao aumento da demanda por bens e serviços além da capacidade produtiva.
Talvez mais importante, a revisão para cima da projeção de inflação sugere a necessidade de um ciclo de aperto de cerca de 200 pontos-base na Selic. Em outras palavras, deveríamos voltar para algo em torno de 12,75% ao ano de juros para trazer a inflação para o centro da meta da autarquia. Não por coincidência, a curva futura de mercado indica hoje uma Selic terminal próxima a esse nível.
Contraditoriamente, a escolha por iniciar este ciclo de aperto monetário com um ritmo de 25 pontos-base (e não 50) demonstrou que o BC optou pela cautela neste momento, assumindo o risco de ficar “atrás da curva”. Acreditamos que esse risco não é trivial.
Portanto, devemos continuar vendo revisões para cima da inflação deste ano e para o horizonte relevante do BC. O câmbio depreciado imprime pressão sobre os itens comercializáveis da cesta do índice de inflação, ao mesmo tempo em que as atuais previsões climáticas para os últimos meses deste ano sugerem a necessidade de bandeira vermelha até o final do ano. No grupo de alimentos, a escalada do preço do boi será sentida no preço da carne, produto que tem um peso relevante no índice.
Preocupação crescente com o risco fiscal brasileiro
Acima de tudo isso, a dinâmica das contas públicas preocupa tanto no que diz respeito ao impulso à demanda quanto à credibilidade institucional.
Na sexta-feira (20), o Ministério do Planejamento divulgou o 4º relatório bimestral de receitas e despesas que ampliou o bloqueio orçamentário em R$2,1 bilhões, totalizando R$13,3 bilhões. Também muito preocupante, houve a reversão completamente inesperada de R$3,8 bilhões no contingenciamento anunciado anteriormente. A medida ficou muito aquém das expectativas do mercado de cerca de R$7 bilhões. Semelhante ao relatório anterior, o detalhamento de onde virá o bloqueio não foi detalhado e só será publicado na próxima segunda-feira (30).
A combinação de prováveis revisões de inflação e a crescente preocupação fiscal deve levar o mercado a desafiar o ritmo atual de aumento da Selic nas próximas reuniões.
Cardápio da semana: 4 CDBs pós-fixados para aproveitar o cenário atual
Características do CDB pós-fixado do Banco Sofisa com liquidez diária | |
Classificação de risco da instituição | Fitch: AA- (bra) |
Público-alvo | Investidores em geral |
Onde encontrar | Sofisa |
Aplicação mínima | R$ 1,00 |
Aplicação máxima | – |
Liquidação | D+0 |
Vencimento (prazo) | 27/09/2027 (1098 dias corridos) |
Rentabilidade anual | 110,00% do CDI |
Tributação | 15% |
Pagamento de juros | No vencimento |
Resgate | Liquidez diária |
Garantias | Fundo Garantidor de Créditos (FGC) |
Horário limite de aplicação | 22h |
Características do CDB pós-fixado do Banco BTG Pactual com liquidez diária | |
Classificação de risco da instituição | Fitch: AAA(bra) |
Público-alvo | Investidores em geral |
Onde encontrar | BTG Pactual |
Aplicação mínima | R$ 50,00 |
Aplicação máxima | – |
Liquidação | D+0 |
Vencimento (prazo) | 24/09/2025 (365 dias corridos) |
Rentabilidade anual | 100,25% |
Tributação | 17,50% |
Pagamento de juros | No vencimento |
Resgate | Liquidez diária |
Garantias | Fundo Garantidor de Créditos (FGC) |
Horário limite de aplicação | 17h45 |
Características do CDB pós-fixado do Banco Daycoval com liquidez diária | |
Classificação de risco da instituição | Fitch: AAA (bra) |
Público-alvo | Investidores em geral |
Onde encontrar | Daycoval |
Aplicação mínima | R$ 1 mil |
Aplicação máxima | – |
Liquidação | D+0 |
Vencimento (prazo) | 24/09/2027 (1095 dias corridos) |
Rentabilidade anual | 110,00% do CDI |
Tributação | 15% |
Pagamento de juros | No vencimento |
Resgate | Liquidez diária |
Garantias | Fundo Garantidor de Créditos (FGC) |
Horário limite de aplicação | 18h |
Características do CDB pós-fixado do Paraná Banco com liquidez diária | |
Classificação de risco da instituição | Fitch: AA- (bra) |
Público-alvo | Investidores em geral |
Onde encontrar | Paraná Banco |
Aplicação mínima | R$ 100,00 |
Aplicação máxima | – |
Liquidação | D+0 |
Vencimento (prazo) | 15/09/2026 (721 dias corridos) |
Rentabilidade anual | 101,00% do CDI |
Tributação | 15% |
Pagamento de juros | No vencimento |
Resgate | Liquidez diária |
Garantias | Fundo Garantidor de Créditos (FGC) |
Horário limite de aplicação | 17h |
As taxas e vencimentos do títulos indicados nas tabelas acima são referentes ao dia 24 de setembro de 2024 e, portanto, são válidos apenas para o dia de hoje (24).
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