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Vale (VALE3) e governo estão mais perto de fechar acordo de reparação sobre Mariana – veja como isso afeta as ações

Em quase uma década de negociações, o acordo da Vale (VALE3) com o governo deve ser um fator relevante aos acionistas da companhia; entenda

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Por Camila Paim

25 set 2024, 11:12 - atualizado em 25 set 2024, 11:12

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Imagem: iStock/ R.M. Nunes

Depois de quase uma década de negociações, a Vale (VALE3) e o governo brasileiro parecem estar prestes a concretizar um acordo de reparação em relação ao desastre de Mariana (MG), conforme informou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.

Durante esse período, a mineradora e a União passaram por discussões intensas sobre valores e prazos de pagamento.  

Dívida da Vale (VALE3) com Mariana (MG)

Em junho deste ano, o governo solicitou um montante de R$ 109 bilhões a serem quitados ao longo de 12 anos, excluindo os R$ 37 bilhões já despendidos em reparações e os R$ 21 bilhões em obrigações futuras. 

Entretanto, a Vale e sua parceira BHP rejeitaram essa proposta, sugerindo em contrapartida um pagamento de R$ 82 bilhões em 20 anos, além das obrigações previstas. 

Atualmente, segundo Casagrande, as partes estão se aproximando de um acordo em torno de R$ 100 bilhões.

Caso o acordo final seja realmente firmado em R$ 100 bilhões, somando-se as reparações adicionais de R$ 21 bilhões, o total alcançaria R$ 121 bilhões. Como a VALE3 possui 50% da Samarco, ela seria responsável pela metade desse montante. Se o pagamento for realizado em 12 anos e com uma taxa de desconto de 5%, o valor presente dessas obrigações seria de cerca de R$ 44,6 bilhões (US$ 8,1 bilhões). 

A mineradora já reservou US$ 4 bilhões para essa finalidade, implicando um impacto adicional de aproximadamente US$ 4 bilhões, que representa cerca de 9% do valor de mercado da Vale.

Na visão de Ruy Hungria, analista de ações da Empiricus Research, o mercado parece já ter precificado um desembolso não provisionado de cerca de US$ 2,5 bilhões. 

“Dessa forma, o impacto real seria mais próximo de 3,5% do valor de mercado, o que é relativamente limitado. Além disso, caso o prazo de pagamento seja estendido, o valor presente das obrigações diminuiria, aliviando ainda mais o impacto sobre as ações”, avalia Hungria. 

Valor de reparação da Vale deve rondar R$ 100 bilhões

Recentemente, o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, confirmou que o valor total a ser pago deve ser em torno de R$ 100 bilhões, mas as reparações podem aumentar de R$ 21 bilhões para R$ 30 bilhões. 

Com essa alteração, o impacto não provisionado aumentaria em US$ 600 milhões, totalizando US$ 8,7 bilhões, dos quais US$ 4,7 bilhões não estariam provisionados, resultando em uma surpresa negativa de cerca de US$ 2,2 bilhões, ou menos de 5% do valor de mercado da empresa.

“Além desse impacto limitado, o fim desse processo eliminaria um dos maiores riscos associados à tese de investimento da Vale”, completa Hungria. 

A empresa também revisou recentemente suas projeções operacionais: 

  • no segmento de minério de ferro, a produção anual prevista foi ajustada para um intervalo entre 323 e 330 milhões de toneladas, superando o teto anterior de 320 milhões;
  • no segmento de níquel, houve uma revisão para baixo na produção esperada, de 160-175 mil toneladas para 153-168 mil toneladas, refletindo o desinvestimento parcial na operação na Indonésia;
  • o custo all-in do níquel foi ajustado de US$ 14,5-16 mil por tonelada para US$ 15-16,5 mil;
  • Os custos com o cobre agora são estimados entre US$ 3,3 e 3,8 mil por tonelada, frente à previsão anterior de US$ 4-4,5 mil.

Mudanças são positivas para as ações VALE3

“Embora essas mudanças não alterem radicalmente o plano original da companhia, são marginalmente positivas, sinalizando que as iniciativas de melhoria de produtividade e redução de custos estão começando a dar frutos, após anos de resultados abaixo do esperado”, comenta o analista.

Segundo Hungria, o iminente encerramento das negociações deve ser uma boa oportunidade de redução de risco para a tese de investimento na Vale. 

“Negociando a menos de 4x EV/Ebitda e com grande pessimismo já embutido nos preços, a Vale continua sendo uma escolha atraente para investidores que buscam valor em um cenário de menor incerteza futura”, recomenda Hungria.

Além da Vale, a equipe de analistas da Empiricus Research separou mais ações recomendadas para buscar lucros na bolsa nos próximos meses. Confira quais são esses ativos neste relatório gratuito.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Sobre o autor

Camila Paim

Jornalista formada na Universidade de São Paulo (USP), com mobilidade acadêmica na Université Lumière Lyon 2 (França). Trabalhou com redação de jornalismo econômico e mercado financeiro, webdesign e redes sociais, além de escrever sobre gastronomia e literatura.