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Inflação dos Estados Unidos, dados de emprego no Brasil e mais: os principais destaques econômicos desta sexta-feira (27)

No cenário internacional, o mercado aguarda o principal dado de inflação dos EUA, o PCE de agosto.

Por Matheus Spiess

27 set 2024, 08:56 - atualizado em 27 set 2024, 08:56

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Imagem: Unsplash

Iniciamos a sexta-feira (27) aguardando o principal dado de inflação dos Estados Unidos, o PCE de agosto, considerado um dos indicadores mais relevantes da semana no cenário internacional.

No momento, as expectativas sobre o próximo corte de juros pelo Federal Reserve estão bastante divididas. Enquanto isso, os mercados europeus seguem em alta, dando continuidade ao movimento positivo observado ontem, à medida que os investidores digerem os números de inflação da Espanha e da França.

Ambos os países apresentaram uma desaceleração nos índices inflacionários, ficando abaixo das previsões do mercado, o que abre espaço para novos cortes nas taxas de juros na região. Hoje, as declarações de autoridades monetárias europeias podem reforçar essa possibilidade.

Esse otimismo na Europa reflete um padrão semelhante ao visto nos mercados asiáticos, onde os principais índices também registraram ganhos, impulsionados pela série de estímulos econômicos da China. O governo chinês reduziu o volume de reservas obrigatórias que os bancos devem manter e cortou uma das taxas de juros básicas, ações que continuam a reverberar positivamente nos mercados da região.

Nos Estados Unidos, os futuros estão operando em leve queda enquanto o mercado aguarda o resultado do PCE. Por outro lado, no mercado de commodities, tanto o petróleo quanto o minério de ferro apresentam valorização nesta manhã, contribuindo para uma possível recuperação nos mercados globais.

A ver…

· 00:57 — Não há como fugir do aperto monetário

No Brasil, enquanto aguardamos os dados de emprego do mercado local — incluindo a taxa de desemprego da Pnad e a geração de empregos do Caged, previstos para esta manhã — e o IGP-M de setembro, o mercado segue repercutindo o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem (26). Assim como o comunicado que acompanhou a decisão do Copom na semana passada e a ata da reunião divulgada na terça-feira, o relatório reforçou o tom hawkish (contracionista) do Banco Central. No entanto, isso não impediu o Ibovespa de alcançar seu maior patamar em uma semana, impulsionado pelo otimismo dos investidores com as promessas de novos estímulos econômicos por parte do governo chinês, que beneficiaram especialmente ações ligadas a commodities.

O cenário, no entanto, torna-se cada vez mais claro em relação ao ciclo de aperto monetário no Brasil, que deve levar a Selic para 12%, ou até acima disso, como algumas instituições financeiras já começaram a prever. O Relatório Trimestral de Inflação trouxe estimativas de que o IPCA permanecerá fora da meta até pelo menos o início de 2027, quando deve atingir 3,2%. Para os 12 meses até o segundo trimestre de 2026, o Banco Central projeta inflação de 3,5%, o mesmo valor estimado para o horizonte relevante atual da política monetária, que é o primeiro trimestre de 2026. Isso sinaliza que será necessária uma alta da Selic maior do que a prevista pelo mercado (para além do apontado no relatório Focus) para trazer a inflação de volta à meta.

Embora eu acredite que o Banco Central continuará elevando os juros, mantenho certo ceticismo quanto à intensidade desse aperto. Não estou convencido pelas projeções que apontam a Selic em 13% no início do próximo ano como o ponto final do ciclo de alta. Ainda há muitas variáveis em jogo até lá, especialmente no que diz respeito à continuidade da queda dos juros em economias desenvolvidas (notavelmente, os EUA), à implementação de novas medidas de contenção de gastos pelo governo — o próximo relatório de avaliação de receitas e despesas primárias será divulgado no final de novembro (dia 22) — e à tendência de fortalecimento do real. 

Falando em câmbio, além do diferencial de juros que favorece nossa moeda, os estímulos da China impulsionam o mercado de commodities e atraem fluxo de capital estrangeiro para a bolsa brasileira. Tanto que as apostas de investidores estrangeiros contra o real caíram para US$ 65,7 bilhões, o menor nível desde maio. No entanto, o problema continua sendo a situação fiscal. O Ministério da Fazenda projeta uma piora na trajetória da dívida bruta do governo geral, apesar das novas previsões de crescimento do PIB.

O relatório da Fitch, publicado ontem, fez duras críticas à condução da política fiscal brasileira. A situação fiscal é precária e há dúvidas sobre se o governo tem plena consciência da gravidade do cenário. Para ilustrar o ponto, a Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado Federal, revisou sua projeção para a dívida bruta do governo geral, que deve subir para 80,01% do PIB em 2024, acima dos 78% previstos anteriormente. Ou o governo revê sua trajetória de gastos, ou a situação fiscal só tende a piorar ainda mais.

· 01:45 — Mais um para a conta

O S&P 500 registrou seu 42º recorde de fechamento neste ano, impulsionado por dados que ressaltam a resiliência da economia dos EUA e pelo compromisso dos líderes chineses de intensificar os gastos fiscais. Nos Estados Unidos, o último relatório sobre o mercado de trabalho indicou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego somaram 218 mil na última semana, cerca de 6 mil a menos do que o previsto pelos analistas.

Além disso, os pedidos de bens duráveis ​​permaneceram estáveis em agosto, contrariando as expectativas de uma queda de quase 3%. Enquanto isso, o crescimento do produto interno bruto (PIB) do segundo trimestre foi confirmado em 3% na base anualizada, de acordo com a terceira estimativa divulgada ontem.

Esses números reforçam o otimismo demonstrado pelo Federal Reserve na semana passada. O presidente Jerome Powell apresentou uma visão positiva da economia, mesmo após o banco central ter reduzido a taxa de fundos federais em meio ponto percentual, numa tentativa de apoiar um mercado de trabalho que apresenta sinais de desaceleração. O cenário atual aponta para a possibilidade de novos cortes de juros sem uma recessão iminente, o que seria extremamente favorável para os ativos de risco. Agora, o foco volta-se para o ritmo desse ciclo de flexibilização monetária e o tamanho dos cortes futuros.

O Índice de Preços para Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de agosto, a ser divulgado hoje, pode fornecer pistas valiosas. A expectativa de consenso é de uma alta anual de 2,3%, ligeiramente abaixo do registrado em julho. O núcleo do PCE, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve mostrar uma alta de 2,7%, após um aumento de 2,6% no mês anterior. Caso o dado seja mais fraco do que o esperado, pode reforçar a tese de um corte de 50 pontos-base em novembro, enquanto números mais fortes sustentariam a possibilidade de uma redução mais modesta de 25 pontos-base.

· 02:32 — Hora de ganhar dinheiro

A OpenAI, conhecida por criar o ChatGPT e ser uma pioneira no campo da inteligência artificial (IA), está passando por uma grande reestruturação, mudando de uma organização sem fins lucrativos para um modelo com fins lucrativos. Fundada em 2015 como uma entidade sem fins lucrativos, a empresa depois criou uma subsidiária com fins lucrativos, mantendo por anos a narrativa de que esse status permitia atingir seus objetivos de desenvolver “inteligência digital avançada” sem as pressões de gerar retornos financeiros. No entanto, com a mudança proposta, essa postura muda significativamente, já que o conselho da OpenAI passará a ter uma posição minoritária, transferindo o controle total para o CEO Sam Altman.

A principal razão para essa transformação? O status “sem fins lucrativos” não é exatamente atraente para investidores. A nova estrutura abre portas para maiores investimentos: a empresa busca um novo aporte de US$ 6,5 bilhões, elevando seu valor de mercado para US$ 150 bilhões, o que a coloca entre as companhias de capital fechado mais valiosas do mundo. Além disso, a mudança permite que Altman, que claramente está jogando com astúcia, adquira uma participação acionária, possivelmente de 7%, o que representaria cerca de US$ 10 bilhões.

Contudo, essa reestruturação não foi recebida de forma unânime. Diversos executivos importantes já manifestaram sua saída da empresa. Entre os 11 fundadores originais, restam apenas dois: Altman e um cientista da computação. Essa transição, no entanto, provavelmente está sendo celebrada pela Microsoft, uma das principais parceiras da OpenAI.

· 03:26 — Para baixo de US$ 72 por barril novamente

Nesta manhã, o petróleo dá sinais de recuperação após uma queda acentuada ontem, quando o preço do barril recuou mais de 1%, ficando abaixo de US$ 72. A recente desvalorização foi impulsionada pelo anúncio de que a Arábia Saudita planeja aumentar sua produção a partir de dezembro, uma decisão que pode exercer ainda mais pressão sobre os preços. A maior exportadora de petróleo do mundo está se distanciando de sua meta não oficial de manter o barril em torno de US$ 100, marcando uma mudança significativa na estratégia da OPEP+, que vinha cortando a produção desde 2022 para sustentar o mercado.

A motivação por trás dessa mudança estratégica é a tentativa saudita de recuperar sua fatia de mercado, mesmo sabendo que precisa de preços entre US$ 90 e US$ 100 por barril para equilibrar seu orçamento. A frustração com a falta de comprometimento de alguns membros da OPEP em aderir aos cortes de produção também influenciou essa decisão. Além disso, a expectativa de um aumento na oferta de petróleo da Líbia contribuiu para a revisão das projeções do mercado, que até então estavam otimistas devido às recentes medidas de estímulo monetário adotadas pela China.

No Oriente Médio, há discussões em torno de um possível cessar-fogo entre Israel e grupos extremistas apoiados pelo Irã, tanto em Gaza quanto no Líbano, o que, em teoria, poderia aliviar a pressão sobre os preços do petróleo. No entanto, os confrontos no norte de Israel com os xiita libaneses do Hezbollah continuam a se intensificar.

Embora um conflito maior entre Israel e a proxy terrorista iraniana seja amplamente visto como inevitável, a superioridade militar de Israel tende a prevalecer, especialmente na ausência de um apoio direto do Irã, algo que, apesar de possível, permanece improvável. O risco de uma escalada no conflito ainda existe e, sem dúvida, seria muito prejudicial, mas a probabilidade de uma intensificação significativa parece menos iminente, mesmo que as tensões na região sigam alimentando a volatilidade nos mercados.

· 04:13 — Mais sobre os veículos chineses

O novo Ministro das Relações Exteriores da França manifestou firme apoio ao plano da União Europeia de impor tarifas sobre veículos elétricos fabricados na China, justificando a medida pelos subsídios estatais que têm impulsionado a liderança chinesa nesse mercado.

Segundo o ministro, essa ação de reciprocidade é essencial para que a Europa mantenha sua independência, fortaleça sua economia e consolide sua autonomia estratégica. Embora essa posição possa gerar controvérsias, ela simboliza mais um capítulo na escalada da guerra comercial com a China, que já havia sido intensificada por medidas dos EUA contra a indústria automobilística chinesa.

Ao mesmo tempo, é interessante observar que os consumidores europeus compartilham do mesmo ceticismo em relação aos veículos elétricos chineses que se vê no Brasil. Questões como qualidade, durabilidade e valor de revenda estão no centro das preocupações dos compradores na Europa. A estratégia de preços agressiva adotada por marcas como a BYD, eficaz na China, não tem surtido o mesmo efeito no mercado europeu, onde a percepção de que esses carros são de baixo custo tem gerado desconfiança entre os consumidores. Vale lembrar que marcas japonesas e coreanas também enfrentaram desafios semelhantes antes de serem amplamente aceitas no mercado europeu, o que sugere que essas marcas chinesas podem seguir um caminho similar até conquistar a confiança dos consumidores no continente.

· 05:04 — Investindo pesado

A Microsoft anunciou um robusto investimento de R$ 14,7 bilhões no Brasil ao longo dos próximos três anos, com foco na expansão de suas operações em computação em nuvem e inteligência artificial (IA). O anúncio foi feito pelo CEO global da empresa, Satya Nadella, durante um evento em São Paulo, e segue o investimento de US$ 1,3 bilhão realizado recentemente pela companhia no México, também voltado para infraestrutura de nuvem e IA. No entanto, a Microsoft…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.