Investimentos

Flexibilização na China e discurso de Jerome Powell agitam mercado nesta segunda-feira (30)

Os mercados europeus e os futuros americanos registram queda no início desta semana, com atenção voltada para a fala de Jerome Powell, presidente do Fed.

Por Matheus Spiess

30 set 2024, 09:10 - atualizado em 30 set 2024, 09:13

ibovespa bolsa mercado ações gangorra

Imagem: iStock/ Nuthawut Somsuk

Os mercados asiáticos seguem em alta, dando continuidade ao movimento positivo que começou na semana passada, apesar de uma nova rodada de dados decepcionantes sobre a atividade econômica da China, com o setor industrial abaixo de 50 pontos, sinal de contração. O principal fator que sustenta esse otimismo é a série de estímulos do governo chinês, que incluiu novas medidas de apoio ao setor imobiliário.

Agora, três das maiores cidades do país flexibilizaram as regras para a compra de imóveis, o que acontece às vésperas do feriado da Golden Week, que começa na quarta-feira. Essas iniciativas, junto das demais já apresentadas, fazem parte de um esforço para que a China alcance sua meta de crescimento do PIB, estabelecida em 5% para este ano.

Enquanto isso, os mercados europeus e os futuros americanos registram queda no início desta semana. A atenção dos investidores está voltada para a aguardada fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, prevista para hoje (30) à tarde, e para os dados do mercado de trabalho dos EUA, que começam a ser divulgados amanhã com o relatório Jolts sobre rotatividade de mão-de-obra, seguido pelo relatório ADP na quarta-feira e o relatório oficial de emprego, o payroll, na sexta-feira.

Esses dados serão fundamentais para moldar as expectativas do mercado quanto ao próximo corte de juros pelo Fed, previsto para novembro. Entre as commodities, o petróleo registra nova queda nesta manhã, enquanto o minério de ferro segue em alta, refletindo as expectativas renovadas para a economia chinesa após os anúncios de estímulo.

A ver…

· 00:57 — Patinho feio?

No Brasil, o quadro de pressões inflacionárias continua a se agravar, com fatores como o mercado de trabalho aquecido e a adoção da bandeira tarifária vermelha nível 2 nas contas de energia elétrica contribuindo para intensificar a situação. Além disso, a persistente incerteza fiscal está minando o apetite dos investidores por ativos de risco, com muitos já antecipando que a taxa Selic poderá alcançar, ou até ultrapassar, os 12%. Essas expectativas são reforçadas pela recente queda nos preços do petróleo, que restringe a margem da Petrobras (PETR4) para reduzir os preços dos combustíveis.

No campo fiscal, o mercado acompanha com atenção as declarações do ministro Fernando Haddad, que concedeu uma entrevista esta manhã. Além disso, espera-se que os dados consolidados do setor público referentes a agosto revelem hoje um déficit em torno de R$ 20 bilhões. Fora isso, a semana também trará importantes indicadores de atividade econômica, como os números da produção industrial de agosto e das vendas de veículos em setembro.

Esses fatores vêm após a divulgação dos dados de emprego, na semana passada, que mostraram a criação de 232,5 mil novos postos de trabalho em agosto, um resultado levemente abaixo das expectativas. Ainda assim, o saldo do ano permanece positivo, com aproximadamente 1,7 milhão de empregos criados, um aumento de 24% em relação ao mesmo período de 2023. O aquecimento do mercado de trabalho ajudou a reduzir a taxa de desemprego para 6,6% em agosto, um nível inferior ao previsto pelo mercado, e continuou a impulsionar a massa salarial, intensificando as pressões inflacionárias e sustentando as expectativas de novas altas na Selic.

Contudo, o maior desafio para o Brasil segue sendo a questão fiscal. O aumento da Selic, sem um ajuste estrutural nas contas públicas, não será suficiente para resolver os problemas. A desancoragem das expectativas inflacionárias torna cada vez mais difícil para o Banco Central atingir sua meta de inflação, a menos que a política monetária se torne ainda mais rigorosa com elevações adicionais da taxa de juros.

· 01:45 — A semana do emprego

Setembro é historicamente o mês mais desafiador para o mercado de ações dos EUA, mas os investidores estão otimistas com a possibilidade de registrar o primeiro ganho em um mês de setembro desde 2019. Na semana passada, os principais índices americanos fecharam em alta, impulsionados pela celebração do corte de 50 pontos-base nas taxas de juros pelo Federal Reserve, o primeiro ajuste desse tipo em quatro anos. Na sexta-feira, o Dow Jones Industrial Average atingiu mais um recorde de fechamento, enquanto o S&P 500 já havia renovado seu recorde na quinta-feira (26).

Agora, as atenções se voltam para os próximos eventos da semana, especialmente o aguardado relatório de empregos de setembro, que será divulgado na sexta-feira (27). A expectativa é que o mercado de trabalho americano adicione cerca de 140 mil empregos no período e mantenha a taxa de desemprego estável em 4,2%.

A semana passada trouxe indicadores que reforçam a possibilidade de novos cortes nas taxas de juros, incluindo o índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE), o indicador de inflação preferido do Fed, que veio abaixo das expectativas. Esses dados mais fracos aumentam a probabilidade de um novo corte de 50 pontos-base em novembro. Antes do aguardado relatório de empregos, os investidores também estarão atentos à pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de mão de obra, que será divulgada na terça-feira, e ao relatório ADP, previsto para quarta-feira.

· 02:32 — Mudança no Império do Sol Nascente

No Japão, as atenções estão voltadas para a transição de liderança no Partido Liberal Democrata (PLD), que dominou o cenário político do país por grande parte do tempo desde 1955. Shigeru Ishiba, vencedor da eleição interna do partido após um segundo turno apertado na semana passada, está prestes a se tornar o novo primeiro-ministro, assumindo o cargo amanhã.

Aos 67 anos, Ishiba já atuou como ministro da Defesa, mas, nos últimos anos, manteve distância do governo e até chegou a sair do PLD temporariamente para se juntar à oposição. Esse afastamento, curiosamente, pode ter favorecido sua eleição, à medida que o partido busca renovar sua imagem após uma série de escândalos financeiros e outros problemas. A eleição ocorreu em consequência da renúncia de Fumio Kishida, anunciada em agosto.

Quanto às políticas de Ishiba, ele, assim como outros candidatos, defende uma aliança forte com os Estados Unidos, o reconhecimento da soberania de Taiwan e uma postura assertiva em relação à China — a ponto de apoiar a criação de uma versão asiática da OTAN. Ishiba sinalizou o desejo de estabelecer uma relação mais equilibrada com o principal aliado formal do Japão, os EUA, o que pode gerar tensões diplomáticas.

Resta ver se sua abordagem individualista será capaz de restaurar a confiança no PLD antes das eleições gerais, que devem ocorrer em até um ano. A posse de Ishiba está marcada para amanhã, quando Kishida e seu gabinete deixarão oficialmente seus cargos, abrindo espaço para a formação de um novo governo. Em relação ao mercado, Ishiba tem se mostrado favorável a medidas como possíveis aumentos de impostos para equilibrar o orçamento e elevações nas taxas de juros, o que poderia fortalecer o iene — uma política já conhecida e com impactos amplamente discutidos.

· 03:29 — Uma grande vitória para Israel

Em um dos ataques mais impactantes contra o Hezbollah, as Forças de Defesa de Israel conduziram bombardeios que resultaram na morte de pelo menos 20 membros de alto escalão do grupo xiita, incluindo seu líder e fundador, Hassan Nasrallah. Além dele, Nabil Kaouk, vice-chefe do Conselho Central do Hezbollah, e Ali Karaki, outro comandante de destaque, também foram mortos.

Esses acontecimentos representam um duro golpe para a organização extremista, que conta com o apoio do Irã e que tem mantido ataques no norte de Israel desde os atentados terroristas do Hamas no ano anterior. A operação não apenas reforçou a confiança das forças israelenses, mas também desencadeou bombardeios subsequentes no centro de Beirute, focados em alvos relacionados ao Hezbollah.

Essa ação foi vista como uma vitória estratégica para Israel e um impulso para o primeiro-ministro Netanyahu, que vinha enfrentando altos índices de desaprovação interna. Em termos de impacto econômico, os mercados se preparam para potenciais repercussões, especialmente com relação aos preços do petróleo e ao aumento da procura por ativos de refúgio seguro, dado o cenário de instabilidade na região.

· 04:16 — A difícil fase do multilateralismo

O multilateralismo tem enfrentado sérios desafios recentemente, especialmente no contexto das Nações Unidas, a maior organização multilateral do mundo. O Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, não conseguiu evitar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Da mesma forma, uma resolução para o conflito em Gaza permanece distante. Além disso, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU não apenas estão fora de curso, mas parecem regredir em alguns aspectos. Os princípios fundamentais da ONU — paz, segurança e cooperação — soam cada vez mais distantes em um mundo que se fragmenta em blocos e coalizões.

No entanto, há sinais de que um ponto de virada pode estar próximo, especialmente com o octogésimo aniversário da ONU se aproximando (a organização atualmente tem 78 anos). Na semana passada, a Assembleia Geral sediou a primeira Cúpula do Futuro, que serviu como um teste para a capacidade da ONU de lidar com um dos maiores desafios e oportunidades do nosso tempo: a inteligência artificial. A questão que surge é se a ONU poderá provar que o multilateralismo ainda tem relevância em meio à crescente fragmentação geopolítica. A resposta a essa pergunta dependerá de como as ideias discutidas nos últimos dias se desenvolverão e amadurecerão.

· 05:01 — Não para de subir

Os investidores continuam otimistas com o desempenho dos metais preciosos, cuja demanda atingiu novos patamares em 2024. O ouro, por exemplo, quase chegou à marca histórica de US$ 2.700/oz pela primeira vez. Outros metais preciosos seguem essa tendência, impulsionados por um Federal Reserve que, após encerrar o ciclo de altas nas taxas de juros, adotou uma postura mais cautelosa…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.