“O grande problema brasileiro é a questão fiscal”, afirmou Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research, nesta segunda-feira (30). Segundo o estrategista-chefe da casa, o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, divulgado na semana anterior, evidencia uma questão estrutural brasileira enfrentada continuamente pelos governos.
Meta fiscal ainda deve se concretizar, mesmo com relatório decepcionante
Na visão de Miranda, o governo adotou uma “postura de pé na tábua” nos gastos. O modelo de receita e despesa entregue foi “uma peça muito ruim”.
Nas despesas, por exemplo, não contam as ajudas para as queimadas que se alastram pelo país e para as regiões afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul, afirma o analista.
“A meta fiscal virou o objetivo final, mas o cumprimento traz uma série de dúvidas sobre a saúde da economia brasileira”, criticou o analista durante live em seu Instagram nesta segunda-feira (30).
Em seu ponto de vista, o país deverá conseguir bater a meta de 2024. Contudo, também deve caminhar para uma dívida pública acima do patamar de outros mercados emergentes.
Em um “descontingenciamento” de recursos, o bloqueio do orçamento apresentado apresentou um valor bem abaixo do que era esperado. Ou seja, o governo pretende “poupar menos” do que se esperava, a fim de bater a meta fiscal. Com isso, tanto o déficit primário como a dívida pública deverão ser impactados. “A gente viu em setembro uma deterioração da credibilidade da política fiscal brasileira”, aponta.
Taxa Selic vai voltar aos 12% ao ano?
No âmbito monetário, a alta da taxa Selic nesta última reunião do Copom parece ser apenas o começo de um ciclo de aperto. “O Brasil está crescendo acima do potencial nos dados do PIB. Desse jeito, as expectativas de inflação estão desancoradas até 2027”, comenta Miranda.
O estrategista relembra outras crises financeiras enfrentadas pelo país, como em 2010 e 2012, em que os mesmos dados refletiam crescimento: “quando o Estado age como grande promotor de crescimento, você contrata uma dívida mais para frente”.
Em seus cálculos, esta situação “na contramão do mundo” (em geral, os países estão cortando juros) pode elevar a Selic em 2,0 pontos percentuais ou 2,5 pontos, ultrapassando os 12% ao ano.
Mercado aguarda rali de fim de ano na bolsa
O rali de fim de ano – época em que as ações tendem a se valorizar na bolsa de valores brasileira – ainda é incerto.
No curto prazo, o analista afirma que a sazonalidade para os meses entre outubro e dezembro são historicamente positivos para a bolsa, com as empresas desempenhando bem no quarto trimestre. “A bolsa está realmente muito barata e o Kit Brasil especialmente”, defende Miranda.
Além disso, ele acredita que dois elementos externos importantes ainda devem ajudar a precificar as ações neste final de ano:
- A redução das taxas de juros pelo Federal Reserve, aumentando a atratividade para outros mercados;
- O cenário sem risco de recessão nos EUA, em clima de “goldilocks” (alegoria ao mingau morno de temperatura ideal da personagem Cachinhos Dourados).
Neste momento estratégico, Felipe Miranda e a equipe de analistas da Empiricus Research separou uma lista com 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. O relatório completo e gratuito pode ser acessado aqui.