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Novo CEO da Vale (VALE3) assume e mercado aguarda discurso de Campos Neto – confira os eventos econômicos desta terça-feira (1º)

Hoje iniciamos não apenas o mês de outubro, mas também o quarto trimestre do ano, tradicionalmente marcado pelo chamado “rali de final de ano”.

Por Matheus Spiess

01 out 2024, 09:24 - atualizado em 01 out 2024, 09:24

Vale VALE3

Imagem: Divulgação

Hoje iniciamos não apenas o mês de outubro, mas também o quarto trimestre do ano, tradicionalmente marcado pelo chamado “rali de final de ano“. O dia começa com menor liquidez devido ao feriado da Golden Week na Ásia, que manteve alguns mercados fechados.

Enquanto isso, os índices europeus mostram certo otimismo nesta manhã de terça-feira (1º), apesar de dados econômicos mais fracos na região, como os PMIs industriais da Alemanha, da Zona do Euro e do Reino Unido, o que fortalece a expectativa de novos cortes de juros por lá.

No mercado de commodities, o petróleo volta a registrar queda, mesmo com o início da incursão militar israelense no Líbano, cujo objetivo é neutralizar membros da proxy iraniana extremista Hezbollah, que vem conduzindo ataques aéreos no norte de Israel desde os atentados terroristas do ano passado — as perspectivas de oferta falam mais alto, com a Opep+ se reunindo amanhã. O minério de ferro, por sua vez, corrige parte dos ganhos recentes.

O foco central neste início de mês recai sobre os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos, que podem consolidar a perspectiva de um corte de 50 ou 25 pontos-base na próxima reunião do Federal Reserve, em novembro. A relevância desses indicadores econômicos é muito maior do que as declarações esporádicas de autoridades monetárias, como as vistas em demasia na semana passada. Supervalorizar tais falas pode distorcer a análise, tornando-a excessivamente influenciada por questões de curto prazo e repleta de ruídos.

É preciso cautela. As declarações de membros do FOMC são frequentemente ajustadas, e o discurso de Jerome Powell ontem seguiu o tom do último Sumário de Projeções Econômicas do Fed (da mediana), sem trazer novidades significativas. No entanto, investidores mais ansiosos tendem a buscar qualquer justificativa para seus movimentos no mercado, o que reforça a volatilidade em torno de eventos e pronunciamentos.

A ver…

· 00:56 — Horizonte comprometido

Conforme nos aproximamos do final do ano, um cenário promissor para o Brasil poderia se desenrolar, por conta da queda de juros nos EUA, caso o persistente problema fiscal não continuasse a ser um dos maiores entraves ao país. Essa questão mantém a pressão sobre o Banco Central, forçando a autoridade monetária a adotar uma postura mais rígida, o que pode resultar em novas elevações da taxa de juros. As atenções do mercado estão voltadas para a fala de Roberto Campos Neto em um evento relevante hoje (1º), especialmente após a divulgação do último relatório Focus, na segunda-feira (30), que apontou uma piora nas expectativas econômicas. O boletim revisou para cima tanto a mediana da inflação quanto a projeção da Selic, sugerindo agora duas possíveis elevações de 50 pontos-base em 2024 como cenário-base.

Setembro foi um mês desafiador para os ativos brasileiros, que sofreram mais do que o desempenho do índice do mercado reflete, em grande parte por conta do suporte proporcionado pelas commodities, em especial o minério de ferro, que apresentou uma recuperação na segunda metade do mês (efeito dos estímulos chineses). Embora haja espaço para melhorias até o final do ano, o caminho promete ser árduo, com o problema fiscal se mantendo como a principal barreira para o avanço econômico.

Em agosto, a Dívida Bruta do Governo Geral, como proporção do PIB, subiu para 78,55%, o nível mais alto desde outubro de 2021, quando atingiu 79,51%. Esse aumento acentua o receio de que a política monetária perca eficácia no combate à inflação, especialmente em um contexto de dominância fiscal. Além disso, o setor público registrou um déficit primário de R$ 21,4 bilhões em agosto, em linha com as expectativas de mercado. Nos últimos 12 meses, o déficit primário diminuiu levemente, enquanto os pagamentos de juros somaram R$ 855 bilhões (7,5% do PIB), um pouco abaixo dos R$ 869,8 bilhões (7,7% do PIB) observados em julho.

O déficit nominal do setor público atingiu R$ 90,4 bilhões em agosto e acumulou R$ 1,1 trilhão (9,8% do PIB) nos últimos 12 meses, sinalizando que o governo do presidente Lula provavelmente concluirá seu terceiro mandato com déficits fiscais contínuos ao longo de sua gestão. Esse cenário é caracterizado por uma crescente discrepância entre o forte crescimento das receitas e uma expansão ainda mais acelerada dos gastos, o que tem contribuído para o aumento da dívida pública.

O quadro fiscal, assim, permanece como a principal fonte de incerteza para o Brasil, sem sinais de uma mudança estrutural significativa que possa alterar essa tendência, aumentando os desafios econômicos que se desenham no horizonte.

· 01:45 — Cuidado com falas e o curto prazo: os fundamentos importam mais

Nos Estados Unidos, os ativos americanos encerraram o terceiro trimestre em alta, com o S&P 500 e o Dow Jones Industrial Average atingindo novas máximas históricas de fechamento. Apesar do otimismo, há muitas manchetes sugerindo que o que afetou o humor do mercado foi o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. No entanto, é importante entender que essa reação foi mais uma onda de investidores ansiosos buscando justificativas para movimentos no último dia do mês do que uma resposta concreta ao conteúdo do discurso.

Na prática, Powell não trouxe nenhuma novidade que já não estivesse mapeada, já que o mercado já conhecia o cenário de dois cortes de 25 pontos-base, conforme indicado na mediana da última semana do Sumário de Projeções Econômicas. Vale lembrar que declarações de autoridades monetárias surgirão em vários pregões até novembro e essas opiniões podem mudar de maneira frequente, como temos observado nos últimos meses.

A verdadeira lição aqui é que o cenário permanece incerto, e o foco principal deve estar nos dados econômicos, que têm impacto real nos preços, ao invés de flutuações momentâneas causadas por discursos pontuais. Portanto, é essencial não se deixar levar por esses ruídos de curto prazo. O que realmente influenciará os mercados esta semana será o conjunto de dados de emprego, muito mais relevante do que interpretações apressadas sobre falas isoladas de autoridades.

Hoje, por exemplo, vale a pena prestar atenção na Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Mão de Obra (relatório Jolts). Se o número vier acima do esperado, fortalecerá a expectativa de um corte de 25 pontos-base na próxima reunião do Fed, enquanto um resultado abaixo do previsto pode reforçar a aposta em um corte de 50 pontos-base.

Porém, o Jolts é apenas o primeiro indicador do mercado de trabalho desta semana, que ainda contará com a pesquisa ADP amanhã e o relatório de empregos payroll na sexta-feira, sendo este último o mais significativo. É importante lembrar que o payroll pode surpreender, possivelmente apresentando um resultado negativo devido a fatores como as recentes greves que afetam grandes empresas. Esses elementos são muito mais relevantes para avaliar os fundamentos da economia do que oscilações de curto-prazo.

Além dos dados econômicos, hoje também ocorre o debate entre os candidatos à vice-presidência dos EUA, JD Vance e Tim Walz. Embora esse confronto receba menos atenção do que os debates presidenciais, ainda é um evento a ser acompanhado, dado o seu impacto no cenário político (falta um pouco mais de um mês para a eleição).

· 02:34 — Greve?

Milhares de estivadores em portos ao longo das costas Leste e do Golfo dos Estados Unidos, desde o Maine até o Texas, iniciaram uma greve massiva, envolvendo cerca de 45 mil trabalhadores em 36 portos. O movimento ocorre após as negociações entre os empregadores portuários, representados pela United States Maritime Alliance, e os trabalhadores sindicalizados atingirem um impasse. Esta é a primeira greve portuária de grande escala na Costa Leste desde 1977. As exigências dos trabalhadores incluem melhores salários, garantias contra a automação e benefícios mais amplos, mas os empregadores resistem em ceder, levando à paralisação das operações.

Esse cenário reacende preocupações sobre o impacto nas cadeias globais de suprimentos, já que eventos semelhantes, como o bloqueio do Canal de Suez pelo navio Ever Given e a escassez global de semicondutores, demonstraram o quanto interrupções podem ser prejudiciais. Agora, essa disrupção ocorre diretamente nos EUA, ameaçando causar um grande transtorno nas operações logísticas do país.

A greve tem potencial para afetar mais de 50% das importações dos EUA, e o desvio das remessas pode sobrecarregar ainda mais os já saturados portos da Costa Oeste, especialmente em meio à aproximação da movimentada temporada de compras de fim de ano. Estimativas indicam que a paralisação poderá reduzir a atividade econômica dos EUA entre US$ 4,5 bilhões e US$ 7,5 bilhões por semana, dependendo da duração da greve. Além disso, a carga acumulada pode levar até um mês para ser completamente processada, dada a capacidade limitada dos portos alternativos.

O impacto nas empresas também poderá ser significativo. Grandes varejistas, montadoras e outras indústrias que dependem de importações já estão lidando com o aumento das taxas de frete, que subiram até 20% em antecipação à greve. Esses custos, inevitavelmente, deverão ser repassados aos consumidores, resultando em preços mais altos nas prateleiras das lojas. Embora a expectativa seja de que a greve não dure muito, seus efeitos podem causar um impacto considerável na economia dos EUA e nas cadeias de abastecimento globais, prolongando os desafios logísticos por semanas, ou até meses, após o fim da paralisação.

· 03:21 — Nova presidente

À medida que o mandato de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) chega ao fim, o entusiasmo que geralmente acompanha uma transição presidencial, especialmente após uma vitória eleitoral significativa, parece notavelmente ausente no México. Hoje, o país se prepara para uma nova fase sob o comando de Claudia Sheinbaum, que assume a presidência.

Embora o crescimento econômico durante o governo de AMLO tenha sido modesto, com uma média de apenas 1% ao longo dos últimos seis anos, ele conseguiu evitar o colapso econômico que muitos temiam quando chegou ao poder com uma plataforma populista. No entanto, sua influência permanece forte, talvez até demais para o gosto dos investidores. Isso se deve, em grande parte, à maioria de seu partido, Morena, no Congresso e à defesa de propostas ousadas e heterodoxas.

Entre as reformas em pauta está a mudança na forma de nomeação dos juízes. Atualmente, o sistema judicial mexicano é baseado no mérito, com progressões na carreira ocorrendo de forma interna. No entanto, o partido governista argumenta que a luta contra a corrupção no Judiciário exige que os juízes passem a ser eleitos por voto popular. A proposta deu um passo significativo em direção à sua aprovação após a recente aprovação na Câmara dos Deputados.

O receio entre críticos é que essa mudança enfraqueça o importante papel de controle que o Judiciário exerce sobre o Executivo. Para agravar o cenário, AMLO “pausou” as relações diplomáticas com os Estados Unidos e o Canadá após críticas de ambos os países às reformas, o que representa um mau presságio para a diplomacia mexicana.

Sheinbaum, que agora assume a liderança da 12ª maior economia do mundo, tem concentrado seus esforços na formação de seu gabinete e na tentativa de restaurar as relações diplomáticas com parceiros estratégicos, ao mesmo tempo em que busca evitar desagradar seu antecessor. Ela enfrenta o desafio de lidar com a corrupção, proteger a democracia e manter o México atraente para investimentos estrangeiros diretos. O equilíbrio que precisa ser alcançado é delicado e complexo. Resta saber se Sheinbaum adotará uma postura mais moderada em comparação com seu predecessor, enquanto busca estabilizar o país em um cenário desafiador.

· 04:19 — E por falar em México…

Marcelo Ebrard, futuro ministro da Economia do México, ressaltou ontem o grande potencial para fortalecer as relações comerciais entre Brasil e México sob a liderança da presidente eleita Claudia Sheinbaum, que assume o cargo hoje. Embora ainda seja cedo para afirmar se haverá negociações em torno de um acordo de livre comércio entre os dois países, há uma evidente disposição de ambas as partes para avançar nesse diálogo.

Essa abertura ocorre em meio a crescentes tensões entre os Estados Unidos e a China, um cenário que deverá influenciar diretamente a política externa e comercial do próximo governo americano em relação à América Latina e ao Caribe. À medida que as eleições presidenciais nos EUA, em novembro, se aproximam, a tendência é que o viés protecionista da política comercial americana se mantenha, impulsionado por intensos conflitos geopolíticos, preocupações com a segurança nacional e disputas tecnológicas.

As relações comerciais dos EUA com o restante do mundo podem seguir caminhos distintos, dependendo do resultado das eleições americanas. Um novo governo Trump provavelmente adotaria uma abordagem comercial mais bilateral e focada em negociações específicas, priorizando acordos individuais e adotando uma postura mais isolacionista em relação a coalizões globais.

Já sob uma presidência de Kamala Harris, o foco estaria no fortalecimento de alianças estratégicas e multilaterais, buscando uma resposta conjunta às políticas comerciais da China, que têm prejudicado as indústrias dos EUA, ao mesmo tempo em que manteria restrições pontuais e ampliaria a cooperação com instituições internacionais.

Não há um modelo “certo” ou “errado” aqui, apenas visões de mundo distintas. Os acordos bilaterais podem oferecer vantagens mais específicas, adaptadas às necessidades de cada nação, enquanto os acordos multilaterais, comuns nos anos 1990 e início dos anos 2000, promoveram um período de forte crescimento e integração global. Assim, são duas abordagens diferentes para enfrentar os desafios econômicos atuais.

· 05:08 — Mudança de comando e venda de participação

Coincidindo com o otimismo atual em relação à China, Gustavo Pimenta assume hoje como o novo presidente da Vale (VALE3), em um contexto relativamente favorável para a empresa. Além dos estímulos econômicos chineses, a expectativa de um acordo definitivo sobre a tragédia de Mariana (MG) também traz uma oportunidade para o novo CEO iniciar sua gestão com a “casa em ordem”.

Vale destacar que essa transição foi antecipada, uma vez que Pimenta estava previsto para assumir apenas em 1º de janeiro de 2025, substituindo Eduardo Bartolomeo, que esteve à frente da companhia por cinco anos e meio. Diante dessas circunstâncias, somadas às notícias positivas recentes, poderia essa mudança de liderança representar um impulso para a Vale?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.